“A indiferença é feroz. Ela permite todas as exações, os desvios mais funestos, mais sórdidos. Este século é sua trágica testemunha. (…)
Nossa indiferença e nossa passividade em face desse horror distante pressagiam o maior perigo. Elas parecem proteger-nos do infortúnio geral, separando-nos dele, mas é exatamente isso que nos fragiliza, que nos põe em perigo, no próprio centro do perigo. O desastre está preparado, totalmente específico.”
Viviane Forrester
“O dinheiro é a mola que move o mundo!”
Não há quem não conheça esta frase, e certamente são poucos os que com ela não concordam. Ela sintetiza com precisão o que o dinheiro representa no mundo de hoje, apesar de incompleta.
Sim, incompleta, pois o dinheiro não apenas move o mundo, mas é também para a maior parte das pessoas o foco principal de seus pensamentos e seu objetivo de vida mais elevado. Para angariar dinheiro elas sacrificam a saúde e seu precioso tempo terreno, forjam e destroem amizades, são capazes de mentir, ludibriar, roubar e até matar. Tudo pelo dinheiro.
Por ter a humanidade elevado com tanto afinco esse bezerro de ouro a um lugar de honra, ao ponto mais alto do seu altar de idolatrias, o descalabro econômico que atinge a Terra torna-se agora um dos mais pesados golpes do Juízo. A instabilidade econômica mundial traz convulsão social, crise de governabilidade, medo e, principalmente, insegurança.
A ânsia desmedida pelo dinheiro é mais um sintoma do domínio do intelecto sobre o espírito. Como aquele provém da matéria, só tem capacidade de reconhecer e dar valor àquilo que é material. E o dinheiro é o instrumento capaz de realizar o sonho de todas as pessoas dominadas pelo seu intelecto: acúmulo ininterrupto de bens e riquezas terrenas.
Uma grande parte ainda dessas pessoas luta apenas pelo dinheiro, unicamente para possuí-lo, sem sequer desfrutar das coisas que ele pode comprar e muito menos utilizá-lo em prol do bem comum. Terríveis são os efeitos retroativos desse ápice de egoísmo. Toda a segurança que tolamente imaginam dispor pela posse do dinheiro transformar-se-á em pó de uma hora para outra.
Como seria então a maneira correta de se relacionar com o dinheiro?
Uma grande e inflexível lei perflui toda a Criação e assim também esta nossa pequena Terra de matéria grosseira: a Lei da Reciprocidade ou Lei de Retorno. Entre outros efeitos, essa lei estabelece que em tudo tem de haver equilíbrio. Dar e receber em contínuo movimento. Onde não houver paridade absoluta entre o dar e o receber, lá não pode haver harmonia. Pode-se dizer que a exigência de se manter o equilíbrio em todas as coisas é igualmente uma lei, assim como é também uma Lei da Criação a necessidade de se manter o movimento dentro dela. Ambas as leis, a Lei do Equilíbrio e a Lei do Movimento, estão inseridas na Lei da Reciprocidade, fazem parte dela.
O ser humano é transpassado por uma Força que o permite viver. Essa Força é neutra, e pode ser dirigida tanto para o bem como para o mal. Através de seus pensamentos, palavras e ações, ele tem o poder de dirigir a Força, recebendo para si mesmo depois de um certo tempo, através da Lei da Reciprocidade, tudo o que ele próprio formou com essa Força neutra a ele doada.
Ele recebe a Força e dá à Criação formas geradas com ela através de seus pensamentos, palavras e ações. Após certo tempo, recebe da Criação aquilo que anteriormente havia dado a ela, sejam coisas boas ou ruins.
O espírito humano, preenchido pela Força, incandesce automaticamente o corpo terreno dado a ele para a sua peregrinação na Terra. Uma pequena parte dessa Força, um efeito diminuto do “dar e receber”, ele utiliza então para manter são e vigoroso o seu corpo terreno durante os anos em que viverá aqui na matéria. Pelo seu trabalho, ele dá materialmente algo à Criação material, à Terra, e por isso recebe dela o necessário para a sua vida terrena: alimento, vestuário e moradia. O dinheiro nada mais é do que um meio para facilitar o dar e o receber na matéria grosseira.
Uma pessoa boa, que utiliza exclusivamente para o bem a Força a ela outorgada, tanto espiritual como terrenamente, jamais se verá na contingência de ficar privada indefinidamente do necessário à manutenção da sua vida terrena. Pelos efeitos automáticos da Lei da Reciprocidade uma tal situação é absolutamente impossível.
Da mesma forma, também é falsa a concepção de que se deve desprezar bens terrenos, a fim de se obter um aprimoramento espiritual. Os bens terrenos, quando advêm automaticamente pelos efeitos da Lei da Reciprocidade, proporcionam alegria e embelezam a vida terrena. Sua usufruição alegre equivale a um agradecimento ao Criador, um reconhecimento das dádivas que Ele proporciona às Suas criaturas, quando estas se enquadram voluntariamente nas diretrizes da Sua Vontade perfeita.
Em primeira linha o ser humano recebe dádivas espirituais, as quais, se corretamente utilizadas e desenvolvidas, trarão como retorno a possibilidade de se alcançar o alvo supremo: viver eternamente em sua Pátria verdadeira, o Paraíso. Em grau de importância proporcionalmente menor, recebe ele também dádivas materiais, que são igualmente efeitos da mesma Lei da Reciprocidade, as quais atingem o ser humano em sua passagem provisória pela Terra.
O erro grave, aliás gravíssimo, em relação aos bens materiais, é considerá-los então como a meta mais importante da vida. Isso é uma distorção que vai contra a Vontade criadora e, por essa razão, jamais poderá trazer algo de bom. O ser humano é espírito, e sua meta primordial tem de ser o aperfeiçoamento espiritual. As dádivas materiais, quando surgem naturalmente (e são aproveitadas no sentido certo), constituem apenas efeitos mais externos dessa postura interior correta.
Os Incas, por exemplo, tinham como meta suprema o contínuo aperfeiçoamento espiritual. Não eram apegados a bens terrenos e, no entanto, eram riquíssimos terrenamente. Toda a sua vida terrena era envolta em ouro, que literalmente brotava do solo em que pisavam. Comiam em pratos de ouro, com talheres de ouro, e bebiam em canecas de ouro. Os ornamentos de suas casas eram obras de arte em ouro. Alegravam-se com o ouro, que embelezava suas vidas. Nunca, porém, consideravam-no como meta a ser alcançada durante sua vida na Terra. Simplesmente eram presenteados com o metal, ou, melhor dito, recebiam através da Lei da Reciprocidade, pela sua maneira correta de viver, dádivas materiais abundantes, além das espirituais. (1)
Ao ser humano moderno uma vida cuja meta suprema seja espiritual parece ficção. Se, aliás, pretender dar um crédito de verdade a isso, com certeza tentará ser suficientemente “bonzinho” para receber a sua correspondente cota de dádivas materiais, que é o que realmente lhe interessa. A Lei da Reciprocidade, contudo, não se deixa ludibriar pela astúcia do raciocínio humano. Ao contrário. Ela devolve a ele exatamente aquilo que de fato vive em seu íntimo, conforme sua verdadeira índole.
Para a imensa maioria das pessoas, a finalidade da vida consiste unicamente em angariar a maior quantidade possível de dinheiro e acumular o máximo de bens terrenos. Empregam nisso todos os seus esforços, durante a sua vida terrena inteira. Depois de anos, dizem então a si mesmas que “venceram na vida”. Não se incomodam de terem desperdiçado assim seu preciosíssimo tempo terreno, o que, nesta época do Juízo Final, significa a possibilidade de se poder ou não continuar existindo espiritualmente!
