Falar sobre crimes em nossa época é como procurar discorrer sobre a água da chuva estando sob um temporal. Todo mundo vê o temporal e constata o que ele desencadeia; todo mundo percebe também a sua intensidade. Não é preciso explicá-lo, já que para onde quer que se olhe, a tempestade dos crimes humanos está lá, inundando e destruindo tudo em baixo. A tal ponto, que ninguém hoje mais pressente que houve uma época em que Luz e calor se derramavam por toda a Terra, e os seres humanos trocavam não tiros entre si, mas sentimentos de amor e alegria. Essa época de felicidade, a maior parte da humanidade de hoje sequer merece saber que existiu.
Furtos, roubos, sequestros, torturas, homicídios, infanticídios, genocídios, estupros, latrocínios… Essas palavras estão tão integradas no nosso dia-a-dia que nem mais percebemos o horror que expressam. Ouví-mo-las todos os dias, no rádio, na televisão e em conversas corriqueiras com nossos colegas de trabalho nos intervalos do café. Apesar de estarmos acostumados a essas coisas, só mesmo com muito esforço de auto-entorpecimento alguém ainda diria que a quantidade e a violência dos atos criminosos não estão aumentando em todo o mundo. Mesmo acreditando que o mundo sempre foi o vale de lágrimas, de horror e de dor em que vivemos hoje (o que é falso), e que por conseguinte a violência é inerente ao ser humano, não há como negar que as “ondas de crime” aumentam continuamente.
Todas as formações intuitivas de ódio, inveja, cobiça, ciúmes, etc., geradas pelas pessoas no decorrer de milênios estão soltas hoje sobre a Terra, influenciando sem parar qualquer um que nutra alguma espécie igual desses sentimentos dentro de si. Pessoas fortemente influenciadas são muitas vezes impelidas a cometer atos criminosos. Depois dão aqueles depoimentos hoje tão comuns, em que não sabem explicar o que aconteceu: “Estava fora de mim!”, “Estava possuído!”, “Senti uma vontade irresistível de matar!”, “Não me lembro do que aconteceu!”
Na Rússia, um aposentado matou a machadadas seis pessoas que haviam acabado de participar dos funerais de sua mulher. Depois de praticar o múltiplo homicídio, ele entrou em estado de choque e dizia não se lembrar de nada que havia feito… E é assim no mundo todo. Um recente estudo nos Estados Unidos indicou que 61% dos casos de violência “são nebulosos e não têm justificativas lógicas.”
Essas influências são também a causa do aumento, em escala planetária, dos casos de massacres cometidos por uma única pessoa que, sem causa aparente, matam dezenas de outras e na maior parte das vezes acabam se suicidando. Até o ano de 1985 haviam sido registrados três massacres desse tipo no mundo, respectivamente nos anos de 1966, 1979 e 1985. Nos dez anos seguintes, de 1986 a 1996, foram 17 tragédias dessa espécie em vários países da Terra.
Quando o criminoso não se suicida, ou então quando deixa registradas as razões do seu ato, nada disso ajuda na elucidação do ocorrido. Alguns meses antes de matar dezesseis crianças e a professora de uma escola primária da Escócia e suicidar-se em seguida, o assassino havia enviado uma carta à rainha da Inglaterra solicitando ajuda para retornar ao escotismo. Em San Diego, Califórnia, depois de matar onze pessoas, uma adolescente declarou que havia feito aquilo porque “odiava as segundas feiras”. Numa pequena cidade da França, um jovem de 16 anos matou dezesseis pessoas e se suicidou depois de uma discussão com o pai sobre o local onde deveria morar. Em Oklahoma, Estados Unidos, um carteiro matou catorze pessoas, feriu seis e se suicidou depois de ser ameaçado de demissão. Numa cidade da Suécia, um instrutor de tiro abriu fogo no meio da rua e matou sete pessoas depois de brigar com uma mulher num restaurante. No primeiro caso do tipo registrado no Brasil, em maio de 1997, um ex-soldado matou 15 pessoas em 22 horas para provar que não era homossexual.
Contudo, tais atos insanos e também os premeditados cuidadosamente, ou ainda aqueles tidos como “obras do acaso”, só podem atingir aquelas pessoas que têm um carma para sofrerem esse tipo de violência, pessoas que nesta ou em outras vidas também fomentaram continuamente pensamentos, atos e sentimentos de ódio e vingança. O Juízo Final força a destruição mútua das trevas. Elas têm de se aniquilar mutuamente em todos os campos de atuação humana! Os atos criminosos são apenas uma parte deste processo.
