Conforme seria de se esperar num assunto de tamanha importância, as Escrituras do Antigo Testamento da Bíblia e sua literatura colateral – os textos apócrifos – também trazem muitas indicações valiosas a respeito do advento do Filho do Homem e sua missão.
O tempo do Juízo Final desencadeado pelo Filho do Homem é o terrível Dia de negror da colheita final, que mostra nitidamente a escuridão espiritual em que medra o ser humano por culpa própria: “Será Dia de trevas e escuridão, Dia de nuvens e negrume” (Jl2:2), “Dia nublado e tenebroso” (Sf1:15). A humanidade estará vivendo nesse período do fim totalmente mergulhada nas trevas. Será o tempo em que Deus esconde dela o Seu semblante: “Lembra-te da cólera nos dias do fim, do castigo, quando Deus afastar Sua face” (Eclo18:24); “Quando clamarem ao Senhor, este não lhes responderá; esconderá deles a face naquele tempo, por causa dos crimes que cometeram” (Mq3:4); “Disse o Senhor a Moisés: Esconderei, pois, certamente, o rosto naquele Dia, por todo o mal que tiverem feito, por se haverem tornado a outros deuses. Esconderei deles a Minha face” (Dt31:16,18;32:20). O Senhor deixa a humanidade entregue às trevas formadas por ela própria com tanto afinco, e o resultado disso é o pavor: “Escondes Tua face e eles se apavoram” (Sl104:29).
Vamos, pois, examinar inicialmente alguns textos escriturísticos que abordam o tema.
Comecemos com o livro de Isaías, cujo nome tem o sentido de “salvação de Yahweh”. Ali se encontram várias passagens sobre o desencadeamento do Juízo Final pela atuação do Filho do Homem. Numa delas ele é chamado de Espírito de Justiça e Espírito Purificador:
“Quando o Senhor lavar a imundície das filhas de Sião, e limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de Justiça e com o Espírito Purificador.”
(Is4:4)
O profeta dá um exemplo do que está reservado à Terra no Juízo pela mão do Filho do Homem, designado agora de Senhor dos Exércitos:
“Com a Ira do Senhor dos Exércitos, incendiou-se a Terra, e o povo virou lenha desse fogo.”
(Is9:18)
Na passagem a seguir, Isaías dá vários qualificativos para o Espírito do Senhor, que “repousa” sobre o Juiz, e de sua atuação no Juízo. Não é difícil interpretar essas palavras se tivermos em mente que o Juiz é o próprio Espírito Santo. As alusões à “vara de sua boca” e ao “sopro dos seus lábios” indicam a Palavra que julga:
“Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. (…) Não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da Terra; ferirá a Terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso.”
(Is11:2-4)
Isaías diz que a Justiça e a Verdade estarão indissoluvelmente associadas ao Filho do Homem:
“A Justiça será o cinto que ele usa, a Verdade o cinturão que ele não deixa.”
(Is11:5)
Isaías e Miquéias afirmam que, no fim dos tempos, o Filho do Homem habitará numa montanha, onde edificará um Templo, e que para lá acorrerão os povos em busca de reconhecimento espiritual. A altura da montanha deve ser entendida sob um significado espiritual, pois enquanto ele estivesse lá ela seria o local de onde afluiria o verdadeiro conhecimento das leis de Deus, o ponto culminante e mais importante para a humanidade:
“Acontecerá, nos últimos tempos, que a montanha da Casa do Senhor estará plantada bem firme, será a mais alta de todas e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ela todas as gentes, virão muitos povos e dirão: ‘Vinde! Vamos subir à montanha do Senhor! Vamos ao Templo do Deus de Jacó. Ele nos ensinará seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas.’ (...) Ele julgará as nações e dará as suas leis a muitos povos. (...) ‘Vinde, vamos caminhar à Luz do Senhor!’ (...) Assim diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos: (...) ‘Ninguém fará mal, ninguém pensará em prejudicar, na minha santa montanha.’ Pois a Terra está repleta do conhecimento do Senhor, assim como as águas enchem o mar.”
(Is2:2-5; 10:24;11:9; Mq4:1-3)
O rei Davi pergunta: “Quem poderá subir à montanha do Senhor e apresentar-se no seu Santuário?” (Sl24:3). E ele mesmo dá a resposta: “O que tem as mãos inocentes e o coração limpo, o que não ergue o espírito para coisas vãs nem jura pelo que é falso” (Sl24:4).
O livro do Apocalipse mostra que as alocuções do Filho do Homem, o Espírito Santo, Princípio da Criação de Deus, serão, como não poderia de outro modo, plenas de Amor severo, repreendendo e exortando os ouvintes à movimentação do espírito:
“Assim fala a Testemunha Fiel e Verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: (...) ‘Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Esforça-te, pois, e converte-te.’ (...) Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz.”
(Ap3:14,19,22)
Voltando a Isaías, vemos outras indicações claras sobre a época do Juízo Final, denominado Dia do Senhor, decorrente da atuação do Filho do Homem – o Senhor dos Exércitos:
“Está decidida a destruição que fará transbordar a Justiça, e decidido assim o extermínio; o Senhor Deus de todo o poder o executará no meio da Terra toda. (…)
Estremecei, porque o Dia do Senhor está perto, virá como açoite do Todo-Poderoso. Eis que vem o Dia do Senhor, Dia cruel, com Ira e ardente furor, para converter a Terra em assolação, e dela destruir os pecadores. Portanto, farei estremecer os céus, e a Terra será sacudida do seu lugar, por causa da Ira do Senhor dos Exércitos, e por causa do Dia do seu ardente furor. (…)
Porque Dia de alvoroço, de atropelamento e confusão é este da parte do Senhor, o Senhor dos Exércitos, no vale da visão: um derrubar de muros e clamor que vai até aos montes. (…)
A Terra será toda arrasada, a Terra será sacudida violentamente, a Terra será fortemente abalada. A Terra cambaleará como um embriagado, ela oscilará como uma cabana. (…)
Do Senhor dos Exércitos vem o castigo com trovões, com terremotos, grande estrondo, tufão de vento, tempestade e chamas devoradoras.”
(Is10:23;13:6,9,13;22:5;24:19,20;29:6)
Quando o Senhor dos Exércitos tiver decidido o desencadeamento do Juízo, ninguém mais poderá impedir esse acontecimento:
“O Senhor dos Exércitos decidiu, quem mudará sua sentença? Sua mão está estendida, quem o fará retirá-la?”
(Is14:27)
Na seqüência, vê-se que esse Senhor dos Exércitos, a quem “os clamores dos ceifeiros penetraram até os ouvidos” (Tg5:4), é o designado Espírito de Justiça mencionado anteriormente:
“Naquele dia o Senhor dos Exércitos será a coroa de glória e o formoso diadema para os restantes de seu povo; será o Espírito de Justiça para o que se assenta a julgar, e fortaleza para os que fazem recuar o assalto contra as portas.”
(Is28:5,6)
Ele é o agente da indignação de Deus, prestes a cair sobre todas as nações
“A indignação do Senhor está a cair sobre todas as nações, e o seu furor sobre toda a milícia delas.”
(Is34:2)
A partir do capítulo 56 do livro de Isaías aproximadamente, o texto está contaminado em algumas partes pelas inserções do chamado Trito-Isaías, de quem já falamos. Os trechos selecionados a seguir, porém, foram conservados íntegros do livro original do profeta, pois as palavras são verdadeiras. Na passagem abaixo, o Filho do Homem é chamado de Espírito do Senhor:
“Temerão, pois, o nome do Senhor desde o poente, e a sua glória desde o nascente do Sol; pois virá como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do Senhor.”
(Is59:19)
Na seqüência, o Filho do Homem é chamado de Espírito Santo e atua pessoalmente contra os pecadores. Essa é a designação mais conhecida dos cristãos, que já há muito têm conhecimento da Trindade divina ou Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo:
“Mas eles foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.”
(Is63:10)
Mais uma passagem clara sobre o Juízo Final pode ser observada no trecho a seguir:
“Porque, eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua Ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo, porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em Juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do Senhor.”
(Is66:15,16)
Vejamos agora as indicações do profeta Jeremias, cujo nome tem o significado de “o Senhor funda”, ou “o Senhor estabelece”. Ele também falou da atuação do Filho do Homem no Juízo Final, chamado de Senhor-Nossa-Justiça e de Senhor dos Exércitos:
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei um Renovo justo, e rei que é, reinará e agirá sabiamente, e executará o Juízo e a Justiça na Terra. (...) E o nome que lhe darão será Senhor-Nossa-Justiça!”
(Jr23:5,6)
“Estende-se o tumulto até os confins do mundo, pois que o Senhor está em litígio com as nações. Entra em processo contra toda a carne. (…) Eis o que diz o Senhor dos Exércitos: Eis que o flagelo vai estender-se de nação em nação. E dos confins da Terra vai desencadear-se violenta tempestade. Aqueles que o Senhor nesse Dia tiver atingido, de uma a outra extremidade da Terra, não serão chorados, nem recolhidos e sepultados, jazendo no solo qual esterco.”
(Jr25:31-33)
A seguir, um quadro do fim do Juízo transmitido pelo mesmo Jeremias, relativo ao início do Reino do Milênio na Terra:
“Olhei para a Terra e ela havia se transformado em total confusão, completamente vazia. Olhei para os céus e estavam na mais completa escuridão. Olhei para as montanhas e elas tremiam; olhei para os morros e eles estavam sendo sacudidos. Olhei em volta procurando alguém, mas todos os homens haviam desaparecido; no céu não havia uma ave sequer; todas haviam fugido. Os vales de terra boa e produtiva haviam-se transformado em desertos; todas as cidades haviam sido derrubadas diante da presença do Senhor, por causa da Sua Ira, que queimava como fogo. A promessa de destruição feita pelo Senhor é para toda a Terra.”
(Jr4:23-27)
Uma promessa de destruição que, tal como a prevista por Jesus para o Templo dos cambistas, não iria deixar “pedra sobre pedra” de toda a obra humana torcida: “Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído!” (Mc13:2). Essa situação de destruição generalizada só não amedrontará os poucos que nesse tempo estiverem firmes na Palavra do Senhor, que trouxerem em si a convicção de que nada pode acontecer sem a condução da Vontade divina. Terremotos, inundações, erupções, regiões inteiras destruídas... haja o que houver, nada poderá apavorá-los. O salmista expressou essa mesma confiança inabalável com os versos: “Deus é nosso refúgio e nossa força, um socorro sempre alerta nos perigos. E por isso não tememos se a terra vacila, se as montanhas se abalam no meio do mar; se as águas do mar estrondam e fervem, e com sua fúria estremecem os montes” (Sl46:2-4).
