Parte 2 – A Efetivação

As Mazelas Humanas

Política

Um conhecido dicionário traz as seguintes definições para o verbete “política”:

A última definição é, sem dúvida, a que melhor caracteriza a política em nossa época. Aliás, o termo “politiqueiro”, definido nos dicionários como “aquele que em política se utiliza de processos menos corretos”, e também “indivíduo intrigante, mexeriqueiro”, apareceu pela primeira vez no ano de 1899, como que num prenúncio do que seria a política no século XX.

Sinônimo ainda de corrupção e atuação em benefício próprio, a política atual é mais um dos frutos podres que a humanidade tem de deglutir agora no Juízo, um efeito decorrente da atuação errada de povos inteiros, um carma coletivo.

Nenhum dos regimes de governo atualmente em vigor está de acordo com as Leis naturais e, por isso, não há possibilidades de que possam subsistir no Juízo. O colapso recente do comunismo em escala mundial, que em pouquíssimo tempo virou pó, é apenas mais um dos muitos efeitos do Juízo Final, o qual atua em todos os aspectos da vida humana e elimina tudo quanto é errado, doentio e nocivo.

Em épocas passadas, quando a humanidade ainda estava ligada à Luz, os regimes de governo também eram diferentes. Na Caldéia, em Sabá e no Império Inca vigoravam a verdadeira arte de governar, em consonância com as Leis da Criação. Poder-se-ia chamar esses regimes de autocracias, porém com diferenças fundamentais em relação ao conceito que se tem hoje desta forma de governo.

Em primeiro lugar, a autocracia daqueles tempos não era o “regime do mais forte”, e sim o “regime do mais sábio”. E mais sábio era aquele que melhor compreendia as Leis da vida e que mais desenvolvido se encontrava espiritualmente. Os dirigentes eram pessoas que já nasciam predestinadas a governar. Traziam em si um sentido incorruptível da verdadeira justiça e, com a sua visão mais ampla que os demais, estavam aptos a reconhecer de que forma deveriam conduzir o povo, para que este alcançasse seu máximo desenvolvimento espiritual e terreno. Uma maneira de governar que o ser humano de hoje sequer consegue imaginar, preferindo taxá-la de fantasia…

Os povos daqueles tempos reconheciam com gratidão a sabedoria dos seus governantes e, por isso, seguiam à risca, confiantemente, as diretrizes de governo. A mais importante dessas diretrizes dizia respeito à religião, a qual constituía o ponto central na vida desses povos. Os dirigentes não toleravam o mínimo desvio em relação à verdadeira crença, pois conheciam os efeitos da mentira e das falsas concepções religiosas sobre a alma humana. Sabiam que cada mentira religiosa, aceita como verdadeira, significava uma dose a mais de um veneno mortífero para alma, que acabaria por destruí-la totalmente.

Os seres humanos daquelas épocas remotas aprendiam que deveriam esforçar-se para alcançar o mais alto grau de enobrecimento espiritual, pois era esta a maneira certa de retribuir um pouco ao seu Criador todas as graças e auxílios que recebiam durante a sua vida. O texto a seguir foi proferido por um sábio da Caldéia: (1)

“Nossos ensinamentos têm um ponto central, em torno do qual gira toda a nossa vida. Esse ponto central é o Onipotente Criador, ao Qual devemos nossa vida! Ele nos dá a vida. E nossa maior preocupação é provar que somos dignos dessa dádiva.”

Os habitantes daqueles países integravam-se naturalmente em castas sociais; não umas sobre as outras, mas umas ao lado das outras. Não havia evidentemente nenhum tipo de opressão, mas todas as castas, da mais alta à mais baixa, eram consideradas de igual importância, pois o bem do país e do povo dependiam do trabalho harmonioso de todas elas, segundo as capacitações de cada um. As castas se formavam de acordo com a maturidade espiritual das pessoas. A mais elevada era a formada pelos sábios.

Poderíamos fazer uma analogia desse tipo de governo com um navio que singra o oceano. A segurança e a tranquilidade da viagem dependem da atuação conjunta e harmoniosa de todos os membros da tripulação. O capitão do navio tem a missão de levá-lo em segurança a um bom destino, pois é ele quem melhor está capacitado para isso e de seu posto de observação tem a mais ampla visão dos acontecimentos. Compete a ele também dar as diretrizes corretas no caso da aproximação de tempestades perigosas, que possam por em risco o destino final da viagem. O pessoal que trabalha no convés, na casa de máquinas e na manutenção da embarcação não têm a visão do comandante, mas confiam nele integralmente e trabalham diligentemente para que os motores funcionem bem e o leme mantenha-se firme. Da mesma forma, sem o seu importante trabalho, a viagem também não chegaria a bom termo.

