Não obstante trazerem belas e elucidativas passagens sobre a vida de Jesus na Terra, os Evangelhos canônicos não constituem eles próprios, como vimos, a legítima Palavra de Deus, permanecendo apenas como tentativas de reprodução dessa Palavra. Sendo assim, surge nas pessoas de espírito livre uma pergunta perfeitamente pertinente: Se os Evangelhos não são a própria Palavra que Jesus trouxe, como então reconhecer acertadamente os seus ensinamentos?
A resposta a essa pergunta está no próprio Evangelho de João, no seguinte trecho:
“Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a Verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.”
(Jo16:12-15)
Jesus anuncia a vinda do Espírito da Verdade, que nos “guiará em toda a Verdade”. A Verdade integral nos seria dada então por esse segundo enviado de Deus-Pai. O biblista Bruno Maggioni diz que o sentido da expressão grega é “guiar para e dentro da plenitude da Verdade”.
O Espírito da Verdade é, porém, o Consolador prometido por Jesus (cf. Jo16:7-11). E, conforme já vimos no tópico Filho de Deus e Filho do Homem, o Consolador é o próprio Espírito Santo, o Filho do Homem, que no futuro desencadearia o Juízo Final e traria novamente a Palavra da Verdade à Terra, em cumprimento da promessa feita por Jesus.
O Filho do Homem, a Vontade de Deus, esteve na Terra. Nasceu em nosso planeta na época prevista para isso, para em tempo certo desencadear o Juízo Final.
E as provas? Como provar que o Filho do Homem passou pela Terra? Apesar de essas perguntas serem uma repetição daquelas formuladas pelos fariseus a respeito de Jesus, as provas da vinda do Filho do Homem e do desencadeamento do Juízo Final estão diante de cada um. Os sucessivos efeitos do Juízo são a maior prova da passagem do Filho do Homem pela Terra, pois ninguém, a não ser ele, poderia desencadear o Juízo, já que ele foi a própria Vontade de Deus encarnada.
O Juízo Final teve início no ano de 1929, conforme explica Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final: “Quando expirou o prazo do desenvolvimento, o relógio do Universo deu o sinal, e com esse sinal começou ao mesmo tempo o Juízo Final. Quando isso aconteceu, contava-se na Terra o ano de 1929.” De lá para cá, os efeitos crescentes do Juízo se mostraram com clareza ofuscante para qualquer um que tenha atentado mais seriamente nos acontecimentos mundiais, no comportamento dos seus semelhantes e em si próprio.
No entanto, para todos os demais, para os que insistem em permanecer alheios a todos os graves acontecimentos da época presente, iludindo a si mesmos com a política do avestruz, a interpretação dos sinais dos tempos lhes permanecerá vedada até o fim. Desse tipo de gente só se pode dizer: “O aspecto do céu sabeis interpretar, mas os sinais dos tempos não podeis” (Mt16:3). Não só não podem como não querem. Agem exatamente como o rei Joaquim, de Judá, que mandou queimar a profecia de Jeremias porque ela advertia sobre a invasão do rei da Babilônia (cf. Jr36:21-23), ou como o rei Acab, de Israel, que mandou encarcerar o profeta Micaías e o deixou a pão e água, porque ele havia previsto infortúnios para a nação (cf. 1Rs22:17,18,27). Quem age como um avestruz espiritual demonstra ter as mesmas características desse pássaro, conforme elucida o livro de Jó: “Deus o privou [o avestruz] da sabedoria e não lhe deu inteligência” (Jó39:17).
Jesus também não foi reconhecido pelos fariseus, mesmo com a Verdade que trazia e com os milagres que praticava. O que poderia fazer pensar que com o Filho do Homem seria diferente? Também lhe pediriam como prova “um sinal no céu” (Mc8:11), que igualmente lhes seria negado: “Por que esta geração procura um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado” (Mc8:12). Jesus também não se precipitou do pináculo do templo apenas para mostrar às criaturas humanas como Deus o protegia, tampouco fez algum sinal diante de Herodes como este lhe pedira (cf. Lc23:8,9). O sinal do Filho do Homem para os seres humanos será ele próprio, reconhecível em sua Palavra: “Assim como Jonas se tornou um sinal para os habitantes de Nínive, o Filho do Homem será um sinal para essa geração” (Lc11:30).
De nada adiantaria falar dos aspectos terrenos da passagem do Filho do Homem pela Terra. Só a afirmativa categórica de que ele esteve aqui, junto aos seres humanos da época atual, já provocará sorrisos de incredulidade. É absolutamente desnecessário despender qualquer esforço para convencer esses tais. Não devemos esquecer a sentença que proíbe “atirar pérolas aos porcos” (Mt7:6). O fato de apenas pouquíssimas pessoas terem-no reconhecido só demonstra a profundeza abissal em que se encontra espiritualmente a humanidade de hoje. Sim, mais uma vez “a Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo1:5). Não a receberam porque “todo o que pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz” (Jo3:20).
Da época de Jesus até hoje a humanidade não evoluiu, pelo contrário, só regrediu espiritualmente. Os fariseus de outrora estão todos aí novamente. Com a única diferença de que ao invés de se agarrarem a falsos conceitos das antigas Escrituras, aferram-se à rigidez dogmática de suas crenças cegas, às concepções restritas da ciência e aos malabarismos do ocultismo e do misticismo.
