Este é certamente um dos temas mais discutidos pelos povos nos últimos tempos. As mudanças climáticas são analisadas tanto pelos seus conhecedores naturais, a gente simples do campo, como por renomados cientistas em todo o mundo. De fato, bem poucas pessoas hoje em dia ainda diriam não se terem surpreendido alguma vez com as mudanças do clima, tenham sido elas bruscas ou espaçadas no tempo. Infelizmente, quase ninguém tomou isso como um sinal claro das transformações por que passa a Terra em nossa época.
Sob qualquer prisma que se observe, as condições climáticas apresentam grandes extremos de variação no século XX. O registro das onze temperaturas mais altas observadas em dez diferentes regiões do planeta, da África ao Pólo Sul, mostram que dois recordes absolutos aconteceram em fins do século passado; os outros nove recordes ocorreram no nosso século. Já o registro das mais baixas temperaturas, monitoradas em onze diferentes regiões do planeta, indicam que todos os recordes ocorreram no nosso século.
A Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente patrocinaram, em 1988, um evento científico de âmbito mundial denominado “Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática” (IPCC), que reuniu 2.500 pesquisadores de todo o mundo. Foram apresentados mais de dois mil trabalhos científicos que, analisados e resumidos, deram origem a dois volumosos relatórios, publicados em fins de 1992. Abaixo, as principais conclusões desses cientistas sobre as mudanças climáticas e sua confrontação com alguns fenômenos observados ultimamente:
A precipitação pluviométrica tem variado enormemente na África subsaariana em escalas de tempo decenais.
Obs.: Cabe ressaltar que esse fenômeno já tinha sido detectado em 1987, quando, num artigo da revista Science, diversos pesquisadores relataram que “a partir da década de 50 as precipitações na África Setentrional e Oriente Médio diminuíram drasticamente – declínio que vem persistindo e se acelerando nos últimos quarenta anos, com aumentos correspondentes significativos nas precipitações européias.” As sucessivas secas e períodos de fome naquela região da África nos últimos anos, que dizimaram dezenas de milhões de pessoas, coincide com essa redução drástica nos regimes pluviométricos.
Vê-se que os cientistas são obrigados a constatar uma alteração na ordem natural das coisas. Porém, suas conclusões a respeito das causas disso são muito restritas. De uma maneira geral atribuem eles esse aquecimento global apenas ao efeito estufa, supostamente causado em sua maior parte pela ação do homem na natureza.
O ser humano é, de fato, pródigo em poluir o meio ambiente e destruir a natureza. Contudo, as alterações climáticas que ora presenciamos e que nos próximos anos aumentarão ainda mais têm uma causa muito mais profunda, além do efeito imediato da ação nociva do ser humano na natureza.
A humanidade recebe de volta na época de hoje, de forma condensada, o retorno de tudo quanto ela gerou de destruição ao longo de milênios. Também os crimes contra a natureza perpetrados no passado não lhe ficaram impunes. Estes retornam agora ao ponto de partida, seja para um povo, uma comunidade ou uma pessoa. Serão atingidos na forma e na intensidade correspondentes à sua parcela de contribuição no crime praticado outrora. Não importa a época ou o local. Aquilo que até hoje ainda não havia sido remido, retorna inexoravelmente ao ponto do qual se originou.
Assim, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, fenômeno conhecido como “El Niño” e observado pela primeira vez no século XVIII, provoca alterações climáticas em escala mundial. Secas severíssimas em certas regiões e inundações devastadoras em outras.
Só com muita imaginação poder-se-ia atribuir à ação humana esse aquecimento localizado das águas do Oceano Pacífico. Um aquecimento cujas principais consequências são as seguintes: alteração da vida marinha na costa oeste dos EUA, Canadá e litoral do Peru; aumento de chuvas no sul da América do Sul e sudoeste dos EUA; secas no Nordeste brasileiro, centro da África, Sudeste Asiático e América Central; tempestades tropicais no centro do Pacífico. Estima-se que o El Niño ocorrido nos anos de 1982 e 1983 tenha sido responsável por cerca de duas mil mortes no mundo e prejuízos da ordem de US$ 13 bilhões.
Já se tentou estabelecer que o El Niño aconteceria em ciclos determinados de tempo. Alguns falaram em um ciclo de sete anos, outros de cinco e até de três anos. Todas essas conjecturas porém caíram por terra a partir de 1990, quando o El Niño passou a ocorrer todos os anos.
Alguns cientistas ainda têm a esperança de que o El Niño não tenha vindo para ficar. Jerry Bell, meteorologista do Centro de Análises Climáticas do National Weather Service dos EUA, é um deles: “Se acontecesse, seria uma catástrofe, já que haveria alterações no clima e na temperatura do mundo todo.” Pelo sim pelo não, desde o final dos anos 80 uma rede de 69 bóias espalhadas pelo Pacífico, batizadas de TAO (Tropical Array Ocean), registra diariamente a temperatura do oceano…
Talvez seja útil descrever aqui com mais detalhes os efeitos do El Niño de 1982-1983. Não só por causa do número e magnitude desses efeitos, até então inéditos, mas também porque as pessoas costumam rotular rapidamente de “normal” um evento incomum, caso este passe a ocorrer com maior frequência:
[Obs.: Na edição anterior deste livro — março de 1997 — estava escrito o seguinte neste ponto: “Por isso, sabendo que o planeta ainda vai passar por outras situações desse tipo (na verdade até piores), e antes que esses fenômenos extraordinários possam ser taxados levianamente de 'normais' ou 'comuns' pelos apaziguadores (se já não o estão sendo), transcrevo abaixo alguns trechos de um relatório publicado por um órgão da Organização Meteorológica Mundial, criado em seguida à ocorrência do El Niño de 1982-1983.” Após a descrição a seguir dos efeitos do El Niño de 82/83, vamos ver alguns efeitos ocasionados pelo El Niño de 97/98, o maior (até agora) já registrado]
“Em fins de setembro de 1982, a temperatura da superfície do mar aumentou 4°C em 24 horas no litoral do Peru, próximo à cidade de Paita.” [Obs.: Nessas 24 horas a temperatura passou de 16°C para 20°C, três semanas depois a temperatura estava em 22°C e após dois meses alcançou 24°C.]