No livro do profeta Ezequiel também há muitas referências ao Filho do Homem e sua atuação como Juiz. Mas quando se lê a versão que chegou até nós, temos a impressão de que o Filho do Homem seria o próprio profeta, o que não é correto, pois a função de Ezequiel, cujo nome significa “fortalecido por Deus”, era naturalmente a de atuar como um porta-voz, um anunciador da Vontade do Senhor na Terra, e não como o próprio executante de Sua Justiça. Um leitor atento encontrará a confirmação disso nessa transcrição de um dito do Senhor no livro: “Ezequiel servirá para vós de sinal: fareis exatamente o que ele fez” (Ez24:24). De “sinal”, ou seja, de exemplo de conduta, e não como o próprio Juiz. Em sua obra Os Livros Proféticos, o professor Abrego de Lacy, traduz com maestria o epíteto dirigido a Ezequiel como “Filho de Adão”, e não como Filho do Homem. Feita essa ressalva, vejamos então algumas passagens desse livro referentes à atuação do Filho do Homem:
“Assim fala o Senhor Yahweh: o fim chegou! O fim para os quatro cantos da Terra. (…) Eis que a desgraça chegou, uma desgraça sem igual. Chegou o fim; ele desperta contra ti, ei-lo que chega! Chegou a tua vez, sim, para ti, habitante da Terra. O tempo está chegando, o Dia está próximo. Será a ruína e não mais os júbilos nos montes. Agora mesmo, dentro de um instante derramarei a minha Ira sobre ti e satisfarei em ti a minha cólera. Com efeito, hei de julgar-te segundo o teu comportamento, e farei vir sobre ti todas as tuas abominações. O meu olhar não se compadecerá; eu não pouparei, antes pagar-te-ei de acordo com o teu comportamento.”
(Ez7:2,5-9)
Ezequiel descreve dessa maneira o aspecto do Filho do Homem:
“Então olhei e vi uma figura com aspecto de Homem. Do que parecia ser a cintura para baixo, era de fogo. Da cintura para cima, era como se houvesse uma claridade, como a do ouro brilhante.”
(Ez8:2)
No trecho a seguir, fica claro que a maior parte dos seres humanos não reconheceria o Filho do Homem em sua Palavra:
“Filho do Homem, tu habitas no meio de uma casa de rebeldes, que têm olhos para ver, mas não vêem, têm ouvidos para ouvir, mas não ouvem.”
(Ez12:2)
As passagens seguintes destacam o desencadeamento do Juízo através da figura da espada, o gládio julgador do Filho do Homem:
“Assim diz o Senhor: Uma espada, uma espada foi afiada e bem polida! Para fazer carnificina, foi afiada, para lançar lampejos fulgurantes, foi polida.”
(Ez21:13-15)
“Quanto a ti, Filho do Homem, profetiza, bate palmas para advertir! Que a espada se duplique, se triplique! É a espada do extermínio. A grande espada do massacre, que os cerca, para que desfaleçam os corações e sejam numerosas as vítimas. Junto de todas as portas coloquei a espada da chacina, feita para cintilar, polida para massacrar. Dá estocadas à direita, vira à esquerda, para onde quer que te voltares!”
(Ez21:19-21)
“Uma espada, uma espada foi desembainhada para a chacina, polida para o extermínio, para cintilar como raio, enquanto a teu respeito tinham visões falsas e adivinhações mentirosas para colocar a espada sobre a nuca dos infames e perversos, cujo Dia chegará na hora da liquidação de culpas.”
(Ez21:33,34)
O livro da Sabedoria retrata dessa maneira a atuação do Filho do Homem como Juiz e Portador da Justiça divina:
“Vestirá a Justiça como couraça, como elmo porá o Julgamento inapelável, como escudo sobraçará a santidade invencível e, como espada, afiará a sua Ira implacável. O universo inteiro estará ao seu lado, combatendo os insensatos.”
(Sb5:18-20)
Essa indicação do universo inteiro combatendo ao lado do Filho do Homem indica as forças enteálicas sob seu comando, conforme indicado na passagem a seguir com a designação “Criação”:
“A Criação, pronta a servir a Ti, seu Autor, se retesa para o castigo dos injustos mas se distende para o bem dos que confiaram em Ti.”
(Sb16:24)
O livro de Eclesiástico exorta sobre a premência da conversão, para o ser humano não ser aniquilado no Dia do Castigo:
“Volta ao Senhor sem demora e não adies de um dia para outro, pois a cólera do Senhor vem de repente e serás aniquilado no Dia do Castigo.”
(Eclo5:7)
O Filho do Homem, como Rei da Criação, também foi anunciado pelo profeta Daniel. O nome Daniel significa “Deus é meu Juiz”. O profeta afirma que o Filho do Homem foi levado diante do Criador, chamado “Antigo de Dias”, o qual lhe deu um domínio eterno e um reino que jamais será destruído:
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Antigo de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.”
(Dn7:13,14)
Daniel diz que o tempo do Juízo será de uma desolação como jamais se viu, e da qual subsistirá somente quem tiver seu nome inscrito no Livro da Vida:
“Será uma época de tal desolação, como jamais houve igual desde que as nações existem até aquele momento. Só escapará, então, quem for do Teu povo, quem tiver seu nome inscrito no Livro.”
(Dn12:1)
O profeta Malaquias, cujo nome significa “Meu mensageiro”, se perguntava quem poderia suportar o Dia do Filho do Homem, quem conseguiria se manter de pé diante dele e de sua atuação purificadora, que como o fogo do fundidor separa o refugo do metal puro (joio separado do trigo):
“De repente, ele entrará no seu Templo, o Senhor que vós procurais, o Anjo da Aliança que vós desejais; ei-lo que vem, diz o Senhor de todo poder. Quem suportará o Dia da sua chegada? Quem se manterá em pé à sua aparição? Pois ele é como o fogo do fundidor, como a lixívia dos lavadeiros.”
(Ml3:2)
Malaquias ainda retratou dessa maneira a chegada desse Dia e a promessa do Senhor dos Exércitos aos seus:
“Eis que vem um Dia abrasador como uma fornalha. Todos os soberbos e todos os que cometem a iniqüidade serão como a palha; este Dia que vai chegar os queimará – diz o Senhor dos Exércitos – e nada ficará deles: nem raiz nem ramos. Mas, para vós que respeitais o meu nome, brilhará o Sol da Justiça, trazendo a cura nos seus raios.”
(Ml3:19,20)
Novamente aparece a figura de um Livro no qual estão registrados os que pertencem ao Senhor:
“Diante dele foi escrito o Livro que conserva a memória daqueles que temem o Senhor e respeitam o Seu nome. Eles serão meus no dia em que eu agir – diz o Senhor dos Exércitos. Terei compaixão deles como um pai se compadece do filho que o serve. Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que não serve.”
(Ml3:16-18)
O profeta Miquéias, por sua vez, é porta-voz de uma advertência para a Terra inteira e todos os povos, sobre as grandes catástrofes que se efetivam à passagem do Senhor. O nome Miquéias deriva do hebraico Michayahu que significa literalmente: “Quem é como Yahweh?” É bastante significativa, no livro de Miquéias, a indicação de que o Senhor irá sair da sua morada para pisar na Terra. O profeta refere-se aí à Vontade de Deus personificada, o Filho do Homem:
“Povos, ouvi todos! Esteja atenta a Terra e tudo o que ela contém! O Senhor Deus vai testemunhar contra vós, o Senhor desde o seu santo Templo. O Senhor vai sair da sua morada, vai descer e pisar as alturas da Terra. À sua passagem fundem-se os montes, e os vales derretem-se como cera diante do fogo, como as águas que escorrem por uma encosta.”
(Mq1:2-4)
O Livro de Enoch, que vou abordar em detalhes logo mais, fala igualmente que nesse tempo “os picos mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo”. O profeta Daniel e o salmista reforçam essa imagem espiritual da atuação ígnea do Juiz: “De diante dele sai um rio de fogo” (Dn7:10), “Um fogo vai à sua frente e devora os inimigos que o cercam (Sl97:3). A imagem da Terra abalada e derretendo-se pela ação do Filho do Homem também aparece no Saltério:
“Então a Terra balançou e tremeu; vacilaram as bases dos montes, balançaram por causa da sua Ira. Nações rugiram, reinos se abalaram; ele ergueu a voz, e a Terra derreteu-se.”
(Sl18:8;46:7)
O profeta Amós prevê alterações extraordinárias na mecânica celeste durante o Dia do Senhor, que são os efeitos da mudança da órbita da Terra (a longa noite cósmica):
“Sucederá que, naquele Dia, diz o Senhor, farei que o Sol se ponha ao meio-dia e a Terra se entenebreça em dia claro.”
(Am8:9).
E diz que para obtermos a vida eterna e poder ter efetivamente o Filho do Homem ao nosso lado nessa época, é preciso escolher o bem:
“Procurai o bem e não o mal para poderdes viver, e para que assim, como dizeis, o Senhor dos Exércitos esteja do vosso lado.”
(Am5:14)
Em algum ponto do século VIII a.C., o profeta Oséias vaticinou sobre a abertura do processo do Juízo contra os seres humanos terrenos:
“Yahweh vai abrir um processo contra os habitantes da Terra, porque não há fidelidade nem amor, nem conhecimento de Deus na Terra.”
(Os4:1).
Em meados do século VII a.C. o profeta Joel também escreveu sobre o Dia do Senhor. O nome Joel significa simplesmente “Yahweh é Deus”. Diz o profeta em seu livro:
“Ai, que Dia! O Dia do Senhor, com efeito, está próximo, e vem como um furacão desencadeado pelo Todo-Poderoso. (…) Estremeçam todos os habitantes da Terra, porque se aproxima o Dia do Senhor! Dia de trevas e escuridão, Dia de nuvens e sombras. O Dia do Senhor é grandioso e terrível. Quem o poderá suportar? (…) O Sol se transformará em trevas e a Lua em sangue quando vier o Dia do Senhor, grandioso e terrível.”
(Jl1:15;2:1,2,11;3:4).
Por volta do final do século VII a.C., o profeta Habacuc descreveu o Filho do Homem e sua atuação no Juízo Final:
“A sua majestade cobre os céus e a sua glória enche a Terra. O seu esplendor é como a Luz, das suas mãos saem raios, está aí o segredo da sua força. Avança diante dele a calamidade, a febre caminha sobre os seus passos. Ele pára e faz tremer a Terra, olha e faz trepidar as nações. Então desmoronam-se as montanhas eternas, desfazem-se as colinas antigas. (…) Na tua indignação marchas pela Terra, na tua ira calca aos pés as nações.”
(Hab3:3-6,12)
Um pouco mais tarde, no século VI a.C., o profeta Sofonias, cujo nome significa algo como “o Senhor guarda”, descreveu de uma maneira particularmente impressionante o Dia da Ira, ou Dia do Senhor:
“Vou destruir tudo sobre a face da Terra, diz o Senhor. (…)
Cala-te diante do Senhor, porque o Dia do Senhor está perto (…)
Castigarei também, naquele Dia, todos aqueles que sobem o pedestal dos ídolos e enchem de violência e engano a casa dos seus senhores. (…)
Eis que se aproxima o grande Dia do Senhor! Ele se aproxima rapidamente. Terrível é o ruído que faz o Dia do Senhor; o mais forte soltará gritos de amargura nesse Dia. Esse Dia será um Dia de Ira, Dia de angústia e de aflição, Dia de ruína e de devastação, Dia de trevas e escuridão, Dia de nuvens e de névoas espessas, Dia de trombeta e de alarme, contra as cidades fortes e as torres elevadas. Mergulharei os homens na aflição, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor. Seu sangue será derramado como o pó, e suas entranhas como o lixo.”
