De acordo com o Relatório sobre o Desenvolvimento do Banco Mundial – edição 1994 – o Japão é a 2ª nação mais rica do mundo pelo critério de renda per capita (US$ 28.100), ficando atrás apenas da Suíça. Em 1997, o PIB per capita japonês era de quase US$ 35 mil, a poupança interna era de US$ 12 trilhões e o superávit comercial de US$ 91 bilhões.
Esses números impressionantes, porém, não impediram que essa potência econômica passasse a enfrentar na década de 90 a sua mais grave crise econômico-financeira desde o final da Segunda Guerra Mundial.
As instituições de crédito no Japão têm dívidas a receber que oscilam, segundo algumas estimativas, entre 450 e 800 bilhões de dólares. São dívidas que, sabe-se, não serão pagas. O risco de falência bancária e a consequente desintegração financeira do país amedrontam hoje banqueiros de todo o mundo.
O país vive uma situação que mistura queda generalizada dos preços, aumento sem precedentes do desemprego e estagnação do mercado imobiliário, o que se traduz por uma fortíssima recessão. Em julho de 1995, o número de desempregados alcançava 2,12 milhões, um recorde no período de pós-guerra. Nos nove meses seguintes mais 230 mil japoneses ficaram sem ocupação.
A inusitada situação de nação rica atolada em problemas financeiros foi objeto de inúmeros artigos e matérias publicados em vários jornais e revistas especializadas a partir do segundo semestre de 1995. Um desses artigos sintetizava o problema desta forma:
“A população japonesa vem lutando para enfrentar a recessão pela primeira vez em muitas décadas. A economia escorregou rapidamente da recessão para uma queda brusca. (…) A economia japonesa está à beira de uma perigosa espiral deflacionária de preços ao consumidor e de bens ativos em queda, débitos crescentes e queda na produção, uma situação inédita seja para os EUA seja para a Europa do período pós-guerra.”
Em agosto de 1995, o Ministério das Finanças do Japão emitiu uma declaração pouco convincente em que admitia que o problema bancário japonês era “grave mas não inadministrável”. Nesse mesmo mês o FMI lançava um documento intitulado “Alerta Japão”, onde advertia que a potência asiática estava atravessando o pior ciclo recessivo desde o pós-guerra, e que deveria tomar “medidas radicais” para estimular a atividade econômica. Sem essas medidas, prosseguia o documento, “o agravamento da recessão japonesa coloca em risco a estabilidade da economia mundial”. Naquele mês, o número de falências havia crescido 21% em relação a julho, num total de 1.361 casos, o maior número dos últimos nove anos. Em fevereiro de 1997, durante a realização do Fórum Econômico Mundial, o Japão foi apontado como o grande problema da economia internacional, um entrave ao capitalismo e, até mesmo, uma ameaça à estabilidade financeira mundial.
O temor de uma crise bancária fez muitos japoneses sacarem suas economias e, ainda em agosto de 1995, falia a primeira instituição de crédito, a Cosmos Shinyo Kumai. Alguns dias depois quebravam o banco Hyogo e a Caixa de Poupança Kizu. Os clientes do Kizu haviam retirado da instituição 1,02 bilhão de dólares em poucos dias. “O pânico não deve se alastrar”, disse, na ocasião, num misto de afirmação e pedido, o presidente do Banco Central do Japão. Da época dessa declaração até novembro de 1997, mais nove grandes bancos japoneses quebraram.
Tudo isso acontecendo num país que tem a mais poderosa rede bancária do mundo. Dos dez maiores bancos mundiais, os nove primeiros são (ou eram) japoneses. De acordo com o jornal Financial Times, 17 dos 21 maiores bancos do Japão haviam registrado prejuízos entre 1995 e 1996, bancos esses tidos, até pouco tempo, como “os mais sólidos do mundo”.
Na tentativa de tirar a economia da estagnação, o governo japonês baixou a taxa de juros para 0,5% ao ano em setembro de 1995, a menor taxa de toda a história econômica japonesa. Anunciou ainda um pacote de estímulo econômico de US$ 100 bilhões de dólares e um corte nos impostos de US$ 20,2 bilhões. No início de 1998, o parlamento japonês já havia aprovado mais de US$ 600 bilhões em pacotes de estímulo à economia, sem nenhum resultado.
É interessante notar que, assim como em outros setores da vida humana, a situação econômica mundial no presente mostra invariavelmente uma sequência de superlativos: “a maior recessão do pós-guerra”, “a maior inflação dos últimos 90 anos”, “o maior índice de desemprego do século”, etc., etc. Isso também nada mais é que uma decorrência da aceleração dos efeitos do Juízo agora, em seus últimos anos. Tudo encontra-se acelerado, de modo que os “recordes” vão sendo batidos ano após ano.
No final de setembro de 1995, o pacote-estímulo já havia sido elevado para 137 bilhões de dólares. Antes de poder esboçar qualquer comemoração, o mercado financeiro mundial foi surpreendido pela notícia de que o banco Daiwa, um dos dez maiores bancos comerciais do Japão e 19° do mundo, havia acumulado prejuízos de 1,1 bilhão de dólares, os quais haviam sido zelosamente ocultados por 11 anos. Em outubro foi a vez do banco Fuji, uma das maiores instituições financeiras do Japão, vir a público desmentir os rumores de perdas de quase três bilhões de dólares, desmentidos que não evitaram um novo abalo no sistema bancário do país. Na época, a jornalista Sheryl Wudunn, do The New York Times, escreveu: “Os pesadelos dos banqueiros internacionais não são hoje provocados pelas endividadas nações do Terceiro Mundo, mas sim pelo sistema bancário da segunda maior potência do planeta: o Japão!”
