Parte 2 – A Efetivação

As Mazelas Humanas

Economia – Eventos Econômicos Localizados

Rússia

Em agosto de 1995, o Banco Central da Rússia se viu obrigado a realizar uma gigantesca operação de socorro no sistema bancário do país, que num único dia viveu uma crise de liquidez tão grave que ameaçou quebrar pelo menos uma centena de bancos. O Banco Central permaneceu intervindo no sistema “para evitar pânico ou uma onda de quebras”, nas palavras do presidente da instituição. Uma semana depois os jornais noticiavam que a “confiança no sistema financeiro do país havia sido afetada”, e o gerente-geral de um grande banco russo admitia que “seis ou sete instituições ainda poderiam quebrar”.

O presidente russo reuniu-se então com os representantes dos maiores bancos do país na busca de uma estratégia para evitar o colapso financeiro. Depois de um dia inteiro de tratativas o dirigente da nação chegou a um diagnóstico: “Nossos banqueiros são incompetentes para lidar com a nova situação de uma economia de mercado em processo de internacionalização.”

Se o presidente russo se inteirasse das notícias econômicas que davam volta ao mundo naquele momento, verificaria que não se tratava de um problema de incompetência, mas sim de algo muito maior, contra o qual as ações humanas vêm obtendo resultados desanimadores em todos os países.

Naquela semana, o volume diário de depósitos nos bancos russos caiu para 10% do volume normal, ameaçando paralisar de vez o sistema financeiro do país. O presidente russo revelou que “um em cada cinco bancos estavam à beira da bancarrota”, e o dirigente de uma grande instituição financeira previu a quebra de pelo menos 10% dos 3 mil bancos do país que, segundo os próprios banqueiros, precisariam ser reduzidos para um número próximo de cem.

Uma pesquisa realizada em novembro de 1995 revelou que a população considerava a crise econômica como o pior problema existente atualmente na Rússia, deixando em 2º e 3º lugares respectivamente as preocupações com a qualidade de vida e a manutenção da paz. Um resultado compreensível, já que o padrão de vida médio da família russa caíra quase pela metade desde o início das reformas econômicas.

Em maio de 1996, o Banco Central manifestava seu receio de que “uma quebradeira no sistema financeiro russo fosse inevitável”. Um desastre que até não afetaria muito cerca de um quarto dos trabalhadores do país (entre 16 e 18 milhões de pessoas), que em outubro estavam a meses sem receber seus salários. O jornal Trud anunciava: “Um exército de pessoas não receberam pelo seu trabalho e a pobreza está apertando a garganta de milhões de russos, sem piedade.”

É justamente por causa desse quadro sombrio, repleto de riscos financeiros, que a bolsa de valores de Moscou foi a que ofereceu o maior rendimento em todo o mundo em 1996: 155,9%.

Todo o incentivo dado pelo governo russo para passar de uma economia centralizada para a de mercado, cujo sustentáculo é o sistema bancário e o pleno emprego, não foi capaz de impedir esse terremoto financeiro, que na verdade é apenas mais um dos muitos abalos registrados quase que diariamente na economia mundial.

No ano de 1996, a Rússia sofreu uma redução de 6% no PIB, metade no primeiro trimestre. Foi o sexto ano consecutivo de erosão econômica, com a única diferença de que se havia previsto um crescimento para o país no período…