(Sf1:1,7,9,14-17)
Esses excertos de Sofonias serviram de inspiração na Idade Média para composição das muitas canções terrificadas e terrificantes sobre o Juízo, em especial a ira e a vingança do dies irae, dies illa.
Também no século VI a.C., o profeta Abdias, cujo nome significa “servo de Yahweh”, escreveu o seguinte em seu livro, o mais curto dos textos proféticos do Antigo Testamento:
“Sim, próximo está o Dia do Senhor, Dia ameaçador para todas as nações.”
(Ab15)
Nessa mesma época, o profeta Ageu transmitiu dessa maneira a atuação no Juízo Final desencadeado pelo Senhor dos Exércitos, o Filho do Homem:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Daqui a pouco abalarei o céu, o mar e a terra firme.”
(Ag2:6)
Ainda nesse mesmo período, o profeta Zacarias escreveu:
“Eis que vem o Dia do Senhor, em que os teus despojos se repartirão no meio de ti.”
(Zc14:1)
Sobre a atividade do Filho do Homem durante o Juízo, Zacarias apresenta a seguinte imagem:
“O Senhor será visto lutando contra eles, suas flechas saindo como raios; o Senhor Deus toca a trombeta, e avança o vendaval que vem do sul.”
(Zc9:14)
O “toque de trombeta” indica os últimos avisos que chegam para a criatura humana no Juízo, para que acorde em tempo de seu sono espiritual e possa subsistir.
A sensação atual de medo, de culpa, de tempo se esgotando, não são delírios da mente. São sentimentos reais. Intuições provenientes do espírito, que pressente, sim, que sabe estar caminhando para o aniquilamento e que por isso clama por socorro. O desespero é apenas aparentemente infundado, porque sua causa não é reconhecível no corpo de matéria grosseira. Diz respeito àquilo que de mais terrível pode atingir o espírito humano: a extinção de sua autoconsciência, a morte espiritual, a condenação eterna. É contra isso, contra esse fim terrível no Juízo que a alma humana luta; daí os sentimentos de pavor e desespero.
É no íntimo de cada um que o Juízo se efetiva da forma mais dramática. Em nossa época, cada um de nós já está sendo atingido pelos raios julgadores do Juízo Final. Estamos vivendo o tempo em que a arrogância espiritual da criatura humana está sendo extirpada através do medo. Um medo atroz, imenso, que obriga o ser humano a prostrar-se de joelhos, totalmente vencido. Assim se cumprem as palavras do profeta Isaías: “A soberba dos homens será abatida e a arrogância humana será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele Dia. Porque o Dia do Senhor dos Exércitos será contra todos os arrogantes, contra todos os soberbos e presunçosos” (Is2:11,12). A respeito desse descomunal sentimento de medo na época do Juízo, diz Roselis von Sass em sua obra O Livro do Juízo Final:
“Existe um sinal infalível de advertência, ou melhor dito, de alarme, que cada um deve mais cedo ou mais tarde sentir, queira ou não queira. E este é o medo. Esse medo não pode ser afastado com um sorriso, nem ser desmentido, pois ele é um sinal da época, um sinal do Juízo!
A psicose do medo pesa hoje, com raras exceções, sobre toda a humanidade. Ela apodera-se de crentes e descrentes, de pobres e ricos, de materialistas e idealistas, de céticos e sacerdotes. Ela é também o motivo de os seres humanos estarem sempre como que em fuga de si mesmos, em fuga de seus próprios pensamentos e das deprimentes formas do medo.
De onde vem agora esse medo que deixa estremecer os corações humanos, e que, como um fantasma de mil cabeças, gira em volta do globo terrestre?
O medo provém dos próprios espíritos humanos. Ele é a voz acusadora da consciência, na qual se expressa a grande culpa contra Deus. E ele é também um som das trombetas do Juízo, que procura acordar os seres humanos, anunciando-lhes a sentença de Deus!”
Um som das trombetas do Juízo! As pessoas precisam acordar agora com esse som, elas têm de despertar e se movimentar espiritualmente para cima, têm de se esforçar em viver de acordo com a Verdade se quiserem subsistir no Juízo! Do contrário, elas mesmas se condenam:
“Se alguém escutar o toque da trombeta mas não lhe der atenção, e com isso for atingido pela espada, será responsável pela própria morte. Escutou o som da trombeta mas não deu atenção; é responsável pela própria morte. Se tivesse dado atenção, teria escapado com vida.”
(Ez33:4,5)
Vejamos agora o livro do Apocalipse, o último do Novo Testamento, o qual trata exatamente do Juízo Final. Sua autoria é erroneamente atribuída ao evangelista João, mas já foi observado que o grego utilizado no texto é bastante diferente do de João. Houve até quem dissesse que o Apocalipse quase mereceria uma gramática específica, tal a quantidade de particularismos existentes… Já no século II, o bispo Dionísio apresentou vários argumentos contra a suposta autoria apostólica do Apocalipse, citando diferenças de estilo, vocabulário e expressões entre esse livro e as epístolas de João. De fato, em nenhum lugar do livro o autor diz ser um dos doze apóstolos, e até fala deles no pretérito (cf. Ap21:14). A vidente que recebeu as revelações do Apocalipse não conhecia a escrita, e por isso um adepto dos ensinamentos de Jesus anotou-as e passou-as adiante. Roselis von Sass diz que o nome da vidente, por seu próprio desejo, nunca foi mencionado, porque ela se considerava apenas um instrumento na mão de João Batista.
O Apocalipse afirma que o autor do livro é o “servo João” (Ap1:1), que “se encontrava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus” (Ap1:9). Esse João não era o evangelista, e sim João Batista, que naquela época também não se encontrava num Patmos terrestre, mas numa região ainda mais elevada que o Paraíso, chamada Patmos, de onde recebeu a incumbência do Filho do Homem para transmitir as revelações para os sete Universos da parte material da Criação.
No 1º capítulo do livro, versículos 12 a 18, há uma descrição do Filho do Homem como Juiz. No entanto, o subtítulo comumente utilizado na apresentação desse trecho traz erroneamente os dizeres: “A visão de Jesus glorificado”. Essa indicação já impede o reconhecimento daquele que aí é retratado, especialmente por parte de pessoas que não ousam pensar de modo diferente do que lhes é incutido por sua religião. Pior ainda é no final do livro, onde se lê: “Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Ap22:20). O texto grego original, porém, não fazia nenhuma alusão à vinda de Jesus. Apenas transpunha a fórmula aramaica “Maraná ta”, que significa literalmente: “Senhor nosso, vem!”. O Senhor aí anunciado é o Filho do Homem, Imanuel, e não Jesus, que obviamente também não disse nada parecido com “venho sem demora”… Aliás, passados mais de dezoito séculos desde a transmissão do Apocalipse, qualquer um já poderia ter constatado que esse venho-sem-demora nada mais é do que uma inserção espúria no texto original.
Dentre outros atributos, o Filho do Homem é chamado no Apocalipse de “o Santo, o Verdadeiro, Testemunha fiel e verdadeira, a Palavra de Deus” (cf. Ap3:7,14;19:13). A descrição do Filho do Homem como Juiz é a seguinte:
“Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a Filho do Homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o Sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém, ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas, eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mais eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno.”
(Ap1:12-18)
Inicialmente, vemos que o Filho do Homem está no meio de sete candeeiros de ouro, e traz na mão direita sete estrelas. Ele é designado alegoricamente como “aquele que tem os sete espíritos de Deus” (Ap3:1), e concede essa explicação sobre os candeeiros e as estrelas: “As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas” (Ap1:20). Essas chamadas sete igrejas são, na realidade, os sete Universos que compõem a parte material da Criação: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia (cf. Ap1:10).
O fato de a Bíblia aludir às sete antigas congregações cristãs na Ásia, unidas por uma estrada circular, se deve ao fato de os tradutores terem relacionado esses nomes à Terra, com sua pequena capacidade de compreensão. Esse não é o único caso em que os seres humanos terrenos trouxeram para o planeta nomes relacionados a outras partes da Criação. O verdadeiro Olimpo, por exemplo, não é, como se supõe, o Monte Olimpo situado na Grécia, com seus 2.911 m de altitude, mas sim o ponto mais elevado da parte enteal da Criação, que se encontra acima da materialidade. Também a ilha de Patmos (cf. Ap1:9) não é a ilhota rochosa de mesmo nome situada no mar Egeu, distante menos de 240 km das sete congregações cristãs, mas sim, conforme dito, uma região situada acima do Paraíso, constituindo o primeiro degrau dos sete planos espírito-primordiais em sentido ascendente, de onde João Batista transmitiu o Apocalipse a uma vidente na Terra.
O planeta Terra e todos os bilhões de astros a nós visíveis pertencem ao sistema universal Éfeso. (1) Os sete anjos mencionados são os grandes regentes enteais de cada um dos sete Universos materiais. A Terra foi o primeiro planeta de Éfeso habitado por criaturas humanas. Por isso, a advertência do Filho do Homem a Éfeso reveste-se de especial gravidade para nós, seres humanos terrenos: “Converte-te e volta à tua prática inicial. Se, pelo contrário, não te converteres, virei e removerei o teu candelabro do seu lugar” (Ap2:5). Esse deslocamento do candelabro quer indicar uma renovação compulsória, de magnitude cósmica, onde nada do antigo poderá permanecer...
Sempre encontraremos essa divisão por sete onde age a Vontade de Deus, onde, portanto, se encontra a atuação do Filho do Homem, o Espírito Santo. O Gênesis diz que a Criação foi feita em sete dias de uma semana arquetípica. Na época dos reis de Israel, vemos que o Senhor reservou para Si “sete mil homens, os que não dobraram o joelho diante de Baal” (Rm11:4). Na explicação do sonho que o profeta Zacarias havia tido, o anjo diz que o candelabro com sete chamas são “os olhos do Senhor que percorrem toda a Terra” (cf. Zc4:10), indicando com isso Sua Vontade onipresente, que perflui toda a Criação e retribui a cada um segundo suas obras: “os olhos do Senhor estão em toda a parte, observando os maus e os bons” (Pv15:3). A Lei da Reciprocidade, com seus efeitos retroativos, pode realmente ser encarada como “o olhar do Senhor que percorre toda a Terra para ajudar os que estão com Ele de coração sincero” (2Cr16:9).
Continuando com o número sete, na visão de Daniel o povo teria de se regenerar dentro do prazo de “setenta setes”, equivalente a setenta semanas (cf. Dn9:24). No Apocalipse, o livro na mão direita do Filho do Homem está “lacrado com sete selos” (Ap5:1), e “diante do trono do Senhor ardem sete lâmpadas de fogo” (Ap4:5). Há “sete anjos em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas” (Ap8:2). Quando um anjo poderoso gritou, “sete trovões fizeram ouvir as suas vozes” (Ap10:3). A Ira de Deus estará consumada com as “sete últimas pragas” (Ap15:1), e “um dos quatro seres viventes entregou aos sete anjos sete taças de ouro, cheias do furor de Deus” (Ap15:7). Em todo o Apocalipse, o número sete aparece constantemente (cerca de meia centena de vezes) e o próprio livro se apresenta dividido em sete setenários: as cartas, os selos, as trombetas, os sinais do céu, as taças, as vozes, as visões do fim. O apócrifo 4Esdras, também de cunho apocalíptico e especialmente voltado para tudo o que se relaciona com o Filho do Homem, fala da existência de “sete altas montanhas, onde crescem rosas e lírios”... (4Esd2:19). O Paraíso é, de fato, constituído de sete esferas ou mundos, assim como a parte material da Criação é constituída de sete universos.