De que adianta passar alguns anos acompanhando o crescimento do saldo bancário e usufruindo egoisticamente efêmeros bens terrenos, obtidos artificialmente pela astúcia do intelecto, se após a morte tiverem de verificar, com o mais profundo horror e desespero, que jogaram fora levianamente o último prazo de que dispunham para a sua salvação espiritual? De que terão servido alguns poucos anos de enriquecimento material forçado, em comparação com a eternidade da vida espiritual que lhes é denegada? Na única linguagem que entendem: terá sido um bom negócio?…
Hoje tudo está torcido. Nada é como deveria ser. Por isso encontramos tantas disparidades nas áreas econômica e financeira, seja em âmbito mundial, nacional ou pessoal. Essas discrepâncias, no entanto, são também, como tudo o mais, efeitos retroativos que atingem a humanidade no Juízo. Há países com renda per capita (2) inferior a US$ 150 e outros com renda superior a US$ 25 mil. Há pessoas riquíssimas materialmente que, no entanto, utilizam sua riqueza exclusivamente para deleite próprio, sem direcioná-la para proveito geral.
Esportistas ganham fortunas em troca de nada: um lutador de boxe recebe 25 milhões de dólares pela proeza de massacrar seu oponente no 1º round. O campeão mundial de Fórmula 1 recebeu 33 milhões de dólares em 1996, ano em que uma estrela do basquete americano embolsou 52,6 milhões de dólares. Jogadores de futebol, que como todos os outros esportistas – profissionais ou amadores – não contribuem com absolutamente nada para a mínima evolução da humanidade, chegam a ganhar mais de US$ 100 mil mensais.
Uma pessoa rica, que utiliza sua riqueza para o benefício de muitos, através da geração de empregos e desenvolvimento geral das condições materiais de vida é um elemento muito útil na Criação, pois com sua atividade corretamente direcionada contribui para que a Lei do Movimento e a Lei do Equilíbrio se tornem vivas na matéria. Através dessas Leis aplicadas à matéria, tal pessoa permite àquelas que trabalham para ela familiarizarem-se corretamente com a Lei da Reciprocidade, através do trabalho. Os empregados dão à empresa seu trabalho, para que ela cresça e se desenvolva; em troca recebem uma recompensa em forma de dinheiro, um instrumento transitório que lhes possibilita obter o que julgam necessário para suas vidas terrenas.
Assim, tão simples, deveriam ser as relações de trabalho entre as pessoas que vivem na Terra. Cada qual dando a sua contribuição de acordo com suas próprias capacitações, obtidas segundo o caminho de desenvolvimento trilhado durante as várias vidas terrenas. Todas elas, porém, tendo como objetivo máximo de vida o aperfeiçoamento espiritual, através do pleno reconhecimento das Leis da Criação e a sábia sujeição voluntária a essas leis, para o que a vida terrena se constitui numa escola imprescindível.
Todavia, como já desde milênios o ser humano só dá valor às coisas materiais perecíveis, por esta razão, pela atuação das mencionadas leis, sua passagem pela Terra deixou de ser uma experiência agradável, proporcionadora de alegria e reconhecimento espiritual. Para a quase totalidade da humanidade a vida terrena não passa de um tormento contínuo, como o provam as estatísticas sempre crescentes da prática covarde do suicídio.
Centenas de milhões de pessoas vivem hoje na Terra na mais absoluta miséria. Os que têm um emprego e ainda ganham o suficiente para viver condignamente formam um único e extenso exército de descontentes, firmemente convencidos de que a vida lhes foi injusta ao negar-lhes a riqueza material. Já os que possuem muitos recursos, em sua maior parte utilizam-nos quase que exclusivamente para proveito próprio.
Todas essas excrescências, efeitos retroativos do mau querer da humanidade, aumentam agora até a efervescência pelo poder irresistível do Juízo Final, que força tudo ao máximo, até que, por fim, elas desmoronam por si mesmas, extinguindo-se completamente.
Estamos vivendo exatamente essa época. A cada ano, a cada mês, a cada dia vemos avolumar-se o descalabro econômico mundial, trazendo angústia, desesperança e… insegurança. O pedestal do ídolo dinheiro, erguido por tantas mãos diligentes até uma altura que obscurece totalmente qualquer vislumbre de vida espiritual, já oscila ameaçadoramente sobre a humanidade amedrontada e estarrecida.
Observando essa oscilação perigosa, que começa a fazer despencar alguns pedaços da gigantesca construção, já há quem perceba ser a humanidade completamente impotente para evitar o desastre.
Os dados estatísticos mundiais sobre economia demonstram, com impressionante nitidez, a deterioração das condições materiais da maior parte dos povos da Terra e o contínuo distanciamento econômico entre algumas poucas nações e o restante dos países. De acordo com um informe divulgado pelo Population Institute de Washington, em setembro de 1997, cerca de um terço da população mundial vivia na pobreza absoluta, com renda anual inferior a 370 dólares, e 82 países não conseguiam produzir ou comprar alimentos em quantidade suficiente para alimentar seus povos.
A concentração de renda verifica-se não apenas em âmbito mundial, entre as nações, mas também, como já mencionado, dentro de um mesmo país. Os pobres e remediados ficam cada vez mais pobres e menos remediados, enquanto que o seleto grupo de milionários e bilionários vai crescendo imperturbavelmente. Isto é também um efeito cármico retroativo, onde temos de observar que ao lado da miséria sempre crescente das massas, surgem figuras de endinheirados absolutamente incapacitados para gerenciar sua riqueza. Apenas um exemplo ilustrativo: um empresário japonês comprou por 82,5 milhões de dólares um quadro do pintor holandês van Gogh, com o objetivo manifesto de levá-lo consigo para o túmulo…
Em 1963 os 20% mais pobres do planeta detinham 2,3% da renda mundial, enquanto que os 20% mais ricos detinham 70%. Passados trinta anos, os mais pobres dividiam entre si 1,4% da renda mundial, enquanto os mais ricos ficavam com 85% do bolo. Durante esse período, o PIB mundial cresceu de 4 para 23 trilhões de dólares, fato que, evidentemente, não redundou em benefícios para os menos favorecidos. Em julho de 1996, a ONU publicou um relatório informando que o rendimento conjunto de 358 multimilionários era superior à renda somada de 2,3 bilhões de pessoas (45% da população mundial).
A revista americana Forber publica todos os anos uma relação das pessoas no mundo que possuem patrimônio superior a um bilhão de dólares. Em 1991 eles eram 274; em 1996, 447; em 1997 a revista deixou de publicar o recenseamento completo porque havia bilionários demais. Em relação aos milionários os números também são significativos. O escritório de consultoria Gemini Consulting verificou que em 1986 havia cerca de 600 mil pessoas no mundo com capital de um milhão de dólares, já em 1997 eram 6 milhões de pessoas com fortuna desse porte.
Nos últimos quinze anos, cerca de 1,6 bilhão de pessoas viram sua renda diminuir. Desde 1980, noventa países sofreram declínio econômico. Na América Latina, 24% da população (cerca de 110 milhões de pessoas) viviam com uma renda inferior a um dólar por dia em 1997. O salário médio de alguns países do continente americano caiu 30% nos últimos tempos. O PIB dos Estados Unidos cresceu 29% de 1973 a 1993, e mesmo assim o salário médio dos trabalhadores em 1997 era inferior ao de 1973; entre 50% a 60% da população economicamente ativa do país tiveram sua renda reduzida nos últimos vinte anos; todas as melhorias salariais durante a década de 80 foram para os 20% que já ganhavam mais.
O professor de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Lester C. Thurow, fez as seguintes considerações a respeito num artigo de jornal publicado em setembro de 1995:
“Em nenhuma outra época a média de salários dos homens americanos havia baixado continuamente mais de duas décadas. Nunca, antes, a maioria dos trabalhadores sofreu redução do salário real paralelamente ao aumento do Produto Interno per capita. (…)
A maré subiu (o Produto Nacional Bruto real per capita aumentou 29% entre 1973 e 1993), mas 80% dos barcos afundaram. (…) Os salários dos homens na faixa dos 25 aos 35 anos baixaram 25%. (…) O ritmo do declínio parece ter duplicado em 1994 e início de 1995. (…) Em comparação com a queda dos salários reais, os demais problemas econômicos dos EUA se tornam insignificantes.”