O navio é a nação; a viagem é a vida terrena, que deve estar voltada para a ascensão espiritual e o progresso terreno; as tempestades são todos os perigos que ameaçam o curso da viagem, como o surgimento de falsos profetas, doutrinas distanciadas da Verdade, influências nocivas, comodismo, falta de vigilância espiritual e terrena, etc.; o capitão é o sábio dirigente que, destacando-se espiritualmente dos demais, indica com energia e justiça o rumo a seguir; os outros membros da tripulação, que têm variadas funções a bordo, constituem as castas que se formam automaticamente de acordo com as capacitações e o desenvolvimento interior de cada um.

Não há atualmente sobre a Terra nenhum resquício de regime de governo que sequer se aproxime da forma correta de outrora. Na realidade, nenhum povo hoje merece ser governado assim, mas, ao contrário, apenas por essa classe degenerada de políticos que mais parece um câncer mundial, interessada apenas em proveitos e vantagens pessoais. No entanto, isso é também um efeito retroativo da própria atuação do povo, muito mais interessado em direitos do que em deveres, e propenso a ser seduzido por um palavreado vazio em épocas de campanha eleitoral. Cada povo tem, literalmente, o governo que merece.

O regime de governo considerado hoje como o mais aperfeiçoado é a democracia, que significa “governo do povo”. É o regime onde a vontade da maioria é soberana. Pressupõe, portanto, que a maioria conheça melhor do que a minoria a diretriz correta a ser dada ao país e ao próprio povo.

A democracia não leva em conta, porém, uma circunstância muito simples: a profunda decadência espiritual da quase totalidade da humanidade. Assim, a vontade da maioria das pessoas hoje dirige-se predominantemente para baixo, para o que é do mal, das trevas, como uma decorrência natural do desligamento voluntário da Luz. Nunca a vontade da maioria de indolentes seres humanos exigirá alguma ação governamental que estimule o progresso espiritual. Essa massa inerte só vai querer saber sempre de vantagens, nunca de obrigações.

A este respeito, o grande físico Albert Einstein disse o seguinte:

“Às massas, por toda a parte, falta a capacidade de julgamento político independente. Pode-se levar o povo de qualquer país, no espaço de duas semanas, a um tal grau de ódio e histeria que seus membros individuais estarão prontos para matar ou ser mortos, em armadilhas militares, por qualquer motivo, sem que se leve em conta o mérito pessoal.”

O filósofo americano John Dewey resumiu desta forma seu conceito sobre política:

“A política é a sombra projetada sobre a sociedade pelos grandes negócios.”

Nas campanhas eleitorais, os políticos fazem várias promessas de atendimento aos anseios dessa maioria. Eles mentem de antemão descaradamente, sabendo que se trata de promessas que jamais serão cumpridas, seja por total desinteresse ou por serem mesmo inexequíveis. Os raríssimos políticos sinceros, que com grande esforço conseguem atender algumas dessas reivindicações, percebem, desolados, que materializados seus projetos eleitorais, o resultado prático é quase nulo. A urbanização de favelas, por exemplo, em nada reduz os índices de violência e criminalidade nas metrópoles; escolas, postos de saúde e cabines telefônicas estão invariavelmente sujeitos a atos de vandalismo pelos que deveriam cuidar desse patrimônio.

A primeira forma de regime democrático surgiu na Grécia antiga, em Atenas, no ano 508 a.C. Platão, que era ateniense, foi um crítico severo da democracia. Naquela época, quem tinha o dom da oratória dominava a cena política, independentemente das idéias defendidas. O poder ficava centralizado na “Assembléia dos Cidadãos”, cujos representantes eram escolhidos por sorteio para um mandato de um ano. Relatos da época informam que o comparecimento à Assembléia era frequentemente escasso, já que muitos dos integrantes preferiam ocupar-se de seus negócios particulares… Interessante como essa característica tão marcante da democracia permaneceu inalterada até a nossa época.

Um recente ensaio publicado sobre a democracia ateniense, de autoria de José Américo Pessanha, é taxativo quanto ao tipo de política que se desenvolvia sob esse regime: “Parecia não existir em Atenas um partido no qual um homem que não quisesse abrir mão de princípios éticos pudesse se integrar.”

Na época do surgimento da democracia, a humanidade há muito já não sabia o que era um regime de governo correto. E daí para a frente não foi diferente. Do Império Romano até o século XVIII predominaram os regimes absolutistas, em que os respectivos reis se atribuíam “origem divina”. Essa idéia tão pouco modesta conseguiu sobreviver até o nosso século por intermédio do imperador do Japão, que era tido por si e pelos súditos como um “ser de origem divina”. Somente após a derrota na Segunda Guerra Mundial foi que o imperador declinou da sua “divindade”.