Os cientistas sabiam que com uma variação significativa no índice da Oscilação Austral (1) o El Niño poderia ocorrer, mas não podiam imaginar que esses ventos anômalos continuariam durante quase um ano, até início de 1983, antes de cessar bruscamente; nem que causariam um vaivém sem precedentes da Oscilação Austral que ocasionaria o pior evento do El Niño neste século, assim como mudanças climáticas espetaculares em várias outras regiões do mundo, as quais afetariam enormemente a existência de quase metade da população mundial. (…) A excepcional variação da Oscilação Austral deixou um marco de dificuldades em todo o mundo.
A seca começou a estender-se da Índia meridional até o Oriente, chegando à Indonésia, Austrália e Filipinas. Em meados de 1982, a pressão superficial média de cinco meses seguidos na Austrália alcançou o valor mais elevado jamais registrado. A Austrália padeceu a pior seca em 200 anos, desde a chegada dos colonos. Passou muito tempo até os habitantes conseguirem esquecer os gigantescos torvelinhos de pó, os trágicos incêndios das florestas e as perdas na agricultura e pecuária, que atingiram a cifra de dois bilhões de dólares.
A alteração das condições atmosféricas e o aumento da temperatura da superfície do mar no Pacífico central e oriental modificaram o trajeto dos ciclones. Durante 75 anos a Polinésia francesa havia ficado livre dos efeitos devastadores dos ciclones do Pacífico, porém estes a atingiram seis vezes em cinco meses durante o fenômeno de 1982-1983. O Havaí foi atingido por dois ciclones, um deles procedente do sudoeste, fenômeno raro que não se repetira desde o El Niño de 1957.
A devastação causada pelo El Niño de 1982-1983 aos habitantes, aos povos e à economia de vários países da América do Sul não teve precedentes.
A pesca da sardinha começou a diminuir primeiramente no Equador em setembro de 1982 e a seguir o fenômeno estendeu-se para o sul. As sardinhas desapareceram do Equador em janeiro de 1983, e mais tarde também da costa do Peru. As capturas de jurebes (2) e cavalas tiveram uma grande queda no Equador e no Peru e a anchoveta (3) desapareceu.
As chuvas foram intensas e persistentes no Equador e Peru até julho de 1983 aproximadamente. Na Colômbia, as precipitações foram quase o dobro das habituais. Na costa do Equador seu volume foi 30 vezes superior ao normal. No norte do Peru as precipitações chegaram a ser 340 vezes superiores às normais. Essas chuvas excessivas transformaram a paisagem. A torrente de alguns rios aumentou mais de mil vezes. As vastas inundações foram a causa da perda de colheitas, gado, pontes, estradas, escolas, casas e vidas humanas.
Ao sul da zona de precipitações excessivas, uma grande seca açoitou as regiões meridionais do Peru e da Bolívia.
O aumento do nível do mar, o reaquecimento da água e as modificações no comportamento das espécies marinhas foram observados em toda a costa ocidental da América do Norte, até o Alasca.
A combinação de nível mais alto do mar, ventos mais fortes do oeste e aumento de tempestades violentas, causou danos sem precedentes nas propriedades situadas na costa ocidental dos Estados Unidos, decorrentes da violência do vento, das ondas e da água. Essas mesmas tormentas originaram nevascas nunca vistas nas Montanhas Rochosas e consequentes inundações quando chegou a primavera.
As baixas temperaturas do ar na zona norte-oriental da República Popular da China durante o verão tiveram graves repercussões na produção de cereais. (…) No Havaí também houve uma seca em 1982-1983. Na Nova Zelândia se falou do ‘verão que nunca existiu’, (…) a temperatura em todo o país foi de 1°C a 2°C inferior ao normal. Na zona norte da Nova Zelândia também surgiu uma seca como a do México.
O Nordeste [do Brasil], sofreu uma grave seca. Nas regiões do país ao sul da linha equatorial produziram-se enormes inundações.
Uma consequência dessa pressão superficial anômala foi a eliminação do afloramento ao longo de toda a costa ocidental da África (…) Uma consequência muito mais trágica foi o aumento da seca que se produziu na África (…), o que agravou os problemas de uma região já afetada pela seca e da qual já se percebia a desnutrição e a fome.
Etiópia, Tanzânia, Uganda e Zimbabwe estiveram também entre os países gravemente afetados. Nos momentos mais críticos da seca, só na Tanzânia 150 crianças morriam diariamente de fome.
A seca se estendeu até o sul da África. Muitos perderam até 90% do seu gado, e pela primeira vez foi necessário importar alimentos para vários países da região.
A monção do verão de 1982 na Índia foi considerada estéril. Houve cerca de 15% menos de precipitação do que o normal.
‘O fato de esta manifestação excepcional do El Niño em 1982-1983 ter acarretado no sul da Califórnia uma situação exatamente oposta àquela provocada pelo El Niño de 1976-1977, mostra o tamanho do problema que nos apresenta a natureza’, disse um pesquisador."
O pesquisador acima certamente não imaginou que mais de dez anos depois dessas suas palavras, o El Niño continuaria a deixar atônitas todas as pessoas que acompanham as mudanças climáticas, de meteorologistas e climatologistas a simples leitores atentos de jornais.
Em 1995 o El Niño finalmente deixou de atuar, e os cientistas começaram a ficar preocupados com a ocorrência de uma causa inversa da que origina o El Niño: o resfriamento das águas do oceano Pacífico na linha equatorial. Esta situação já havia sido observada em outras ocasiões e recebeu o nome não muito original de “La Niña”. A grande estiagem que atingiu o sul do continente americano naquela época foi atribuída a esse fenômeno. No Brasil, o Estado do Rio Grande do Sul enfrentou na ocasião a pior seca dos últimos nove anos, enquanto que na Argentina a temperatura oscilou em torno dos 40ºC.
