Jesus Ensina aos Homens as Leis da Criação

A Lei de Atração da Igual Espécie

Considerando-se que a caridade também faz parte dos ensinamentos de Jesus, as alusões a ele atribuídas de que será tirado dos pobres até o pouco que possuem, nunca foram bem compreendidas. Cuidadosamente se passou ao lado dessas palavras, sem levantar muita poeira, porque o real sentido delas não foi reconhecido.

A causa da incompreensão, porém, assim como de tantas outras passagens, reside novamente apenas na tentativa de interpretação literal das palavras do Mestre. Jesus veio das alturas máximas, e por isso suas palavras tinham um alcance muito maior do que podia fazer crer o estreito campo de visão das pessoas que o ouviam. Jesus abrangia com a vista todos os efeitos das leis da Criação de seu Pai, e procurava então direcionar a vida das pessoas no sentido de se adaptarem a essas leis. Vejamos o trecho controverso:

“Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.”

(Mt13:12; Mc4:25; Lc8:18)

O conceito aí expresso é ainda reforçado pelo final das parábolas dos talentos (cf. Mt25:28,29) e das minas (cf. Lc19:24-26), que serão analisadas mais detalhadamente no capítulo 3. Em ambas as histórias, um senhor manda tirar a única mina ou o único talento do servo relapso e entregá-lo ao respectivo servo bom, que obtivera dez talentos ou dez minas.

O sentido correto é o de que cada ser humano precisa utilizar com afinco os dons espirituais que recebeu, e sempre no sentido certo, conforme prescrevem as leis da Criação. Quem se esforça em ascender espiritualmente recebe de modo automático, na medida do seu empenho, a força necessária para continuar progredindo. Já quem negligencia seu desenvolvimento espiritual permanece estagnado, e com isso se torna um elemento nocivo na engrenagem universal.

Por isso, estes últimos acabarão por perder o pouco que ainda possuem de força mediante a atuação da Lei de Atração da Igual Espécie, que faz com que esta reflua para aqueles que a utilizam de maneira certa. É como um ímã, que tornado mais forte atrai poderosamente os elementos homólogos. Esse fenômeno, porém, diz respeito ao âmago do ser humano, à atuação do espírito, nada tendo que ver com pobreza e riqueza materiais. É dessa maneira que se cumprem as palavras dessa antiqüíssima promessa. E o livro de Provérbios acrescenta no mesmo sentido: “Há quem pareça rico, não tendo nada, e quem pareça pobre e possua grandes riquezas” (Pv13:7).

Os ensinamentos de Jesus eram sempre direcionados ao espírito humano, o único realmente vivo no ser humano, que aliás é o próprio ser humano:

“O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita.”

(Jo6:63)

Apesar de não ter convivido com Jesus, o apóstolo Paulo demonstra ter compreendido isso muito bem, conforme se depreende dessas palavras dirigidas aos Coríntios em sua primeira epístola: “Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está?” (1Co2:11). Do mesmo modo quando afirmou que apenas “o homem espiritual ajuíza todas as coisas” (1Co2:15), e que ele mesmo “aplicava a realidades espirituais uma linguagem espiritual” (1Co2:13). Somente o espírito humano tem capacidade de discernir, com infalível certeza, o que é certo e o que é errado. Isso se dá através da intuição e não por ponderações do raciocínio: “O espírito do homem é lâmpada do Senhor, que penetra todos os recônditos do ser” (Pv20:27).

De uma maneira geral, porém, os discípulos de Jesus não tinham uma compreensão clara do espiritual humano e de sua atuação, como freqüentemente deram mostras com suas perguntas. Foi o caso, por exemplo, daquele episódio em que os fariseus questionaram Jesus pelo fato de os seus discípulos não lavarem as mãos quando comiam. Jesus responde que não é o que entra pela boca que contamina o homem, e sim o que dela sai (cf. Mt15:2,11). Os discípulos não compreenderam o que ele quis dizer com isso e mais tarde lhe pediram um esclarecimento. Vejamos a resposta do Mestre:

“Também vós não entendeis ainda? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e depois é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem, mas o comer sem lavar as mãos não o contamina.”