A tabela abaixo, extraída do seu livro O Futuro do Capitalismo, mostra a variação salarial dos americanos entre 1973 e 1992:
Quintos |
Trabalhadores Homens (Salários) |
---|---|
Inferior | –23% |
Dois | –21% |
Três | –15% |
Quatro | –10% |
Topo | +10% |
No Chile, onde nos últimos dez anos o PIB duplicou e as exportações triplicaram, um terço da população é constituída de pobres; os 10% mais ricos repartem entre si 40,8% dos recursos do país.
No México, país que foi palco da mais grave crise econômica mundial do pós-guerra (até a eclosão da crise asiática), havia, em 1988, apenas três pessoas cujo patrimônio superava um bilhão de dólares; em 1994, um ano antes da tragédia, já eram 24 os mexicanos detentores desse capital. Em junho de 1995, segundo dados do Banco do México, 0,3% da população do país detinham 56% da poupança interna total.
Na China (em 1997), o salário dos gerentes chega a ser 300 vezes maior que o do trabalhador comum, sem contar os rendimentos provenientes da corrupção.
De acordo com representantes de ONGs (Organizações Não Governamentais) de 14 países, 20% da população do mundo ainda sobrevive com uma renda média diária de um dólar. Vários economistas também sustentam que a mencionada onda de grandes fusões ajuda a piorar a distribuição de renda, “transferindo riqueza e poder das massas de trabalhadores para um grupo relativamente pequeno de altos executivos e grandes investidores.” Segundo dados da ONU, as 37 mil multinacionais e suas 200 mil filiais espalhadas pelo mundo são responsáveis por apenas 5% dos empregos, embora detenham 33% dos ativos globais e um quinto da produção. Mais à frente vamos falar com maiores detalhes sobre essa onda de fusões e seus efeitos.
Num seminário intitulado Pobreza na América Latina, realizado na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, em outubro de 1995, os economistas concluíram que entre 1970 e 1990 a América Latina havia produzido 76 milhões de novos pobres de um total recorde de 195 milhões. Já em 1990, cerca de 46% dos latino-americanos viviam abaixo da linha da pobreza, sem dispor do mínimo necessário para alimentação, moradia, educação, transporte, saneamento e vestuário. O subsecretário da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), Oscar Altimir, declarou textualmente: “Nos últimos anos aumentou na região o fenômeno da disparidade de rendas e o fosso que separa a população geral do extrato mais rico.”
Mas não é de hoje o recrudescimento dos problemas econômicos mundiais. Grandes abalos econômicos vêm assolando o mundo de tempos e tempos, cada vez com maior frequência, como ondas de terremotos que, iguais a esses, deixam atrás de si ruínas e desolação. E, também, insegurança.
Os primeiros grandes tremores da economia mundial eclodiram ainda no século XIX. A Revolução Industrial fazia crer que em breve as necessidades materiais de todos os seres humanos seriam plenamente atendidas. Porém, já em 1819 irrompeu uma crise econômica marcada pela redução ou interrupção da produção, corrida aos bancos e dispensa em massa dos operários. Outras duas crises com as mesmas características ainda ocorreram naquele século, em 1837 e 1857. Essas crises foram chamadas na época de pânicos. A vida das pessoas que recebiam remuneração pelo trabalho prestado, passava a ser marcada por uma palavra que acompanharia todas as gerações futuras: insegurança.
Nos primeiros dez anos do século XX já houve quatro crises: em 1901, 1904, 1907 e 1911. A mais grave delas foi a de 1907, chamada pela primeira vez de “depressão”; as outras, mais brandas, foram chamadas de “recessões”, termo esse que, de tão comum em nossa época, é tratado com desenvoltura por qualquer criança em idade escolar.
A crescente massa de trabalhadores insatisfeitos, que, impregnados por doutrinas materialistas não podiam conceber a idéia de que as difíceis condições de vida que suportavam eram o retorno cármico de suas próprias ações, condensou-se em grandes sindicatos, cuja força motriz eram o inconformismo, o ódio às classes sociais mais altas e as idéias revolucionárias, ou seja, atos que visavam destruição. Após a Primeira Guerra Mundial houve movimentos grevistas gigantescos; um deles chegou a paralisar quatro milhões de operários.
Em 1921 houve mais uma recessão. O grande desenvolvimento tecnológico dessa época, juntamente com os hábitos decadentes da sociedade de então, já era incapaz de retirar ou atenuar o termo insegurança das análises econômicas. Em seu livro História Econômica, Francisco Magalhães Filho diz o seguinte a respeito desse período:
“É a época do charleston e do jazz, das saias curtas e dos carros de corrida, do pugilismo e do fonógrafo. Por quase dez anos o barulho é tão forte que consegue esconder a realidade, sem contudo alterá-la ou modificá-la.”
O desequilíbrio entre o dar e o receber nas políticas econômicas governamentais acarreta, entre outros, dois efeitos antagônicos e não obstante igualmente danosos: inflação e deflação.
Ninguém pode receber mais do que dá, ninguém pode gastar mais do que recebe, ninguém pode usufruir mais do que aquilo que ele mesmo produz. As tentativas de se alterar isso fazem com que o instrumento para transformar em realidade material aquilo que se deseja, o dinheiro, perca seu valor e torne impossível a consecução das metas erradamente avaliadas. Se para resolver o problema de seu débito, devido a gastos errados e perdulários, o governo opta simplesmente por emitir papel-moeda, os preços sobem automaticamente, de maneira a se ajustarem à maior disponibilidade de recursos. Com os preços mais altos, o poder de compra da população de mais baixa renda diminui, fazendo crescer o nível de pobreza do país. É a situação de uma economia com inflação exacerbada.
Para reverter esse quadro o governo retira papel-moeda de circulação, contém os gastos públicos e aumenta os impostos. Se a dose desse remédio for errada, isto é, se o governo cometer novamente um desequilíbrio em suas ações, o resultado é que os recursos destinados a investimentos escasseiam, e a produção de bens e serviços diminuem. Sem produção não há emprego, sem emprego não há demanda, e sem demanda os preços caem. Porém, como as pessoas não adquirem a pequena produção existente, por estarem desempregadas ou por pouparem em demasia (por medo de perder o emprego), a produção cai mais ainda, os preços despencam e o desemprego explode. É a situação de uma economia em deflação crônica.
A deflação descontrolada pode redundar numa perigosa “espiral deflacionária”, com efeitos catastróficos. Na Inglaterra, em 1920, os preços por atacado caíram pela metade em dois anos, e com eles despencaram os salários e cresceu o desemprego.
Já a inflação descontrolada transforma-se às vezes em hiperinflação, fenômeno que destrói completamente a economia do país. Num ambiente de hiperinflação as pessoas rejeitam totalmente o dinheiro, pois ele perde valor a cada dia ou mesmo a cada hora. O trabalho é trocado por mercadorias ou bens de primeira necessidade, como alimentos e roupas. As pessoas são assim forçadas, através do escambo, a restabelecer o equilíbrio rompido. Sem a existência do dinheiro elas passam novamente a receber diretamente bens materiais em troca daquilo que dão materialmente.
A tentativa dos governos de continuar a fazer circular a moeda nacional num ambiente de hiperinflação acarreta situações inusitadas, que refletem sua total impotência ante o descalabro econômico. A Alemanha, por exemplo, viveu um período de hiperinflação em 1923. Enquanto em 1920 eram precisos 40 marcos para comprar um dólar, em fins de 1923 eram necessários 4 trilhões e 200 bilhões de marcos para se trocar por um dólar. Na Hungria, em junho de 1946, o governo emitiu notas com valor facial de um sextilhão de pengös. (3)
Após os cada vez mais frequentes períodos de recessão do começo do século, eclodiu, no ano de 1929, aquela que é considerada como a maior catástrofe econômica de todos os tempos (até a data em que este livro foi escrito): A Grande Depressão de 1929. O escritor Eric Hobsbawm a descreve muito apropriadamente como “o maior terremoto global medido na escala Richter dos historiadores econômicos”.
O mundo teria naquela época a primeira amostra de um retorno cármico coletivo na forma de um descalabro econômico, e também uma idéia da incapacidade humana frente a isso, até mesmo de prever o acontecimento e suas reais consequências. Em junho de 1929, às vésperas da quebra da Bolsa de Nova York, o economista americano Bernard Banch – consultor econômico de sete presidentes americanos – deu a seguinte declaração à revista American Magazine: “As condições econômicas indicam que o mundo parece estar à beira de um grande salto para a frente.”