No dia 18 de junho de 1996, fazendo um prognóstico em relação ao inverno daquele ano na cidade de São Paulo, um jornal estampava a seguinte manchete: “Livre do El Niño, estação promete ser típica.” Alguns trechos da matéria:
“São Paulo deve finalmente ter um inverno típico este ano. Livre das influências do fenômeno climatológico El Niño, que vinha atuando desde 1990 e terminou em março, a estação promete ser fria e seca. Nos últimos anos o El Niño dificultou a entrada de massas polares. (…)
Há quase cinco anos o El Niño estava interferindo no clima brasileiro. (…)
‘Desde 1990 os invernos vêm sendo mais quentes do que a média; é bastante anormal um El Niño tão longo como este’, afirma uma meteorologista. (…)
‘Sem o El Niño, o padrão atmosférico se torna normal’, explica outra meteorologista.”
Apenas quarenta dias depois, já em pleno inverno, a manchete do mesmo jornal era: “Inverno em São Paulo é o mais quente desde 87.” As notícias subsequentes, estampadas em dias distintos, foram as seguintes: “Capital registra novo recorde de calor no inverno [28,6ºC]”; “Termômetros marcam 29 graus e batem novo recorde”; “Calor de 31,4 graus bate recorde no inverno – desde 1952 a cidade não tinha um agosto tão quente.”; “Máxima de 31,8 graus é novo recorde do inverno deste ano.”
A perplexidade em relação a esses recordes sucessivos durou apenas até o inverno de 1997, quando a cidade de São Paulo registrou 34 graus. No início de setembro, a umidade na capital paulista baixou para 15%, valor considerado crítico pela Organização Mundial da Saúde. O mês de janeiro de 1998 foi o mais quente dos últimos 42 anos na capital paulista.
Por desconhecer as causas profundas das alterações climáticas em nossa época, os cientistas procuram a todo custo descobrir as causas imediatas, que para eles são as únicas que entram em consideração. Mas mesmo em relação a estas eles não entram num acordo. Não há um consenso, por exemplo, entre as causas imediatas das enchentes e inundações que atingiram a Europa em janeiro de 1995. Alguns cientistas acham que elas foram provocadas pelo El Niño; outros, pelo efeito estufa…
Em março de 1997 as águas do Pacífico próximas à costa peruana começaram a esquentar novamente. Desmentindo a fama de só aparecer nos finais de ano, o El Niño de 1997 apresentava, já no mês de abril, uma massa de água aquecida de 14 milhões de quilômetros quadrados. Pouco tempo depois, as fotos de satélite mostravam uma ferida vermelha de 10 mil quilômetros de extensão por 2 mil de largura, com uma profundidade estimada de 300 metros. Era o maior El Niño já visto até então…
Em setembro de 1997, o El Niño dava início à maior seca já registrada no sudeste asiático em 50 anos. Na Austrália, em dezembro daquele ano, a seca ajudava a manter 400 focos simultâneos de incêndio no país.
No início de 1998 já se debitava na conta do fenômeno alguns números significativos:
O El Niño também foi responsabilizado pelas intensidades excepcionais do tufão Winnie, que matou 200 pessoas nas Filipinas, China e Taiwan, e do furacão Pauline, que deixou 450 mortos no México. Vários países da Europa foram atingidos simultaneamente por tempestades violentíssimas, em particular a França, a Inglaterra e a Espanha. Em determinadas localidades costeiras da França, o serviço de meteorologia chegou a prever ondas de 10 metros de altura e rajadas de vento de 180 km/h.
Ainda em janeiro de 1998, cerca de 4 milhões de canadenses e norte-americanos ficaram sem energia elétrica por conta das maiores tempestades de neve e granizo já vistas naquela região do planeta. Pelo menos 17 pessoas morreram. O apresentador de um canal de TV canadense declarou o seguinte durante a cobertura da tragédia: “Não sabemos se as velas que estamos comprando vão servir para iluminar nossas casas ou para dedicar aos santos, para que termine o pesadelo.” O Departamento de Seguros do Canadá informava que a tormenta poderia se transformar no desastre natural mais caro da história da indústria, com prejuízos da ordem de US$ 350 milhões.
Apesar de vários institutos meteorológicos americanos confirmarem que aquelas haviam sido as piores tormentas já registradas na região, o apaziguante Serviço de Meteorologia dos Estados Unidos garantia que se tratava apenas de uma “anormalidade normal”. Vê-se que o contingente de apaziguadores não perde nenhuma oportunidade para manter a humanidade afundada no seu sono de chumbo…
A humanidade de hoje assemelha-se a uma folha seca na tempestade. Completamente dissociada da natureza, contando apenas com as limitadas capacitações do seu intelecto restrito, ela procura desesperadamente entender o que ocorre à sua volta. Quer em tudo encontrar apenas uma causa física definida, palpável e visível, para, pelo menos, tentar prever novos acontecimentos.
Na França, por exemplo, existe um supercomputador capaz de realizar oito bilhões de operações por segundo, o qual vem sendo utilizado na tentativa de prever a ocorrência de chuvas intensas. Esse computador conseguiu prever a ocorrência das chuvas de janeiro de 1996 na França, mas não sua intensidade e muito menos as dimensões das enchentes… O raciocínio nunca será capaz de fazer a humanidade reintegrar-se à natureza, muito menos permitir que ela a domine.
Mais um exemplo: em 1991, oito pessoas e 3.800 espécies de plantas e animais foram trancadas dentro de uma redoma de 12.600 m² no Arizona, Estados Unidos. O objetivo do projeto, chamado de “Biosfera 2”, era criar uma colônia humana auto-suficiente, capaz de sobreviver em outros planetas… A equipe dentro da redoma deveria viver isolada do mundo por dois anos, comendo o que plantassem, reciclando a água, os dejetos e até o ar. Nada entraria e nada sairia.
Foi um fracasso espetacular.