Os regimes democráticos espalharam-se pelo mundo na segunda metade do nosso século. No mundo ocidental a propaganda democrática pregava que este era o regime de governo das pessoas de bem, em contraposição ao totalitarismo dos regimes de força, em especial os do mundo comunista. Apesar dos esforços de ambos os lados em proclamar as vantagens de suas diferenças, a mais destacada característica da democracia e do totalitarismo sempre foi uma só: corrupção.

Para o dirigente poder governar num regime democrático ele tem de fazer concessões, pois sem isso não terá a necessária base parlamentar de apoio. Esse apoio, porém, tem um preço: nomeação de políticos e apadrinhados para cargos públicos, tráfico de influência, negócios escusos com empresas públicas, etc.

O totalitarismo comunista, por sua vez, que visava eliminar as classes sociais, gerou apenas duas: a dos privilegiados e a dos miseráveis. A corrupção na cúpula do governo e entre altos funcionários públicos nunca pôde ser dissimulada. Milovan Djilas, um dos homens mais influentes do governo iugoslavo, certa vez confessou: “Vi comunistas disputando entre si palacetes, privilégios, medalhas, condecorações.” Aliás, a doutrina materialista do comunismo até justifica este procedimento, pois se não há nada depois da morte e só a vida terrena e prazeres materiais têm importância, então é bastante lógico envidar todos os esforços para usufruir a maior quantidade possível desses prazeres, enquanto ainda se está vivo…

A tragédia do destino humano espelha-se numa forma particularmente sinistra na política do século XX. Em seu livro com o sugestivo título de O Fim da Democracia, Jean-Marie Guéhenno faz algumas observações corretas sobre a política (em meio a outros tantos conceitos errôneos):

“As palavras democracia, política, liberdade definem o nosso horizonte mental, mas não temos mais certeza de reconhecer seu verdadeiro sentido, e a nossa adesão depende muito mais de reflexos do que da reflexão.(…)

A política, longe de ser o princípio organizador da vida dos homens na sociedade, aparece como uma afinidade secundária, até uma construção artificial, pouco adaptada a solucionar os problemas práticos do mundo contemporâneo.”

Não seria possível mencionar aqui todos os casos de corrupção que já vieram à tona, particularmente nos últimos anos. Vários volumes bem documentados poderiam ser escritos apenas sobre essa característica básica da política atual.

O que deve chamar a atenção das pessoas é o aparente aumento da corrupção em escala mundial. Esse aumento é, de fato, aparente, pois o que ocorre é que como tudo quanto é errado é obrigado a se mostrar agora, em razão da força do Juízo, toda a sujeira que estava escondida aparece repentinamente, e os casos de corrupção ganham cada vez mais espaço nos jornais e noticiários. É essa a resposta certa a ser dada, por exemplo, ao jornalista Gilles Lapouge, que num recente artigo sobre a corrupção mundial indagava: “A Europa desmorona sob a corrupção. (…) Uma primeira questão: a corrupção aumentou vertiginosamente, de repente, ou foi a repressão à corrupção que se intensificou loucamente?” Outra questão do mesmo jornalista também merece destaque: “Será um acaso ou necessidade o fato de esse grande desejo de limpeza coincidir com a queda do Muro de Berlim e do comunismo?

Resposta: Não é acaso! O grande desejo de limpeza sentido por muitos, e a limpeza propriamente dita, como a evidenciada pela queda do Muro de Berlim e do comunismo, são apenas decorrências do desenrolar do Juízo Final na Terra, que reforça o que é bom e desintegra o que é errado no momento previsto, sem se importar com as opiniões dos povos e as ações de seus governantes. Um ano antes da queda do muro, Estados Unidos, União Soviética e Alemanha Ocidental discutiam em Genebra a formação de uma confederação das duas Alemanhas para o ano 2005…

Recentemente, a jornalista Patrícia Clough escreveu um artigo sobre a corrupção na Alemanha, país até a pouco considerado imune a esse tipo de problema. As seguintes passagens extraídas da matéria mostram a perplexidade do povo e das autoridades retratada pela jornalista:

“Embora [os alemães] tenham apostado num sistema que acreditavam ser honesto e eficiente, a verdade está enfim vindo à tona: o país está sendo engolido pela corrupção. (…)

‘A corrupção está se propagando como um vírus epidêmico’, diz Hanz Ludwig Zachert, chefe do Departamento Federal de Criminologia. ‘Não importa a área, todas estão envolvidas em pagamentos de propinas, troca de favores, tratamento preferencial, transgressão dos códigos e irregularidades em troca de benefícios ilegais’.”