Os próprios efeitos abaladores do Juízo, seja em nível pessoal ou coletivo, darão testemunho cada vez mais acentuado da passagem do Filho do Homem pela Terra, os quais já estão trazendo em ritmo acelerado a reciprocidade que compete a cada um. Por isso, é errado querer ser um agente da reciprocidade segundo o entendimento terreno: “Não digas: ‘como ele me fez vou fazer a ele, pagar-lhe-ei com a mesma moeda!’ Não digas: ‘hei de vingar-me!’ Põe tua esperança no Senhor e ele te livrará” (Pv24:29;20:22). A nenhum ser humano cabe o papel de agente pessoal da Vontade de Deus nos efeitos da reciprocidade, senão ao próprio Filho do Homem, visto que unicamente a ele “pertencem a vingança e a retribuição a seu tempo” (Dt32:35). “A mim pertence a vingança, eu é que retribuirei” (Rm12:19; Hb10:30), diz o Filho do Homem.
O Filho do Homem, o Juiz enviado pelo Senhor dos Mundos, já esteve entre os seres humanos da Terra. Com isso cumpriram-se muitas profecias e a anunciação feita por Jesus, o Filho de Deus. Conforme fora prometido, ele desencadeou o Juízo Final e nos legou a Palavra da Verdade, última possibilidade de salvação concedida aos seres humanos. Quem ansiar por essa Palavra de todo coração, quem sentir intensa fome de vida e de Verdade, este a encontrará, pois assim está na Vontade do Senhor, conforme já asseverava o profeta Amós: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a Terra, não de pão, nem de sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor” (Am8:11). Nessa época, muitos dos até então espiritualmente surdos e cegos, em razão de uma nova e acertada movimentação interior, se tornarão capazes de ouvir a Palavra do Livro da Verdade e divisar a realidade tal como ela é: “Naquele tempo os surdos ouvirão as palavras de um livro, e livre da obscuridade das trevas os olhos dos cegos verão” (Is29:18).
O apóstolo Pedro, repetindo a predição feita pelo profeta Joel (cf. Jl3:1), diz que nos últimos dias as pessoas sobre quem o Senhor derramar Seu Espírito se tornarão videntes:
“Acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que eu derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, vossos filhos e vossas filhas serão profetas, vossos jovens terão visões, vosso anciãos terão sonhos.”
(At2:17)
Essa profecia quer indicar que no tempo do fim toda a carne sobre a qual o Espírito for derramado, isto é, a parcela da humanidade que tiver assimilado o saber outorgado pelo Espírito Santo de Deus se tornará vidente. Essa vidência, porém, não tem relação com capacidades ocultas ou clarividência, mas sim significa que essas pessoas terão compreensão, terão obtido o reconhecimento.
Silenciosamente escoa a última possibilidade de graça concedida aos seres humanos, como silenciosamente se deu a própria vinda do Filho do Homem à Terra. Sem alarde. Sem nenhuma tentativa de aliciar as indolentes criaturas. Ele realmente veio “como um ladrão, à hora em que não cuidais” (Lc12:40). Sua vinda foi, de fato, tão inesperada “como de repente o relâmpago sai do oriente e reluz até o poente” (Mt24:27).
A Palavra da Verdade deixada pelo Filho do Homem aguarda a humanidade, mas não corre atrás dela. E o tempo disponível para que ela, finalmente, se decida a movimentar-se espiritualmente, dando início à tão necessária evolução ascendente do espírito, é cada vez mais exíguo. Já estão deslizando os últimos grãos de areia na ampulheta que mede o tempo concedido para o desenvolvimento humano… Assim jurou anjo do Apocalipse: “Já não haverá mais tempo!” (Ap10:6).
Quando Jesus, o Amor de Deus, esteve na Terra, a Palavra da Verdade que ele trouxe foi oferecida à humanidade. Veio ao encontro dos seres humanos como que com os braços abertos, ensinando, auxiliando, advertindo… Os seres humanos, porém, assassinaram essa Palavra, a Palavra de Deus encarnada, forçando assim para si mesmos sua própria e inevitável destruição. Agora, no fim, eles é que têm de ir novamente ao encontro da Palavra, caso ainda quiserem se salvar. Com humildade e vontade séria têm de provar que, apesar de tudo, ainda anseiam realmente de todo coração pela Palavra de Deus, a fim de viverem de acordo com a Vontade Dele, reconhecendo ser essa a única possibilidade de se salvarem no Juízo. Eles, “que quiseram apartar-se de Deus, têm de pôr agora dez vezes mais zelo em procurá-Lo” (Br4:28).
Todavia, como muita gente acredita que o Criador Todo-Poderoso precisa correr atrás da humanidade, os seres humanos terão novamente de aprender a temer a Deus nos efeitos da reciprocidade, reconhecendo a Sua Vontade expressa nos Mandamentos. Agora, mais do que nunca, vale a sentença: “Teme a Deus e observa Seus Mandamentos, eis o que compete a cada ser humano” (Ecl12:13). Para alguns, esse aprendizado poderá ser o começo da verdadeira sabedoria: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv1:7). Com esse temor reavivado, surgirá ao mesmo tempo uma distância natural da criatura em relação ao Criador, como já havia outrora, antes da queda. Antes da queda significa muito antes do período de composição dos livros do Antigo Testamento, que com suas absurdas imagens antropomórficas do Senhor cuidaram de apagar os últimos traços de legítima veneração e profundo respeito dos seres humanos para com seu excelso Criador.
O reconhecimento do Filho do Homem e de sua Palavra não podem ser obtidos de fora para dentro. Só podem brotar de dentro para fora, através do paulatino amadurecimento interior, que se caracteriza por uma busca incansável da Verdade e uma prontidão contínua.
Em Isaías aparece a anunciação do nascimento do Filho do Homem na Terra:
“Portanto o Senhor mesmo vos dará sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Imanuel.”