(Mt15:16-20)

O homem aqui é o ser humano espiritual. Conforme já dito, o coração a que Jesus se refere é sempre o íntimo do ser humano, a vontade de seu espírito ou vontade intuitiva. Os pensamentos que se formam por influência de uma vontade intuitiva má também serão maus, assim como as conseqüentes ações más visíveis na matéria: adultérios, prostituição, falsos testemunhos, etc. A vontade intuitiva má contamina o homem, porque a expressão dessa vontade fica gravada na alma, o invólucro do espírito. Assim, a alma fica efetivamente contaminada pela vontade má. E tal processo de contaminação ainda é intensificado pela Lei de Atração da Igual Espécie. Por isso, a morte terrena não livra o espírito humano de sua contaminação, já que esta permanece aderida à alma.

Sobre o conceito de adultério, cabe um esclarecimento. Esse delito não se restringe apenas aos cônjuges, mas inclui qualquer um que procure destruir um casamento mediante difamações e outros meios. Quem assim age já viola da forma mais grave o mandamento de Jesus: “O que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mt19:6). Pois comete adultério ao querer dar cabo de uma união verdadeira, contraída diante do Todo-Poderoso, onde cada cônjuge procura tornar viva, em si e no outro, a antiga expressão indicativa de pleno acolhimento do que é mais sagrado para a criatura humana: “Teu Deus seja o meu Deus” (cf. Rt1:16; Jt11:23). Terá por conseguinte de arcar com as conseqüências de haver impedido a união de duas almas e as bênçãos que adviriam desse enlace. Um crime dos mais sórdidos, autêntico adultério consumado.

Os pensamentos e as intuições do ser humano não são coisas inexistentes, não são um “nada” apenas porque não se pode vê-los. Eles tomam forma no mundo de matéria mais fina que circunda estreitamente a nossa Terra. Por serem de matéria mais fina não conseguimos percebê-los com nossos olhos corpóreos, que são constituídos de matéria mais grosseira.

Nesse mundo fino-material os pensamentos e as intuições adquirem formas segundo o que foi pensado ou intuído. Não é difícil compreender que formas originadas de maus desígnios, como cobiça, inveja, ódio, etc., não podem ser bonitas, tampouco ter uma atuação benfazeja entre os seres humanos. As formas das intuições originadas do ódio, por exemplo, são chamadas “fúrias”, e visam apenas a destruição. Em Roma, as divindades infernais eram chamadas exatamente de fúrias, e na Grécia tinham o nome de erínias. Essas erínias eram representadas portando chicote, serpentes e tochas, brandindo tudo isso diante do rosto das vítimas que perseguiam.

As formas de pensamentos são os “fantasmas”, as ditas “assombrações” já vistas por muitos e que desde tempos remotos amedrontam outros tantos, sem saberem que são geradas pelas próprias pessoas. Adquirem também conformações horrendas quando produzidas por maus pensamentos, como aconteceu com aqueles ímpios que “tinham imaginado escravizar a nação santa” (Sb17:2): Eles foram “apavorados por fantasmas, tétricos fantasmas de rostos lúgubres (...), foram perseguidos por fantasmas monstruosos (…)” (Sb17:3,4, 17).

As formas de pensamentos e intuições ficam ligadas ao gerador por meio de um fio de matéria fina, o qual só pode ser desfeito mediante uma outra sintonização íntima. Nem a morte terrena é capaz de desfazer os fios que ligam os geradores às suas conformações de matéria fina, sejam elas boas ou más. Evidencia-se com isso a promessa de que suas obras os seguirão: “As obras dos que morrem os acompanham” (cf. Ap14:13). Os que morrem aqui na Terra encontrarão no Além as suas obras, as conformações de matéria fina por eles mesmos geradas enquanto viviam num corpo terreno. Por isso, ai daqueles cujas obras forem más: “Seus crimes se levantarão contra eles, para acusá-los” (Sb4:20); “Todas as ações do homem são votadas à corrupção, e a obra de suas mãos o seguirá” (Eclo14:19). Moisés disse a mesma coisa com as palavras: “Sabei que o vosso pecado vos achará” (Nm32:23).