Ao meio-dia de 24 de outubro de 1929, a prosperidade financeira dos anos 20 se desintegrou na Bolsa de Valores de Nova York. Diz a Enciclopédia Nosso Tempo sobre a tragédia:
“Milhares de norte-americanos, de viúvas empobrecidas a magnatas, perderam tudo o que tinham; no fim do dia, onze financistas tinham cometido suicídio.”
O economista Francisco Magalhães retrata dessa forma os eventos subsequentes:
“Todo o esforço para manter intocável e imutável o mundo de pré-guerra ruiu em 1929. (…)
Mais do que qualquer outra anterior, a crise iniciada em 1929 espalhou-se pelo mundo, atingindo diretamente não apenas as economias industriais capitalistas, como também as economias primário-exportadoras. (…)
Mais do que qualquer outra depressão anterior, esta prolongou-se no tempo, mantendo o nível geral de produção de todas as economias capitalistas por baixo do máximo atingido antes da queda, por um período de mais de dez anos.”
O Produto Nacional Bruto (4) dos Estados Unidos caiu 30% entre 1929 e 1933, ano em que o número de desempregados chegou a 14 milhões e cerca de mil propriedades eram executadas por dia no país. Nesse período, os empréstimos internacionais caíram mais de 90% e o comércio mundial caiu 60%. Na Inglaterra e na Bélgica 22% dos trabalhadores ficaram sem emprego nessa época; 24% dos suecos, 29% dos austríacos, 31% dos noruegueses e 32% dos dinamarqueses também estavam desempregados; na Alemanha, nada menos que 44% da força de trabalho estava ociosa. (5)
O total de desempregados em 1933 nos países industrializados chegou a 30 milhões. O mundo todo sofria profundamente com esse golpe inesperado do destino, o qual, porém, era apenas um dos efeitos automáticos do Juízo em sua primeira fase. Mas para a humanidade parecia um pesadelo que nunca terminava, a despeito dos múltiplos esforços governamentais. A esse respeito, diz ainda o economista Francisco Magalhães:
“Mas o pior da depressão era que parecia não ter fim. Apesar dos esforços dos governos, muitas vezes adotando políticas radicais, que alguns anos antes seriam consideradas como afrontosas ao sistema capitalista, a demanda global dos países industriais capitalistas não voltava aos níveis de 1929. Em meados da década houve uma certa recuperação, mas os anos de 1937 e 1938 trouxeram nova recessão que, apesar de menos severa do que a posterior a 1929, tornou a elevar os níveis de desemprego e a reduzir a produção.”
Nas décadas seguintes cada país continuou com o seu próprio caos econômico para administrar. Apenas dois exemplos aleatórios: devido a problemas com a cotação internacional do café, o Brasil, entre 1931 e 1940, cometeu o crime de queimar mais de 68 milhões de sacas do produto. Em 1943, em razão de distorções estruturais em sua economia, a Índia foi assolada pela fome em algumas regiões, que resultaram na morte de cerca de dois milhões de pessoas.
Após a Segunda Guerra Mundial, registrou-se outros períodos de recessão originados nos Estados Unidos, que na época ainda eram a locomotiva da economia mundial. Houve recessões em 1948, 1953 e 1957.
A década de 60 deu início ao distanciamento econômico cada vez mais acentuado entre nações pobres e ricas. Já as décadas de 70 e 80 mostraram, de forma clara e inequívoca, a deterioração da economia global. O professor Francisco Magalhães diz que na década de 70 observava-se “uma elevação do desemprego, somados agora a uma irredutibilidade das pressões inflacionárias, que insistiam em resistir a todas as medidas e políticas deflacionárias conhecidas e testadas, bem como à instabilidade de um mercado financeiro cada vez maior e de mais difícil controle.”
Em 1973, com a chamada “crise do petróleo”, a economia mundial sofreu um novo abalo e os Estados Unidos e a Europa entraram novamente num período de grave recessão. Foi nessa época que apareceu um novo termo na economia, para designar a até então impensável conjunção de falta de crescimento econômico com inflação: a “estagflação” (mistura de estagnação com inflação), o pior dos mundos possíveis segundo os economistas. Acredito, porém, que eles terão de inventar outros neologismos em futuro próximo…
Na década de 60 o crescimento médio anual dos 18 países mais industrializados do mundo foi de 5,1%. Na década de 70, apesar do aumento da população, esse crescimento médio caiu para 3,2%. Isso significa que houve um empobrecimento geral per capita nesses países. Nos anos 80 houve outra desaceleração, para 2,8% ao ano, e na primeira metade dos anos 90, a taxa de crescimento anual foi de apenas 2%. Em O Futuro do Capitalismo, Lester C. Thurow afirma que o capitalismo perdeu 60% do seu impulso nas últimas duas décadas.
No Japão, o crescimento caiu de 10,5% para 5% em menos de duas décadas; na década de 80 o crescimento médio desse país ficou em 4%, caindo ainda mais ao longo da década de 90.
No início da década de 80 o mundo ficou frente ao mais grave (até então) abalo econômico do pós-guerra. Foi a chamada “crise da dívida”, ocasionada pela impossibilidade de os países em desenvolvimento saldarem seus compromissos financeiros.
O jornalista Darrel Delamaide, autor do livro O Choque da Dívida, retratou da seguinte maneira essa crise mundial:
“A crise afeta a todos nós porque afeta nosso dinheiro. Os números são tão grandes que não parecem verdadeiros. (…)
Continuará a dominar o mercado financeiro internacional durante muitos anos, e permanecerá sendo uma das maiores preocupações do mundo até que surja um sistema novo e mais eficiente… talvez erigido sobre as ruínas do velho sistema. (…)
Em última instância, a crise de crédito afeta muita coisa que é de importância em nossas vidas: nosso emprego, o valor de nossas poupanças, a segurança de nossa aposentadoria, nosso padrão de vida e mesmo nossa liberdade de movimento. (…)
Ela [a crise] afeta nossas hipotecas, a rapidez com que nosso dinheiro perde o valor e a certeza de nossa prosperidade material.”
Em 1980 seis países tinham uma dívida igual ou maior que todo o seu Produto Nacional Bruto; dez anos depois, 24 países deviam mais do que produziam, incluindo toda a África subsaariana.
Em 1981, um especialista americano chamado Henry Kaufman, estimou que a dívida mundial, excetuando-se as dos países do então bloco comunista, alcançava a inconcebível cifra de 14,3 trilhões de dólares.
O ano de 1982 registrou o maior número de falências nos Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra. Grandes empresas, com dívidas da ordem de bilhões de dólares foram fechando paulatinamente as portas nos Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra nos anos de 1982 e 1983. A esse respeito diz Darrel Delamaide:
“As falências em todo o mundo atingiram níveis recordes em 1982, como nunca ocorrera depois da guerra, e continuaram a aumentar em 1983. O efeito cumulativo das insolvências começou a cobrar sua taxa sobre os ganhos e o moral dos bancos. Vários casos especiais de falência e de quase falência contribuíram particularmente para difundir o desespero.”
Haverá certamente quem diga que o pior já passou, que uma tal crise não tem como repetir-se atualmente (o último período de recessão grave aconteceu entre 1990 e 1993). Pura ilusão. A crise da dívida não foi debelada, mas só “reescalonada”, em outras palavras: “empurrada com a barriga”.