(Is7:14)
Nas bíblias latinas, a palavra Imanuel aparece quase sempre grafada como “Emanuel” neste versículo, decorrente da tradução da Vulgata, que utilizou a forma “Emmanuhel”. As bíblias alemãs e inglesas utilizam a forma “Immanuel”. Contudo, a grafia correta é mesmo Imanuel, do original hebraico imanû’el. Imanuel é o nome do Filho do Homem, a Vontade de Deus. Abdruschin diz o seguinte sobre isso em Na Luz da Verdade, dissertação “Os Planos Espírito-Primordiais III”:
“Jesus é o Amor de Deus; Imanuel é a Vontade de Deus! Por isso a Criação vibra em seu nome. Tudo quanto nela acontece, tudo quanto nela se realiza se acha inscrito nesse nome, o qual mantém a Criação, do menor ao maior fenômeno! Nada existe que não se origine desse nome e que não tenha de cumprir-se nele.”
A anunciação de Isaías não se referia, portanto, ao nascimento de Jesus, como Mateus tentou esclarecer no seu Evangelho com a explicação do significado da palavra Imanuel: “Deus conosco” (cf. Mt1:23). Conseqüentemente, a “virgem” citada nessa profecia de Isaías, na qual Mateus se baseou, também não se referia à mãe de Jesus – o Filho de Deus, e sim à mãe terrena de Imanuel – o Filho do Homem.
Sobre o nascimento de Imanuel e sua atuação, diz ainda Isaías: “Uma criança nasceu para nós, um filho nos foi dado. A soberania repousa nos seus ombros. Proclama-se o seu nome: Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is9:5). Essas designações também não se referem, como pensam alguns, a Ezequias, filho de Acaz, que se tornaria um rei exemplar de Judá.
Jesus nunca se referiu a si mesmo como Imanuel. Nem ele nem ninguém mais em toda a Bíblia. No versículo 21 desse mesmo capítulo do Evangelho de Mateus, a anunciação do anjo no sonho de José é a seguinte: “Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt1:21). José cumpriu fielmente a determinação do anjo: “Acolheu em sua casa a sua esposa, e não a conheceu até quando ela deu à luz um filho, ao qual ele deu o nome de Jesus” (Mt1:25). O nome do Salvador é, pois, Jesus, e não Imanuel. Em grego, o nome de Jesus é Iesous, transliteração do hebraico Jeshû’, forma condensada de Jehoshû’a, que significa justamente “o Senhor Salva”. Esse conceito não era desconhecido no tempo terreno de Cristo. O filósofo Fílon de Alexandria, contemporâneo de Jesus, deixou registrado numa obra sua que a palavra Jesus significa “Salvação do Senhor”. Vemos então que o anjo instrui José a dar o nome de Jesus a seu filho justamente porque ele estava destinado a salvar o povo.
Imanuel, o Filho do Homem, desencadeou o Juízo Final na Terra e trouxe para cá a Palavra da Verdade, seu legado à humanidade. Ele não está mais entre os seres humanos terrenos, porém sua Palavra permanece como corda de salvação para todos os que tiverem a graça de encontrá-la e de reconhecê-la. Através dela poderão esforçar-se em ascender espiritualmente aqueles que se mostrarem dispostos a tanto, ou seja, os que realmente quiserem viver em conformidade com as leis instituídas pelo Criador, como trigo e não como joio. Somente estes serão tolerados no futuro dentro da Criação de Deus, a qual será libertada agora do jugo insano a que foi submetida pelo ser humano desnaturado: “A Criação foi sujeita ao que é vão e ilusório, não por seu querer, mas por dependência daquele que a sujeitou. A própria Criação espera ser libertada da escravidão da corrupção” (Rm8:20,21). Por isso, a mão do Juiz trará por fim um imenso júbilo à Terra inteira:
“Que o céu se alegre! Que a terra exulte! Estronde o mar e o que ele contém! Que o campo festeje, e o que nele existe! As árvores da selva gritem de alegria, diante do Senhor, pois ele vem, pois ele vem para julgar a Terra: ele vai julgar o mundo com Justiça, e as nações com sua Verdade. Estronde o mar e o que ele contém, o mundo e seus habitantes; batam palmas os rios todos e as montanhas gritem de alegria, diante do Senhor, pois ele vem para julgar a Terra: ele vai julgar o mundo com Justiça, e os povos com retidão.”
(Sl96:11-13;98:7-9)
Só a contingência do dever esforçar-se para se salvar, já separa brincando o joio do trigo durante o tempo da purificação: “Se é a muito custo que o justo se salva, que sucederá ao ímpio e ao pecador?” (1Pe4:18). Em sua segunda epístola Pedro descreve a época do Juízo Final, e na seqüência reforça essa necessidade de empenho pessoal para se obter a salvação: “Os elementos abrasados se dissolverão e a Terra e suas obras serão chamadas ao Julgamento. Se, pois, tudo isso deverá ser dissolvido, que homens deveis ser! Que santidade de vida! Que respeito para com Deus!” (2Pe3:10,11). Um respeito que se evidencia no esforço em viver segundo a Vontade do Senhor. Essa necessidade do esforço pessoal obedece à lei básica do Movimento na Criação, pois só aquele que se movimenta espiritualmente pode ascender espiritualmente. Só este angaria tal direito.