Mediante a Lei de Atração da Igual Espécie essas formas de pensamentos e intuições ainda são reforçadas por outras de mesmo tipo, e também em decorrência dessa lei são elas atraídas para junto daquelas pessoas que trazem alguma característica de igual espécie. No caso das fúrias é o ódio, em maior ou menor grau. Agarram-se a essas pessoas e influenciam-nas continuamente com o ódio de que são constituídas. Daí para as pessoas assim atacadas perpetrarem uma ação violenta, visível na matéria grosseira, é um passo muito curto.

Culpados dessa ação violenta são todos os que contribuíram para a geração das fúrias, e não apenas o malfeitor que, sob a influência delas, a desencadeou na matéria grosseira. Este último foi apenas o elo mais fraco de uma extensa corrente de ódio. Em sua primeira epístola, João afirma que “todo aquele que odeia seu irmão é um homicida” (1Jo3:15), indicando com isso que os fomentadores de ódio já incorrem em grave culpa, o que é um fato, em virtude da geração de fúrias. Jesus reforça esse ensinamento ao afirmar que não somente quem mata terá de “responder ao tribunal”, mas também todo aquele que se encoleriza com o próximo (cf. Mt5:21,22). Uma cólera que pode crescer até um ódio totalmente cego. As fúrias podem enlouquecer toda uma multidão que se tenha aberto para elas, pela nutrição recíproca e crescente do sentimento de ódio, tal como aconteceu com a massa das pessoas que vociferavam contra Cristo: “Crucifica-o! Crucifica-o!” (Lc23:21). Com isso, elas transgrediram da pior forma possível a ordem do Senhor: “Não tomarás o partido da maioria para fazer o mal” (Ex23:2). Coisa semelhante fez também a multidão que se levantou contra Paulo em Éfeso, dirigindo-se em massa ao teatro num frenesi de fúria, com gritarias e imprecações; e, no entanto, lemos que “a maioria nem mesmo sabia por que estava reunida” (At19:32).

Quem deixa o ódio tomar conta de si contribui, sem o saber, para a ocorrência de uma ação violenta em algum lugar do mundo, e conseqüentemente angaria parte da culpa, mesmo que nada conheça disso. Essa é também a razão do crescimento desmesurado da violência em nossa época. Um efeito automático do processo do Juízo Final, que libera agora todas as fúrias geradas, nesse período de ceifa, restituindo aos seus fomentadores e adoradores de igual espécie tudo aquilo que formaram com tanto afinco mediante sua vontade odiosa. Por isso, quem em nossa época ainda se permite ficar furioso com alguma coisa, demonstra ter no íntimo a mesma espécie trevosa das fúrias, pois só as trevas podem manifestar-se raivosamente.

O livro do Apocalipse menciona essas fúrias soltas no Juízo com a imagem de gafanhotos liberados quando é aberto o poço do abismo, por influência da “estrela que tinha caído do céu” (Ap9:1), os quais se espalham pela Terra inteira (cf. Ap9:3). As fúrias estavam amontoadas naquele poço do abismo – uma central de igual espécie localizada nas profundezas, de acordo com a Lei da Gravidade. Quando esse poço é aberto no Juízo, as fúrias são libertadas. Todavia, elas só podem causar danos àqueles que não têm o selo de Deus na fronte: “Foi-lhes dito que não danificassem a vegetação da terra, nem as ervas nem as árvores, mas somente as pessoas que não levassem na fronte a marca do selo de Deus” (Ap9:4). As nuvens de gafanhotos evocam imediatamente a idéia de uma quantidade inumerável, vastos enxames à cata de alimento… Os gafanhotos do Apocalipse têm formas humanas, alimentam-se do terror e atormentam as pessoas: “Os seus rostos eram como rostos de homens; tinham também cabelos, como cabelos de mulheres; os seus dentes eram como dentes de leões. (…) Na sua cauda estava o poder de atormentar as pessoas. (...) E o seu tormento era como tormento de escorpião quando fere alguém” (Ap9:7,8,10,5). O livro da Sabedoria evoca essa situação com a frase: “Enviaste contra eles multidão de bichos mudos em vingança, para que soubessem que pelas coisas em que alguém peca, por essas é também atormentado” (Sb11:15,16). Nada menos do que nove palavras da Bíblia hebraica são normalmente traduzidas por “gafanhotos”, o que mostra a importância da imagem transmitida por esses terríveis insetos voadores no tempo do fim. O profeta Joel descreve dessa maneira a imagem da invasão dos gafanhotos (fúrias) no tempo do Juízo:

“O que deixou o gafanhoto cortador comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador comeu-o o gafanhoto destruidor. (...)

Meu país foi invadido por uma multidão forte e inumerável, os seus dentes são como dentes de leão, e as mandíbulas, como de leoa. (...)

Como o clarão da aurora, um exército poderoso e forte vai se estendendo pelas montanhas. Exército igual a esse nunca houve e, por muitas gerações, jamais haverá. Parecem cavalaria, avançam como animais de combate. Seu ruído é o de carros de guerra pulando pelas serras, estalando como chama que devora a palha, como exército poderoso em ordem de batalha. Diante deles os povos se apavoram, ficam todos pálidos de medo. (...)

Invadem a cidade, correm por cima das muralhas, sobem às casas, entram pelas janelas como ladrões. Sua presença sacode a terra, balança o céu, encobre o Sol e a Lua e apaga o brilho das estrelas. (...)

Sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá suportar?”

(Jl1:4,6;2:2,5,6,9-10,11)

Só poderá permanecer livre dessas influências furiosas, que agora estão soltas pelo mundo em sua missão de devastação, assim como de qualquer outra influência de configurações más, aquele ser humano que tiver algo contrário dentro de si em relação à espécie básica ruim delas, ou seja: amor no lugar de ódio, nobreza em lugar de sordidez, sinceridade em lugar de falsidade, altruísmo em lugar de egoísmo, coragem em lugar de medo e assim por diante. Portanto, em relação às configurações de espécie má (quaisquer que sejam), a própria Lei de Atração da Igual Espécie fornece uma proteção automática e eficiente ao ser humano que se esforça continuamente pelo bem, ao impedir que essas configurações nocivas adiram a ele.

No entanto, para se conservar essa proteção a vigilância tem de ser mesmo contínua, permanente, em favor do bem, pois freqüentemente “o fascínio da frivolidade obscurece os verdadeiros valores e a vertigem do desejo abala a mente sem malícia” (Sb4:12). Em contraste com a mornidão da maioria, já vimos que a pessoa realmente boa tem de perseverar até o fim no caminho do bem, para poder subsistir nessa época: “Devido à crescente iniqüidade, o amor esfriará na maioria; mas quem perseverar até o fim, este será salvo” (Mt24:12,13). É essa perseverança que indica o valor de uma pessoa boa, na qual o amor não esfriou. Somente esta pode, então, contar com o auxílio do Amor de Deus em suas aflições, o qual a protegerá das enlouquecedoras formas de medo no Juízo, cada vez mais robustecidas. João já dissera à sua comunidade: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (1Jo4:18). Aquele que tiver medo no Juízo demonstra não ter se aperfeiçoado no amor; e como ele não tem amor dentro de si, falta-lhe também a confiança na onipotência e na Justiça do Senhor, que se evidenciam justamente pelo Amor auxiliador. Esse grande Amor auxiliador, por sua vez, não pode atuar nele porque não encontra uma igual espécie em seu íntimo, que permita a ancoragem. Sua alma não é aperfeiçoada no amor, e devido a isso só conhecerá o medo no Juízo.