O número sete também aparece no Corão, em conexão com o ato criador divino. Na 2ª surata, versículo 2, lemos que o Criador “fez, ordenamenete, sete céus, porque é Onisciente”. Ele também é chamado de “Senhor dos sete céus” (23ª surata – vers. 86), Aquele que criou os “sete firmamentos” (65ª surata – vers. 12), ou que criou os “sete céus sobrepostos” (67ª surata – vers. 3). A Vontade criadora de Deus aparece, portanto, relacionada ao número sete nesses versículos do livro sagrado do Islamismo.
Na matéria grosseira da Terra observamos resquícios da importância do número sete em algumas coisas, como a escala musical de sete notas e a refração da luz nas sete cores do arco-íris.
Retomando o tema principal, a mencionada espada afiada na boca do Filho do Homem é a sua Palavra, a “espada do Espírito que é a Palavra de Deus” (Ef6:17), a qual traz o Juízo para a humanidade: “A Palavra de Deus é viva, eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir alma e espírito, junturas e medulas. Ela julga as disposições e as intenções do coração” (Hb4:12). Tudo quanto está latente na Criação, ou mesmo escondido, será iluminado por essa Palavra do Filho do Homem: “Não há criatura que se lhe esquive à vista, a seus olhos tudo está desnudo, tudo subjugado por seu olhar. A ela é que devemos prestar contas” (Hb4:13).
Essa indicação da Palavra que julga é também muito clara nesse outro trecho do Apocalipse:
“E vi a besta e os reis da Terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo, e contra o seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta, e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”
(Ap19:19-21)
Aquele que está montado no cavalo (Filho do Homem) julga o mundo através da espada que sai de sua boca (a Palavra). A Palavra que julga é, porém, ao mesmo tempo, a Palavra da Salvação. Quem desejar viver segundo a Palavra, isto é, viver em conformidade com a Vontade de Deus, ou o que vem a dar no mesmo, de acordo com as leis da Criação, este encontrará a salvação através do próprio esforço em ascender espiritualmente. Mas os que recusarem a Palavra, último auxílio de Deus à humanidade, ou que se mostrarem indiferentes em relação a ela, condenam-se a si mesmos no Juízo. Estes últimos se juntarão àqueles que “recebem a marca da besta”, isto é, os que têm gravado na testa de suas almas o estigma de Lúcifer, na forma de um X.
No trecho a seguir, o Juízo Final desencadeado pelo Filho do Homem está nitidamente expresso na imagem de uma colheita:
“Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do Homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da Terra já secou. E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada.”
(Ap14:14-16)
Logo em seguida à descrição dos 144 mil eleitos, um anjo anuncia o Juízo juntamente com uma nova revelação para a humanidade, a Palavra da Verdade. Esse anjo proclama a existência de “um Evangelho Eterno a todos que habitam sobre a Terra” (Ap14:6), e anuncia que com isso também é chegado o tempo do Julgamento para os seres humanos:
“Temei a Deus e rendei-Lhe glória, pois ela chegou, a hora do seu Julgamento.”
(Ap14:7)
Abaixo, uma outra visão do Filho do Homem e da Palavra que julga – a espada afiada que sai de sua boca. Nesse trecho, o Filho do Homem é chamado de Fiel e Verdadeiro, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Verbo de Deus:
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro, e pessoalmente pisa o lagar do vinho do furor da Ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.”
(Ap19:11-16)
O livro diz que a besta, juntamente com dez reis, lutarão contra o Filho do Homem no Juízo, e serão vencidos por ele e pelos que estiverem ao seu lado nessa época de contenda:
“Ele os vencerá, pois é SENHOR DOS SENHORES E REI DOS REIS, e com ele vencerão também os convocados, os eleitos e os fiéis.”(Ap17:14)
A passagem a seguir indica que o Filho do Homem, a Vontade de Deus, tudo renova com o Juízo; ele é o Alfa e o Ômega, a origem e o fim de toda a Criação, e tudo se julga nele. A fonte da água viva é a sua Palavra, que não apenas traz o Julgamento mas também salva aquele cujo espírito tem sede de vida eterna:
“Eu sou o Alfa e o Ômega, aquele que é, o que era e que há de vir. (…) Eis que faço novas todas as coisas! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim; a quem tem sede eu darei gratuitamente da fonte da água viva.”
(Ap1:8;21:5,6)
Na passagem abaixo, temos um vislumbre do pavor que tomará conta das pessoas na última fase do Juízo, particularmente daqueles que se julgavam protegidos e intocáveis com seus poderes terrenais:
“Os reis da Terra, os grandes, os chefes, os ricos, os poderosos, todos, tanto escravos como livres, esconderam-se nas cavernas e grutas das montanhas. E diziam às montanhas e aos rochedos: ‘Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado no trono da Ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da sua Ira, e quem poderá subsistir?”
(Ap6:15-17)
O Dia da Ira é a chamada grande tribulação (cf. Ap7:14) ou tribulações, a época do Juízo Final, que se encontra em plena efetivação. A esse respeito, é oportuno citar a interpretação de Rinaldo Fabris: “O termo ‘tribulações’ refere-se aos sofrimentos do tempo final, ou seja, as tribulações que afligem inclusive os justos e os fiéis e que prenunciam a irrupção do reino e do Julgamento de Deus.”
Naturalmente, nenhum verdadeiro justo ou verdadeiro fiel pode ser atribulado se ele mesmo não tiver dado causa para isso. Tudo quanto atinge a humanidade de hoje e cada um individualmente é, sim, efeito retroativo, conseqüência de nossa nefasta atuação no passado e também no presente. Quer se trate de destruições provocadas por catástrofes da natureza ou alterações climáticas, descalabro econômico ou degenerescência moral, doenças terríveis ou crises de pânico, violência ou depressão, tudo é efeito do aceleramento desse retorno cármico coletivo, que traz de volta o mal semeado outrora, sempre na medida exata da contribuição de cada um, tanto na forma como no conteúdo, de modo que “cada um é punido por aquilo que peca” (Sb11:16).
Essa contingência de incondicional reciprocidade é a chave para a compreensão do processo de anunciação das grandes profecias dos tempos antigos. Assim como um astrônomo pode prever quando e como ocorrerá um eclipse do Sol, visto que conhece as leis da mecânica celeste e sabe que elas são imutáveis, o conhecimento das leis universais da Criação, igualmente imutáveis, permite saber de antemão o que aguarda a humanidade como um todo no futuro, em decorrência de seu comportamento anterior. Desse modo, já há muito pôde ser previsto pela Luz o que os seres humanos da época atual teriam de enfrentar, em decorrência de sua própria atuação malévola de outrora. Daí se originaram as grandes revelações na forma de imagens. Esses agraciados foram instrumentos da Luz, utilizados para transmitir essas mensagens tão importantes, porém não eram “divinamente inspirados” nem foram “possuídos pelo Espírito Santo” para cumprir suas missões. Eram convocados, porém pessoas normais. Um astrônomo que vaticinasse a ocorrência de um grande eclipse junto a uma tribo de índios selvagens também seria considerado por eles como um “ser divino” ou algo semelhante, porque esses silvícolas não conhecem as leis nas quais o astrônomo se baseou para fazer sua previsão.
Agora, as testemunhas apócrifas. Conforme já dito, além dos textos das Escrituras veterotestamentárias, há várias outras menções sobre o Filho do Homem e o Juízo Final nos assim chamados livros apócrifos, que não constam da atual versão da Bíblia.
Maria Helena de Oliveira Tricca, compiladora da obra Apócrifos – Os Proscritos da Bíblia, diz: “Muitos dos chamados textos apócrifos já fizeram parte da Bíblia, mas ao longo dos sucessivos concílios acabaram sendo eliminados. Houve os que depois viriam a ser beneficiados por uma reconsideração e tornariam a partilhar o Livro dos Livros. Exemplos: o Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão, o Eclesiástico ou Sirac, as Odes de Salomão, o Tobit ou Livro de Tobias, o Livro dos Macabeus e outros mais. A maioria ficou definitivamente fora, como o famoso Livro de Enoch, o Livro da Ascensão de Isaías e os Livros III e IV dos Macabeus.”
É difícil entender que uma Palavra divina possa ser alterada assim tão fácil e impunemente por mãos humanas, que seus textos possam ficar na dependência de serem julgados bons ou maus, canônicos ou não, por juízes e dignitários eclesiásticos. Além disso, há menções a certos livros apócrifos, e mesmos trechos destes, nos próprios textos canônicos! Se os livros canônicos são inspirados, autênticos e infalíveis, então as citações que neles aparecem de alguns escritos apócrifos também legitimam necessariamente esses últimos. O caso mais interessante é o do Livro de Enoch, mas há outros.
Por exemplo: a conhecida expressão “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” [Multi sunt vocati, pauci vero electi] (cf. Mt20:16;22:14) foi retirada do livro apócrifo 4Esdras, onde aparece por três vezes. Nesse livro, que tal como o Apocalipse de Baruc foi escrito na mesma época do canônico Apocalipse de João, há uma passagem em que se nota uma nítida semelhança com o Filho do Homem citado no Livro de Enoch. Trata-se da sexta visão, descrita dessa forma por L. Rost em sua obra Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudepígrafos: “A sexta visão mostra um ser semelhante ao homem, que surge do meio do mar e luta sobre as nuvens – à frente de um grande exército e com torrentes de fogo – contra os seus inimigos, até que estes se convertam em fumo e pó.” Este homem acaba então reduzindo a cinzas, com o fogo de sua boca (a Palavra julgadora), uma multidão que o combate:
“Eu vi, repara, esse Homem voou sobre as nuvens. E para onde virava o olhar, aí tremia tudo o que ele avistava. (…) E repara, quando viu o assalto da multidão, ele não ergueu a mão, não sacou da espada, nem de outra arma; vi apenas como ele expelia de sua boca algo como ondas de fogo, e de seus lábios um sopro flamejante. Isso caiu sobre a multidão afluente que estava preparada para o combate, e incendiou tudo, de modo que subitamente nada mais se via da multidão inumerável além de cinzas e cheiro de fumaça.”
(4Esd13:2,3,9-11)
No trecho abaixo, extraído desse mesmo livro 4Esdras, aparecem as condições reinantes na tribulação, época relacionada ao Filho do Homem:
“Chegam os dias em que o Altíssimo libertará os que habitam a Terra; a confusão apoderar-se-á deles, proporão fazer guerras entre si, cidade contra cidade, nação contra nação e reino contra reino. Quando acontecerem essas coisas e se produzirem os sinais que vos anunciei, então será revelado meu Filho, aquele que viste como Homem surgindo do mar.”