A Palavra da Verdade é o legado de Deus para a humanidade, transmitido por intermédio do Filho do Homem. Com sua passagem pela Terra ele ficou frente a todos os erros com que os seres humanos se sobrecarregaram durante milênios. Através dessas vivências indispensáveis ele pôde então indicar o caminho de auxílio na Palavra, para fora do labirinto de trevas. Ele nos seguiu em todos os nossos desvios e caminhos errados, a fim de nos alcançar e nos chamar, para então conduzir cuidadosamente de volta aqueles que ouvissem o seu chamado, uma vez que nós mesmos não éramos mais capazes de sair sozinhos do labirinto: “Lá haverá uma estrada, um caminho sagrado chamá-lo-ão. O impuro não passará por ele – pois o próprio Senhor abrirá o caminho – e os insensatos nele não vaguearão. Caminharão por ele os redimidos, voltarão os que o Senhor resgatou” (Is35:8-10).
Que essa jornada penosa do Filho do Homem para dentro do nosso labirinto de erros tenha sido um renovado sacrifício de Amor do Todo-Poderoso, tão imenso, fica patente se considerarmos que os caminhos e os pensamentos do Senhor não são os da criatura humana. Os caminhos de um enviado de Deus são muito maiores, muito mais amplos e mais claros que os nossos: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor, porque assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos” (Is55:8,9). Jesus já havia dito a mesma coisa com as palavras: “Vós sois daqui de baixo; eu sou do alto. Vós sois deste mundo; eu não sou deste mundo” (Jo8:23).
A Palavra deixada pelo Filho do Homem esclarece toda a Criação, dá resposta à cada pergunta do espírito humano, endireita tudo quanto foi torcido na doutrina de Jesus e mostra de que forma as pessoas podem sair do caos atual e viver em conformidade com a Vontade do Criador, único meio de poderem se salvar no Juízo. Tão-somente o Filho do Homem, o Espírito Santo de Deus, poderia esclarecer a Criação aos seres humanos, porque unicamente ele conhece os procedimentos criadores: “as coisas que são de Deus ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus” (1Co2:11). O astrônomo Galileu, do século XVII, por certo não tinha idéia da profunda verdade que reside nesse seu depoimento, dirigido ao abade beneditino de Pisa: “A autoridade do Espírito Santo visa persuadir os homens sobre aquelas verdades que, sendo necessárias à sua salvação e superando qualquer discurso humano, não podem, por outra ciência nem por outro meio, ser conhecidas senão pela boca do próprio Espírito Santo.”
Cada ser humano na Terra ainda vivo espiritualmente, que não procura abafar a voz exortadora da sua intuição, mas que se deixa guiar por ela e busca com sinceridade a Verdade, terá de encontrar a Palavra da Verdade. Não há nenhuma possibilidade de ocorrer uma falha nesse processo, pois “Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da Verdade” (1Tm2:4); Ele é “galardoador dos que O buscam” (Hb11:6). Mas, que soe bem claro, apenas dos que O buscam com toda a vontade de seus espíritos vivos! O ser humano tem de persistir, tem de perseverar em sua busca da Verdade. Perseverar para encontrar, encontrar para discernir, discernir para se apoderar em seu coração da Verdade integral e mantê-la para sempre junto de si.
O espírito vivo quer encontrar a Verdade, anseia por ela, para poder livrar-se de seus lastros cármicos e ascender finalmente. Assim como as flores terrenas se voltam para onde vem a luminosidade, assim como os galhos de uma árvore crescem sempre para cima, em direção à luz do Sol, do mesmo modo o espírito humano não atrofiado se esforça naturalmente em ascender rumo à sua pátria luminosa, o reino espiritual.
A legítima Palavra de Jesus não foi escrita por ele. Ficou, porém, gravada nas almas daqueles que a aceitaram e procuraram viver em conformidade com os ensinamentos ministrados. As sentenças simples e bem cunhadas do Salvador acharam entrada no espírito de muitos, sendo inscritas indelevelmente em suas almas. A Palavra de Jesus, “poderosa para salvar almas, foi neles implantada” (Tg1:21), foi neles de fato semeada, pois “a semente é a Palavra de Deus” (Lc8:11). A Palavra da Verdade ficou, portanto, realmente gravada neles, em seus corações, em cumprimento da promessa do Senhor: “Diz o Senhor: ‘Porei as Minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações” (Hb8:10). Figuradamente falando, eles realmente “ataram a Verdade ao pescoço e inscreveram-na nas tábuas do coração” (cf. Pv3:3). Isso pôde acontecer naqueles que ouviram a voz de Jesus com o coração, visto que já eram da Verdade, ou seja, a Verdade ainda subsistia em seus corações:
“Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da Verdade. Todo aquele que é da Verdade ouve a minha voz.”
(Jo18:37)
Quem outrora ouviu, assimilou, conservou e pôs em prática a Palavra de Jesus, que nasceu e veio ao mundo para dar testemunho da Verdade, este reconhece hoje a Palavra da Verdade de Imanuel, visto que ambas têm a mesma origem, provêm da mesma Fonte: a eterna Verdade de Deus. Não importa se a respectiva pessoa assimilou a Palavra do próprio Jesus ou dos que a transmitiram com fidelidade por toda a parte: “Aqueles que se tinham dispersado iam por toda a parte levando a Palavra da boa nova” (At8:4). Jesus aludiu a esse processo de um reencontro futuro com a Verdade, como uma promessa aos que mantinham estrita observância à sua Palavra:
“Se permanecerdes na minha Palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.”
(Jo8:31,32)
Essa Verdade que no futuro traria a libertação espiritual definitiva prometida por Jesus, é a Palavra deixada pelo Filho do Homem – o Espírito Santo. Ele e sua Palavra da Verdade são um só. Por isso, é nessa Palavra que se encontra a liberdade espiritual: “O Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Co3:17).