Deve-se esclarecer, porém, que assassinos, estupradores e torturadores, apesar de servirem de instrumentos para desencadear na matéria o efeito retroativo de carmas de mesma espécie de outras pessoas, de forma alguma ficam isentos de culpa pelos seus atos. Se uma pessoa tem o carma de ser assassinada, isto atrai a ação do assassino, ou forma as circunstâncias em que se dá o assassinato. São os casos, por exemplo, ultimamente bastante comuns, em que uma “bala perdida” atinge e mata uma pessoa aparentemente inocente. (1)
A pessoa atingida não é inocente, e o acontecimento não foi uma casualidade ou azar. No caso do assassino que mata conscientemente, o que acontece é que aquele carma mau e tão pesado da vítima serviu de atração para o atuar de uma pessoa de características semelhantes: muito baixa e muito má, carregada de culpas da mesma espécie. A Lei de Atração da Igual Espécie, em atuação conjunta com a Lei da Reciprocidade, forma automaticamente as circunstâncias em que se dá o crime, seja ele intencional ou aparentemente ocasional.
Mesmo que excepcionalmente as pessoas sejam hoje obrigadas a reconhecer que o crime e a violência aumentam continuamente em todas as partes, mesmo assim é preciso ter uma visão mais abrangente e concreta desse crescimento. A magnitude do aumento da criminalidade é um dos sinais mais evidentes do movimento a que as trevas são forçadas a se submeter agora, nesses últimos anos do Juízo Final sobre a Terra.
É como se todas as trevas tivessem sido lançadas num caldeirão que foi levado ao fogo. Quanto maior a temperatura, maior a agitação e o caos dentro do caldeirão. Os números sobre a criminalidade no mundo mostram que o caldo venenoso dentro do caldeirão já atingiu a temperatura de ebulição e a evaporação se dá mais rápido. Em breve, só restará uma crosta morta no fundo, que nunca mais poderá causar danos. A crosta também será retirada e o caldeirão ficará vazio… e limpo. O caldeirão é a Terra, o fogo é a irradiação do Juízo Final.
Vamos, pois, fazer uma breve análise da evolução da criminalidade em nossa época.
Em todo o século XIX registrou-se três assassinatos de grandes personalidades políticas: o presidente americano Abrahan Lincoln em 1865, o czar russo Alexandre II e o presidente americano James A. Garfield, ambos em 1881. No século XX, até o ano de 1995, houve 69 assassinatos de importantes personalidades políticas. Nos primeiros cinquenta anos do século foram cometidos 19 desses assassinatos; os outros 50 assassinatos ocorreram nos 44 anos seguintes. Também nos primeiros cinquenta anos do século XX registrou-se 3 tentativas de assassinato de grandes personalidades políticas; nos 36 anos seguintes houve 13 tentativas de assassinato desse tipo no mundo.
Assim como nos grandes atentados de âmbito mundial, também em pequena escala observa-se um aumento generalizado da criminalidade.
Nos vinte anos transcorridos entre 1973 e 1992, a população dos Estados Unidos cresceu 21%. Nesse mesmo período os crimes violentos aumentaram 121% no país. Os custos sociais desses crimes são estimados em 100 milhões de dólares… por dia. Em 1995, uma pesquisa demonstrou que um número cada vez maior de crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos tinham medo de morrer jovens, ser esfaqueados ou receber um tiro quando ficassem mais velhos… Talvez porque antes de completar 13 anos de idade, uma criança americana já tenha assistido a cerca de 18 mil assassinatos na televisão…
O gráfico a seguir mostra, ano a ano, o número de crimes violentos registrados nos Estados Unidos para cada grupo de 100 mil habitantes. Observa-se que, apesar de algumas oscilações, a tendência é de um aumento contínuo, em termos reais, desse tipo de crime:
Não é à toa que os americanos ficam cada vez mais tempo em casa, as quais, por sua vez, assemelham-se mais e mais a bunkers, ao invés de moradias. A venda de roupa à prova de bala segue batendo recordes no país…
Uma ação bastante eficiente da polícia da Nova York conseguiu reduzir consideravelmente o número de crimes violentos na cidade a partir de 1995. Não obstante esse sucesso localizado, os crimes violentos continuam a ocorrer em quantidade no país. O gráfico abaixo mostra o crescimento da população carcerária dos Estados Unidos que cumpre pena pela prática de crimes violentos:
Em todo o mundo os dados disponíveis mostram o crescimento da violência. O mundo gasta hoje 500 bilhões de dólares por ano em assistência médica às vítimas de agressões, de acordo com cálculos do Banco Mundial.