Até um simpósio internacional sobre corrupção foi organizado em 1995, em Paris. Durante o evento, Jean-Claude Paye, secretário-geral da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, fez uma declaração que resumiu a situação existente em todas as nações do planeta: “As práticas de corrupção têm minado a legitimidade política das instituições e diminuído a eficácia dos governos e da administração, constituindo um forte obstáculo ao bom desempenho econômico.” Também naquele ano uma instituição alemã, chamada Transparência Internacional, elaborou um ranking dos países mais corruptos do mundo, com 41 participantes. Em 1996, o clube foi ampliado para 54 membros, ano de estréia também da “Conferência Hemisférica sobre a Corrupção”, realizada em Caracas sob o patrocínio da Organização dos Estados Americanos.

A corrupção se alastrou tanto que há até quem tente justificá-la. Tentando explicar a corrupção no serviço público, um certo escritor teve o desplante de colocar isso no seu livro:

“A corrupção somente chega a ser nociva se não estiver generalizada, pois então representaria um acesso ‘desigual’ aos serviços do poder público. Mas a partir do momento em que este poder público se contente em prestar ‘serviços’, não há nada de anormal, numa economia de mercado, que estes sejam remunerados. (…)

A transação é consagrada como única verdade da nossa era, e qualquer demanda pagável é uma demanda legítima. Como não faríamos do bezerro de ouro a nossa divindade suprema?”

Há algo de mais profundo nessa tentativa de justificar a corrupção.

Um dos mais nítidos sinais de decadência geral é a mudança dos conceitos ao longo do tempo. Na humanidade contemporânea isso se mostra com uma clareza impressionante, que tem de chamar a atenção de qualquer um que apenas vagamente observe de vez em quando o mundo a seu redor. Essa alteração dos conceitos acontece em todos os aspectos da vida humana: na moral, nas relações profissionais e familiares, nas práticas religiosas… O que até há pouco era terminantemente considerado como errado, passa em pouco tempo a ser admitido como certo. O autor acima, com sua infeliz opinião, foi apenas um instrumento para justificar a vontade e a atuação erradas de milhões de pessoas. Apesar de provavelmente a maioria ainda discordar de sua opinião (pelo menos exteriormente), o autor é apresentado na crítica literária como alguém especialmente dotado, que pensa adiante do seu tempo…

Outro caso que merece ser comentado foi o final de um programa de televisão brasileiro, em que os telespectadores ligam e votam em alguma decisão crucial a ser tomada pela personagem central da história, alterando assim o desenrolar da trama e o seu final. No episódio “Cobiça”, os telespectadores consentiram que uma secretária se juntasse ao chefe num esquema de lavagem de dinheiro montado por ele, ao invés de denunciá-lo ou se demitir da empresa. Num programa anterior da série, intitulado “Achados e Perdidos”, uma pessoa encontra uma mala cheia de dólares e descobre quem é o dono; as opções eram devolver o dinheiro ou ficar com ele. O público decidiu ficar com o dinheiro. Este mesmo programa apresentou idêntico final quando exibido na Inglaterra e Espanha.

Como já foi dito, seria impossível mencionar todos os casos de corrupção que foram notícia nas últimas décadas, muito menos em todo o século. Aliás, isto nem seria necessário para se demonstrar o crescimento dessa principal excrescência da política moderna. Uma leitura diária de jornais é plenamente suficiente. Vamos, contudo, dar um pequeno panorama de alguns casos de corrupção que ocorreram em período recente em algumas nações importantes politicamente. Nas nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento a corrupção já é uma instituição nacional, porém como esses países têm menor importância no cenário político, as falcatruas raramente ou nunca são noticiadas.

Itália

A Itália tem fornecido até agora um dos mais claros exemplos neste final de século de sujeira vindo à tona.

No início dos anos 80, acusações de tráfico de influência de uma loja maçônica e a falência fraudulenta do banco Ambrosiano, ligado ao Vaticano, derrubaram os governos em 1981 e 1982. O banco Ambrosiano era o maior banco privado da Itália e o seu diretor-presidente, Roberto Calvi, era chamado de “o banqueiro de Deus”, em razão de seus estreitos vínculos com o Vaticano, mais precisamente com o arcebispo Paul Marcinkus, um prelado americano que era ao mesmo tempo chefe dos guarda-costas do papa e do Banco do Vaticano. Roberto Calvi, de quem se descobriu mais tarde estar ligado à loja maçônica P-2, foi encontrado morto certa manhã em Londres, o corpo pendurado sob uma ponte.