Ainda em meados de outubro de 1995, o Fed (Federal Reserve – banco central americano), de acordo com o jornalista Keith Bradsher do jornal The New York Times, “ofereceu ajuda bilionária ao Japão para evitar um caos financeiro que abalaria os EUA”. O Fed temia na época a quebra de 400 bancos japoneses. O temor americano ficou patente nesses trechos da matéria de Keith Bradsher: “O acordo é o primeiro de que se tem notícia em que o Fed procura se resguardar com antecedência contra uma possível crise. (…) A decisão reflete a preocupação das autoridades financeiras dos EUA com o potencial de transtornos das instituições financeiras japonesas. (…) No pior dos casos, na avaliação do Fed, ocorreria uma reação em cadeia de inadimplências que afetariam os bancos no mundo todo…” No final do mês, o governo japonês fez um constrangedor pedido de “compreensão” aos investidores internacionais, para que cancelassem US$ 60 bilhões em obrigações do falido banco Hyogo.
Em novembro de 1995 havia um temor geral de que a crise dos bancos japoneses fosse o estopim de uma depressão de âmbito mundial, nos moldes da ocorrida em 1929. Em Paris, o consultor econômico internacional, Stanley Teitelbaun, estimava que os créditos de liquidação duvidosa de 150 bancos do Japão somavam, na verdade, US$ 1,2 trilhão. “Há uma suspeita bastante disseminada de que as autoridades japonesas estão deliberadamente escondendo a situação, por medo de provocar pânico”, asseverava Teitelbaun.
Em junho de 1996 foi a vez do gigante Sumitomo informar ter sido vítima de operações ilegais de seus operadores por um período de dez anos, que provocaram prejuízos estimados em US$1,8 bilhão. Depois veio o pedido de dissolução da respeitável empresa de crédito imobiliário Nichiei Finance. Em novembro, o governo japonês decretava a falência do Banco Hanwa.
Durante o ano de 1997, seis instituições bancárias japonesas fecharam suas portas. A última da série foi a Yamaichi Securities, no mês de novembro, depois de cem anos de atividade. Foi a maior falência da história do Japão (até agora). Uma reportagem da revista Isto É de 03/12/97 resumiu assim o acontecimento:
“A queda da Yamaichi assinalou, num ideograma dramático, que a segunda maior economia do mundo, usina de força da região econômica mais dinâmica do planeta, fora atingida pelo maremoto financeiro que vem arrasando a Ásia desde julho. Ele eclodiu na Tailândia, e como um verdadeiro Tsunami – as ondas catastróficas do Pacífico – já engolfou Indonésia, Malásia, Filipinas, Hong Kong e Coréia do Sul. Agora foi a vez do Japão. Em menos de um mês, três instituições financeiras foram jogadas na lona. Os próprios japoneses estimam que as baixas não ficarão por aí.”
O editorial da revista mais parecia um réquiem nipônico:
“Todos viam o Japão como o modelo de eficiência industrial, da tecnologia de ponta, da disciplina administrativa, dos conceitos milenares e dos grandes, imensos resultados comerciais. Agora terão de adicionar uma nova faceta: a de potência quebrada. (…)
Que os países emergentes, com as suas arriscadas aventuras de crescimento, fossem alvos de ataques e balançassem, era até esperado. Mas nunca, nem na dos mais radicais pessimistas, deve ter passado pela cabeça o prognóstico de que o Japão entraria em crise.”
Quando a crise econômica dos países asiáticos começou a ficar realmente séria, por volta de outubro de 1997, o diário nipônico Sankey Shimbum informou que o Japão iria contribuir com US$ 50 bilhões para a criação de um fundo de ajuda às economias em dificuldades da região. Como se o próprio Japão não estivesse atolado em dificuldades econômicas… Um mês depois daquele anúncio, o estrategista econômico do Crédit Lyonnais, Russel Napier, fez a seguinte declaração:
“A contaminação do mercado financeiro japonês pela crise nas vizinhas Coréia e Hong Kong é um fato consumado, e a derrocada do sistema financeiro japonês poderá ter um impacto global tão forte que fará o recente crash do sudeste asiático parecer brincadeira de criança.”
E o jornal londrino Financial Times completou num editorial:
“Os grandes investidores estão se desfazendo de suas posições em ienes com receio de um colapso na economia japonesa. Começa um ciclo de descrédito japonês.”
No ano de 1995, enquanto começava a se avolumar a crise bancária, as reservas econômicas do Japão em moeda estrangeira atingiam, em novembro, um novo recorde mundial: 181 bilhões de dólares, marcando o décimo mês de recorde consecutivo. Doze meses depois já estavam em 224 bilhões de dólares. A poupança interna de 12 trilhões de dólares, registrada em 1997, é quatro vezes maior que o próprio PIB do país, correspondendo a um terço de toda a poupança mundial.
Que se deve depreender de todas essas notícias? Que uma nação riquíssima, que continua com os cofres cada vez mais abarrotados, não está livre de um colapso financeiro que se imaginava só poder atingir países com dificuldades econômicas crônicas.
Os efeitos do Juízo não levam em conta a riqueza material das nações ou das pessoas para dosar a retribuição daquilo que compete a cada um. Se uma pessoa ou um povo tem de experimentar hoje a insegurança com relação ao futuro, bilhões ou trilhões de dólares não impedirão isso.
A sociedade japonesa, aliás, com seu pendor unilateral para o desenvolvimento econômico e tecnológico, em detrimento do desenvolvimento espiritual, não poderá evidentemente esperar bons efeitos na atuação da Lei da Reciprocidade.
Há algum tempo uma pesquisa indicou que mais da metade dos japoneses não acreditavam em Deus. Não é preciso ser profeta para prever o que advirá agora, na prestação final de contas. Nada, absolutamente nada do que é errado poderá subsistir.