Os mais recentes tremores econômicos que têm sacudido o mundo (de que viremos a falar mais adiante) provam que uma solidez econômica mundial é algo com que nenhum governo pode contar. O aparente sucesso na estabilização econômica em vários países com inflação crônica não deve servir de contra-argumento. Se a febre baixa alguns graus durante certo tempo, não significa que a infecção esteja debelada. De mais a mais, nenhuma melhoria econômica, seja ela passageira ou mais duradoura, em qualquer lugar do mundo, conseguiu eliminar a palavra insegurança da vida dos seus cidadãos…
No livro O Desarmamento Financeiro (1989), o ex-presidente do Peru, Alan Garcia (6) mostra que os países da América Latina vêm fazendo desembolsos crescentes ano a ano no pagamento de suas dívidas externas. O gráfico abaixo mostra a evolução do desembolso dos países da América latina e o crescimento da dívida externa do conjunto desses países. (7) Observa-se que apesar de o desembolso ser sempre crescente, a dívida externa global continuou aumentando. Alguns dados ilustrativos: O México devia US$57 bilhões em 1980; após 14 anos este país havia pago, de juros, US$ 125 bilhões; saldo da dívida: US$ 141 bilhões. O Brasil devia US$ 115 bilhões em 1990; nos cinco anos seguinte pagou US$49,5 bilhões, e chegou em 1996 devendo US$ 159 bilhões… O pagamento efetuado da dívida em 1995 pelos países latino-americanos foi equivalente a 25% das exportações da região.
O descalabro econômico mundial pode ser acompanhado através de vários outros parâmetros. Um dos mais expressivos é o número de bancos em dificuldades ao longo dos anos, já que essas instituições são as que zelam pela segurança do dinheiro de pessoas e nações.
O gráfico da figura A abaixo mostra a quantidade de bancos americanos que quebraram ou que tiveram de ser socorridos pelo governo na segunda metade do século XX. Na sequência, o gráfico da figura B mostra o total de instituições bancárias existentes nos Estados Unidos nos respectivos anos. Analisando-se o gráfico da figura A observa-se que houve um crescimento significativo do número de instituições quebradas ou assistidas a partir da década de 80, enquanto que o gráfico da figura B mostra que o número total de instituições manteve-se praticamente constante de 1955 até 1985, apresentando uma queda acentuada a partir daí.
A análise conjunta dos dois gráficos (8) demonstra que o número de quebras não é uma decorrência do aumento do número de instituições financeiras, mas sim que se deve ao acúmulo crescente de dificuldades econômicas (isto na nação mais poderosa da Terra).
De qualquer forma, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), divulgou um estudo demonstrando que a incidência de crises bancárias nos países em desenvolvimento foi significativamente maior nas décadas de 80 e 90 do que na de 70, e muito mais intensa do que nos tranquilos anos 50 e 60. As frases a seguir são do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Michel Camdessus:
“O sistema financeiro mundial está em pedaços e há uma urgência extrema em apertar os parafusos!” (…)
“Frequentemente me perguntam [maio de 1997] onde será a próxima crise econômica internacional, o próximo México. Eu não sei, mas suspeito que tudo começará com uma crise bancária; e mesmo que não seja assim, a crise será agravada pelo colapso dos bancos.”
No sossegado Paraguai, de 1995 a 1997 foram fechados seis bancos, vinte financeiras e uma empresa de crédito imobiliário. Em junho de 1997, o maior banco do país, o Union, foi colocado sob intervenção “para proteger o sistema”, segundo o presidente do país.
Mas são os Estados Unidos que apresentam enormes desequilíbrios econômicos, efeitos colaterais da maior economia do planeta. O país ostenta a maior dívida pública do mundo. (9) Mais assombroso do que o tamanho dessa dívida é o fato de que ela cresce sem parar, aparentemente sem limite. Esse é um sinal típico do desequilíbrio entre o dar e o receber. Não é preciso ser economista para prever que uma dívida que cresce indefinidamente não pode acabar bem…
Há algum tempo os jornais televisivos mostraram o funcionamento de um curioso relógio digital instalado em Nova York, próximo à Times Square. Tratava-se de um relógio gigantesco, que registrava freneticamente o crescimento da dívida pública do país a cada fração de segundo.
O gráfico na figura C mostra o crescimento da dívida pública americana neste século, em valores absolutos de bilhões de dólares. O gráfico da figura D mostra o crescimento desta mesma dívida “per capita”, isto é, apresenta o valor da dívida repartida em quantidade de dólares devidos por habitante do país.
A dívida pública americana passou de 1,2 bilhão de dólares em 1900 para quase 5,4 trilhões de dólares em 1997, um aumento de 4.500 vezes. A dívida pública per capita, isto é, quanto cada americano precisaria pagar para saldar a dívida pública do país, passou de 16,6 dólares em 1900 para 18.930 dólares em 1995.
Em outubro de 1995 já se previa que a dívida pública americana atingiria 4,5 trilhões de dólares no mês seguinte, o limite máximo estabelecido por lei. O subsecretário do Tesouro, Lawrence Summers, confiava na mudança pura e simples da lei pelo Congresso, já que “um calote americano é impensável”, segundo ele. Seria a primeira vez na história que o Tesouro americano deixaria de honrar os vencimentos da dívida pública.
Em novembro daquele ano o desastre foi evitado apenas um dia antes de vencer uma parcela do principal e dos juros, no montante de US$ 102 bilhões, quando o secretário do Tesouro, Robert Rubin, sacou esse dinheiro de dois fundos de pensão de funcionários federais. Todos os serviços considerados não essenciais do governo, como emissão de vistos e outras atividades administrativas já haviam sido suspensos em todo o mundo. Alguns dias depois, a principal empresa de classificação de risco de crédito no mundo, a Standard & Poors, divulgou um comunicado afirmando que a simples discussão sobre a possibilidade de uma quebra americana já produzira efeitos negativos.
Os presidentes de bancos centrais europeus estavam certos de que uma quebra de Washington arrastaria junto o sistema financeiro internacional… Em cinco meses (de outubro de 95 a março de 96), o Congresso americano elevou por 12 vezes o limite legal de endividamento do Tesouro. Em 30 de setembro de 1997, num determinado horário do dia, a dívida pública americana era de exatos US$ 5.413.146.011.397,30 , já bastante próxima do valor do PIB do país, de 6 trilhões de dólares. No início de 1998, a dívida crescia a uma taxa média de 5 bilhões de dólares por dia…
No ano de 1995, os sete países mais desenvolvidos do mundo tinham de administrar dívidas superiores à metade dos respectivos Produtos Nacionais Brutos, com especial menção para a Itália, com sua dívida de 123% do PNB. A tabela abaixo ilustra essa situação:
País |
Dívida Pública (% do PNB) |
---|---|
Estados Unidos | 85 |
Japão | 79 |
Itália | 123 |
Alemanha | 53 |
França | 56 |
Canadá | 96 |
Reino Unido | 52 |
Se a década de 80 ficou conhecida como a “década perdida”, em razão da crise da dívida que imobilizou a economia dos países devedores por um decênio, a década de 90 já foi antecipadamente batizada de “a década do desemprego”.
Um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulgado em novembro de 1996 estimava em um bilhão o número de pessoas desempregadas ou subempregadas em todo o mundo, cerca de 30% da força de trabalho. O diretor-geral da OIT, Michel Hansenne, afirmava na época: “Os níveis atuais de desemprego não encontram explicação na economia real e não são politicamente ou socialmente sustentáveis.”
Em 1994, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, o “G-7”, elegeu o desemprego como o desafio dos anos 90. Em 1995, a reunião do grupo terminou sem nenhuma solução para o problema. Em 1996, o assunto foi convenientemente deixado de lado…, mesmo depois de uma pesquisa feita com 135 prefeitos de cidades de todo o mundo ter apontado o desemprego como o problema mais grave de suas cidades. Na época, o diretor geral da OIT informava: “De 1979 a 1994 o número de desempregados no G-7 passou de 13 para 24 milhões, sem contar os 4 milhões que desistiram de procurar emprego e os 15 milhões que trabalham em tempo parcial, na falta de coisa melhor.” De 1979 a 1992, as 500 maiores empresas do mundo, relacionadas pela revista Fortune, dispensaram 4,4 milhões de funcionários; dos que restaram, só 10% mantiveram seus empregos em expediente integral.
Na Europa, enquanto nos anos 60 a média de trabalhadores desocupados era próxima de 2%, em 1995 ela estava em 11,5%. Segundo Lester Thurow, a Europa ocidental não gerou um só posto novo de trabalho entre 1973 e 1994… No período compreendido entre 1991 e 1997, cerca de 5 milhões de empregos desapareceram. Uma pesquisa de março de 1997 mostrou que o desemprego era o principal fator de inquietação para 71% dos alemães, 72% dos franceses e 78% dos espanhóis… Em setembro daquele ano, vinte milhões de pessoas não tinham trabalho no continente europeu.