As concentrações de formas de pensamentos, que também podem ser chamadas de centrais, explicam muitos outros aparentes enigmas da época atual. Como a imensa maioria das pessoas gera continuamente pensamentos malévolos, essas centrais de maus pensamentos adquiriram uma força colossal no presente, atuando retroativamente sobre os seres humanos de sua igual espécie, que influenciados por isso geram ainda mais pensamentos maus, robustecendo permanentemente as próprias centrais. Um círculo vicioso, de conseqüências devastadoras para a humanidade. Daí o crescimento exponencial no mundo do sensualismo, da inveja, do egoísmo, da violência e de todas as outras excrescências humanas.

Sob outro enfoque, também reside nesse fenômeno a causa das muitas “coincidências” inexplicáveis, como o fato freqüentemente observado de uma descoberta científica ou de uma invenção ocorrer quase simultaneamente em países distantes entre si. Os pesquisadores estavam, sem o saber, conectados uns com os outros, alimentando idéias e pensamentos análogos, sendo por sua vez alimentados por estes. Todos trabalharam em conjunto na matéria mais fina, sem disso terem conhecimento. As posteriores ciumeiras e acusações de plágio se mostram assim sob uma ótica bem diferente.

Esse fenômeno das formas de pensamento também esclarece o indiscutível fascínio que a Bíblia exerce já há séculos sobre grande parcela da humanidade. Como a maioria das pessoas que a lêem realmente acreditam ter nas mãos a autêntica “Palavra de Deus”, acabam dispensando a ela uma atenção toda especial, sem nenhuma isenção. Esse devotamento unilateral, continuamente alimentado por milhões e milhões de almas, retorna a elas mesmas através do processo descrito acima, criando uma poderosa atmosfera de encantamento que freqüentemente desemboca num fanatismo cego.

Mas isso é então uma algema espiritual, que as impede de ver com imparcialidade o que a Bíblia possui de belo e de útil, de reconhecer e assimilar sua sabedoria, mas também de rejeitar aquilo que não passa de fantasia humana. Esse influxo é tão intenso que pode incandescer o estudo bíblico até o paroxismo, dando origem a debates intermináveis sobre o significado desse ou daquele episódio, à publicação de centenas de livros e tratados sobre uma única passagem mal compreendida das Escrituras, sempre na suposição de que a Bíblia deva se auto-explicar, levando todos, teólogos, exegetas, apologistas e leigos a uma lastimável perda de tempo em seu tão necessário processo de desenvolvimento espiritual. Mergulhados nesse biblicismo cego, nessa verdadeira bibliolatria, que nada mais é do que uma egolatria, eles dissecam continuamente as Escrituras e deixam de lado o principal… deixam de viver segundo os verdadeiros ensinamentos de Jesus, única possibilidade de angariar a vida eterna:

“Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes a vida.”

(Jo5:39,40)

Não quereis vir a mim... Os examinadores da Bíblia não querem vir a Jesus, a Palavra viva enviada pelo Pai aos seres humanos, para que eles pudessem ter a vida eterna!...

O ser humano pode e deve utilizar o fenômeno descrito acima em proveito próprio, com vistas a uma contínua ascensão espiritual. Aquele, por exemplo, que só admite limpidez à sua volta, acaba igualmente recebendo influência das pequenas centrais de bons pensamentos, decorrente da atração da igual espécie, sendo com isso paulatinamente fortalecido em sua boa vontade, ao passo que aquele outro que não tem anseio pelo bem acaba efetivamente sendo “tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg1:14). Foi justamente para evitar essa situação deletéria que Paulo dirigiu a seguinte exortação aos Filipenses, em tudo concorde com o funcionamento da Lei de Atração a Igual Espécie: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp4:8).

Quando Jesus falou do argueiro (cisco) e da trave nos olhos, também aludia a essa lei da Criação:

“Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, mas não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave de teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.”