Agora, ao encontrar a Palavra do Filho do Homem, Imanuel, ressurge nessas pessoas os verdadeiros ensinamentos de Jesus, e eles reconhecem novamente nessa época, assim como fizeram no passado, a Palavra da Salvação. Reconhecem-na claramente. Experimentam uma consonância absoluta entre o que foi gravado em suas almas, na época do Mestre, e aquilo com que se deparam agora. Vivenciam no presente, em si próprios, a sentença de que “a Palavra do Senhor permanece para sempre” (1Pe1:25). Mostram ser a “boa terra” na qual foi semeada outrora a Palavra de Jesus, que “tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a Palavra” (Lc8:15). Eles retiveram a Palavra da Vida em seus corações desde então, e agora ela frutificará neles “a cem, a sessenta e a trinta por um” (Mt13:23).
Contudo, os que numa outra vida já desprezaram a Palavra de Jesus, o Messias encarnado no povo eleito, o Santo de Israel, rejeitarão infalivelmente agora, mais uma vez, a Palavra de Imanuel, a Lei do Senhor dos Exércitos, com o que eles mesmos se condenam no Juízo: “Como a língua do fogo devora a palha e a erva seca se consome na chama, a raiz deles há de se desfazer em podridão e a sua flor dissipar-se-á com o pó, porque rejeitaram a Lei do Senhor dos Exércitos, e desprezaram a Palavra do Santo de Israel” (Is5:24).
Os fariseus que escutavam Jesus, como de hábito não compreenderam aquela assertiva fundamental de liberdade espiritual por meio da Verdade, pois com seu limitado raciocínio imaginaram que ele se referia ao tempo deles e a uma libertação terrena, e por isso retrucaram: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: Vós vos tornareis livres?” (Jo8:33). Quantos desses fariseus de outrora não terão contribuído em vidas posteriores para torcer cada vez mais os ensinamentos de Jesus, comprimindo-os nos estreitos limites do entendimento do raciocínio e da fé cega?… Aqueles fariseus falavam de escravidão terrena, enquanto Jesus se referia à escravidão espiritual. Na dissertação “Despertai”, da obra Na Luz da Verdade, Abdruschin diz:
“O ser humano que permanece acorrentado interiormente será um eterno escravo, mesmo que seja um rei.”
Só poderão compreender a frase acima, em toda sua profundidade, os que na época de Jesus assimilaram realmente a Palavra dele em seu íntimo. (1) Estes agora não se deixarão dopar pela fé cega, mas repelirão tudo quanto se mostra em desacordo com a Palavra da Vida, gravada indelevelmente no recôndito de suas almas. Utilizando a Palavra do Filho do Homem como guia, como luminar e bastão, reconhecerão com muita nitidez o que permaneceu puro nos Evangelhos e o que foi torcido por mãos humanas.
Novamente ecoa dentro deles a fórmula de saneamento que Jesus já repetira tantas vezes em relação à antiga doutrina fixa dos judeus: “Ouvistes o que foi dito”, seguida da retificação salvadora: “Eu, porém, vos digo:…” (cf. Mt5:32,34,39,44). Jesus Cristo, com sua Palavra salvadora, fez outrora exatamente a mesma coisa que o Filho do Homem fez no presente, com sua Mensagem. Em sua época, Jesus conservou apenas o certo e rejeitou todo erro inserido por mãos humanas nas antigas Escrituras judaicas. Repeliu incisivamente a “tradição dos antigos” (Mc7:3,5) criada pelos antigos fariseus, a qual impedia o livre desenvolvimento espiritual. Do mesmo modo, na época atual, o Filho do Homem também trouxe à tona os verdadeiros ensinamentos de Jesus, descartando todas as concepções errôneas oriundas de cérebros farisaicos, que impregnaram a doutrina original de Cristo no curso dos últimos dois milênios.
A Palavra da Verdade trazida pelo Filho do Homem foi moldada para a época atual, para os seres humanos da época atual. A forma é diferente, pois naturalmente Jesus “expunha a Palavra conforme o permitia a capacidade dos ouvintes” (Mc4:33), portanto da maneira adequada para aquela época, para os seres humanos daquele tempo. O conteúdo de ambas, porém, é o mesmo. A Palavra do Filho do Homem se ajusta a tudo o que Jesus disse, com exceção daquilo que foi acrescido ou modificado por mãos humanas. Ela explica, de maneira clara e definitiva, o conteúdo da doutrina de Cristo, e amplifica para as criaturas humanas o saber sobre a Criação de Deus. Por isso, Paulo disse aos Coríntios: “O nosso conhecimento é imperfeito. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá” (1Co13:9,10). E complementa: “Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois veremos face a face. Hoje conheço em parte, mas então conhecerei plenamente” (1Co13:12). Nos últimos tempos aquelas pessoas estariam reencarnadas na Terra, e receberiam o saber pleno e perfeito através da Palavra do Filho do Homem.
O Filho do Homem, a Vontade Perfeita de Deus, trouxe a Palavra da Verdade para a Terra, porém não fundou uma nova religião. Essa Palavra responde de forma categórica a todas as perguntas que a humanidade se tem feito há milênios, às quais nem a fé cega, nem o ocultismo fantasioso, nem a ciência restrita são capazes de responder. Quem somos? De onde viemos? Qual o propósito da vida? Qual a meta final do espírito humano? As respostas a essas questões são encontradas, sem nenhuma lacuna nem suposições, na Mensagem legada à humanidade pelo Filho do Homem.
Como o Filho do Homem veio das alturas máximas, ele trouxe também o saber completo da Criação inteira, de modo que o ser humano passa a conhecer de que ponto da Criação se originou, e também a meta final de sua peregrinação através dela. Não sobra nenhuma lacuna para o saber do espírito humano. A Palavra mostra sem rodeios como o ser humano tem de viver na Criação se quiser ser um hóspede benquisto nela, e assim adquirir o direito de continuar a existir dentro dela. Ele passa a conhecer como tem de se portar para levar uma vida que pode ser considerada do agrado de Deus, a qual o levará por fim aos portais do reino espiritual.