Uma reportagem sobre o assunto, publicada na revista Superinteressante de agosto de 1995, resume o que aconteceu:
“De saída a concentração de gás carbônico na atmosfera fechada tornou-se tão alta que foi preciso removê-lo. Só que isso foi feito clandestinamente, sem contar para ninguém. Além disso, por baixo do pano, injetaram ar fresco na redoma. (…)
O ar da Biosfera 2 apresentava uma concentração de apenas 14% de oxigênio, contra os 21% da atmosfera natural. Adequado para o plantio, o solo induzia, no entanto, à proliferação de bactérias que, ao se alimentarem, consumiam oxigênio e liberavam gás carbônico. (…)
As colheitas falharam e houve fome. ‘A geladeira teve que ser trancada a chave’, contou uma das integrantes do grupo. Houve várias brigas entre a tripulação e o motivo principal foi a comida. Uma outra tripulante que saiu para tratamento médico voltou trazendo contrabando: uma bolsa cheia de comida. (…)
Até hoje não se sabe quantas das 3.800 espécies sobreviveram, mas duas se deram excessivamente bem: baratas e formigas invadiram tudo, dos quartos à cozinha; viraram uma praga. (…)
No final de dois anos, a tripulação deixou a redoma, magra, pálida, faminta e desacreditada. A Biosfera ganhou, então um apelido em inglês: Lieosfera – Esfera de Mentiras.”
Outro aspecto que vem preocupando vários pesquisadores é o crescimento dos desertos em todo o mundo. O vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, apresentou a seguinte situação em seu livro A Terra Em Balanço:
“Apesar de os desertos sempre se moverem – dois passos à frente e um passo atrás – as últimas décadas caracterizaram-se por um aumento geral na quantidade de terras cobertas por deserto. E, em algumas áreas, os desertos estão avançando quase tão rapidamente quanto as geleiras antes se moviam pelo solo. (…)
Na Mauritânia, por exemplo, na década de 80, esse avanço foi tão rápido que residências e prédios de escritórios foram literalmente enterrados pela areia das dunas que rolavam em direção ao sul à velocidade de vários quilômetros por ano. (…)
Apesar de o Saara avançar e recuar regularmente, na última metade deste século os avanços superaram de longe os recuos e o deserto ficou consideravelmente maior. Agora, devido aos persistentes anos secos e quentes, o grande Saara – a maior extensão de areia do mundo – está avançando em direção à Europa.”
Secas inclementes também se estendem por toda a parte. Atualmente, mais de 230 milhões de pessoas de onze países da África e nove do Oriente Médio já sofrem com secas permanentes, enquanto que a situação vai se complicando no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos. Em junho de 1995 cerca de 300 mil cabeças de gado já haviam morrido de sede no México, na pior estiagem registrada em décadas no país. Na China, os lençóis freáticos da capital, Pequim, diminuem dois metros por ano, e um terço dos poços já secaram; em todo o país 80 milhões de pessoas caminham pelo menos um quilômetro para encontrar fontes de água… Uma longa faixa do litoral da Califórnia vive já há anos racionando água.
Pesquisadores da Universidade de East Anglia alertaram que o sul da África está na iminência de enfrentar uma catástrofe sem precedentes, algo como uma seca de cem anos. “O aquecimento global já está atuando na região e hoje deve ser visto com um fato e não uma especulação”, advertem. O Dr. Mike Hulme foi categórico: “Agora, em vez de ter de provar que uma mudança climática está acontecendo, os céticos têm de provar que ela não está ocorrendo.” De fato, a Convenção das Nações Unidas contra a Desertificação estima que o fenômeno já atinge 30% da superfície terrestre, ameaçando a subsistência de um bilhão de pessoas em cem países.
Em outubro de 1997, uma centena de representantes de países reuniram-se em Roma na “Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação”. De acordo com os dados apresentados, as secas foram a causa de 74 mil mortes no ano de 1996…
Mas voltemos às demais conclusões do IPCC sobre as mudanças climáticas, às quais complementei com informações sobre alguns fenômenos que têm sido observados ultimamente. No capítulo referente às variações observadas, pode-se ler as seguintes passagens, bastante elucidativas:
Ratificando essa constatação do IPCC, em 1992 dois renomados especialistas em geleiras, Lonnie e Ellen Thompson, do Centro de Pesquisas Byrd Polar, relataram que “todas as geleiras das montanhas em latitudes médias e baixas estão agora se derretendo e recuando, algumas com bastante rapidez” e que “o registro do gelo nelas contido mostra que os últimos 50 anos foram muito mais quentes do que qualquer outro período igual a esse em 12.000 anos.”
Outro fato que merece ser aqui mencionado, foi o desprendimento de grandes placas de gelo da Antártida a partir de janeiro de 1995. Já em 1970 cientistas americanos haviam previsto que o derretimento da capa de gelo que vai do continente ao mar, na Antártida, indicaria um aquecimento global. Pois bem, essa capa de gelo que durante milênios cobriu as águas num trecho do Mar de Weddell, junto à península antártica, havia-se rompido, formando uma falha de 70 km de extensão. Entre os blocos de gelo que se desprenderam havia um gigante, de 37 km de largura por 77 km de comprimento e 180 metros de espessura, com área equivalente ao Ducado de Luxemburgo.