O panorama da situação política na Itália em fins de 1995 ficou registrado nesse trecho de um editorial do jornal O Estado de S. Paulo:

“A ‘2ª República’ chega a um fim melancólico. (…) Em todas as esferas do país, na política, na economia, nas artes, na moda, no Estado, na polícia e na própria justiça tem sido virtualmente impossível tomar qualquer iniciativa sem se envolver nos complexos esquemas de corrupção política nutrida por décadas de predomínio da ‘partitocracia’.”

Em 1992, teve início a chamada Operação Mãos Limpas, uma ação da justiça italiana contra o envolvimento de empresários no funcionamento de campanhas eleitorais que, nas palavras de uma jornalista americana, “varreu o sistema político da Itália com a rapidez de um redemoinho”. Dirigentes do governo e empresários foram parar no banco dos réus. Vários se suicidaram. Só na cidade de Milão, de fevereiro de 1992 a julho de 1993, três mil pessoas já haviam sido investigadas. Foram condenados, entre outros, dois ex-primeiro ministros, um ex-chanceler e um ex-ministro da Justiça. Acusações de corrupção derrubaram o 53º governo do pós guerra da “sólida democracia italiana”. Em outubro de 1997, caiu o 55º governo italiano.

A instabilidade é uma marca de tudo o que apresenta uma forma errada. Pois somente aquilo que vibra em conformidade com as Leis naturais pode ser duradouro; tudo o mais, de regimes políticos a cultos religiosos, de diretrizes econômicas a modismos de comportamento, estão fadados à desintegração. Atualmente, só se assiste ainda a esforços paroxísticos na tentativa de se manterem em pé, antes de se extinguirem por si mesmos.

Inglaterra

O último governo, cujo programa propunha revitalizar a ética na administração pública, foi assolado por denúncias de mau uso do dinheiro público e escândalos de corrupção. Os mais recentes:

França

A corrupção não faz distinções entre partidos políticos. Os escândalos franceses irromperam tanto em membros do partido conservador como do partido socialista. Alguns dados:

Espanha

Um mar de lama engolfou altas figuras do partido socialista, que permaneceu no poder por 13 anos. Alguns episódios:

Japão

Os casos de corrupção envolvendo altas figuras do governo são uma constante neste país. Para citar apenas alguns:

Vários outros países, nos quatro cantos da Terra, engordaram as páginas dos jornais nos últimos anos com os mais escabrosos escândalos sobre corrupção governamental.

Na China, mais de 121 mil integrantes do partido comunista forma expulsos por corrupção de 1992 a 1997. Na República “Democrática” do Congo, os servidores civis vendem licenças para a construção de edifícios, os professores vendem a aprovação de alunos nos exames, os médicos vendem os remédios dos hospitais públicos e as enfermeiras vendem leitos.

Na Argentina, funcionários do alto escalão do governo viram-se forçados a deixar seus cargos, em razão de denúncias de lavagem de dinheiro proveniente de drogas. No México, o diretor do Instituto Nacional de Combate às Drogas foi acusado de montar um esquema para receber dinheiro e favores do mais poderoso traficante do país. No pequeno Paraguai, os casos de corrupção investigados em 1996 pela Controladoria Geral alcançaram a cifra de um bilhão de dólares.

Na Venezuela, o relatório de 1996 da Controladoria afirmava que o país “agoniza num lamaçal de corrupção”, e o controlador-geral, Eduardo Poche, desabafou: “O Estado está ameaçado de desaparecer, se já não desapareceu; impera a ineficácia, a indolência, a falta de ética, a desordem , a indisciplina e a inconsciência.” No Chile, 92% da população está convencida de que a corrupção está crescendo no país. Na Colômbia surgem provas de que o narcotráfico, que movimenta o equivalente a 10% do PIB do país, financiou a campanha do último presidente eleito. No Brasil, não passa um mês sem a eclosão de um novo escândalo de corrupção, envolvendo os “nobres representantes do povo”.

A maior parte das nações afogadas nesse oceano de lama da corrupção vive sob o regime político considerado como o mais aperfeiçoado até hoje: a democracia. Há certamente quem argumentará que os Estados Unidos são a prova de que a democracia funciona, já que ela está em vigor no país há mais de 200 anos. Será mesmo?

As cifras que vazaram sobre os escândalos de corrupção no Pentágono (2) eram da ordem de bilhões de dólares; no início de 1998 descobriu-se que esse complexo militar havia pago 640 dólares por um assento de banheiro, 75,6 dólares por um parafuso de 57 centavos e 714 dólares por uma campainha elétrica de 47 dólares, entre outras aquisições…

Por essa amostragem nos escalões de baixo coturno já se pode ter uma idéia do que ocorre nos almoxarifados de maior patente. O presidente americano, por sua vez, tem de fazer continuamente concessões ao Congresso para poder governar. A democracia nos Estados Unidos nem é mesmo muito “pura”, já que as eleições se dão através de voto indireto, pela escolha de um colégio eleitoral. Já houve inclusive casos em que o colégio eleitoral elegeu outro presidente que não o indicado pelas urnas. As pequenas e grandes falcatruas são uma constante no regime político americano, assim como em qualquer outra democracia do mundo. A diferença é que a renda per capita do país é alta, a maior parte da população tem um padrão de vida muito bom e está pouco ligando para corruptos e corruptores, desde que isso não afete seus bolsos.

