“O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Então enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, mas estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidados: eis que já preparei o meu banquete: os meus bois e cevados já foram abatidos e tudo está pronto, vinde para as bodas. Eles, porém, não se importaram, e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram.
O rei ficou irado, e enviando as suas tropas exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Então disse aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. E saindo aqueles servos pelas estradas reuniram todos os que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete ficou repleta de convidados.
Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial, e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”
(Mt22:2-14)
Muitos são chamados... Chamados são os que trazem em si determinadas capacitações. Poucos são escolhidos... Escolhidos são os chamados que efetivamente transformam em atos as suas capacitações.
A história descrita nessa parábola é praticamente idêntica à narrada na parábola da grande ceia, que aparece no Evangelho segundo Lucas (cf. Lc14:16-24), onde os convidados dão várias desculpas esfarrapadas para não comparecer. Em vista disso, vamos nos ater apenas a esta, já que o ensinamento central vale para ambas.
O reino dos céus, o Paraíso, aguarda que os espíritos humanos cheguem até lá. Todos foram convidados pelo Senhor, contudo a maioria não quis ir. Eles mesmos não quiseram ir! Ao fazerem uso errado de sua liberdade de resolução, seu livre-arbítrio, eles decidiram não ascender até lá…
Apesar dos imensos esforços despendidos pela Luz, através da dedicação e amor dos servos enviados, para que tomassem o caminho da ascensão espiritual e assim pudessem chegar até o reino do espírito, onde então poderiam usufruir as alegrias eternas que lhes estavam reservadas (as festas das bodas), eles resolveram não ir, e por motivos pífios, meramente terrenais. Aferraram-se a preocupações e interesses terrenais, em detrimento do espiritual. Os Precursores e profetas (os servos do rei) procuraram indicar novamente aos seres humanos o caminho para alcançar a meta que lhes estava destinada, ou seja, participar do banquete celeste. Para esse acontecimento tudo já fora, pois, preparado no reino do espírito – “os bois e cevados (porcos engordados) já haviam sido abatidos” – faltando apenas a chegada dos convidados.
Mas os seres humanos terrenos recusaram o convite, “não se importaram”, e cada qual preferiu cuidar de seus interesses, tendo “um ido para o seu campo e outro para o seu negócio”. Essa atitude indica que eles estavam muito mais interessados nos aspectos terreno-materiais de suas existências do que na vida espiritual. Devido ao predomínio do raciocínio sobre o espírito, achavam muito mais razoável se ocupar com as coisas desse mundo do que com as espirituais, procurando antes de mais nada juntar tesouros aqui na Terra.
Essa conduta errada, contrária à determinação do Criador, só poderia mesmo acarretar conseqüências nefastas pela atuação da Lei da Reciprocidade. O tamanho dessa culpa, que mostra um total descaso pela Vontade do Senhor, pode ser avaliado pela tragédia que se abateu sobre eles na reciprocidade, depois de terem sido considerados assassinos: “sua cidade foi incendiada e eles exterminados”. Em outras palavras: todos sucumbiram junto com suas obras falsas e seus tesouros terrenos. Vê-se aí que ninguém pode recusar impunemente o convite, sob pena de uma exclusão definitiva de participação no banquete.
Tudo quanto age de modo contrário à Vontade do Criador, toda e qualquer construção falsa criada pela mão do homem, não tem possibilidade de subsistir indefinidamente. Dura um certo tempo, de acordo com a atuação das engrenagens universais, o qual poderá até parecer longo pela cronologia humana, mas em seguida desmorona, soterrando os que ajudaram a edificar a construção e aqueles que, confiantes, procuraram se abrigar dentro dela. Isso vale para tudo, quer se trate de modos errados de vida, doutrinas econômicas, sistemas religiosos, filosofias ou regimes políticos.
“A festa está pronta, mas os convidados não eram dignos”, diz o rei. Significa que os seres humanos, por culpa própria, não se tornaram habilitados a participar da festa, mostrando-se indignos dela. E assim é. Serão excluídos da Ceia do Senhor todos aqueles que se mostraram demasiado indolentes, demasiado indiferentes.
O rei deixa claro que o convite é válido para todos os seres humanos, e muitos então se apresentam para participar do banquete. Contudo, o que não trazia veste nupcial, isto é, que não estava adequadamente trajado para a festa das bodas, é lançado fora, nas trevas. Esta passagem mostra que o ingresso na festa só será facultado àqueles que cuidaram de manter impecáveis as vestes de seus espíritos, ou seja, suas almas. Somente estes poderão um dia ingressar no reino dos céus, onde seus nomes permanecerão registrados no Livro da Vida. Diz o Filho do Homem no livro do Apocalipse: “O vencedor se trajará com vestes brancas; não apagarei seu nome do Livro da Vida” (Ap3:5). Já os outros, os indiferentes, cujas vestes são inapropriadas, serão repelidos por parte da Luz: “Da Luz é repelido para as trevas, ele é banido do Universo” (Jó18:18).
Esses últimos, que portam vestes sujas e pesadas, serão automaticamente separados dos demais pela atuação da Lei da Gravidade Espiritual, que os faz afundar nas profundezas trevosas a que pertencem, onde há “choro e ranger de dentes”.