O monumental falhar da humanidade acarretou danos imensos na obra da Criação. Durante milênios o ser humano jogou areia nas engrenagens perfeitas da obra. No início, por ignorância; no final, por vaidade e presunção.
É preciso dizer, contudo, que mesmo no início de seu desenvolvimento, a ignorância no agir foi provocada por ele mesmo. Antes do grande falhar, a criatura humana não era ignorante. A ignorância sobre o funcionamento e os efeitos dessas Leis veio somente depois, também como decorrência do domínio do intelecto sobre o espírito. O próprio ser humano apagou então para si o saber que anteriormente possuíra sobre as Leis da Criação.
No início não existia o mal, o pecado. Este foi inventado e colocado na Criação pelo próprio ser humano que, desprezando todas as advertências sucumbiu aos insidiosos engodos de Lúcifer, tal qual um inseto que é atraído pelo brilho fraco de uma luminária e depois morre em seu interior, sem readquirir a liberdade.
Pois bem, quando a humanidade começou a pecar em razão desse embotamento forçado, cujo efeito final só poderia resultar na sua própria e automática destruição, para preservação da Criação e dos outros seres que nela vivem, foram enviados a ela de tempos em tempos espíritos auxiliadores, para adverti-la e exortá-la a retomar o caminho certo.
Krishna, Lao-Tse, Zoroaster, Buddha, Maomé e ainda outros foram espíritos auxiliadores. (1) Suas doutrinas eram originalmente puras e correspondiam à Verdade, adaptadas logicamente às respectivas épocas e povos.
Os ensinamentos ministrados por esses auxiliadores mostravam porque, onde e como os seres humanos estavam errando, e a maneira de corrigir o erro a tempo, de modo que quando chegasse a época da colheita no Juízo Final todos estivessem aptos a subsistir espiritualmente. Por isso, eles também são chamados “Precursores”, ou “Preparadores do Caminho”, isto é, são aqueles que vieram antes da chegada do Juiz, para preparar o caminho dele, ou, dito de outra forma, para preparar as almas humanas para a sua vinda.
No entanto, os que sucederam aos Precursores não mantiveram puras as doutrinas originais. Em todos os casos, em todos sem exceção, foram imiscuídos aspectos estranhos às doutrinas, na maior parte das vezes muito afastados e até mesmo contrários aos ensinamentos originais. Essas deturpações foram incorporadas irrefletidamente às doutrinas, passando à posteridade como se fossem determinações e preceitos dos próprios fundadores.
Por fim, toda essa miscelânea de erros foi transformada em religião. A partir daí, os indolentes adeptos se ataram com uma algema indestrutível, forjada pelos dirigentes religiosos e que impede qualquer progresso espiritual: o dogma.
Aceitar um dogma equivale a prender-se voluntariamente com uma algema, da qual não é mais possível se libertar. A não ser que o próprio prisioneiro reconheça seu manietamento e procure com afinco a chave para abri-la. Isso, contudo, raramente acontece, pois a respectiva pessoa tem medo de pensar diferentemente daquilo que o dogma estabelece como certo, pois acredita que poderia estar pecando se refletisse de modo imparcial sobre isso. Não percebe que foi ela mesma que aceitou irrefletidamente aquela concepção como sendo uma verdade absoluta, e que por conseguinte depende exclusivamente dela também rejeitar essa mesma concepção. É seu total direito rejeitar algo que ela mesma aceitou anteriormente como certo! Ela, porém, tem receio até de aproximar-se desse pensamento, e por isso permanece atada. A indolência de seu espírito a impede de se libertar da algema e iniciar a ascensão espiritual. O dogma mantém seu cansado espírito firmemente preso, até ser definitivamente condenado no Juízo.
Pode-se dizer que a humanidade inteira (salvo poucas exceções) rejeitou os auxílios trazidos pelos Precursores, auxílios enviados com imenso cuidado e amor pela Luz, para os desencaminhados seres humanos terrenos.
Também os profetas de tempos antigos foram espíritos auxiliadores. Advertiram e exortaram, sempre com vistas a uma mudança de atitude da humanidade, para que no final dos tempos ela estivesse apta a subsistir no Juízo Final.
Cada ser humano na Terra, e também no além, recebeu em algum ponto de sua existência, em uma ou mais vidas terrenas, um chamado da Verdade, seja através de uma advertência ou de uma anunciação. Ninguém deixou de receber auxílio, numa época em que ainda podia ser ajudado.