Nas cidades mexicanas todos os moradores já sofreram algum tipo de agressão ou conhecem alguém que tenha sofrido. De acordo com uma matéria jornalística sobre o assunto, publicada em novembro de 1997, “grande parte do México está mergulhada na maior onda de violência de que se tem lembrança.”
Na Colômbia, em fins de 1997, algumas empresas fabricantes de coletes à prova de bala estavam estudando a criação de modelos para crianças, depois de terem recebido alguns pedidos neste sentido.
Na Rússia, uma enquete com jovens de 14 a 17 anos feita em outubro de 1997, sobre a profissão que eles achavam mais prestigiosa, colocou “assassino profissional e escroque” em 18º lugar numa lista de 36 ocupações.
O Anuário Estatístico do Brasil de 1994, editado pelo IBGE, mostrou que o número de mortes por causas violentas cresceu 43,5% de 1982 a 1992. Em 1992, a cada dez mortes registradas uma teve causa violenta, sendo o homicídio o fator principal. (2) Em dez anos, morreram mais pessoas assassinadas do que de câncer. Mais de 30 mil pessoas são mortas dessa forma todos os anos no país.
Entre 1980 e 1995, os crimes violentos cresceram nada menos que 300% no eixo Rio-São Paulo. Em 1995, a cidade do Rio de Janeiro registrou um índice de 56 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes, um aumento de 11,7% em relação ao ano anterior. (3) De acordo com um estudo feito pelo CDC de Atlanta, Estados Unidos, a violência na cidade do Rio de Janeiro gera prejuízos da ordem de um bilhão de dólares por ano. Na cidade de São Paulo, as mortes violentas foram a 3ª causa de mortes em 1995. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes na faixa etária de 15 a 19 anos passou de 49, em 1980, para 196, em 1991. No distrito de Santo Amaro esse índice chegou a 313. Em agosto de 1997, a prefeitura da cidade de São Paulo divulgou um levantamento mostrando que o homicídio já era a principal causa de morte de adolescentes do sexo masculino.
O gráfico abaixo mostra a variação do número de homicídios dolosos na Grande São Paulo para cada grupo de 100 mil habitantes. Como no caso do gráfico anterior, referente a crimes violentos praticados nos Estados Unidos, este mostra também uma clara tendência de aumento contínuo em termos reais:
O gráfico abaixo mostra o número de assaltos a bancos no Estado de São Paulo no primeiro semestre dos quatro últimos anos, segundo dados fornecidos pelo Sindicato dos Bancários, em meados de 1997:
O gráfico a seguir mostra o incremento do número de detentos por 100 mil habitantes no Estado de São Paulo, segundo dados do Instituto Latino-Americano para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente:
Apesar de muitos estudos e conjecturas, a perplexidade ante esse aumento generalizado da criminalidade é patente. Referindo-se ao Anuário Estatístico do IBGE, um angustiado editorial jornalístico procurava respostas para o inexplicável aumento do número de homicídios:
“Os dados do IBGE destinam-se não apenas a conhecimento acadêmico: existem para que o poder público se oriente por eles. Nesse caso, por que a violência cresceu tanto? Tudo é apenas uma questão de falência do aparelho policial por todo o país? Ou os três Poderes de Estado – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, em doses iguais, não têm responsabilidade nesta ascensão vertiginosa da violência nossa de cada dia?”
Uma professora do Departamento de Antropologia da UNICAMP tinha certeza de uma coisa: “Há uma tendência mundial de aumento de crimes violentos contra a vida”, asseverou. A professora tem razão, embora a causa real desse aumento seja desconhecida. É a atuação da Lei da Reciprocidade, acelerada também pelos efeitos do Juízo, e que naturalmente não pode ser detida pelo esforço conjunto dos três Poderes de Estado.