Em fevereiro de 1996 havia um contingente de 4,27 milhões de desempregados na Alemanha, um número sem precedentes desde o final da Segunda Guerra, segundo o Escritório Federal do Trabalho. De dezembro de 96 a janeiro de 97, o número de desempregados no país aumentou em 510 mil pessoas, elevando o índice de desemprego para 12% da população ativa. “Um número incrível, incompreensível”, disse um jornalista. “O país volta, de repente, aos piores momentos da catastrófica fase de Weimar, em 1933 (…).”
Na França, o índice de desemprego batia um novo recorde em 1996, com a marca de 12,6%. “Um índice extraordinário, um verdadeiro choque!” exasperava-se um economista. Em julho de 1997 havia 3,11 milhões de franceses procurando emprego.
Na Espanha, em fins de 1995, o índice de desemprego estabelecia um novo recorde europeu: 22,8%. De acordo com o Partido Popular, de oposição, cada vez mais famílias espanholas tinham todos os seus integrantes desocupados…
A situação de desemprego crônico se repete em todo o mundo. Na Finlândia, o índice alcançava 19,6% em dezembro de 1995. Em junho de 1997, a taxa de desemprego na Grécia era de 10,4%, na Itália de 12,1% e na Bélgica de 12,7%. Lester Thurow diz que mesmo o Japão admite que pelo menos 10% da sua força de trabalho está desocupada, embora ainda esteja sendo remunerada pelos empregadores e, portanto, não apareça nos índices oficiais de desemprego, de 3% a 4%. Na China, em setembro de 1997, havia algo em torno de 150 milhões de desempregados, correspondendo a 19% da população economicamente ativa do país. Na África do Sul, também em setembro, o índice de desemprego roçava os 50% (excluindo-se a economia informal).
Na América Latina, a OIT calculou que dos 15,7 milhões de empregos criados entre 1990 e 1994, 13,6 milhões eram informais, isto é, sem registro e sem garantias. Em julho de 1995, as populações da Argentina, Paraguai e Uruguai somadas equivaliam ao número de desempregados das nações desenvolvidas, juntamente com Brasil, México e Argentina. Na Bolívia, o desemprego alcançava níveis históricos em 1996, enquanto que no Paraguai os tanques saíam às ruas para conter os protestos sindicais. Em maio de 1997, o índice de desemprego na Argentina atingia 17,3%; na Grande Buenos Aires, mais da metade da população economicamente ativa estava procurando emprego na época; a consultora Nora Chamis dizia: “Os argentinos dividem-se entre desempregados e angustiados. Quem tem um emprego teme perdê-lo; trabalhar é um privilégio.”
O economista Jeremy Rifkin, autor do livro O Fim do Emprego, complementa: “O emprego está desaparecendo lentamente no mundo, até nos países em desenvolvimento, como Brasil, Argentina e México.” A taxa de desemprego no Brasil alcançou 7% em março de 1998, um índice estratosférico para o país. Em setembro de 1997, o índice de desemprego na Grande São Paulo era de 16,3%, isto considerando-se empregado que tinha qualquer trabalho informal (dos 803 mil empregos surgidos na região entre 1988 a 1996, 90% eram informais).
Em 1996, uma pesquisa nos Estados Unidos revelava que 78% dos cidadãos achavam que a segurança no emprego havia acabado… Nada a estranhar, considerando-se que 45 milhões de empregos foram eliminados no país de 1979 a 1995; em meados de 1997, seis pessoas perdiam o emprego a cada segundo nos Estados Unidos… Muitos economistas explicam [março de 1998] que apesar de o índice oficial de desemprego americano ser baixo, o que cresceu de fato no país nos últimos tempos foram ocupações de baixa qualidade, servindo para mascarar o nível real de desemprego.
O secretário da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), David Aaron, disse o seguinte a respeito em maio de 1997: “São 'empregos-hamburger', baratos, mal remunerados, que só disseminam a pobreza.” Jeremy Rifkin acrescenta: “Nos EUA o desemprego não é de apenas 4,8%. Existem 6 milhões de pessoas que simplesmente desistiram de procurar emprego, por desesperança, e quando esses desempregados são considerados nas estatísticas o índice sobe para 9,2%.”
William Greider, autor de um livro sobre a globalização intitulado “One Word, Ready or Not”, complementa: “A verdade é que a vida dos americanos é dominada por uma enorme insegurança econômica. O fosso da iniquidade de renda e riqueza está aumentando.” De acordo com Lester Thurow, se somarmos ao contingente de desempregados americanos aqueles que querem trabalhar mas não conseguem passar nos testes, e os que trabalham em período parcial mas gostariam que fosse integral, a taxa efetiva de desemprego é de quase 14%.
No seu livro O Horror Econômico, a ensaísta Viviane Forrester não deixa margem a dúvidas sobre o que está acontecendo e o que nos aguarda em futuro próximo: “Às vésperas do século XXI, estamos tropeçando numa realidade terrível. O conceito de trabalho, que era o fundamento de nossa civilização ocidental, caducou, e milhões de seres humanos já não servem sequer para ser explorados.” E logo depois, numa entrevista na televisão suíça: “Não é preciso ser escritor de ficção científica para imaginar o que nos espera. Ao lado de milhões de pessoas excluídas do mercado de trabalho, veremos milhões de outras sendo tratadas como escravos modernos, aceitando trabalho sob qualquer condição. E logo os trabalhadores se verão forçados a permanecer longos períodos inativos, recebendo migalhas.”
Essa situação prevista pela Sra. Viviane só é possível num mundo em completo desequilíbrio. Um desequilíbrio acarretado já pelo excesso de pessoas no planeta, que em sua maior parte sequer pertence realmente à esta Terra.
Atualmente assiste-se em todo o mundo a um processo de fusões de grandes empresas, que procuram assim reestruturar-se a fim de se tornarem mais competitivas. Por conta dessa reestruturação, cerca de 500 mil empregos são eliminados todos os anos nos Estados Unidos. Alguns economistas argumentam que sem finanças fortes muitas companhias norte-americanas correm neste ambiente o risco de um fim rápido, com a eliminação de todos os seus empregos. O resultado é o crescimento do desemprego, do subemprego e a redução do salário real. As pessoas passam a receber menos por aquilo que produzem…
Um dramático editorial intitulado A Era das Fusões, publicado em setembro de 1995 no jornal O Estado de S. Paulo, alertava: “Cresce a onda de fusões no mundo, pondo em risco o emprego. Há um quê de ‘loucura’ na desabalada corrida das fusões, contagiando sociedades que não acompanham as transformações e vêem os salários emagrecer (…) A globalização empurra para a frente as fusões, e essas empurram os homens; para onde, não se sabe. Os valores estão em crise. A classe média, ferida, avança ou se proletariza. É possível acreditar que se vai chegar a um porto seguro?” Naquele mês as fusões de grandes empresas atingiram, só nos Estados Unidos, a cifra de 411 bilhões de dólares. À pergunta de como ficaria o cidadão americano em meio a tudo isso, o jornalista Tom Petruno respondeu: “Provavelmente sofrendo um agudo problema de insegurança”…Gigantescas empresas dos setores de telecomunicação, finanças e entretenimento continuaram a se fundir nos anos de 1996, 1997 e 1998.
A crise econômica mundial fez ressurgir nos últimos dez anos, em várias partes do mundo, uma prática há muito esquecida: o escambo. A troca de mercadorias é, pois, uma tentativa de se retomar o equilíbrio entre o dar e o receber, já que o dinheiro perdeu esse atributo. Assiste-se atualmente a esse impulso forçado para se reenquadrar na Lei do Equilíbrio nos seguintes países: França, Canadá, Inglaterra, Holanda, Alemanha, África do Sul e Japão.