(4Esd13:30-32)
Nesse livro 4Esdras aparece distintamente a atividade do Messias e a do Filho do Homem, uma após a outra… O Filho do Homem é chamado textualmente de “Filho do Altíssimo” (4Esd13), sendo designado ainda como “o Ungido que o Altíssimo reserva para o fim”. Por duas vezes Deus o chama de “Meu Filho”.
É desconcertante o fato de esse livro ter sido considerado apócrifo, mesmo constando inicialmente do cânon de Jamnia (antiga cidade na fronteira de Judá). É desconcertante, visto trazer vários outros conceitos verdadeiros e muito importantes, como este: “Todo homem é responsável pela própria condenação eterna, e os justos não podem interceder em favor dos maus” (4Esd7:102-115). Nos antigos manuscritos da Vulgata, que ainda comportavam esse livro, um outro trecho, 4Esd8:36-105, foi simplesmente suprimido, porque descartava de modo explícito a idéia de “orações pelos mortos”… Os diálogos no livro sempre apresentam o pecado como a causa do mal no passado, no presente e no futuro, porque “o homem possui um coração mal”, e ainda avisam que no Juízo “cada um arcará com a própria responsabilidade” (cf. 4Esd7:102-105). Cada qual é, portanto, o único responsável pela própria salvação, de acordo com o quarto livro de Esdras. Teria sido esse o motivo de o livro ter sido classificado pelo teólogo Boldenstein, no ano de 1520, como um dos livros “perigosos” dentre as duas categorias em que dividira os livros apócrifos: úteis e perigosos?… Sim, muito perigoso… para a indolência espiritual humana!
Outro ponto desconfortável abordado no livro 4Esdras é o do reduzido número de pessoas salvas: “Perecerão não uns poucos, mas quase todos os que foram criados” (4Esd7:48); “Muitos na verdade foram criados, mas poucos serão salvos” (4Esd8:3); “São mais numerosos os que se perdem do que os que se salvam, em tal proporção como o curso das águas é maior do que uma gota” (4Esd9:15). E a manifestação atribuída ao Senhor em relação a esse fato, também não se coaduna com a doce ilusão de um Amor condescendente que tudo perdoa: “Alegrar-me-ei com os poucos que se salvam; não me afligirei pela multidão que perecer” (4Esd7:61,62). O livro também diz que se cometermos pecado morreremos, uma morte do íntimo, do nosso “coração”, deixando claro tratar-se da morte espiritual: “Nós que recebemos a Lei e pecamos, morreremos, assim como nosso coração que a recebeu” (4Esd9:37).
É uma lástima que esse livro não seja mais publicado, pois poderia dar um injeção de ânimo na mornidão das massas cristãs. Antes de ser sumariamente banido da Bíblia, 4Esdras era muito bem considerado entre os cristãos ativos de outrora, desfrutando de enorme popularidade na Igreja primitiva. Prova disso é a quantidade de idiomas em que foi traduzido: latim, siríaco, etíope, árabe, copta, armênio, georgiano…
Igualmente lastimável é que o Segundo Livro de Baruc também tenha sido carimbado de apócrifo, do contrário muita gente ficaria sabendo que “se o primeiro Adão pecou e trouxe a morte para todos os que ainda não existiam, todos os que dele nasceram, todavia, prepararam para a própria alma os suplícios futuros; (…) porque Adão não foi a causa única, sozinho; em relação a nós todos, cada um é, para si mesmo, Adão” (2Br54:15,19).
O apócrifo conhecido como Apocalipse de Abraão diz, no capítulo 29, que na última era do mundo haverá um Homem que reunirá os justos, trará o julgamento para os gentios e esperança para os outros; a ele se seguirão pragas terríveis. Nesse livro apócrifo também se discerne nitidamente a atuação do Juiz na última era da humanidade.
Outro livro apócrifo que aborda a vinda e a missão do Filho do Homem é o Salmos de Salomão. No capítulo 17, o autor roga ao Senhor para cingir o enviado com Sua força, para que ele (o Juiz) possa “esfacelar a substância dos pecadores com bastão de ferro, e aniquilar nações sem lei pela Palavra de sua boca.” Uma outra passagem extremamente interessante desse mesmo capítulo é a seguinte:
“Com sua ameaça, o inimigo vai fugir de sua presença; e ele açoitará os pecadores pelos pensamentos dos corações destes.”
(SlSal7:26)
O Juiz castigará os pecadores com os próprios pensamentos deles!… Essa visão da atuação do Juízo é absolutamente correta. Os pensamentos maus, desregrados, retornam agora no Juízo com toda a força sobre os geradores, muito robustecidos, efetivando-se correspondentemente. Outros trechos desse capítulo:
“[Ele] vai reunir um povo santo que conduzirá em Justiça. (…) Não permitirá que a injustiça continue a morar em seu meio, e nenhum homem que conheça o mal habitará entre eles. (…) Não haverá injustiça entre eles nos dias dele, pois todos serão santos, e seu rei é o Ungido do Senhor.”
(SlSal7:27-30)
Esses eleitos referem-se a um povo que fora convocado para atuar no Juízo, como guia dos demais povos. O Filho do Homem é chamado de “Ungido do Senhor”. É ele, pois, um dos dois Ungidos que já conhecemos do livro de Zacarias: “os dois Ungidos, que estão sempre de pé diante Daquele que é o Senhor da Terra inteira” (cf. Zc4:11-14). O outro Ungido do Senhor é Jesus, o Filho de Deus. Na tradição bíblica, o “Ungido” (Messias em hebraico e Cristo em grego) é aquele que recebe o sinal de uma missão divina.
O apócrifo Testamento dos Doze Patriarcas relata, com uma clareza ofuscante, o papel do Juiz no fim dos tempos:
“Saibas agora que o Senhor julgará os homens, e nesse momento as rochas se fenderão, o Sol se apagará, as águas secarão, o fogo gelará, toda criatura se angustiará e os espíritos invisíveis se desvanecerão. (…) O nome do Altíssimo será então exaltado, pois Deus, o Senhor, aparecerá sobre a Terra, para salvar pessoalmente os homens. Então serão esmagados todos os espíritos do erro. (…) Ele mesmo aparecerá na forma de um Homem, comendo e bebendo com os homens. E afogará a cabeça do dragão na água. (…) Ele acorrentará Belial, e dará aos seus filhos o poder de enfrentar os espíritos maus. (…) O próprio Deus se comunica, na forma humana. Dizei aos vossos filhos que sejam obedientes a ele!”
(3IV:1;2VI:2;3XVIII:4;10VII:2)
Numa outra passagem desse escrito, na parte referente ao “Testamento de Judá”, lê-se o seguinte sobre o advento do Juiz e os que andarem ao seu lado:
“Depois disto se levantará em paz um astro da linhagem de Jacó e surgirá um Homem de minha semente como Sol justo, caminhando junto com os filhos dos homens em humildade e justiça, e não se encontrará nele nenhum pecado. Os céus se abrirão sobre ele para derramar as bênçãos do Espírito do Pai Santo. Ele mesmo derramará também o Espírito de graça sobre vós. Sereis seus filhos na Verdade e caminhareis pelo caminho de seus preceitos, os primeiros e os últimos.”
(TestJud24:1-3)
O Livro Secreto de João diz que certas questões humanas importantes só se tornarão claras na época em que viver na Terra a “raça inalterável” (os salvos), cujo governante será o “Espírito da Vida” (Filho do Homem):
“[Serão reveladas] à raça inalterável, sobre a qual o Espírito da Vida descerá e habitará com poder. Eles alcançarão a salvação e se tornarão perfeitos. E eles se tornarão dignos de grandezas. E lá eles serão purificados de toda imperfeição e das angústias da maldade, estando ansiosos por nada, exceto pela incorruptibilidade, meditando daí em diante sobre isso sem raiva, inveja, má vontade, desejo ou insaciabilidade.”
(LsJ25:18-30)
A chamada Revelação de Adão também fornece um quadro de como será a vida na Terra após o Juízo, dos seres humanos salvos:
Nada de abominável estará em seus corações, somente o conhecimento de Deus. Bem-aventuradas são as almas daquelas pessoas, pois tiveram conhecimento de Deus no conhecimento da Verdade. Elas viverão para todo o sempre!”
(RvA72:12;83:12-14)
O texto conhecido como Realidade dos Governantes traz um testemunho impressionante sobre a vinda do Filho do Homem e a vida após o Juízo. No texto, alguém pergunta quanto tempo ainda falta para que as pessoas sejam libertadas dos erros, e a resposta, dada por uma voz clara, é a seguinte:
Até o momento em que o verdadeiro ser humano, dentro de uma forma modelada, revele a existência do Espírito de Verdade, que o Pai mandou. Então este ser os instruirá sobre todas as coisas, e os ungirá com o ungüento da vida eterna.”
(Rg96:32)
Em seguida, a voz descreve como as pessoas se comportarão:
Então eles serão libertados de pensamentos cegos. E eles calcarão aos pés a morte. E eles ascenderão à Luz ilimitada. Então todos os filhos da Luz terão verdadeiramente conhecimento da Verdade, e do Pai da Totalidade e do Espírito Santo. Eles todos dirão a uma só voz: ‘A Verdade do Pai é justa, e o Filho a preside à totalidade. E de cada um, por todos os séculos dos séculos, Santo, Santo, Santo!”
(Rg97:5,13-192)
Todas essas passagens são muito significativas. Contudo, de todos os apocalipses apócrifos, o mais claro, o mais explícito, o mais incisivo é, sem dúvida nenhuma, o Livro de Enoch. Esse livro era praticamente desconhecido até o século XVIII, à exceção de uns poucos fragmentos esparsos. Foi então que, no ano de 1773, o viajante inglês Bruce encontrou uma versão completa em versão etíope, a qual foi traduzida para o inglês em 1821, e a partir daí o interesse pelo texto naturalmente cresceu. Apesar de esse Livro de Enoch – escrito presumivelmente por volta de 110 a.C. (há quem estime o século III a.C.) – ser atualmente classificado de apócrifo, as evidências de sua legitimidade intrínseca são muitas, como veremos a seguir. Aliás, o livro só foi conservado íntegro em etíope justamente porque a Igreja da Etiópia o considerava canônico. Além da Igreja etíope, outros grupos cristãos manifestavam também clara tendência em reconhecer o caráter canônico do livro. O biblista John Mckenzie informa que o Livro de Enoch foi compilado por vários autores no século II a.C., tornando-se muito popular entre os cristãos nos três primeiros séculos da nossa era.
Observa-se inicialmente que Enoch, cujo nome significa “iniciado”, e a quem o evangelista Lucas atribui a paternidade do célebre Matusalém (cf. Lc3:37; Gn5:21), gozava de grande prestígio nos tempos antigos. Na Epístola aos Hebreus, por exemplo, está dito que “Enoch obteve testemunho de haver agradado a Deus” (Hb11:5;). Quando chega a Enoch na lista que faz dos elogios aos homens ilustres, o autor do livro de Eclesiástico afirma que “Enoch agradou ao Senhor e foi arrebatado, exemplo de conversão para as gerações” (Eclo44:16), e que “ninguém na Terra foi semelhante a ele” (Eclo49:14). No Gênesis, Enoch é citado como aquele que “andou na presença de Deus, e a quem Ele tomou para Si” (Gn5:24). No original hebraico, a expressão literal é caminhou com Deus, cujo significado no Judaísmo antigo é “agiu de acordo com a Vontade de Deus”.