O gráfico abaixo mostra a taxa de mortalidade masculina, por faixa etária, em comparação com a taxa de mortalidade feminina, nos anos de 1960, 1970, 1980 e 1991:
Observa-se que houve um aumento muito significativo, nas últimas décadas, do número de mortes de adultos jovens do sexo masculino, em relação ao sexo feminino. Na faixa etária de 20 a 24 anos morriam quase dois homens para cada mulher em 1970; em 1991, morriam mais de quatro homens para cada mulher da mesma faixa etária. A causa disso foi o aumento do número de mortes violentas, principalmente homicídios e suicídios… De acordo com o superintendente da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, Kaizo Iwakami, “essa tendência se repete em boa parte dos centros urbanos do mundo.” (4)
Em escala global tampouco uma “campanha mundial anticrime”, como recentemente sugeriu o presidente americano sua criação, poderia reduzir a criminalidade mundial. A única possibilidade de isto vir a acontecer, de maneira substancial e duradoura, seria uma mudança na sintonização do pensar e sentir intuitivo de uma parcela considerável da humanidade, que assim passaria a atuar de modo purificador também sobre os ânimos mais obscuros. Observando, porém, retrospectivamente o comportamento da humanidade como um todo, tal possibilidade pode ser evidentemente descartada.
A criminalidade segue batendo recordes por toda a parte. Num único fim de semana, em junho de 1995, a cidade de São Paulo viveu “os três dias mais violentos da história”, conforme noticiava uma matéria de jornal. Num período de 72 horas foram registrados 58 assassinatos, 39 tentativas de homicídio e 445 casos de lesões corporais, esses últimos equivalendo a um aumento de 100% em relação ao “recorde” anterior. Em fevereiro de 1998 o recorde foi novamente batido: 67 homicídios.
No Rio de Janeiro, a violência criminal apresenta características já de uma guerra civil. Os traficantes de drogas ditam suas próprias leis, a que ficam submetidos os moradores das respectivas favelas. Os sequestros, um tipo de crime que até a década de 70 era bastante raro, sendo levado a efeito sobretudo por motivos políticos, acontecem com frequência cada vez maior (em fins de outubro de 95 foram sequestrados no Rio três pessoas num único dia). Em várias ocasiões as famílias pagaram o resgate e mesmo assim a vítima do sequestro foi morta. Os criminosos chegam a fechar túneis na cidade para assaltar mais comodamente os motoristas presos lá dentro, e a promover “arrastões” nas praias, onde um grupo de marginais andando um ao lado do outro vai roubando todas as pessoas que encontra pela frente.
Apesar de hoje, indiscutivelmente, a cidade do Rio de Janeiro estar associada ao crime generalizado, ela ocupa apenas o oitavo lugar no ranking das cidade mais violentas do mundo (São Paulo é a décima). Há no mundo sete grandes cidades onde ainda se mata mais do que no Rio.
Para as pessoas que ainda não estão totalmente alheias ao que ocorre à sua volta, o aumento da violência no mundo, principalmente os crimes contra as mulheres, deveria dar o que pensar. No Brasil já existem até delegacias específicas para tratar desse tipo de crime. Um relatório publicado pela Unifem, órgão das Nações Unidas dedicado ao desenvolvimento das mulheres, fornece alguns dados estarrecedores:
No Brasil, de acordo com a União de Mulheres de São Paulo, uma mulher é agredida a cada quatro minutos.
E os crimes praticados por “crianças”? Ainda há gente que acredita que todas as crianças que cometem crimes são boas, inocentes, e que só seguem o caminho da marginalidade por falta de oportunidades na vida, etc., etc. Essa conceituação decorre de uma falta de compreensão das verdadeiras causas da criminalidade na primeira idade. Pessoas que cometem crimes na adolescência, e mesmo na infância, dão provas de terem sido criminosas já em várias vidas terrenas anteriores. Elas sentem uma necessidade implacável de cometerem esses atos, para aliviarem o impulso de destruição aderido fortemente às suas almas.
Essas “crianças” não são inocentes, são antes criaturas intrinsecamente más, torpes, desprezíveis, fortemente carregadas de culpas, que conspurcam a Terra com a sua presença. E só estão aqui na Terra porque obtiveram essa oportunidade através de mães irresponsáveis, de conduta leviana, que deram ensejo para que almas profundamente decaídas pudessem encarnar.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que nenhum menor de idade pode ficar detido mais de três anos, por mais hediondo que tenha sido o crime por ele cometido. Ao completar a maioridade, sua ficha criminal deve ser apagada totalmente, para que ele tenha condições de começar a vida adulta sem problemas…
Assim, pela lei dos homens, falta pouco para o garoto Ivan Carlos, de 16 anos, remir sua culpa e reintegrar-se à sociedade. Pouco antes de ser preso ele havia estuprado e estrangulado um menino de três anos e colocado o corpo sobre os trilhos de uma ferrovia, o qual foi cortado ao meio pela primeira locomotiva que passou. No mesmo dia em que cometeu esse crime, Ivan havia estuprado e matado uma menina de dois anos… Uma sua colega de atividades, uma babá de 15 anos, ateou fogo em duas crianças de 2 e 8 anos de idade, dizendo depois ao delegado que apenas “sentira vontade de matá-las…”
Na Inglaterra, 5 meninos com idade entre 9 e 10 anos foram acusados de estuprar uma colega de 9 anos numa escola londrina. Nos Estados Unidos, um casal de adolescentes matou a facadas um homem de 44 anos e depois mutilou o corpo; a menina disse aos policiais que a idéia de estripá-lo foi dela, pois achava que o corpo afundaria mais fácil num algo se os intestinos fossem arrancados.