Na plataforma de gelo chamada Barreira de Larsen, desprendeu-se uma massa glacial de 70 mil km² que permanecera inerte durante milênios; 4.500 km² desintegraram-se repentinamente, área equivalente a três vezes a cidade de São Paulo. Em abril de 1998, um satélite americano detectou um bloco de gelo de cerca de 200 km² que se soltara da Península Antártica…
Segundo o pesquisador Gino Carassa, da Universidade de Magallanes, desde que existem registros de temperatura na Antártida, há 45 anos, houve um aumento de 2,5 graus. O pesquisador David Vaughan, do Centro de Estudos Antárticos de Cambridge, afirma que pelo menos cinco grandes blocos de gelo que fazem parte do contorno do continente, num total de oito mil quilômetros, foram reduzidos drasticamente nos últimos 50 anos. Fazendo referência ao degelo da Antártida, num artigo em que mencionava alguns conceitos sobre o fim do mundo, o jornalista Augusto Marzagão declarou: “O horizonte do encerramento da aventura humana fica visível demais, já dá para sentir na pele…”
Em setembro de 1997, o pesquisador australiano William K. de la Mare publicou um estudo na revista Nature mostrando que o gelo que cerca o continente antártico sofrera uma redução de 25% nos últimos 20 anos. Uma matéria jornalística da época afirmava que “a causa dessa redução permanece desconhecida”. Em novembro de 1997, um artigo publicado na mesma revista pelo cientista americano Donald J. Cavaliari informava que o gelo do mar Ártico estava encolhendo a uma taxa de 2,9% por década… Ressalte-se que já havia sido observado que a geleira de Bering, no Alasca, perdera entre 20% e 25% de sua capa de gelo neste século, e que ficara 180 metros mais baixa. Mas a partir de 1990 a velocidade do degelo aumentou, e ela começou a recuar a uma taxa de um quilômetro por ano…
Em janeiro de 1996, o Dr. Wilfried Haebberli, da Universidade de Zurique, alertou que o gelo eterno dos Alpes também estava derretendo. Segundo ele, “muitos dos 2.500 Alpes glaciais estavam se dissolvendo a uma velocidade duas vezes maior do que a registrada há 20 anos.” Em junho daquele ano o climatologista Lonnie Thompson, da Universidade de Ohio, informou que o descongelamento dos cumes montanhosos da Terra já havia atingido inclusive as geleiras tropicais. Na Venezuela, quatro geleiras já haviam-se dissolvido totalmente. O monte Quênia, na África, perdera aproximadamente 40% de sua cobertura, numa taxa muito mais acelerada que a percebida entre os anos de 1899 a 1963, enquanto o monte Kilimanjaro também estava perdendo sua majestosa cobertura branca. Em Uganda, a geleira Speke encontrava-se em adiantado processo de destruição.
Considera-se que a seca norte-americana de 1988 foi, em parte, uma resposta às persistentes anomalias positivas tropicais da temperatura marítima superficial a oeste do México, assim como às anomalias de resfriamento na parte norte. (…)
Essas anomalias da temperatura marítima superficial podem ser consequência de uma causa em escala muito maior.
Para poderem levantar um gráfico com essas anomalias de temperatura, os cientistas se valeram de um número enorme de dados coletados. Uns utilizaram dados referentes a 60 milhões de observações ao longo dos anos; outros, de até 80 milhões de observações.
O gráfico a seguir, originado de todos esses dados, mostra o nível de variação das temperaturas médias globais do ar sobre o solo combinadas com as do ar sobre a superfície do mar, desde o final do século passado até o ano de 1990 (a indicação de nível zero é apenas uma convenção):
É muito nítida a tendência de aumento contínuo da temperatura ao longo dos anos a partir de 1910. O aumento verificado até agora da temperatura média do planeta pode parecer pouco, mas os cientistas sabem que o acréscimo de apenas um grau na temperatura média anual pode significar verões tórridos, invernos enregelantes, chuvas diluvianas e colheitas inteiras perdidas. Se a temperatura média mundial subisse 5ºC teríamos o planeta mais quente dos últimos 100 mil anos. De acordo com uma matéria veiculada pela CNN em outubro de 1997, os últimos 15 anos foram os mais quentes desde o século XIV. Por outro lado, acredita-se que durante a última era glacial a temperatura média global era apenas 5ºC mais baixa que a atual. Em relação aos oceanos, supõe-se que se a temperatura média subir 3ºC o número de ciclones duplicará.
Durante o inverno de 1985 na Europa, que foi particularmente intenso, onde parecia que todo o continente estava coberto por uma única placa de gelo, alguns entendidos opinaram que aquilo era um sinal de que uma “nova era glacial” estava a caminho. A Finlândia registrava na época a incrível marca de 50,7ºC negativos, a maior baixa do século no continente até então.
Isso me fez lembrar uma passagem da obra “O Livro do Juízo Final”, de Roselis von Sass, escrita em 1969. O trecho refere-se a um parágrafo do capítulo XXIV, cujo título é “O Grande Cometa, a Estrela do Juízo”:
“Já antes que esse grande e singular Cometa se torne visível, haverá um aumento de catástrofes, como o mundo nunca viu. Também as condições climáticas apresentarão oscilações extraordinárias. Calor abrasador e frio gélido revezar-se-ão. O frio será de uma espécie que os seres humanos pensarão ter-se iniciado uma nova era glacial.”
As últimas décadas forneceram recordes sucessivos de temperaturas, tanto baixas como altas.
O ano de 1981 foi considerado o mais quente dos últimos cem anos, mas 1983 foi mais quente que 1981 e 1987 foi mais quente que 1983. Então chegou o ano de 1988…
Em 1988, os Estados Unidos registraram a maior seca desde 1930. No sul do país o calor não deixava o algodão crescer, enquanto que no meio-oeste a seca matava o trigo, o milho, o sorgo e a soja. O rio Mississipi ficou com o nível de água tão baixo que milhares de barcaças encalharam, e surgiram muitas antigas embarcações que haviam afundado. No dia 23 de junho, a temperatura no centro de Washington era de 43ºC. Em 30 de agosto, o The Wall Street Journal informava que no Estado de Iowa algumas cidadezinhas simplesmente “fecharam” por causa do calor. No final do ano, ao invés de escolher um “Homem do Ano”, a revista Time escolheu a Terra como o “Planeta do Ano”.
O inverno de 1996, por sua vez, trouxe recordes de baixas temperaturas na Europa e nos Estados Unidos. (4) Qual foi a explicação dessa vez? Uma “pequena era glacial de vinte anos estaria a caminho”, esclareceu um cientista americano.