Na comunidade de Qumran o Livro de Enoch também era considerado canônico. A popularidade que o livro desfrutava ali é atestada pelo grande número de cópias encontradas no conjunto dos Manuscritos do Mar Morto. A grande estima que o Livro de Enoch gozava na Antiguidade é confirmada por vários autores cristãos antigos, como: Clemente de Alexandria, Justino, Orígenes, etc. A mais antiga coletânea de textos do Antigo Testamento em grego, com idade atribuída ao século IV, descoberta em 1931 nas ruínas de uma igreja próxima de Mênfis, comportava várias partes do Livro de Enoch.
Vários pesquisadores também encontraram semelhanças muito grandes entre certos versículos dos Evangelhos de Mateus e de Lucas e trechos do Livro de Enoch. O teólogo italiano Luigi Moraldi, especialista em Ciências Bíblicas e professor de hebraico e línguas semitas comparadas, assevera que a resposta que Jesus dá ao tema apresentado pelos saduceus da mulher com sete maridos (cf. Lc20:27-33), tem como base justamente uma passagem do livro de Enoch, onde se diz que “a ressurreição será espiritual e que os justos ressuscitados serão como os anjos do céu”. No livro deuterocanônico de Eclesiástico, o segundo versículo do primeiro capítulo, que trata do mistério da Sabedoria, aparece integralmente no livro de Enoch.
Por fim, cabe ressaltar que o autor, Enoch, é nominalmente citado e tem um trecho do seu livro reproduzido na epístola canônica de Judas, no Novo Testamento da Bíblia, o que de acordo com a própria concepção evangélica da sola scriptura o convalida insofismavelmente. Essa concepção é oriunda da doutrina denominada autopistia – autotestemunho bíblico – segundo a qual as Escrituras são plenamente suficientes para fundamentar sua própria autoridade, de modo que a Bíblia diz exatamente o que ela significa e significa o que ela diz. Quantas vezes não vemos estudiosos bíblicos justificarem essa ou aquela passagem do Antigo Testamento com a alegação de que é citada por esse ou aquele autor do Novo Testamento? Não fazem isso até com o apócrifo Livro da Ascensão de Moisés, que tem um episódio seu citado na Epístola de Judas (cf. Jd9)? Essa prática faz parte do conceito que os reformadores chamavam de scriptura scripturae interpres, isto é, “as Escrituras interpretam as Escrituras”. O trecho do Livro de Enoch reproduzido na Epístola de Judas, inclusive, alude ao Filho do Homem e ao Juízo Final:
“Quanto a estes foi que também profetizou Enoch, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer Juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram, e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios e pecadores proferiram contra ele.”
(Jd14,15)
Segundo os pesquisadores, esse Judas, que não era o Iscariotes, poderia ser um dos meio-irmãos de Jesus (cf. Mt13:55; Mc6:3) e seguramente conhecia o apóstolo Pedro. Vamos então dar-lhe o crédito devido quanto à clara legitimidade que concede ao Livro de Enoch e examinar mais alguns trechos desse livro realmente valioso. Antes de mais nada é importante salientar que, no início do livro, fazendo referência a si mesmo e à época a que se refere suas visões, Enoch escreve: “Houve um varão justo, cujos olhos foram abertos por Deus, que teve visões santas e celestiais, visões que não são para essa geração, mas para uma longínqua, que há de vir.” Essa geração longínqua que haveria de vir somos nós agora.
O texto a seguir foi transcrito da obra Cosmos, Caos e o Mundo que Virá, de Norman Cohn, e transcreve algumas passagens selecionadas do Livro de Enoch. Observa-se que é muito nítida a imagem de um Julgamento levado a efeito pelo Filho do Homem:
“Este chegará quando um número predeterminado de eleitos for alcançado. Então, o Senhor dos Espíritos tomará seu lugar no trono da glória, circundado pelas hostes angélicas e pela assembléia de anjos. Os ‘livros dos livros’ – os registros das boas e más ações de cada indivíduo – serão abertos e haverá o Julgamento. Esta será a tarefa do Filho do Homem: sentado com o Senhor dos Espíritos, em um trono de glória, ele pronunciará as sentenças sobre os vivos e os mortos. (…)
Por meio de seus julgamentos o Filho do Homem realizará uma purificação da Terra. Não só os pecadores humanos, mas também os anjos decaídos, ‘aqueles que desencaminharam o mundo’, serão afastados de uma vez por todas – ‘e todas as suas obras serão eliminadas da face da Terra’. Todo o mal desaparecerá, vencido pela força do Messias entronizado – ‘e a partir de então não haverá nada sujeito à corrupção’. Por fim, o Senhor dos Espíritos transformará o céu e a Terra em ‘uma luz e uma bênção eternas’. (…)
O Filho do Homem viverá no meio deles, e com ele os justos irão morar, comer, dormir e se levantar, para todo o sempre. Eles próprios serão transformados. O Senhor dos Espíritos lhes proporcionará ‘as vestimentas da vida’, de modo que se tornem semelhantes a anjos. E serão imortais: ‘os escolhidos permanecerão na luz da vida eterna; e não haverá fim para os dias de sua vida.”
Por que será que esse livro não está na Bíblia? Será por incompreensão? Por medo? Por ambos?…
Sobre os apocalipses apócrifos, a Tradução Ecumênica da Bíblia afirma: “Em certo número de apocalipses, o nome Filho do Homem designa, na realidade, uma figura essencialmente celeste, sem ponto de contato real com a humanidade e inacessível ao sofrimento.” E acrescenta numa nota de rodapé: “Em vão se procuraria nas Escrituras um texto referente aos sofrimentos do Filho do Homem.” Mas então isso é razão para que os livros que aludem abertamente ao Filho do Homem sejam considerados ilegítimos? Por mostrarem de maneira clara que o Filho do Homem não é Jesus? Que ele, tal como Jesus, não estava sujeito a nenhum sofrimento indispensável, e que se encontrava intimamente ligado ao desencadeamento do Juízo Final?…
Vamos examinar mais algumas passagens elucidativas do Livro de Enoch em relação ao Juízo Final e ao Filho do Homem, chamado ali também de Escolhido e Eleito. Os trechos reproduzidos abaixo mostram nitidamente demais o acontecimento do Juízo Final e a atuação do Juiz, o Filho do Homem:
“As mais altas montanhas hão de tremer e os picos mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo. A Terra será desmantelada e tudo que sobre ela existe será supresso; e tudo será submetido a Julgamento.”
(I.4)
“Em verdade! Ele virá com milhares de santos, para exercer o Julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.”
(I.6)
O trecho acima (I.6) é o citado da Epístola de Judas (cf. Jd14,15).
“E o Senhor disse a Miguel: ‘Aniquila todas as almas lascivas e os filhos dos vigilantes por terem oprimido os homens. Elimina toda a opressão da face da Terra, desapareça todo ato de maldade, apareça o rebento da Justiça e da Verdade, transformem-se suas obras em bênçãos e plantem com júbilo obras de Justiça e de Verdade eterna.’ ”
(X.15-17)
“Quando a comunidade dos justos se tornar visível, e quando os pecadores forem castigados pelos seus pecados e expulsos da Terra, quando o Justo aparecer diante dos olhos dos justos, cujas obras estão guardadas junto ao Senhor dos Espíritos, e quando a luz dos justos e dos escolhidos brilhar sobre a Terra, onde estará então o lugar dos pecadores? Onde será o lugar de repouso para os que renegaram o Senhor dos Espíritos? Oh! Melhor seria para eles se não tivessem nascido!”
(XXXVIII.1)
“Então, naquele tempo, os reis e os poderosos serão aniquilados e entregues nas mãos dos justos e dos santos. A partir daquele momento, nenhum deles poderá pedir perdão ao Senhor dos Espíritos, pois a sua vida terá chegado ao fim.”
(XXXVIII.4)
“Lá eu vi aquele que possui uma cabeça de ancião, e essa era branca como a lã; e junto dele havia um outro, cujo aspecto era de um Homem, o seu rosto era cheio de graça, semelhante ao de um anjo santo. Perguntei ao anjo que me acompanhava, e que me revelava todos os segredos, quem era aquele Filho do Homem, de onde procedia, e por que estava com aquele que tem uma cabeça grisalha. Deu-me como resposta: ‘Este é o Filho do Homem, o detentor da Justiça, que com ela mora e que revela todos os tesouros secretos, pois Ele foi escolhido pelo Senhor dos Espíritos, e o seu destino excede a tudo em retidão diante do Senhor dos Espíritos, por toda a eternidade. Este Filho do Homem que viste, arrancará reis e poderosos de seu sono voluptuoso, fá-los-á sair de suas terras inamovíveis, colocará freios nos poderosos, quebrará os dentes dos pecadores.”(XLVI.1-2)
“Naquele lugar eu vi o poço da justiça: ele era inesgotável, e ao seu redor havia muitos poços de sabedoria. Todos os que tinham sede bebiam deles e eram saciados de sabedoria, e moravam junto aos justos, aos santos e ao Eleito. E, naquela hora, o Filho do Homem era mencionado diante do Senhor dos Espíritos, e o seu nome era referido diante do Ancião. Antes que fossem criados o Sol e os signos, e antes que fossem feitas as estrelas do céu, o seu nome era pronunciado diante do Senhor dos Espíritos.”
(XLVIII.1-2)
É bastante significativo o fato de Enoch informar nessa passagem que o Filho do Homem já existia – “seu nome era pronunciado” – antes de a obra da Criação posterior ser concluída. Mais uma evidência clara de que Jesus – o Amor de Deus, e o Filho do Homem – a Vontade viva e atuante de Deus, não são a mesma pessoa. No século II da nossa era, o cristão Justino ensinava que antes da Criação do mundo Deus estava sozinho, e não existia nenhum Filho. Quando Deus desejou criar o mundo, gerou outro ser divino para criar o mundo para Ele. Esse ser divino foi chamado “Filho” porque nasceu, e também foi chamado “Logos”, palavra grega que, como vimos, tem o significado de “Ação da Fala”. Quero intercalar aqui um trecho da dissertação “Deus”, da obra Na Luz da Verdade, de Abdruschin:
“Antes da Criação, Deus era um! Durante a Criação separou Ele uma parte de Sua Vontade, para que atuasse autonomamente na Criação, tornando se assim dual. Quando se tornou necessário remeter um mediador à humanidade transviada, por ser impossível qualquer ligação direta entre a pureza de Deus e a humanidade que se acorrentara por si, separou Ele, movido de Amor, uma parte de Si mesmo para a aproximação temporária aos seres humanos, a fim de novamente poder se tornar compreensível à humanidade, e com o nascimento de Cristo tornou-se triplo!”
O Filho de Deus é o depositário do Amor divino, “o Amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm8:39), no qual temos de “nos manter” (Jd21). Ele é o “Filho Unigênito que Deus enviou ao mundo, para que, por meio dele, tenhamos a vida” (1Jo4:9).