Um outro parâmetro que merece ser analisado na conjuntura econômica é o ouro. Desde a antiguidade esse metal está relacionado à riqueza das nações e de seus povos, bem como à segurança e à tranquilidade econômica individual. Nas épocas de crise muitos estocam ouro, na certeza de assim preservar seu patrimônio, pois a qualquer momento ele pode ser trocado por dinheiro ou bens… Rios de sangue correram por causa do ouro ao longo da história humana. Nenhum esforço parecia ser demasiado para se possuí-lo e aquilo que ele sempre representou: segurança material.
Até o ano de 1944, cada moeda do planeta estava associada a uma determinada quantidade de ouro. Porém, com a ampliação e diversificação do comércio internacional, tornou-se difícil manter os níveis de câmbio fixos no padrão ouro. Por essa razão, naquele ano, a Conferência de Bretton Woods, na Inglaterra, decidiu pela substituição do ouro pelo dólar norte-americano, que a partir daí passou a ser o padrão monetário internacional.
Em 1971, o governo dos Estados Unidos deixou de assegurar a livre convertibilidade do dólar, isto é, a partir daquela data não seria mais possível alguém trocar quando bem desejasse uma certa quantidade de dólares pelo respectivo lastro em ouro. Daí em diante as pessoas tinham de acreditar que o papel-moeda americano, o dólar, valia o que estava nele impresso. Todo o sistema financeiro mundial ficou dependurado nessa crença, e portanto também toda a segurança representada outrora pela posse física do ouro…
Apesar de a livre convertibilidade do dólar em ouro não estar mais assegurada, ou, melhor dizendo, estar proibida, as reservas de ouro dos bancos centrais das nações desenvolvidas são um fator importante na implantação de suas diretrizes econômicas, e consequentemente da própria estabilidade econômica mundial. O que chama a atenção é que as reservas de ouro dos bancos centrais da maioria desses países vêm diminuindo, apesar de a produção mundial ter crescido nos últimos tempos. O gráfico da figura E mostra o crescimento da produção de ouro ao longo dos anos, e o gráfico da figura F mostra a redução das reservas mundiais do metal no mesmo período.
O ouro deixou de ser aquela muralha de segurança econômica que era no passado. Seu valor vem caindo sistematicamente em termos reais nos últimos anos. Quem aplicou em ouro em 1990 estava 67% mais pobre em 1998…
O Banco Mundial é uma instituição à qual estão filiados 176 países. Anualmente o órgão edita um volumoso estudo sobre o desempenho econômico das nações, chamado Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial. Uma rápida análise de alguns dos dados estatísticos contidos nesse relatório demonstram que os problemas econômicos vêm se acumulando em todo o mundo nas últimas décadas. (10)
A instituição divide os países que fornecem regularmente seus dados econômicos em três grupos de renda per capita: baixa renda – 42 economias com renda igual ou inferior a US$ 675; média renda – 67 economias com renda entre US$ 676 e US$ 8.355; alta renda – 23 economias com renda acima de US$ 8.355. No Relatório de 1996 esses números aparecem ligeiramente modificados: baixa renda – 51 economias (até US$ 725); média renda – 57 economias (de US$ 726 a US$ 8.955); alta renda – 25 economias (a partir de US$ 8.956).
Dos 30 países mais pobres que enviaram seus dados ao Banco Mundial, 17 tiveram crescimento econômico negativo de 1980 a 1992 (média anual), isto é, ficaram mais pobres ainda. Entre 1987 e 1994, de 43 países de baixa renda analisados, 30 tiveram crescimento negativo.
As tabelas abaixo mostram a variação da taxa média de crescimento do PIB (11) e a evolução da inflação para todos os países em períodos estipulados das décadas de 70, 80 e 90.
Países | 1970–80 | 1980–90 | 1990–94 |
---|---|---|---|
* Os dados dos países de baixa renda não incluem China e Índia. | |||
Baixa Renda * | 4,8 | 2,9 | 1,4 |
Média Renda | 6,0 | 2,2 | 0,2 |
Alta Renda | 3,2 | 3,2 | 1,7 |
Países | 1970–80 | 1980–92 | 1989–94 |
---|---|---|---|
Baixa Renda | 15,7 | 22,1 | 59,6 |
Média Renda | 23,8 | 105,2 | 70,2 |
Alta Renda | 9,1 | 4,3 | 5,0 |
Observa-se que a taxa de crescimento caiu em todos os países, e em qualquer período considerado, ou seja, houve uma redução geral na produção da riqueza, apesar de a população ter aumentado; isto se traduz em aumento da pobreza. Com relação à inflação média, ela se mantém razoavelmente estável para os países de alta renda e apresenta uma tendência de queda para os países de média renda; com relação aos países de baixa renda, porém, ela é crescente em qualquer período considerado.
Vamos analisar outros indicadores. Dos 40 países mais pobres, 25 tiveram crescimento negativo na produção per capita de alimentos entre 1979 e 1992, isto é, a população desses países teve cada vez menos alimentos disponíveis. Desses 40 países mais pobres, 6 tiveram um pequeno aumento na produção de alimentos, variando entre 0 e 1%; 7 países tiveram aumento entre 1% e 2% e apenas 2 países tiveram um aumento acima de 2%.
Dos países considerados de média renda, cerca de metade apresentou crescimento negativo na produção per capita de alimentos entre 1979 e 1992.
A tabela III mostra a taxa média de crescimento anual de investimento interno, que corresponde ao montante que os respectivos governos gastam internamente na melhoria das condições de vida da população. Observa-se que com exceção de um ligeiro acréscimo de investimento dos países de média renda entre 1990 e 1994, e dos de alta renda entre 1980 e 1990, em todas as outras situações há uma variação decrescente da taxa de investimento interno.
Países | 1970–80 | 1980–90 | 1990–94 |
---|---|---|---|
Baixa Renda | 8,4 | –0,4 | –1,8 |
Média Renda | 6,8 | 0,9 | 1,7 |
Alta Renda | 2,1 | 3,4 | –2,0 |
Nas últimas décadas, o saldo em conta corrente de quase todos os países tem sido negativo, o que significa gastos maiores do que as receitas. O mais preocupante, porém, é que essa situação crônica de inadimplência agravou-se muito nos últimos anos. A evolução da soma dos saldos em conta corrente dos países que forneceram seus dados ao Banco Mundial é dada pelo gráfico abaixo:
Observações:
Os dados dos anos 1970 e 1992 foram extraídos do Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial de 1994. O número de países que informaram seus saldos em ambas as datas foram:
Os dados dos anos de 1980 e 1994 foram extraídos do Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial de 1996. O número de países que informaram seus saldos em ambas as datas foram:
O saldo negativo em conta corrente de 1992 não inclui o Japão que, sozinho, apresentou naquele ano um saldo positivo de US$ 120,950 bilhões. Este valor, se considerado, suplantaria o saldo negativo da soma de todos os outros países e daria a impressão errônea de que o conjunto desses países havia conseguido até aumentar os seus saldos em conta corrente de 1970 até 1992. Não obstante esse aparente sinal de prosperidade, o Japão vive hoje uma crise financeira gravíssima, com quebra de bancos, nervosismo no mercado financeiro e muitas outras situações economicamente aflitivas. Ver mais adiante comentários a respeito deste surpreendente paradoxo.
Os países ricos têm aumentado substancialmente sua ajuda aos países mais pobres ao longo dos anos. Mas nem por isso a miséria destes últimos diminuiu. A transferência pura e simples de capital mostrou-se incapaz de atenuar a contínua deterioração econômica dos países mais pobres. O gráfico da figura G a seguir mostra o crescimento da ajuda internacional, com transferência de fluxos líquidos de capitais, através dos países pertencentes à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Em 20 anos (de 1970 a 1990) a ajuda internacional cresceu mais de sete vezes e, no entanto, a miséria continuou aumentando nos países mais pobres. Em 1980, a ajuda internacional correspondia a 3,4% do PNB de toda a África Subsaariana; em 1994 essa ajuda representava 12,4% do PNB da região.
Na esperança de evitar uma nova crise econômica como a do México, que apavorou o mundo no início de 1995, o Fundo Monetário Internacional anunciou que o volume de ajuda destinado aos países em desenvolvimento e às ex-repúblicas soviéticas fora quintuplicado no exercício financeiro de 94/95, em relação ao exercício de 93/94.