Naquele ano a onda de frio foi a pior dos últimos trinta anos. Contabilizou-se pelo menos 278 mortes nos Estados Unidos e 262 na Europa. No Estado americano de Minnesota a temperatura chegou a 51,1°C negativos, que, aliada aos ventos, provocou um nível de sensação térmica de inconcebíveis 62°C negativos. A costa atlântica do país foi atingida por uma das maiores nevasca já registradas; foram vistos flocos de neve até em algumas localidades da Flórida. Nada menos que 25 Estados americanos registraram recordes absolutos de baixas temperaturas. (Obs.: A nevasca de março de 1993 foi mais trágica em relação ao número de vítimas: 500 mortos.) A Romênia viu os termômetros caírem até 37°C negativos. O lago onde fica situada a cidade italiana de Veneza congelou. Na costa croata do Adriático, região de clima ameno, as palmeiras da avenida beira-mar da cidade de Split ficaram cobertas de neve. Em Bonn, Alemanha, os coveiros tiveram de usar britadeiras para abrir sepulturas sob uma temperatura de 25°C negativos… No final do ano, 59 pessoas haviam morrido de frio no México — um país tropical — vítimas de temperaturas de até 10°C negativos.
Ainda mais impressionante que o intenso frio localizado de 1996, foi a elevação das temperaturas em todo o mundo de uma maneira geral na década de 90 e os efeitos decorrentes, suplantando em muito os decorrentes dos tórridos anos do final da década de 80. O ano de 1990 fora considerado (até então) simplesmente como “o ano mais quente já registrado”. Em março daquele ano, por exemplo, a temperatura média em toda a Sibéria foi de inéditos e inexplicáveis 10 graus acima de qualquer valor já registrado na região durante aquele mês.
Em 12 de janeiro de 1995, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, órgão do Serviço Nacional de Temperatura dos EUA, divulgou o seu relatório anual sobre o clima. Nele se demonstrava que as temperaturas globais observadas entre março e dezembro de 1994 haviam sido as mais altas registradas desde 1951. Meteorologistas do Centro Hadley também confirmaram que 1994 era o “ano mais quente já registrado”, retirando o título de 1990. Em junho de 1994 pelo menos 350 pessoas morreram na Índia, 168 em dois dias, vítimas de uma onda de calor que chegou a atingir 49°C, a mais alta temperatura dos últimos 102 anos. Muitos animais morreram, poços secaram e as redes telefônica e elétrica ficaram danificadas.
O recorde absoluto de alta temperatura mundial em 1994 durou apenas até o ano seguinte, findo o qual se constatou que a temperatura média global de 1995 havia sido ainda mais alta, novamente “a maior já registrada” desde que se começou a fazer esse tipo de levantamento, em 1861. Em 1995, mais de 550 pessoas morreram na Índia, vítimas de uma outra onda de calor, uma das mais longas que já atingiram o país.
O ano de 1995 conseguiu manter seu recorde escaldante somente até 1997, que angariou para si o epíteto de “ano mais quente já registrado”. Este fato não impediu que a Ucrânia registrasse o frio recorde de 35 graus negativos, que Moscou experimentasse 28,8 graus negativos (a temperatura mais baixa em cem anos), que 50 pessoas morressem de frio na Europa e que uma nevasca atingisse o México (a primeira de que se tem notícia) e causasse a morte de 20 pessoas, deixando Guadalajara sob uma capa de 40 cm de neve e fazendo a temperatura cair para 24 graus negativos em algumas regiões. Pode-se imaginar o sofrimento e perplexidade dos mexicanos ao enfrentar um frio desta magnitude, eles que sempre só contavam com os seus sombreros para protegê-los do Sol.
Mas já em 1995 as oscilações climáticas haviam sido absolutamente inusitadas, tanto no tempo como no espaço. Enquanto o Brasil experimentava em agosto um dos invernos mais quentes de que já se teve notícia (incluindo-se as regiões Sul e Sudeste), o frio matava 14 pessoas no nosso vizinho do sul, a Argentina. Em Mar del Plata nevava pela segunda vez em 50 anos. O Chile experimentava o inverno mais rigoroso dos últimos 40 anos (28 graus negativos em algumas regiões).
Nos Estados Unidos, 752 pessoas morreram de hipertermia até meados de julho de 1995, vítimas da maior onda de calor do século. O calor esteve associado a níveis elevadíssimos de umidade, o que agiu dificultando a transpiração e potencializando os efeitos danosos do calor sobre o corpo. Em Chicago, considerada uma das cidades mais frias do país, a temperatura variou de 40ºC a 50ºC e a umidade ficou em torno de 90%, um índice comparável ao das regiões amazônicas, onde chove todos os dias. Além disso, no que foi chamado de “uma estranha situação atmosférica”, uma frente quente estacionada ao norte da cidade barrou os ventos que comumente sopravam dos lagos da região naquela época do ano, amenizando o calor. Centenas de pessoas morreram em Chicago, vítimas das altas temperaturas. O Dr. Edmund Donoghue, médico que atendeu muitas das vítimas, comentou na época: “Nunca vi algo assim em toda a minha vida; não paramos de receber corpos para autópsia.”
Além dos Estados Unidos, a terrível onda de calor global de 1995 castigou também a Europa, Índia e alguns países asiáticos. O Instituto de Meteorologia de Londres afirmou que essa onda de calor mundial foi a responsável pelas enchentes na China, que mataram mais de mil pessoas. Na Espanha a onda de calor matou pelo menos 33 pessoas; na França morreram três pessoas em Paris, onde a temperatura atingiu a inacreditável marca de 44,4ºC; em Portugal, o forte calor provocou incêndios que destruíram milhares de hectares de vegetação; na Grécia, grandes incêndios causados pelo calor forçaram a evacuação de centenas de pessoas das localidades ameaçadas; no Reino Unido morreram cinco pessoas numa semana; no Japão também morreram cinco pessoas em decorrência da “maior onda de calor em mais de cem anos.”
Poucos meses depois desses acontecimentos, em dezembro de 1995, pelo menos 15 pessoas morriam em consequência de uma fortíssima onda de frio que tomou conta dos Estados Unidos. Em Nova York a temperatura chegou naquele mês a 35 graus negativos, enquanto que a até então pior nevasca dos últimos 70 anos deixava paralisadas grandes extensões da costa leste. No início de 1996, 25 dos 50 Estados norte-americanos registravam recordes de frio. Em Wisconsin, a temperatura chegou a 31 graus centígrados negativos, a mais baixa dos últimos 103 anos.