A peregrinação bem sucedida do espírito humano através dos planos da Criação, até chegar ao Paraíso, assemelha-se a uma longa viagem cuidadosamente planejada. Também aqui na Terra, para se empreender uma viagem prolongada, é preciso primeiramente programar com cuidado todas as etapas, conhecer bem o destino, a rota, as leis de trânsito, etc. Não é diferente com a jornada espiritual. Por isso, o ser humano tem a obrigação de se esmerar em conhecer muito bem o percurso espiritual que tem de percorrer, se não quiser se perder durante a viagem ou tomar inadvertidamente um atalho que o fará desviar da meta.
O ser humano terreno se encontra a uma distância inconcebível do seu Criador. Inconcebível. Contudo, poderá reconhecê-Lo, mesmo aqui na Terra, através da Sua Vontade, claramente perceptível nos efeitos de Suas leis. O Senhor fala às Suas criaturas através das leis da Natureza. Conhecer essas leis é, portanto, fundamental para o ser humano poder saber como deve viver na Criação. Quem viver em conformidade com essas leis inflexíveis da Criação sobreviverá ao Juízo Final, quem se opuser a elas será desintegrado. Não existe meio-termo. Não há vacilação. Nenhuma postergação.
Mas quem possuir anseio legítimo, ardente pela Verdade, e trouxer em si a humildade em forma pura, este terá atingido também as condições necessárias para encontrar e reconhecer a Verdade nesta nossa época. Este terá efetivamente de encontrá-la. Os outros não. Passarão por ela sem vê-la nem reconhecê-la, pois não estão aptos para isso, mesmo que seu raciocínio tente persuadi-los do contrário. A Verdade integral está na Terra; cabe ao ser humano a tarefa de encontrá-la e reconhecê-la, livre de idéias pré-concebidas e paralogismos enganadores.
O ser humano precisa procurar a Verdade se quiser encontrá-la. Procurá-la realmente, sem deixar-se acomodar quando se depara com apenas algumas partículas de verdade aqui e acolá. Entretanto, a humanidade acha-se completamente embotada, cega e surda ante a necessidade, premente para ela, de encontrar a Verdade e viver de acordo com ela. Nesse grupo amontoam-se as muitas espécies de seres humanos: materialistas convictos, ocultistas, místicos, cientistas, fiéis fundamentalistas, filósofos das mais variadas correntes e tantos outros.
Todos eles estão absolutamente satisfeitos com aquilo que julgam ter nas mãos. Olham para seus semelhantes com ares de superioridade ou com terna complacência, cientes de estarem muito acima deles com seu saber. No entanto, o íntimo dessas pessoas, o seu espírito, não tem mais nenhum anseio pela Verdade; dorme profundamente, e afasta de si tudo quanto possa perturbar esse sono. Elas nem se dão ao trabalho de examinar com imparcialidade algo que soe diferente daquilo a que se apegaram. E por que o fariam? Sentem-se tão bem, tão elevadas com o que julgam possuir firmemente nas mãos, que não há razão para se perder tempo com coisas esquisitas e inferiores…
Uma pequena parcela da humanidade, porém, uma diminuta parte trava uma dura luta consigo mesma. Sentem que a sua religião, sua filosofia de vida, não lhes traz a tão almejada paz de alma. Falta algo! Algo que não sabem exprimir em palavras, mas que arde dentro de seu íntimo e que as impulsiona para a busca. Durante a busca, várias dessas pessoas mudam de religião ou de filosofia, procurando inconscientemente algo que se aproxime mais da Verdade. Mas, infelizmente, ao encontrarem alguma coisa que julgam mais acertada, acomodam-se na maioria das vezes nesse novo saber e suprimem aquele anseio inicial de busca. Apesar de terem assimilado algo que talvez se encontre mais próximo da Verdade, elas estacionam e deixam de procurar. Deixam de se movimentar.
Nenhum alpinista coloca a bandeira do seu país no meio da encosta de uma montanha, nem mesmo próximo ao topo. Ou ele finca a bandeira no cume ou ela não será hasteada. Ele tem, pois, de escalar a elevação até o final, num esforço contínuo e contíguo, se quiser atingir o objetivo a que se propusera antes da subida. Na escalada espiritual não é diferente. A paisagem pode, sim, ficar mais bonita à medida que se sobe, mas nem por isso deve-se acomodar nessa contemplação, desistindo do restante da subida. Se, na ascensão, a pessoa permanecer parada numa determinada altitude, ainda corre o risco de ser soterrada por uma avalanche. Ela só estará completamente protegida quando chegar ao topo. Subir alguns metros ou estacionar outros tantos abaixo do pico valem tanto quanto nada. O ser humano tem de escalar, sozinho, a montanha do reconhecimento espiritual até o fim, até conquistar a Verdade completa.
Durante essa escalada muitas pessoas boas vivenciam amargas decepções, não somente ao constatar lacunas nos novos conhecimentos que vão adquirindo, mas, principalmente, ao se defrontarem com os assim chamados adeptos dessas doutrinas, tendo de reconhecer quão longe muitos deles estão de viver segundo alguma diretriz talvez realmente boa. Ou, ainda, que uma diretriz que supunham correta as levaram para alvos errados, muito diferentes dos ansiados por seus espíritos. Por último ainda são obrigadas a ouvir gracejos dos que se mantiveram parados, como se suas desilusões fossem motivo para risos. Quem não graceja se contenta em apontar o dedo e a bradar: “Não falei?!”