A Lei da Reciprocidade restitui inabalavelmente à cada povo tudo aquilo que ele formou em épocas anteriores. Deliberações humanas a favor ou contra esses efeitos são absolutamente inócuas, a não ser que partam do próprio povo atingido pelo sofrimento, esforçando-se finalmente em viver em harmonia com as Leis que regem a Criação.
Como já foi dito anteriormente, a dívida externa dos países não foi solucionada, mas apenas camuflada. A soma das dívidas externas dos 42 países de baixa renda que enviaram seus dados ao Banco Mundial nos anos de 1980 e 1994 era a seguinte:
Em 14 anos, o total da dívida desses países mais que quadruplicou, não obstante os pagamentos constantes, a ajuda internacional e as manobras de “rolagem” da dívida.
Para os países de média renda que enviaram seus dados ao Banco Mundial, a soma das dívidas externas em 1980 e 1994 era a seguinte:
Como se vê, a crise da dívida da década de 80 não desapareceu absolutamente, apenas foi jogada para frente. Não se fez mais nada do que emendar um pavio mais longo à bomba que estava prestes a explodir.
Existe um parâmetro que mede mais do que apenas a situação econômica dos países, um parâmetro que avalia, sim, o próprio respeito que o ser humano tem para com o planeta que lhe foi dado como morada por graça do seu Criador. Trata-se da “área de florestas naturais”.
Esse parâmetro é tido na conta de um indicador econômico como outro qualquer; contudo, a diminuição de seu valor ao longo do tempo mostra, além da redução da qualidade de vida, o desprezo dos povos para com a natureza.
Segue abaixo a situação da área de florestas naturais para 37 países de baixa renda, nos anos de 1980 e 1990.
Em dez anos esses países destruíram 513 mil km² de florestas naturais, uma área maior do que a da Espanha.
Para 38 países de média renda, a soma das áreas de florestas naturais foi a seguinte:
Em dez anos esses países destruíram 893 mil km² de florestas naturais, uma área equivalente aos territórios somados da Alemanha, Itália e Grã-Bretanha.
Um relatório do Banco Mundial, publicado em agosto de 1996, informava que os lavradores dos países em desenvolvimento estavam destruindo as matas num ritmo de 29 hectares por minuto…
Caso não nos encontrássemos vivendo o último período do Juízo Final, mesmo assim a humanidade estaria com seus dias contados na Terra. Isso porque ela se afastou tanto do modo correto de viver, e particularmente a mulher, através de contínua e insensata masculinização, que após um determinado tempo tem início uma esterilização progressiva, de forma automática, com o consequente desaparecimento gradativo dos povos.
Esse é um efeito natural da Criação que, impulsionando tudo para o aperfeiçoamento, elimina também o que a isto se opõe. O prazo para a extinção de um povo por este processo pode ser considerado demasiado longo para os padrões humanos, já que abrange muitas gerações, contudo… efetiva-se! A Terra não chegará a presenciar a extinção de povos dessa maneira, pois o Juízo Final se desincumbirá da limpeza agora, porém podemos observar com clareza os sinais disso, que já vêm se desenrolando há tempos. O “Population Institute”, de Washington, informou em fins de 1996 que a população mundial “estava crescendo mais lentamente do que em anos recentes”, e que “poderia se estabilizar em torno de oito bilhões por volta do ano 2025.”
A tabela abaixo mostra as taxas de fecundidade (número médio de filhos por mulher) nos países de baixa, média e alta rendas de acordo com dados dos Relatórios Sobre o Desenvolvimento Mundial:
Países | 1970 | 1980 | 1992 | 1994 |
---|---|---|---|---|
Baixa Renda | 6,0 | 4,4 | 3,4 | 3,3 |
Média Renda | 4,6 | 3,8 | 3,0 | 2,8 |
Alta Renda | 2,4 | 1,9 | 1,7 | 1,7 |
Desde 1993 a Itália registra, a cada ano, um número de nascimentos menor do que número de mortes. Os governos da Bélgica, Luxemburgo, Hungria, Polônia e Portugal já há algum tempo dão recompensas em dinheiro como incentivo para os casais terem filhos. No Estado alemão de Brandemburgo, cada recém-nascido vale um prêmio de US$650…
Em abril de 1997 a taxa média de fecundidade na Europa era de 1,5 filhos por casal. Em novembro de 1997 já havia 42 países no mundo em que a taxa média de fecundidade era inferior a dois filhos por casal, o limite de reposição, indicando que a população está desaparecendo. A tabela abaixo ilustra esta situação:
Itália | 1,24 | Coréia do Sul | 1,65 |
Espanha | 1,27 | Croácia | 1,65 |
Alemanha | 1,30 | Luxemburgo | 1,66 |
Hong Kong | 1,32 | Bielorússia | 1,67 |
Eslovênia | 1,36 | República Checa | 1,68 |
Grécia | 1,38 | Hungria | 1,69 |
Áustria | 1,47 | França | 1,70 |
Japão | 1,48 | Barbados | 1,73 |
Bósnia-Herzegovina | 1,50 | Canadá | 1,74 |
Romênia | 1,50 | Dinamarca | 1,75 |
Portugal | 1,52 | Lituânia | 1,78 |
Bulgária | 1,53 | Inglaterra | 1,78 |
Rússia | 1,53 | Cingapura | 1,79 |
Suíça | 1,53 | Finlândia | 1,83 |
Estônia | 1,58 | Eslováquia | 1,85 |
Holanda | 1,59 | Noruega | 1,88 |
Cuba | 1,60 | Polônia | 1,89 |
Macau | 1,60 | China | 1,92 |
Bélgica | 1,62 | Iugoslávia | 1,93 |
Letônia | 1,64 | Tailândia | 1,94 |
Ucrânia | 1,64 | Bahamas | 1,95 |
O gráfico abaixo dá um panorama do decréscimo mundial da taxa de natalidade na segunda metade do século XX (extraído do jornal O Estado de S. Paulo de 24.6.97):
No Brasil, a taxa de crescimento da população baixou de 3,1% ao ano na primeira metade da década de 50 para 1,4% na segunda metade da década de 90. O gráfico abaixo mostra a variação da taxa de crescimento populacional no Brasil ao longo das últimas décadas.
A própria produção de espermatozóides no homem tem declinado sensivelmente. Um estudo publicado pela revista americana Fertility and Sterility informa que nos anos 60 o homem produzia em média 80 milhões de espermatozóides por mililitro de sêmen. Na década de 70 a média caiu para 65 milhões, e na década de 80 ela estava em 55 milhões. Nos países industrializados, de 20% a 35% dos casais só conseguem ter um filho após algum tipo de tratamento; há 30 anos, esse índice era de 8%.
De acordo com o pesquisador Wolfgang Lutz, “o fator que mais afeta o crescimento da população é a queda da fertilidade na maioria das regiões do mundo.” A OMS, por sua vez, informou em maio de 1996 que a taxa de crescimento demográfico mundial no ano de 1995 havia sido de 1,5% , a mais baixa registrada desde a Segunda Guerra Mundial.
Além dos efeitos naturais da redução da fecundidade humana, a insegurança financeira atual também tem contribuído para que muitos casais decidam não ter filhos. Na Europa Oriental, mergulhada numa crise econômica gigantesca, agravada ainda mais com o colapso do comunismo, registra-se um aumento de mais de dez vezes nas esterilizações, o que certamente intensificou o declínio natural das taxas de natalidade, considerado abrupto naquela região. O jornal The New York Times comenta que, segundo os demógrafos, “esses declínios vertiginosos jamais haviam sido vistos antes, exceto em tempos de guerra, peste ou fome.”
As muitas oscilações da economia mundial podem ser acompanhadas facilmente pela leitura diária de jornais. Não passa uma semana sem a eclosão de notícias econômicas alarmantes em todo o mundo, trazendo como produto final o medo e a insegurança. Mas também em relação a essa apresentação contínua de más notícias as pessoas acabam se acostumando, acreditando então que tudo isso é normal, que faz parte do sistema econômico vigente, etc. Deixam assim de perceber os sinais do descalabro completo que se anuncia, pois para isso não têm a necessária visão de conjunto.