O binômio democracia-escândalo aparece cada vez mais frequentemente em vários pontos do globo. Na Coréia do Sul, um ex-presidente foi preso depois de admitir ter recebido doações no montante de US$ 222 milhões. O candidato de oposição, quando da eleição desse ex-presidente, confessou ter recebido dele na época US$ 2,6 milhões, e acusou o atual presidente do país de também ter ficado com algumas centenas de milhões de dólares provenientes de “doações políticas”. Algum tempo depois, o ministro da Defesa era preso depois de confessar ter recebido suborno de uma empresa. O último presidente coreano conseguiu se manter no cargo, mas o primeiro-ministro acabou se demitindo em razão de um rumoroso escândalo de suborno.

Todas as formas de governo experimentadas pela humanidade em sua história, cujas bases não estavam em conformidade com as Leis naturais, tiveram de fracassar. As que atualmente estão em vigor, além do regime democrático, como os totalitarismos de força ou religiosos (teocracias), encontrarão o mesmo fim.

O comunismo desapareceu porque não pôde se manter diante da irradiação do Juízo, como acontece em bem determinado tempo com tudo quanto é insano e nocivo. (3) A idéia básica do comunismo era construir uma sociedade sem classes, onde todas as pessoas seriam iguais. Isso, porém, é coisa impossível, porque os seres humanos apresentam graus de desenvolvimento espiritual muito diferenciados entre si. Contudo, como a mola mestra que impulsionava o comunismo era o materialismo ateu, que naturalmente negava a existência de qualquer desenvolvimento espiritual, essa contingência tão evidente não foi levada em conta. E para alcançar esse objetivo, de antemão impossível, foram cometidas as maiores atrocidades coletivas e descalabros políticos de que já se teve notícia. Um estudo elaborado por cientistas americanos e suecos, e publicado no jornal russo Izvestia, informava que o comunismo matou 110 milhões de pessoas, o equivalente a dois terços do total de vítimas de todos os regimes ditatoriais do século XX.

Na União Soviética, para promover a coletivização forçada do campo na década de 30, Stalin simplesmente liquidou todos os trabalhadores que se opuseram; estima-se que tenham morrido 10 milhões de camponeses. O próprio Krushchev, que foi dirigente do país de 1957 a 1964, contou que os camponeses da Ucrânia naquela época, para não morrerem de fome, recorriam ao canibalismo. No seu livro O Arquipélago Gulag, o escritor dissidente Aleksander Soljenitsin denunciou haver na antiga União Soviética vários campos de trabalhos forçados; o mapa apresentado pelo autor mostrava o território do país salpicado de 220 pontos pretos, cada um deles representando um desses campos, dando realmente a impressão de um vasto arquipélago. Alguns anos antes do colapso do regime, os dissidentes políticos passaram a ser enviados para eufemísticos “hospitais psiquiátricos”.

Na China, Mao-Tse-Tung lançou em 1958 uma campanha política denominada “O Grande Salto para a Frente”, que pretendia desenvolver o país em tempo recorde e, ao mesmo tempo, construir a sociedade igualitária preconizada pelo comunismo. Os camponeses foram obrigados a se juntar em gigantescas comunas de até 20 mil famílias cada uma, enquanto por toda a parte eram instaladas siderúrgicas improvisadas. A economia se desorganizou totalmente e milhões de camponeses morreram de fome.

Em 1966, Mao-Tse-Tung deu início a um movimento chamado “Grande Revolução Cultural Proletária”, destinado a combater os resquícios da ideologia burguesa na sociedade chinesa. Vinte milhões de estudantes universitários e colegiais transformaram-se, de uma hora para outra, em temidos “guardas vermelhos”, com poderes quase ilimitados. De 1966 a 1980, o movimento saqueou e destruiu museus e bibliotecas, fechou escolas, universidades e fábricas, tolheu a atividade diplomática e desencadeou perseguições políticas numa escala jamais vista. Intelectuais e dirigentes políticos foram humilhados publicamente, espancados, presos e, em muitos casos, mortos.