No Reino Unido a situação de alternância de temperaturas extremas também se repetiu. Cinco pessoas morreram em agosto de 1995, vítimas do calor. Quatro meses depois doze pessoas morreram em virtude do frio intenso. Em Glascow, na Escócia, a temperatura atingiu 18 graus negativos, a mais baixa dos últimos 55 anos…
Após o anúncio de que 1997 fora “o ano mais quente até hoje registrado”, uma onda de frio intenso atingiu Bangladesh, matando pelo menos 85 pessoas.
“Calor abrasador e frio gélido revezar-se-ão!” Encontramo-nos no meio desta época!
A amplitude das alterações climáticas aumentam continuamente, fato que deveria chamar a atenção das pessoas sobre as profundas transformações a que a Terra (e com ela a humanidade) está sendo submetida.
Esta afirmação, que poderia levar algumas pessoas a pensar mais seriamente sobre o fenômeno, é infelizmente destruída logo a seguir, quando se procura esclarecer as “causas” desse aumento do número de ciclones: “Não obstante, atribui-se uma origem fundamentalmente artificial a esses aumentos, consequência da introdução de melhores práticas de acompanhamento. (…) Considerando as evidências em conjunto (…) chegamos à conclusão de que não existem provas de uma incidência crescente de fenômenos extremos nas últimas décadas.”
Ficou assim, portanto, solucionado de antemão o problema do aumento do número de ciclones, apresentado aqui anteriormente, de maneira inequívoca, no capítulo sobre as catástrofes da natureza. Deve-se ressaltar, porém, que quando essa explicação simplista foi dada não se podia imaginar que os anos de 1995 e 1996 seriam tão pródigos na ocorrência de ciclones como foram.
No capítulo 2 vimos como os apaziguadores contribuem para manter a humanidade dormindo no aconchego do seu sono espiritual. A ciência e os organismos que lhe dão respaldo, difundindo suas conclusões, fornecem uma cota bem apreciável de pseudo-argumentos tranquilizadores para o grupo desses apaziguadores. Durante a Conferência do Clima em Berlim, em março de 1995, a revista inglesa The Economist publicou um editorial com o sarcástico título “Fique frio sobre a nossa mudança climática.” Neste editorial se argumentava “que a evidência de uma catástrofe no presente parece altamente improvável, e portanto ainda há tempo para se tomar Sol.”
Não é bem isso porém o que a própria ciência tem constatado em suas pesquisas…
Num dos relatórios finais do IPCC, há um capítulo dedicado apenas à elevação do nível do mar. O gráfico a seguir mostra a variação do nível médio do mar durante os últimos cem anos (a indicação de nível zero é convencional):
As estimativas mais recentes são até mais preocupantes em relação à essa variação. De acordo com um estudo do Fundo Mundial Para a Natureza, publicado em 1997, o nível dos mares subiu neste século entre 10 e 25 cm, em razão do descongelamento das calotas polares. Kevin Jardine, especialista do grupo ambientalista Greenpeace para o clima no Ártico, adota este valor de 25 cm, dos quais 5 cm seriam decorrentes, segundo ele, do encolhimento das geleiras do pólo Norte.
As Ilhas Maldivas, no Pacífico, cujo monte mais alto não supera os três metros, já está sofrendo os efeitos desse aumento contínuo do nível dos oceanos. Os estoques de água doce estão sendo contaminados pela água salgada do mar, que sobe sem parar. O presidente de Nauru, uma ilha do Pacífico Sul com altitude máxima de dois metros, já avisou que seu país pode simplesmente desaparecer do mapa.
Na ilha Kilibadji, o nível da água do mar também não para de subir, decorrência do degelo da calota polar. Os coqueiros da ilha estão morrendo. O Sol não consegue atingir os corais, que também acabam morrendo; os peixes que se nutrem dos corais desaparecem, e as aves que se alimentam desses peixes ficam assim condenadas à extinção.
Em Cuba, cientistas informaram que o nível do mar está subindo cerca de 2,9 mm por ano.
Em algumas cidades litorâneas, como Miami, o aquífero de água doce, de onde se retira a água potável, flutua sobre a água salgada; por isso, existe o temor de que a elevação dos mares empurre o lençol de água doce para cima – em alguns casos, até a superfície. Segundo pesquisa do World Watch Institute, as cidades de Bangcoc, Nova Orleans, Taipei e Veneza já estão enfrentando esse tipo de problema.
A elevação de alguns centímetros do mar não é, pois, insignificante, como pode parecer à primeira vista.
O ambientalista e diplomata britânico Sir Crispin Tickell fez a seguinte observação num discurso proferido na Sociedade Real de Londres em 1989:
“Hoje há uma concentração maciça de pessoas em áreas litorâneas baixas ao longo dos grandes sistemas fluviais do mundo. Quase um terço da humanidade vive dentro da faixa litorânea de 60 quilômetros. Uma elevação de apenas 25 centímetros no nível médio do mar teria consequências desastrosas…”
Os oceanos também ajudam a manter o equilíbrio térmico global através das correntes marítimas. A Corrente do Golfo, por exemplo, que se desloca próxima à superfície, leva as águas aquecidas do trópico para o norte. Perto da Groelândia ela se esfria e afunda rapidamente, formando uma corrente fria que se desloca em sentido inverso, próxima ao fundo do oceano, transferindo o frio do Pólo Norte de volta para o equador. Esse efeito é chamado de “bomba oceânica de calor”.
Acredita-se que se as correntes marítimas sofrerem alguma alteração poderão causar mudanças substanciais no padrão climático, fazendo com que algumas regiões recebam mais chuvas e outras menos, tornando algumas áreas mais quentes e outras mais frias.
Pois bem, em 1991 o cientista Peter Schlosser, do Observatório Geológico Lamont-Doherty de Colúmbia, Estados Unidos, anunciou que durante a década de 80 um componente básico da bomba oceânica de calor havia desacelerado abrupta e inexplicavelmente em quase 80%, chegando a uma velocidade não muito maior que a de… uma massa de água estagnada. Este componente básico alterado era formado pelas águas do nordeste da Islândia, que de alguma maneira se tornaram menos salgadas e consequentemente afundavam com menor rapidez.
