Parte 2 – A Efetivação

As Mazelas Humanas

Economia – Eventos Econômicos Localizados

Argentina

A Argentina tem vivido desde o ano de 1995 uma sequência ininterrupta de graves problemas econômicos, sem paralelo na história do país.

As demissões aumentaram 100% nos primeiros cinco meses de 95, em relação a igual período de 94. Em fins de 1994, o desemprego na Argentina estava em 12%; em outubro de 1995 beirava os 20%, e na área metropolitana de Buenos Aires um em cada quatro argentinos estava desempregado. Em dezembro de 1995, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censo chegou à espantosa constatação de que quase a metade da população economicamente ativa argentina estava trabalhando sem vínculo empregatício oficial. Uma pesquisa de junho de 1996 mostrava que 69% da população economicamente ativa estava preocupada com o desemprego, situação constatada também pelo número crescente de pessoas que participavam de programas de televisão em busca de prêmios em dinheiro. No início de 1997, cerca de 40% dos jovens argentinos com idade entre 20 e 24 anos estavam desempregados na Província de Buenos Aires.

Em meados de junho de 1995, a retração nas vendas do comércio argentino já havia atingido 30% em relação ao mesmo período do ano anterior, e a produção caía 4,1% no trimestre abril-junho, depois de 55 meses ininterruptos de crescimento. O presidente Menen declarava na época: “Os argentinos estão passando pelo pior momento econômico-social desde julho de 1989.” De fevereiro a junho, crescera em 200% o número de pessoas que acreditavam que o país caminhava para uma explosão social… O total de argentinos que não dispunham do necessário para atender às suas necessidades básicas já alcançava então 31,8% da população.

Em julho de 1995, a Província de San Juan decidiu reduzir os salários dos funcionários públicos entre 20% e 30% e acabou sendo palco de uma gigantesca batalha campal, onde cerca de cinco mil manifestantes promoveram saques e incêndios. “Estamos com fome”, diziam os servidores cobertos por lenços negros.

Novas manifestações sacudiram o país nos meses seguintes. Na capital, em agosto, as autoridades manifestavam “preocupação com a situação nas Províncias, quase todas à beira da convulsão social”. Ainda naquele mês, declarações do ministro da economia sobre a existência de redes de corrupção fez desabar a Bolsa de Buenos Aires e “deixou o mercado financeiro à deriva”, na descrição de uma reportagem da época.

Em setembro, o FMI estudava a criação de uma nova linha de crédito para apoiar as moedas russa e argentina, de forma a possibilitar ao governo dos dois países “controlar a instabilidade de suas economias”.

Em outubro de 1995 a dívida pública do país atingiu US$ 90 bilhões, um crescimento de 41,5% em 22 meses. Em junho de 1997 ela atingiu US$ 100 bilhões. Durante esse período de 22 meses, o número de processos por inadimplência de pessoas físicas duplicou. Logo depois, os argentinos que estavam empregados ficaram sabendo que os seus salários haviam caído 15% em termos reais, conforme comunicado oficial do governo.

Em fins de 1995, numa tentativa desesperada de aplacar os ânimos da população, o governo de Córdoba aprovou às pressas a “lei de emergência econômico-financeira”, que previa a criação de bônus a serem utilizados na Província como moeda corrente. Essa intenção de fazer um dinheiro substituto, que nada mais era senão uma tentativa de contornar a Lei do Equilíbrio, evidentemente não deu certo, com a recusa dos funcionários em recebê-lo, e o governador da Província acabou renunciando duas semanas após a criação da tal lei de emergência.

No que diz respeito aos bancos, em apenas dois meses, de dezembro de 94 a janeiro de 95, o desempenho deles teve uma queda de 60%. Em outubro de 1995, 25% dos bancos haviam sido fechados por conta da crise econômica.

Em maio de 1996, a Argentina bateu um recorde mundial: a menor inflação registrada em 12 meses, na verdade uma deflação de 0,2%. O preço disso? O jornalista Roberto Campos responde: “Protestos sociais, empresas cambaleantes, consumo débil, receitas em queda, déficit público em alta e grande desemprego.” Naquela época, parte da população da periferia de Rosário, sufocada pela recessão, estava se alimentando de gatos, cachorros, papagaios e até cobras.

As falências das empresas argentinas aumentaram 58% em 1995, comparando-se a 1994, e cresceram mais 35% em 1996, em relação a 1995. Em meados de 1997, em meio às contínuas quedas na Bolsa de Valores, reflexos da crise asiática, o Ministro da Economia ameaçava decretar a redução dos salários em 15%, caso houvesse corrida aos bancos…