Nesse ponto, a maior parte desiste de vez. Chega até à conclusão de que aquilo por que anseiam não pode ser encontrado… Que não existe… Com essa atitude a própria pessoa coloca uma baliza final em sua busca. Desiste daquilo que lhe é mais sagrado e vai se juntar às legiões de seres humanos aconchegados em alguma crença falsa.
A esse respeito, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade, dissertação “A Moderna Ciência do Espírito”:
“Os reveses no reconhecimento de caminhos errados se tornam armas afiadas nas mãos de muitos inimigos, os quais podem com o tempo incutir em centenas de milhares de seres humanos uma desconfiança tal, que esses, dignos da maior lástima, ao defrontarem a Verdade, não mais desejarão examiná-la deveras, receosos de nova ilusão! Taparão os ouvidos, que de outra forma teriam aberto, perdendo assim o último lapso de tempo que ainda lhes pudesse dar o ensejo de escalar rumo à Luz.”
É um erro terrível do ser humano espiritualmente vivo interromper sua busca da Verdade em razão das decepções com que se depara. Teria sido então errado iniciar a busca? Claro que não! Pois a exortação de Jesus é muito clara: “Procurais, e encontrareis!” (Mt7:7; Lc11:9). Essas palavras não encerram um conselho, não são acaso uma sugestão, mas sim uma exigência, trata-se de uma ordem a ser cumprida! Diz o Livro da Sabedoria que ela, a Sabedoria, “se deixa encontrar pelos que a procuram” (Sb6:12), somente por estes! Estes, que procuram, cumprem automaticamente a exortação de não deixar endurecidos os ouvidos: “Eis por que assim declara o Espírito Santo: Hoje, se lhe ouvirdes a voz, não endureçais os vossos corações” (Hb3:7,8). Eles ouvirão e reconhecerão a voz do Filho do Homem em sua Palavra. A segunda sentença das 114 existentes no apócrifo Evangelho de Tomé, atribuídas a Jesus, diz: “Aquele que procura não cesse de procurar até que descubra. E quando descobrir ele ficará confuso, e da confusão surgirá um reconhecimento, e com isso saberá de tudo e não precisará temer a morte.”
E agora, nessa época crucial da história humana, a mais crucial que já existiu, quando as estruturas formadas e nutridas pelo até então onipotente raciocínio estão ruindo por toda a parte, fragorosamente, quando cada um de nós tem de decidir sobre a sua própria subsistência como espírito humano, a Verdade se encontra novamente na Terra. Chegou até aqui moldada para a época atual, para os seres humanos do presente. Os requisitos para encontrá-la, porém, não mudaram, continuam exatamente os mesmos de outrora, como não poderia deixar de ser. É condição prévia uma determinada maturidade de espírito, que só pode ser obtida através de esforço ascensional próprio, exclusivamente pessoal, nada tendo a ver com estudos teológicos ou esotéricos. Somente a busca pessoal torna o anseio espiritual legítimo, vivo, e não a mera curiosidade mental ou mística.
A Verdade está brilhando no meio dos seres humanos, ela é como “uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o Dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (2Pe1:19). É a Palavra da Verdade deixada por Imanuel, que como Vontade viva de Deus é o único “eterno guardião da Verdade” (Sl146:6). Na época atual pode-se afirmar, finalmente, que “as trevas estão passando e já brilha a Luz verdadeira” (1Jo2:8). E essa Luz verdadeira, a Palavra da Verdade, precisa ser encontrada por aqueles que têm anseio por ela. Precisa ser encontrada porque é o único auxílio possível. Sem esse auxílio a criatura humana não conseguirá se libertar dos erros e das culpas que a agrilhoam, mesmo que, na sua habitual superficialidade, julgue isso possível com os sofismas de seu intelecto. Se não retirar de uma vez por todas os espessos óculos escuros do raciocínio, jamais conseguirá divisar o brilho da Verdade.
Existe ainda uma espécie de seres humanos que não quer examinar nada de novo por medo. Medo dos falsos profetas. Essa é também uma posição cômoda e covarde, pusilânime. Pois para saber se um determinado guia faz parte do grupo dos falsos profetas é preciso, evidentemente, conhecer o que ele tem a dizer!
Não é possível emitir um julgamento ou uma opinião sobre uma determinada doutrina ou filosofia sem conhecê-la, sem saber do que se trata. Naturalmente, esse julgamento pode ser rápido e infalível se o ser humano fizer uso de sua intuição. Mas ele tem de examinar tudo com que se depara, examinar com imparcialidade, livre de preconceitos e dogmas. Para a pessoa que se esforça realmente em ascender espiritualmente, poucas palavras ou linhas já bastam para reconhecer se algo novo tem ou não valor. A respeito dessa rejeição sistemática, sem análise, de tudo quanto é novo, com a menção aos falsos profetas, diz também Abdruschin em Na Luz da Verdade, dissertação “Fiéis Por Hábito”:
“Não é diferente com aqueles que procuram recusar tudo quanto é novo, fazendo referência à profecia sobre o aparecimento de falsos profetas! Nisso também nada há de diferente, do que mais uma vez a indolência do espírito, pois nessa profecia, a que eles se referem, é concomitantemente expresso de maneira clara que o certo, o prometido, virá exatamente nesta época do aparecimento dos falsos profetas! Como pensam então em reconhecê-lo, se para a sua comodidade simplesmente liquidam tudo de modo leviano com uma tal referência! Essa pergunta fundamental nenhuma pessoa ainda formulou para si mesma.”