Nos oceanos existe também um tipo de oscilação muito difícil de detectar chamada “ondas de Rossby”. Essas ondas têm apenas 10 cm de altura e mais de 500 quilômetros de extensão, e são extremamente lentas em seu deslocamento. No entanto, sabe-se que elas têm força para mudar as correntes marítimas e o clima em escala mundial. Existe, inclusive, um estudo demonstrando que elas estariam ligadas às tremendas inundações de 1992 na região central dos Estados Unidos. Por isso, causou grande impacto a descoberta do oceanógrafo americano Dudley Chelton de que as ondas de Rossby estavam deslizando duas vezes mais depressa do que deveriam…
Ninguém ainda tentou montar um gráfico que mostrasse a variação da perplexidade dos cientistas ao longo dos últimos anos, ante todos esses acontecimentos ditos “inexplicáveis”; contudo, esse gráfico, se existisse, teria uma forma muito semelhante aos já apresentados sobre variações de temperatura, crescimento de terremotos, inundações, etc.
Ainda com relação às modificações nos oceanos, já se constatou também perturbações na vida marinha. Uma das mais importantes foi a redução na quantidade de zooplâncton, pequenos animais que constituem a base da cadeia alimentar marinha, e que se alimentam de uma espécie de pastagem chamada fitoplâncton (microalgas que crescem no mar). Num artigo da revista Science, os cientistas Dean Roemmich e John McGowan revelaram que a quantidade de zooplâncton em algumas áreas do Oceano Pacífico, na Califórnia, sofreu uma redução de 80% desde 1951, ao mesmo tempo em que a temperatura das águas subiu 1,5°C.
As mudanças climáticas alternam-se em proporções espantosas em todo o planeta, e em espaços de tempo cada vez mais curtos. Vamos examinar, a título de exemplo, alguns trechos de duas reportagens publicadas em revistas brasileiras, separadas entre si por pouco mais de quatro meses:
(Revista Veja de 21/09/1994)
“Em São Paulo, depois de dois meses sem chuva, a prefeitura proibiu lavar calçadas e carros na rua e anunciou um plano de racionamento de água. (…) Na semana passada, viajar pelo interior dos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás era o mesmo que fazer uma incursão pela caatinga do Nordeste num ano de grande seca. Na paisagem crestada pelo Sol, muitos rios secaram e o gado começou a morrer por falta de água e comida. Havia centenas de focos de incêndios nas florestas. (…) Em quinze dias morreram 80 mil cabeças de gado [no interior paulista]. (…) Em Sales, a 500 quilômetros da cidade de São Paulo, a seca queimou 70% da maior reserva florestal da região. Em Goiás, o fogo dizimou 90% do Parque Nacional das Emas.
‘Ainda não existe uma boa explicação para o comportamento do clima neste ano’, diz Luis Cavalcanti, do Instituto Nacional de Meteorologia, em Brasília. A única certeza que temos é que ele não está ligado ao El Niño. (…)
Neste ano, o Japão enfrentou uma das piores secas de sua história. O governo foi obrigado a adotar um programa de racionamento pelo qual só havia água nas torneiras cinco horas por dia, e muitas fábricas ficaram fechadas durante o mês de agosto. (…)
A seca também provocou grandes incêndios nos Estados Unidos nos últimos dois meses.”
(Revista Isto É de 08/02/1995)
“As duas horas e meia de chuva sobre a capital [São Paulo] registravam índice de 120 milímetros (…), mais da metade da média normal de chuvas para o mês de fevereiro, que é de 220 mm. (…) É a maior cheia da história de São Paulo.
De São Paulo a Paris, as chuvas destroem, matam e desabrigam milhares de pessoas. Ambientalistas culpam o efeito estufa. (…) Enquanto os holandeses comemoravam os primeiros tímidos raios de Sol na quinta, a seguradora Lloyds anunciava em Londres os prejuízos causados aos quatro países mais castigados pela enchente do século na Europa: Holanda, Bélgica, Alemanha e França perderam até agora em torno de US$ 3 bilhões. (…) As chuvas, responsáveis pelo maior êxodo civil [na Holanda] desde a Segunda Guerra, deixaram cidades completamente submersas. (…) Mais da metade do país [França] foi atingido pelas enchentes e cinco mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas. (…) A histórica cidade alemã de Colônia decretou estado de emergência – o rio Reno chegou a 11 metros, nível mais alto desde 1926.”
Além dessas bruscas alterações no regime de precipitações, a humanidade se defronta agora também com alguns outros acontecimentos extraordinários, considerados inexplicáveis.
Em outubro de 1991, um estranho nevoeiro cobriu por vários dias o sudeste da Ásia. Uma reportagem da época, publicada em jornal, informava: “Um denso nevoeiro encobriu boa parte do sudeste asiático, mas os meteorologistas estão perplexos quanto as causas do problema, que vem se agravando. (…) Os motoristas trafegam com os faróis acesos durante o dia, os navios estão usando radares para navegar e faróis para serem identificados durante o dia, e muitos vôos foram cancelados. (…)
Em Londres, a central meteorológica revelou ontem que não sabia como explicar o fenômeno. As condições atuantes na região – com correntes de ar instáveis e presença generalizada de nuvens cúmulo-nimbos – deveriam estimular a expansão da fumaça para as camadas de ar superiores. (…) Nevoeiros são normalmente causados por um anticiclone, uma área de alta pressão que impede as camadas de ar mais próximas do solo de subir, mas isso não se mostrava coerente com as condições instáveis que a central detecta na região. O órgão também não soube explicar essa inconsistência ou prever quanto tempo o fenômeno deve durar.”
O clima na Terra continuará a apresentar nos próximos anos as mais extraordinárias alterações, como um efeito retroativo do carma coletivo da humanidade, e ao mesmo tempo também como grave advertência, para que alguns se modifiquem interiormente ainda em tempo e possam subsistir no Juízo Final.