(Mt7:3-5; Lc6:41,42)

O ensinamento contido neste episódio é bastante simples. Quando notamos algo em nosso próximo que nos desagrada profundamente, sentindo ímpetos até de repreendê-lo por sua falta, então isso é um sinal infalível de que possuímos aquele mesmo defeito em grau muito maior, pois “o homem que julga outro, a si mesmo se condena, pois pratica as próprias coisas que condena” (Rm2:1). Basta pensar que quando apontamos um dedo para alguém, temos outros três dedos apontando para nós mesmos… É bem o caso de se perguntar aí: “Quem és tu para julgares teu próximo?” (Tg4:12). O ser humano incorre em grave erro se pensa que assim poderá escapar do grande Julgamento: “Ó homem, tu que julgas os que praticam tais coisas e, no entanto, as fazes também tu, pensas que escaparás ao Julgamento de Deus?” (Rm2:3).

A Lei de Atração da Igual Espécie é que nos leva a ver de imediato nos semelhantes algo de que nós mesmos somos portadores. E quando esse algo é um defeito, então sentimos uma forte repulsa. Vemos nitidamente o argueiro (o defeito) no olho do próximo e não atentamos para a trave (o mesmo defeito em escala muito maior) em nosso próprio olho. Só nos seria lícito querer retirar o argueiro dele se, antes, tivéssemos tirado a nossa trave, do contrário essa atitude não é um ato de amor mas apenas hipocrisia. Estaríamos sendo inflexíveis em relação ao próximo e condescendentes conosco, fazendo uso, portanto, de dois pesos e duas medidas, algo abominável ao Senhor: “Dois pesos e duas medidas, são ambos abomináveis diante do Senhor” (Pv20:10). Temos de fazer exatamente o inverso: sermos implacáveis com nossas falhas e compreensivos com as do próximo. Compreensão não é condescendência imprópria. Esta é própria de quem é con-descendente, isto é, de quem desce junto. Em grego, “condescendência” é synkatabasis, cujo significado etimológico é exatamente “descer para estar junto”. Isso é falso amor, que além de não ajudar em nada o sofredor, ainda traz um enorme perigo para o pretenso auxiliador. Quem desce espiritualmente do seu patamar para poder estar no nível do infrator, não se encontra mais em condições de admoestá-lo por seus erros e acaba afundando junto com ele, por efeito da Lei da Gravidade Espiritual. Compreensão é diferente. Compreensão é sofrer junto, como fez o bom samaritano, para estar apto a conceder auxílio verdadeiro. Sofrer junto não é descer espiritualmente, ao contrário, é um ato de legítimo amor ao próximo, cujo efeito último é justamente a ascensão espiritual das duas partes envolvidas.

Essa atuação da Lei de Atração da Igual Espécie se verifica até mesmo nas expectativas negativas em relação a nossos semelhantes. Por exemplo: uma prevenção gratuita sobre possíveis demonstrações de inveja, cobiça ou vaidade de alguém, normalmente dizem mais sobre o próprio precavido do que sobre a pessoa objeto da atenção. Se de uma determinada pessoa, ou grupo de pessoas, estamos sempre esperando algum comportamento negativo em relação a algo, então temos de procurar, contra as nossas certezas mais íntimas, indícios de idêntica conduta negativa em nós próprios. Temos de ser aí implacáveis conosco, se quisermos reconhecer a verdade dos fatos.

Esse fenômeno é mais um auxílio outorgado pelo Criador em nosso caminho de desenvolvimento espiritual. É como se passássemos pela vida segurando um espelho voltado para nós mesmos, que assim nos aponta imediatamente as falhas que ainda temos de corrigir. É uma ajuda inestimável para o aperfeiçoamento de cada um, desde que se tenha a necessária humildade e isenção para reconhecer que aquela mesma falha que nos parece particularmente destacada em nosso semelhante, está profundamente arraigada em nós mesmos, e em grau muito maior.

Mas se a humildade faltar, a pessoa continuará no erro, sem se aperceber disso. É provável até que tal erro cresça nela pela atração da espécie igual e a faça afundar espiritualmente cada vez mais, com o que as trevas se condensam ainda mais em torno dela. E com isso ela afunda mais e mais, por efeito da Lei da Gravidade Espiritual, sem se dar conta de sua queda, pois “quem anda em trevas não sabe para onde vai” (Jo12:35).