Os que assimilaram de alguma maneira esse chamado em seus corações, isto é, os que foram tocados na alma por esse chamado, poderão agora, na época do Juízo Final, reconhecer como certas as últimas advertências e exortações a respeito desse acontecimento abalador.
Bem ao contrário sucede com aqueles que não deram ouvidos ou que rejeitaram abertamente os auxílios da Luz, quando por eles foram atingidos em outras épocas. Estes, nessa atual vida, considerarão novamente como falsos os últimos avisos e advertências a respeito do Juízo Final, e nada, nem mesmo as maiores catástrofes da natureza nem os mais graves abalos anímicos serão suficientes para fazê-los acordar ainda a tempo. Da mesma forma como agiram displicentemente outrora, em vidas terrenas passadas, diante das advertências e exortações que lhes foram dirigidas, farão também agora frente aos últimos avisos que lhes chegam. Pela última vez escarnecerão e zombarão desses avisos. Pela última vez.
Rejeitar um auxílio da Luz equivale a trabalhar para o mal. Por isso, há espíritos humanos que vêm servindo às forças tenebrosas já durante várias vidas terrenas… E são justamente as trevas e seus asseclas que estão sendo agora varridos para sempre da Terra. A Terra está sendo limpa deles.
O ser humano tem a liberdade de escolha, à qual está associada uma incondicional responsabilidade. Isso porque ele pode, sim, decidir o que fazer e da forma que melhor lhe aprouver, mas jamais poderá escapar das consequências dos seus atos. É por esta razão que Jesus disse: O que o ser humano semear, isso ele colherá. O Filho de Deus não disse que ele “poderia” ou “deveria” colher, mas sim colherá! Quer queira, quer não.
E para que a humanidade voltasse a enxergar com clareza e recomeçasse a semear coisas boas, conforme estava originalmente previsto na Vontade de Deus, e assim também voltasse a colher coisas boas para si, foram enviados a ela, de tempos em tempos, os auxiliadores mencionados, para isso preparados.
E como o maior dos auxílios, como a suprema ajuda aos transviados e por isso mesmo arrogantes e vaidosos seres humanos terrenos, Deus enviou Jesus até esta Terra tão conspurcada. Jesus foi a Palavra de Deus encarnada, o Amor que peregrinou pela Terra. Quão imenso foi esse acontecimento, por certo ser humano algum jamais poderá compreender. Em lugar algum e em tempo algum poderá compreender, pois tal ato ultrapassa em muito a capacidade de assimilação do espírito humano.
Transcrevo aqui um trecho da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal de Abdruschin:
“A cada geração se foi alargando mais o abismo e os seres humanos cada vez mais se algemavam à Terra. Tornaram-se seres humanos de raciocínio atados à Terra, que se chamam materialistas, denominando-se assim até com orgulho, porque não se dão conta das suas algemas, visto que naturalmente, com a condição de estarem firmemente atados ao espaço e ao tempo, seu horizonte se estreitava simultaneamente.
Como devia ser encontrado, a partir daí, o caminho para Deus?
Era impossível, se o auxílio não viesse de Deus. E Ele se apiedou. O próprio Deus em Sua pureza não mais podia se revelar aos baixos seres humanos de raciocínio, porque estes não estavam mais capacitados a sentir, ver ou ouvir Seus mensageiros, e os poucos que ainda o conseguiam eram ridicularizados, porque o horizonte estreitado dos materialistas, atados apenas ao espaço e ao tempo, recusava cada pensamento, referente a uma ampliação existente acima disso, como sendo impossível, porque para eles era incompreensível.
Por isso também não bastavam mais os profetas, cuja força já não conseguia se fazer valer, porque, por fim, até os pensamentos básicos de todas as tendências religiosas haviam-se tornado puramente materialistas.
Portanto, tinha que vir um mediador entre a Divindade e a humanidade transviada, e que dispusesse de mais força do que todos os outros até então, para poder se fazer valer. Poder-se-ia perguntar: por causa dos poucos que, sob o mais crasso materialismo, ainda ansiavam por Deus? Estaria certo, mas seria denominado pelos adversários preferencialmente como presunção dos fiéis, ao invés de reconhecerem nisso o Amor de Deus e ao mesmo tempo severa Justiça, que com a recompensa e o castigo oferecem ao mesmo tempo salvação.
Por esse motivo Deus, em Seu Amor, por um ato de Vontade, separou uma parte de Si mesmo, encarnando-a num corpo humano de sexo masculino: Jesus de Nazaré, daí por diante o Verbo feito carne, o Amor de Deus encarnado, o Filho de Deus!”