Também com as dificuldades que encontra em sua caminhada o espírito amadurece. Podem ser obstáculos inesperados que aparecem em seu caminho de busca da Verdade. Os obstáculos são constituídos em grande parte por entulhos que dificultam o caminhar para cima, os quais foram ali depositados logo no início do trajeto por muitos pretensos mestres, freqüentemente na ilusão de estarem auxiliando a humanidade. Esses “mestres” apenas deram alguns passos na escalada e retrocederam, imaginando que o amontoado dos seus próprios entulhos já fosse o ápice da montanha.
Cada entulho traz, porém, o perigo de obscurecer a vista para o alto e desviar o andarilho do caminho reto para cima, levando-o imperceptivelmente para atalhos que não o fazem progredir, ao contrário, que o conduzem para baixo.
Contudo, se o ser humano for capaz de reconhecer um obstáculo como algo nocivo, pode então desviar-se dele ou até mesmo passar por cima, sem se incomodar com suas dimensões. Com seu firme propósito na escalada progressiva perceberá que esses estorvos vão se tornando cada vez mais raros, até desaparecerem completamente. Então poderá prosseguir com redobrada energia em direção ao alvo almejado. Se ele próprio não retroceder nem se desviar desse caminho, alcançará o alvo! Terá demonstrado a importância que dá à sua própria salvação através da perseverança, a qual suplanta todas as vicissitudes que encontra em sua passagem pela materialidade: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, este será salvo” (Mt24:13). Terá se tornado então merecedor das promessas de salvação, porque ao lado de sua fé também se mostrou zeloso e perseverante na realização de suas esperanças, afastando de si toda preguiça espiritual: “Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança até o fim, de modo que não vos torneis preguiçosos, mas imiteis aqueles que, pela fé e pela perseverança se tornam herdeiros das promessas” (Hb6:11,12). A fé é o início do bom caminho, à qual se deve ir juntando, com aplicação, outras qualidades em escala ascendente, conforme explica Pedro: “Aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança” (2Pe1:5,6). Essas qualidades são o único antídoto contra a inutilidade e improdutividade de vida do cristão: “Se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em sua vida, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos” (2Pe1:8).
Uma atitude bem diferente da imensa multidão dos entusiastas da “salvação gratuita”, que passeiam sorridentes e de mãos dadas, despreocupadamente, pela confortável estrada larga da morte, pavimentada por tantas religiões e seitas, que nada mais exigem deles senão que sigam sem reflexão as setas indicadoras do caminho para baixo, sedimentadas cuidadosamente por elas mesmas.
Por isso, é preciso manter a vontade firme na busca, perseverar. Só assim o ser humano mostra-se digno de alcançar a Verdade. Sua determinação inabalável o fará suplantar todos os mencionados obstáculos. A vontade sincera e a humildade de espírito são a chave para se encontrar, reconhecer e cumprir a Verdade.
Vontade sincera e humildade de espírito! Duas premissas de um ser humano bom que se esforça realmente em fazer tudo certo, testemunhas do seu puro anseio pela Luz e pela Verdade. São elas também os fundamentos para a ascensão ao Paraíso, legitimados nesses apelos de Davi: “Dá-me a conhecer Teus caminhos, Senhor; ensina-me as Tuas veredas. Faze-me caminhar para a Tua Verdade. Mostra-me, Senhor, o Teu caminho, para eu caminhar na Tua Verdade” (Sl25:4;86:11). O mesmo rogo sincero se reconhece nessa outra sentença: “Envia a Tua Luz e a Tua Verdade, para que elas me guiem e me conduzam à Tua montanha santa, à Tua morada” (Sl43:3).
Esse trajeto de volta à montanha santa da pátria espiritual será possível àquele que encontrar, reconhecer e praticar a Verdade. Reconhecer a Verdade significa vivenciá-la, viver dentro dela e nela. Estar sob a Luz da Verdade é ter todas as dúvidas existenciais sanadas, significa conhecer integralmente a Criação até o ponto de origem do ser humano. Praticar a Verdade é continuar evoluindo espiritualmente, o que equivale à construir para si mesmo a escada da ascensão espiritual, pois “quem pratica a Verdade aproxima-se da Luz” (Jo3:21). E quem se aproxima da Luz cumpre da maneira mais natural a Vontade do Criador em relação às Suas criaturas humanas, podendo a partir daí contribuir conscientemente para o embelezamento contínuo da obra da Criação.
Essa possibilidade está ao alcance de cada um que ainda traga dentro de si um vislumbre de Verdade, uma fagulha de vida. Não é a erudição, não é o ocultismo nem o misticismo, não é a fé cega que conduzem à Verdade. O caminho para lá só pode ser encontrado pelo íntimo renovado do espírito humano, através de sua própria vontade tornada pura. Por nada mais no mundo.
“Escutai, ó desalentados! Erguei o olhar, vós que buscais com sinceridade: O caminho para o Altíssimo se encontra pronto na frente de cada criatura humana! A erudição não é a porta que leva até lá!
Escolheu Cristo Jesus, esse grande exemplo no verdadeiro caminho para a luz, os seus discípulos entre os cultos fariseus? Entre pesquisadores das escrituras? Tirou os da singeleza e da simplicidade, porque eles não tinham que se debater contra este grande erro, que o caminho para a luz é difícil de aprender e árduo de seguir.
Quem possui em si firme vontade para o bem e se esforça por outorgar limpidez a seus pensamentos, este já achou o caminho para o Altíssimo! E assim, tudo o mais lhe será concedido.”
As palavras acima foram extraídas da primeira dissertação da Mensagem do Graal de Abdruschin – “Que Procurais?”.