A morte era, inclusive, uma punição recomendada pelo partido comunista. Havia até cotas de execução de “contra-revolucionários” a serem cumpridas pelos guardas vermelhos, com a peculiaridade de que quase não se usavam balas na matança: a pedagogia revolucionária recomendava, por economia, o emprego de socos, porretes e pedras… Na localidade de Guangxi os militantes comiam a carne de suas vítimas, “para demonstrar seus intensos sentimentos de classe”. Centenas de “inimigos do povo” foram devorados em Guangxi. De acordo com um dissidente que sobreviveu ao inferno, “era possível naquela época deparar com um chefe político carregando na rua a perna de um cadáver ainda com um pedaço da calça, ou presenciar um churrasco numa escola, no qual os estudantes assavam pedaços do corpo do diretor assassinado.”

Essa atuação estudantil, que com tanto afinco queria “purificar” o comunismo chinês de qualquer idéia burguesa (podendo ser acusado de burguês quem, por exemplo, tivesse instrução acima da média), vinte anos depois, em 1989, se colocava contra o regime comunista em Pequim, na Praça da Paz Celestial. Os dirigentes do país responderam ao protesto com os tanques do “Exército do Povo”. Entre cinco e dez mil estudantes foram massacrados em 3 de junho de 1989.

Estima-se que entre 1949 e 1987, o regime comunista chinês tenha eliminado 35 milhões de pessoas.

Em abril de 1975, o Camboja foi tomado pelo Khmer Vermelho, uma facção comunista radical que preconizava, entre outras coisas, que um Estado sem classes teria necessariamente de ser rural. A capital do país, Phnom Pehn, que em 1975 contava com três milhões de pessoas, quatro anos mais tarde estava reduzida a 20 mil habitantes. Para conseguir essa “ruralização” de trabalhadores, imensos cortejos foram lançados à força nas estradas, às cegas, sem destino, e muitos morreram pelo caminho. Doentes eram expulsos dos hospitais e partiam com suas muletas e macas ou se arrastavam até morrer. Quase todos os médicos foram mortos, pelo crime de serem cultos.

Em menos de um ano morreram 1,2 milhão de mulheres grávidas e 100 mil bebês. As bibliotecas, símbolo “burguês”, foram transformadas em chiqueiros; 5.857 escolas foram destruídas; os mosteiros foram incendiados. Os remédios, invenção capitalista, desapareceram, e os cemitérios ficaram superlotados. Monges budistas, minorias étnicas e a classe média eram considerados uma ameaça ao “Angkar”, a organização do Estado. Não havia comércio porque o uso do dinheiro foi proibido, e para mostrar que a proibição era para valer, o regime fez explodir o Banco Central.

Em quatro anos, cerca de dois milhões de cambojanos foram mortos diretamente pelo regime ou simplesmente morreram de fome. Os seguintes crimes eram punidos com a morte pelo governo: falar francês, recolher três bananas de uma plantação, visitar clandestinamente a família, ausentar-se momentaneamente do trabalho, consumir álcool, manter relações sexuais fora do casamento, praticar religião. Quando as tropas vietnamitas invadiram o Camboja em 1978, para expulsar o Khmer Vermelho, encontraram um país coberto de ossos e valas comuns.

A Albânia, o mais ortodoxo dos países comunistas, chegou a ter 200 mil presos políticos numa época em que a população do país não chegava a um milhão.

É o mesmo número de presos políticos que se imagina ter a Coréia do Norte. Neste “país”, os aparelhos de rádio são soldados para sintonizar apenas a emissora do governo. Em julho de 1997 foi instituído um novo calendário, que conta os anos a partir de 1912, data de nascimento de Kim-Il-Sung, o “Grande Líder” (já morto). Na capital, Pyongyang, é proibido fotografar apenas partes da gigantesca estátua do líder, e a maioria da população usa broches com a imagem dele. O herdeiro do regime, Kim-Jong-Il, filho do “Grande Líder”, foi agraciado com o título de “Estimado Líder”.

Quando o Estimado Líder foi declarado oficialmente sucessor do pai, a propaganda oficial informou que as pereiras e os pessegueiros floresceram, e que um pescador capturou um peixe raro, mostrando assim que Kim desfrutava um mandato celestial… Nas bibliotecas só existe abundância de livros com a coletânea de obras do Grande Líder. De acordo com um refugiado, as crianças ainda suficientemente fortes para ir à escola (o país estava sendo dizimado pela fome na segunda metade da década de 90 – ver tópico Miséria e Fome) anotavam as lições nas margens desses livros.

