“Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois ausentou-se do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. E os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro e a outro apedrejaram. Enviou ainda outros servos em maior número, e trataram-nos da mesma sorte. E por último enviou o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.”
(Mt21:33-39; Mc12:1-8; Lc20:9-15)
O sentido dessa parábola já foi esclarecido no capítulo 1 – tópico A Necessidade da Vinda do Messias. Trata-se da vinda à Terra dos profetas dos tempos antigos e, por fim, do próprio Filho de Deus.
A imagem do dono de casa que planta a vinha e, com todo o cuidado, a cerca de tantas facilidades, mostra o imenso Amor do Criador para com Suas criaturas, ao lhes oferecer tudo quanto necessitam em seu labor nas materialidades, que ao mesmo tempo constitui para elas o caminho para o amadurecimento espiritual.
Na seqüência fica claro que essas criaturas, os seres humanos, não se comportaram como administradores leais do maravilhoso mundo posto à disposição deles. Rejeitaram os Precursores e os profetas dos tempos antigos e, por último, assassinaram o próprio Filho de Deus. Fazendo uso errado da prerrogativa de que foram presenteados, o livre-arbítrio, agiram de modo contrário ao desejado pelo dono da vinha. O assassínio do Filho de Deus era uma possibilidade conhecida pela Luz, em vista da profundidade espiritual em que já se encontrava a humanidade, uma possibilidade que de modo algum se teria efetivado se os homens tivessem acolhido a Mensagem de Jesus no coração.
Para quem ainda mantém seu espírito aberto há de causar espanto, ao ler essa parábola, que as interpretações atuais sejam unânimes em condenar os assassinatos dos profetas dos tempos antigos, como crimes brutais que realmente foram, mas não o praticado contra Jesus. Contudo, a parábola não faz nenhuma distinção entre os dois casos, ao contrário, deixa claro que a morte do filho do dono da casa foi um ato mau, perverso, não previsto e muito menos ainda desejado, tendo constituído uma circunstância agravante dos crimes praticados anteriormente. Os lavradores, pois, não respeitaram nem mesmo o filho do dono da casa, como este esperava, e sim o mataram.
Que a morte do filho foi um crime bárbaro, fica claro logo após o término da parábola, quando Jesus pede aos que o ouviam que expressassem sua opinião, recebendo então uma resposta absolutamente lógica e inequívoca:
“Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados, e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.”
(Mt21:40,41)
Realmente, não seria de se esperar um desfecho diferente. Em seguida, Jesus esclarece as conseqüências da atitude errada dos lavradores maus:
“Perguntou-lhe Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? (1) Portanto, vos digo que o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.”
(Mt21:42-44)
O Reino de Deus só será alcançado por aquele que produzir bons frutos, que, portanto, se ajustar às leis da Criação. Agir contra essas leis equivale a cair sobre a pedra angular, (2) representada pela Palavra encarnada que foi Jesus (cf. At4:11), sendo, portanto, “ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef2:20), oriundo de Deus para ensinar os homens como cumprir essas leis. Se não cumpri-las, a respectiva pessoa só conseguirá se machucar e até mesmo ser despedaçada, pois a pedra não será com isso de modo algum abalada. E sobre quem a pedra cair, este será reduzido a pó, isto é, quem agir contra essas leis receberá infalivelmente sobre si o retorno de sua má ação, através da reciprocidade. Para estes, a pedra angular, a lei viva, se torna então uma “pedra de tropeço”, em que “muitos tropeçarão e cairão, serão quebrantados, enlaçados e presos” (Is8:15). Daí também as palavras de Jesus: “Bem-aventurado aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Lc7:23).
Por outro lado, o efeito inverso, reservado a quem cumpre as leis da Criação, também já havia sido descrito pelo profeta Isaías: “Será uma pedra preciosa, angular, bem firme. Aquele que confiar nela não tropeçará. Usarei o direito como cordel de medir e a justiça como nível” (Is28:16,17). Confiar na justiça da lei é o mesmo que confiar no Senhor, de todo o coração, deixando de se apoiar no raciocínio cismador: “Confia no Senhor de todo o coração e não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv3:5).