O Filho do Homem, por sua vez, é a personificação da “boa, agradável e perfeita Vontade de Deus” (Rm12:2), a qual devemos “cumprir de coração” (Ef6:6). Nossa disposição deve ser de conservarmo-nos sempre “perfeitos e convictos em toda a Vontade de Deus” (Cl4:12), vivendo “não de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a Vontade de Deus” (1Pe4:2). Se não agirmos assim, seremos como os fariseus, que menosprezavam ambos – a Justiça e o Amor divinos, que atuam em uníssono: eles “desprezavam a Justiça e o Amor de Deus” (Lc11:42).
A vida em comum dos justos com o Filho do Homem, mencionada no versículo acima do Livro de Enoch, apresenta um paralelo muito nítido com esse trecho do livro da Sabedoria: “Os que nele confiam compreenderão a Verdade, e os que são fiéis no amor permanecerão com ele (...). E o Senhor reinará sobre eles para sempre.” (Sb3:9,8).
Vamos prosseguir com extratos do Livro de Enoch:
“Ele será um bordão para os justos, para que nele possam apoiar-se e não cair; ele será a luz dos povos e a esperança dos aflitos.(…) Para esse propósito ele foi escolhido e mantido oculto junto dele, antes que o mundo fosse criado; e ele será para todo o sempre. E a sabedoria do Senhor dos Espíritos revelou-o aos santos e aos justos.”
(XLVIII.3-4)
“Naqueles dias, os reis da Terra e os poderosos que possuem a Terra ficarão com o semblante abatido por causa das obras das suas mãos; no dia da angústia e privação não poderão salvar a alma. Eu os entregarei então nas mãos do meu Escolhido; eles arderão como palha ao fogo na presença dos justos e submergirão como chumbo na água diante dos santos, e não se encontrará mais sinal deles. No dia da sua tribulação estabelecer-se-á a paz sobre a Terra; cairão na presença deles e não mais poderão levantar-se. Ninguém então se apresentará para tomá-los pela mão e reerguê-los, porque eles negaram o Senhor dos Espíritos e o Seu Ungido.”
(XLVIII.5-6-7)
“Pois a sabedoria derramou-se como água, e a sua glória não cessará por toda a eternidade. Pois ele é poderoso em todos os mistérios da Justiça; e a injustiça desaparecerá como uma sombra e não mais subsistirá. O Eleito está diante do Senhor dos Espíritos, e a sua glória permanece de eternidade em eternidade e o seu poder de geração em geração. Ele porá à luz as coisas ocultas, e diante dele ninguém poderá apresentar uma mentira, pois ele está diante do Senhor dos Espíritos, escolhido por seu beneplácito. Ele é justo no seu Julgamento, e diante da sua glória nenhuma iniqüidade subsiste.”
(XLIX.1-3, L.4)
A indicação de que ele porá à luz as coisas ocultas é a ratificação da sentença do Evangelho de Lucas: “Nada há de oculto que não haja de manifestar-se, nem escondido que não venha a ser conhecido e revelado” (Lc8:17). Continuando:
“Naqueles dias o Eleito sentar-se-á sobre o seu trono, e de sua boca emanarão todos os segredos da sabedoria e do conselho; pois isto lhe é outorgado pelo Senhor dos Espíritos, que também o exalta.”
(LI.2)
A indicação de que naquele tempo os segredos da sabedoria emanarão de sua boca, refere-se à Palavra da Verdade que o Filho do Homem traria à Terra.
“Naqueles dias, instaurar-se-á o castigo do Senhor dos Espíritos, e Ele abrirá todos os reservatórios de água que estão no alto dos céus, e todos os poços que estão debaixo da terra. E estes [os seres humanos], após reconhecerem que praticaram a iniqüidade sobre a Terra, serão aniquilados por causa dessa mesma iniqüidade.”
(LIV.5-7)
Os mortos espirituais serão despertados à força no Juízo, para que reconheçam sua culpa, antes de desaparecerem para sempre.
“Mas quando se aproximar o Dia da força, do Julgamento e do castigo, o Dia preparado pelo Senhor dos Espíritos para aqueles que não reconhecem a Justiça da lei, mas antes a renegam e abusam do Seu santo nome, então estará preparado esse Dia; e esse Dia será uma dádiva para os escolhidos, mas uma desgraça para os pecadores.”
(LX.5)
“Nesse dia, erguer-se-ão os reis, os poderosos e eminentes, e os que possuem a terra, e verão e saberão que ele se senta em seu trono glorioso e que em sua presença faz-se Justiça aos justos, e que não existe palavra vazia que diante dele se diga. Sentirão dor como a mulher que está em trabalho de parto e lhe é difícil parir. (…) Olharão uns para os outros consternados, cabisbaixos e encolhidos de dor. (…) Porém, este Senhor dos Espíritos forçá-los-á a saírem rápido de Sua presença. (…) Os justos e os eleitos serão salvos e já não verão o rosto dos pecadores e dos iníquos. O Senhor dos Espíritos habitará neles; com o Filho do Homem morarão e comerão, deitarão e se levantarão pelos séculos dos séculos.”
(LXII.2)
“Ele assentou-se sobre o trono da sua glória; então foi confiado a Ele, o Filho do Homem, a condução do Julgamento, e fez com que desaparecessem da Terra os pecadores e os perversos do mundo. Eles serão postos em grilhões e encerrados no lugar comum da sua destruição; todas as suas obras desaparecerão da Terra. De agora em diante, o corruptível deixará de existir, pois aquele Filho do Homem apareceu e assentou-se sobre o trono da sua glória, e diante da sua face todo o mal se dissipa e desaparece. E a voz daquele Filho do Homem se fará ouvir e será poderosa diante do Senhor dos Espíritos.”
(LXIX.15-16)
“Então o ancião veio, com Michael, Gabriel, Phanuel e mil vezes mil e dez mil vezes dez mil anjos, em número incontável. Ele aproximou-se de mim, saudou-me com sua voz e falou-me: ‘Este é o Filho do Homem, que haverá de nascer para a Justiça. A Justiça habita nele, e a Justiça do ancião não o abandona. (…) Todos os que andam nos seus caminhos – pois a Justiça nunca mais os abandonará – terão nele a sua morada e sua herança, e dele nunca mais se afastarão por toda a eternidade. E, assim, encontrar-se-á vida perene junto ao Filho do Homem, e os justos então gozarão paz e caminharão pelas veredas retas, para todo o sempre.”
(LXXI.7-9)
“E os 70 pastores foram julgados, mostraram-se culpados e também foram atirados ao abismo de fogo. Vi, naquele instante, que se abria um abismo como o anterior, no meio da Terra, cheio de fogo. Trouxeram as ovelhas cegas e foram todas julgadas. Foram condenadas, foram atiradas naquele redemoinho de fogo e começaram a arder.”
(XC.24-27)
Essa imagem mostra que serão condenados tanto os que ensinam a fé cega (os 70 pastores), como os que a acolhem sem nada questionar (as ovelhas cegas). É uma outra maneira de dizer que quando um cego guia outro cego caem ambos no abismo (cf. Mt15:14; Lc6:39).
“Mas quando em todos os atos aumentarem o pecado, a injustiça, a blasfêmia e a violência, e quando crescerem a apostasia, a prepotência e a contaminação, então sobrevirá na Terra um grande castigo do céu, e o Senhor aparecerá com ira e indignação, para realizar o Julgamento da Terra. Naqueles dias a prepotência será extirpada, e serão cortadas as raízes da injustiça e da fraude, sendo então eliminadas da face da Terra.”
(XCI.4)
“Com o fim deles [os pecadores], os justos herdarão moradas, graças à sua retidão, e será erigida uma grande casa para o Rei excelso na sua glória, para sempre. Depois, na nona semana, será conhecido o Julgamento justo, e todas as obras dos ímpios desaparecerão da Terra; o mundo dos maus será atirado à ruína, e os homens todos haverão de buscar o caminho da retidão.”
(XCI.7)
“Ai daqueles que constroem as suas casas sobre pecados! Pois serão arrancados dos seus fundamentos e perecerão pela espada; e aqueles que se apóiam no ouro e na prata serão instantaneamente reduzidos a nada no Julgamento.”
(XCIV.4)
Há aqui uma correlação muito nítida com a seguinte passagem do livro de Ezequiel, referente à inutilidade das riquezas como porto seguro no Juízo Final: “Atirarão às ruas a sua prata; o seu ouro será tratado como imundície; a sua prata e o seu ouro não poderão salvá-los no Dia do furor de Yahweh” (Ez7:19).
“Ai de vós que praticastes o mal contra o vosso próximo. Ser-vos-á dada a paga segundo vossas obras. Ai de vós, línguas mentirosas, e ai daqueles que se atreveram a praticar a injustiça! Pois num instante chega a desgraça.”
(XCV.3)
“Que quereis fazer, pecadores? Para onde desejais fugir naquele Dia do Juízo, quando ouvirdes em voz alta as orações dos justos? Na verdade, acontecer-vos-á como àqueles a quem se aplica esta palavra como testemunho: ‘Vós fostes cúmplices dos pecadores!’ Naqueles dias, a oração dos justos chegará ao Senhor, e os dias do vosso julgamento vos colherão de surpresa. Todas as vossas palavras ofensivas serão apresentadas diante do Grande e Santo; então vossa face enrubescerá de vergonha, e Ele condenará todos os atos que se fundaram sobre a injustiça.”
(XCVII.2-3)
“Por faltar-lhes o conhecimento e a sabedoria, perecerão com todos os seus tesouros, magnificência e honras, pelo assassinato e no opróbrio, e serão lançados na maior miséria em fornalha ardente. Juro-vos, pecadores: Assim como nenhuma montanha foi ou será um escravo, e assim como nenhuma colina se converterá em escrava de uma mulher, da mesma forma o pecado não foi enviado a esta Terra, mas sim foi obra dos homens por si mesmos; e grande condenação atraem sobre si os que o cometem.”
(XCVIII)
Essa última sentença é mais uma comprovação de que todo mal e toda culpa estão circunscritos à materialidade. São coisas geradas unicamente pelos decaídos seres humanos terrenos.
“Uma vez mais vos juro, pecadores, que o pecado fica reservado para um Dia de interminável derramamento de sangue. Adorarão as pedras, as imagens de ouro, de prata e de madeira, os espíritos imundos, os demônios e todos os ídolos dos templos, mas não obterão nenhuma ajuda. Seus corações tornar-se-ão estúpidos à força de impiedade, e seus olhos serão tornados cegos pela superstição. Nos sonos e visões, serão ímpios e supersticiosos, serão mentirosos e idólatras. Perecerão todos!”
(XCIX.4-5)
“Mas naqueles dias, felizes serão aqueles que tiverem recebido a Palavra de Sabedoria, que tiverem procurado e seguido as vias do Altíssimo, que caminham nas sendas da Justiça e não nas rotas da impiedade, pois serão salvos.”(XCIX.6)
Essa Palavra de Sabedoria é a Palavra da Verdade trazida pelo Filho do Homem, nos dias do Juízo.