Os regimes comunistas, com seus antolhos ideológicos, geraram alguns fatos que ultrapassam o limite do cômico, e mostram, nitidamente demais, o nível de estupidez que pode atingir a prática política:

No Camboja, mencionado acima, o governo do Khemer Vermelho decretou a proibição do uso de óculos, já que todos os homens tinham de ser iguais… Carros eram derretidos para serem transformados em baldes. Na Albânia, que se auto-intitulava “farol do socialismo”, era terminantemente proibido consumir coca-cola e usar barba, e só o governo tinha permissão de possuir automóveis. Na Polônia (e certamente também em outros países comunistas), quem desejasse possuir uma máquina de escrever tinha de registrá-la junto à autoridade policial, como se fosse uma arma. Na ex-União Soviética, no Instituto do Cérebro de Moscou, o cérebro de Lênin foi cortado em milhares de lâminas, na esperança de se conseguir comprovar cientificamente a genialidade do líder da Revolução Comunista…

Quero encerrar esse apanhado sobre o comunismo com uma frase proferida pelo líder político soviético Grigori Zinoviev, no ano de 1924: “No momento oportuno nós nos atracaremos com o senhor Deus. E o aniquilaremos, lá nos seus altos céus.”

Enquanto regimes políticos deturpados causam devastações nos governos dos povos, a figura do político, com raríssimas exceções, só desperta desprezo e asco no governado, uma unanimidade mundial. Só a possibilidade que desfrutam políticos de vários países de legislar em causa própria, seja na definição de seus vencimentos ou outros privilégios, já levanta justificadas ondas de indignação.

O comportamento de alguns políticos serve de amostragem do que os representantes dessa classe são capazes de fazer e com o que eles se preocupam. Apenas um exemplo: em 1987, pouco antes do início das conversações em Montreal sobre o buraco da camada de ozônio, o secretário do Departamento do Interior dos Estados Unidos declarou textualmente: “O governo deve estimular os norte-americanos a utilizarem chapéus, óculos escuros e loção protetora contra o Sol, em vez de forçar a indústria a adotar substitutos para o CFC.”

Uma crítica contundente à classe política foi feita pelo próprio vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, em seu livro A Terra Em Balanço:

“Está cada vez mais difícil evitar a conclusão de que o sistema político em si está em profunda crise. (…) Pesquisas de opinião mostram que aumenta cada vez mais a aversão pela política como profissão, da forma como é exercida hoje. (4) Não é de se admirar que os eleitores mostrem-se mais e mais cansados com o uso de técnicas que manipulam a aparência de sinceridade como recurso para manter o prestígio.

Em outras palavras, a maioria está simplesmente saturada do artificialismo da atual comunicação política. E a frustração resultante aumenta, pois muitos sentem na pele o agravamento da crise da civilização e querem vê-la tratada. É claro que as pesquisas também captam esse sentimento, e o processo torna-se ainda mais desacreditado: repetem-se promessas de mudanças amplas que raramente se cumprem; candidatos prometem uma liderança ousada, mas após a eleição acomodam-se. Os eleitores, ao perderem a fé na capacidade de seus líderes de sair dessa inércia, inevitavelmente perdem a fé em sua própria capacidade de fazer o mesmo. A essa altura, torna-se claro para todos que o sistema político simplesmente não está funcionando.”

O sistema político de fato não está funcionando, e vai desmoronar totalmente após ter cumprido involuntariamente seu papel como instrumento de retorno da atuação errada de povos inteiros. Política e políticos são hoje sinônimos de hipocrisia e corrupção, coisas que continuarão aumentando em tempo próximo, ao mesmo tempo que cada vez mais rapidamente vêm à tona e desmoronam todas essas maquinações, arrastando consigo os seus autores. Este processo continuará ainda por algum tempo, até que todo o falso tenha-se auto-extinguido. Após o Juízo, os que restarem não terão mais de conviver com essa arte de mentir, que é o retrato da política deste final de século.

  1. Ver o livro A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo, de Roselis von Sass. Voltar
  2. Sede do Departamento de Defesa e do Estado-Maior norte-americanos. Voltar
  3. Alguns países como Cuba, China e Coréia do Norte, ainda mantinham no início de 1998 essa denominação para seus regimes políticos, que, no entanto, já não lembram em nada a ortodoxia do passado.

    Em fevereiro de 1997, o principal ideólogo do comunismo norte-coreano, Hwang Iang-Yop, defensor e divulgador da “juche” (auto-suficiência) pedia asilo numa embaixada da Coréia do Sul. São dele essas palavras: “O alardeado paraíso socialista converteu-se num local de mendicância. A economia está completamente estagnada e o povo já perdeu toda a esperanças no sistema.”

    A China, por sua vez, anunciou em setembro daquele ano um gigantesco plano de privatização de 10 mil empresas estatais, chamadas pelos dirigentes do país de “folhas de outono”. Voltar

  4. Uma pesquisa feita no Brasil demonstrou que a classe política é o segmento da sociedade com o menor índice de confiança entre a população. Voltar