“Ai de vós, pecadores, ao morrerdes na plenitude dos vossos pecados, enquanto os vossos cúmplices dizem: 'Felizes são os pecadores, viveram bem todos os dias de suas vidas. Morreram na felicidade e na riqueza; não conheceram na sua vida nem aflição nem derramamento de sangue; morreram honrados, e nenhum julgamento aconteceu contra eles ao longo a sua vida.' Então não sabeis que as suas almas foram mandadas ao mundo inferior para, então, serem presas de grande aflição? O vosso espírito será entregue às trevas, aos grilhões e às chamas do fogo, no Dia em que se verificar o grande Julgamento. Ai de vós! Não conhecereis a paz.”
(CIII.3-4)
Esse trecho mostra, de maneira muito clara, que o ser humano vai encontrar suas obras depois da morte.
“Aguardai tão-somente; virá o tempo do completo desaparecimento do pecado! Os nomes dos pecadores serão apagados do Livro da Vida e dos livros santos, ficando seus descendentes para sempre eliminados. Seus espíritos serão derrubados por terra. Gritarão e imprecarão num lugar imenso e deserto, ardendo no fogo; e isso não terá fim.”
(CVIII.2)
“Abandonai a impiedade do vosso coração! Não mintais! Não deturpeis as palavras da Verdade, não desvirtueis com mentiras as palavras do Santo e Altíssimo! Afastai-vos da adoração dos vossos ídolos! Pois todas as vossas falsidades e apostasias não conduzem de forma alguma à retidão, mas sim a um grande pecado.”
(CIV)
Dentre as muitas advertências contra a idolatria existentes na Bíblia, essa exortação do profeta Ezequiel se coaduna muito bem com as advertências de mesmo teor do Livro de Enoch: “Voltai, desviai-vos dos vossos ídolos imundos, desviai os vossos rostos de todas as vossas abominações” (Ez14:6). Não mintais!… Com essa incisiva exortação de Enoch, terminamos nosso apanhado sobre seu livro extraordinário.
Vamos agora falar de Baruc, cujo nome significa “abençoado”. Assim como Enoch, Baruc é outra personalidade controvertida no que concerne à canonicidade dos seus escritos. Dois livros apócrifos e um deuterocanônico levam seu nome, mas há dúvidas se de fato são de sua autoria, no todo ou em parte. A indisfarçável confusão do cânon estabelecido por mãos humanas, de que já tratamos, fica espelhada de maneira ainda mais desalentadora nos escritos de Baruc. Seu livro principal não é encontrado na Bíblia hebraica, no entanto aparece na Septuaginta e consta do cânon do Concílio de Trento, de modo que faz parte integrante da Bíblia católica, aparecendo depois de Lamentações.
O assim chamado Apocalipse de Baruc é um texto apócrifo que faz menção explícita ao Juízo Final e ao Juiz. Baruc era escriba de Jeremias, e foi nominalmente citado por este várias vezes em seu livro canônico, do qual foi o provável redator, o que demonstra o alto conceito que gozava junto ao grande profeta: “Jeremias recorreu a Baruc, filho de Neriá, que escreveu num rolo, conforme Jeremias ia ditando, todas as palavras que o Senhor lhe tinha dirigido” (Jr36:4). O trabalho de redação de Baruc é comprovado em muitas passagens desse livro, onde se fala de Jeremias na terceira pessoa.
O prestígio de Baruc naquele tempo era tal, que chegou a ser considerado por muitos como o verdadeiro fornecedor dos oráculos de Jeremias. Baruc era um sofer, uma espécie de secretário de estado, quase um chanceler. O livro profético que leva seu nome também era lido para o rei Jeconias e todos os hebreus cativos da Babilônia. (2) Segundo Julio Trebolle, a diáspora judaica utilizava o livro de Baruc para leitura na Festa dos Tabernáculos. Todavia, nenhuma dessas credenciais impressionantes bastaram para que seu Apocalipse fosse considerado canônico. Vamos, pois, retirar Baruc desse injusto ostracismo e analisar alguns trechos do seu livro tão especial, onde há igualmente menções à atuação do Filho do Homem e à época do Juízo Final:
“Mas preparai os vossos corações e semeai neles os frutos da lei, para estardes protegidos no tempo em que o Todo-Poderoso haverá de abalar toda a Criação.”
(XXXIII)
“Eis que é chegado o momento da tribulação. Ela virá e o seu ímpeto será avassalador; ela propagará o desespero em meio a constantes ataques de ira. Naqueles dias, todos os habitantes da Terra revoltar-se-ão uns contra os outros, pois não saberão que é chegada a hora do meu Julgamento. Naqueles dias será pequeno o número dos sábios, e poucas serão as pessoas conscientes do que se passará. (…) As paixões acometerão os pacíficos e muitos serão arrebatados pela cólera e ferirão muitos. Exércitos incitar-se-ão ao derramamento de sangue, e finalmente todos conjuntamente perecerão. A mudança dos tempos será, naqueles dias, clara e patente para todos, porque nos dias passados encheram-se de contaminação, praticaram a fraude, seguindo cada um os seus caminhos, relegando ao esquecimento a Lei do Todo-Poderoso. Por isso, as chamas devorarão os seus intentos; os seus pensamentos secretos serão provados pelo fogo. O Julgador virá, e ele não hesitará.”
(XCVIII)
“Dias virão em que os tempos estarão maduros: próxima estará a colheita da boa e da má semeadura. Então o Todo-Poderoso espalhará a confusão da mente e as angústias do coração sobre a Terra, sobre os seus habitantes e os seus príncipes. Então eles se odiarão mutuamente e armar-se-ão uns contra os outros para a guerra; os que estiverem em inferioridade intrometer-se-ão com os próceres, e os exíguos considerar-se-ão iguais aos potentados.”
(CXX)
“O Altíssimo apressará os seus tempos; os seus tempos estão próximos. Com certeza Ele julgará os habitantes do seu mundo, e a todos provará em Verdade, segundo as obras de cada um, mesmo as mais secretas. (…) O fim dos mundos desvelará o grande poder Daquele que os governa, pois tudo será levado a julgamento. (…) O que hoje é saúde converter-se-á em doença, o que agora é vigoroso, será frágil. O que agora é força, será fraqueza. E todo o vigor da juventude se transformará em debilidade senil e em morte. E toda a admirável beleza de hoje será flacidez e feiúra. O poder arrogante tornar-se-á humilhação e vergonha. Toda a celebridade orgulhosa de hoje converter-se-á em opróbrio e olvido. Toda a vanglória e toda a pompa de hoje serão ruína e mudez. O que agora é gosto e delícia será roedura de traças, e nada mais. Toda a ruidosa gabolice de hoje converter-se-á em poeira e silêncio.”
(CXXXIII)
“A juventude do mundo já passou, a plenitude das energias da Criação há muito chegou ao fim; a vinda dos tempos últimos está quase presente, e quase já passou. Pois o cântaro está próximo da fonte, o navio próximo do porto, a caravana próxima da cidade, a vida próxima do fim. Preparai-vos, para que possais estar tranqüilos quando fordes embarcados no navio, para não serdes sentenciados depois de partir! Porque quando o Altíssimo tudo isso tornar realidade, não haverá nova oportunidade de arrependimento, nem um novo fim dos tempos, nem duração das horas, nem mudanças de caminho, nem ocasião para orações ou para súplicas, nem busca do entendimento, nem doação por amor, nem mais ocasião de compunção da alma, nem a intercessão pelos pecados, nem a interpelação dos patriarcas, nem as lamentações dos profetas, nem o auxílio dos justos.”
(CXXXV)
“Depois que no mundo ele tiver tudo submetido a si, e em paz duradoura se assentar sobre o seu trono real, instalar-se-á o bem-estar e sobrevirá a paz. Então, como o orvalho, descerá a saúde e as doenças se afastarão. E na vida dos homens desaparecerão as preocupações, os suspiros e as tribulações; a alegria se estenderá sobre toda a Terra. Ninguém morrerá antes do seu tempo e nenhuma adversidade ocorrerá repentinamente. Litígios, queixas, desavenças, atos de vingança, derramamentos de sangue, cobiça, inveja, ódio e coisas semelhantes, dignas de condenação, tudo será extirpado por completo. Pois foram essas coisas que encheram o mundo de maldades, e por causa delas é que sobreveio toda a desordem na vida dos homens.”
(CXXIII)
Vamos tratar agora de um outro texto apócrifo, cuja autoria é atribuída ao profeta Isaías. Isaías dispensa apresentações. É o maior dos grandes profetas do Antigo Testamento e seu livro principal, escrito em meados do século VIII a.C., é conhecidíssimo. Contudo, a obra conhecida como Livro da Ascensão de Isaías, que traz o seu nome no título, foi recusada. Isso apesar (ou em virtude) de fazer alusões muito claras ao Filho do Homem, chamado num dos trechos de Bem-Amado:
“Pois nos últimos tempos o Senhor descerá ao mundo e será chamado o Cristo, quando descer e vir a vossa forma; e se fará carne e será um homem. (…) E então a voz do Bem-Amado rejeitará com violência este céu e esta Terra; as montanhas e as colinas, as árvores e os desertos, e o setentrião e o anjo do Sol, e a Lua e todos os objetos deste mundo, testemunhas do poder e da manifestação de Belial. E todos os homens ressuscitarão e serão julgados nestes dias. E o Bem-Amado fará sair um fogo devorador que consumirá todos os maus, e estes serão como se nunca tivessem sido.”
(IX.13;IV.18)
Conforme já explicado, “Cristo” é a tradução grega para “Ungido”, e já vimos que o Filho do Homem é um dos “dois Ungidos” mencionados pelo profeta Zacarias em sua visão (cf. Zc4:14). O termo ressuscitar significa aqui “despertar”. Os seres humanos que dormem espiritualmente acordarão realmente no Juízo, aqui na Terra ou no Além, pois “não há trevas nem sombras espessas onde possam esconder-se os malfeitores” (Jó34:22). Serão assim forçados a reconhecer a culpa com que se sobrecarregaram, antes de serem aniquilados para sempre. Belial é um outro nome para Baal, o principal servo de Lúcifer.
Mais um trecho do livro:
“E dará a paz e o descanso àqueles que encontrar com vida na Terra, aos zelosos servidores de Deus, e o Sol se tingirá de vermelho.”
(IV.14)
Aqueles que o Filho do Homem encontrar com vida na Terra são os que naquela época estariam vivos espiritualmente. Somente estes contam, pois Deus “não é Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt22:32).
O Filho do Homem é “o Filho a quem o Pai confiou todo o julgamento” (Jo5:22), que “julga os mortos, para dar galardão aos seus servos” (Ap11:18). Os seus servos são os espiritualmente vivos, que recebem o galardão da vida eterna. Já os espiritualmente mortos são os “mortos, grandes e pequenos, que foram postos diante do trono para serem julgados, um por um, segundo as suas obras” (Ap20:12). A época do Filho do Homem é o tempo em que os vivos andarão entre os mortos, o tempo presente. Vivos espiritualmente e mortos espiritualmente, pois outros não há. São estes os mortos que irão acordar no Juízo. A estes se refere indicação de que ele virá para julgar os vivos e os mortos: “Mas eles terão de prestar contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos” (1Pe4:5).
Em breve a ceifa do Filho do Homem estará consumada e assim, finamente, “os justos herdarão a Terra” (Sl37:29). E então, tal como os animais sapientes junto ao trono do Todo-Poderoso, todos eles saberão que Santo é unicamente Deus: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir” (Ap4:8).