Também nos Estados Unidos, três meninos de 7, 8 e 11 anos raptaram uma menina de 3 anos, agrediram-na sexualmente e a surraram com um tijolo. No Uruguai, um menino de 12 anos foi apontado como autor do assassinato do seu colega de 8 anos, com golpes de pau desferidos na cabeça. No Japão, um garoto de 14 anos degolou um deficiente mental de 11 anos, arrancou-lhe os olhos e dilacerou-lhe a boca de orelha à orelha. No Brasil, três meninos de 9, 10 e 11 anos afogaram uma menina de 10 anos e depois a violentaram com um cabo de vassoura. Ainda no Brasil, os adolescentes que atearam fogo num bóia-fria desempregado, disseram à polícia que queriam “sentir fortes emoções.”
Nos Estados Unidos, o problema da delinquência juvenil tomou tal proporção que 2.500 organizações se reuniram para tentar descobrir qual a melhor maneira de se resolvê-lo. Lá, de cada cem casos de homicídios, dezessete são praticados por menores. Nos últimos 30 anos (até 1996) as prisões de adolescentes em casos de morte aumentaram 467%. Nos últimos 10 anos, o número de jovens assassinados com armas de fogo quadruplicou.
A secretária da Justiça, Janet Reno, chegou a classificar a violência juvenil como “o maior problema criminal dos Estados Unidos”. Em San Francisco, um menino de 6 anos, em companhia de duas crianças de 8 anos, tentou matar um bebê de um mês a pauladas. Na Flórida, um menino de 11 anos foi preso, acusado de matar sua prima de 9 anos com um tiro de escopeta. No Texas, uma menina de 12 anos foi condenada a 25 anos de prisão por ter batido num bebê até matá-lo. Quando, em abril de 1998, dois meninos de 11 e 13 anos fuzilaram quatro meninas e duas professoras numa escola de uma cidadezinha do Estado de Arkansas, o presidente Bill Clinton pediu a Janet Reno que encontrasse especialistas capazes de dizer porque estavam surgindo assassinos cada vez mais jovens…
De acordo com uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo de 26/09/1997, “o número de crimes violentos cometidos por adolescentes nos EUA tem subido de maneira dramática nos últimos 20 anos, o que fez com que 41 dos 50 Estados adotassem legislações para permitir que, pelo menos em casos graves, menores de idade possam ser julgados como se fossem adultos.”
Os tipos de crimes também têm mudado ao longo do tempo; alguns deles são tão ignominiosos que se custa a crer que possam ter ocorrido. Fica mais fácil acreditar, porém, quando se lança um olhar retrospectivo de alguns poucos anos sobre a humanidade decadente. A velocidade e a profundidade da queda são tão grandes, que explicam alguns atos classificados também apenas de criminosos, por falta de outra qualificação mais adequada.
Nas Filipinas, um homem mata um amigo e come seu coração e fígado depois de cozinhá-los. Na África do Sul, os tribunais tribais fazem os acusados ingerirem grande quantidade de petróleo e depois ateiam fogo ao combustível. Em Nova Déli, Índia, um restaurante de comida típica indiana é flagrado com um corpo humano sendo assado em manteiga. Também na Índia, a rejeição a bebês do sexo feminino transforma parteiras em carrascos: ao constatar que a criança recém-nascida é menina, a parteira a segura com firmeza pela cintura e lhe quebra a espinha. Nos orfanatos chineses o método consiste em abandonar bebês do sexo feminino num quarto escuro até morrerem de fome ou de frio.
Na Bélgica, duas meninas de oito anos são sequestradas por um pedófilo, que depois de estuprá-las as abandona presas em cárcere privado até morrerem de fome. Nos Estados Unidos, um rapaz de 22 anos coloca sua filha de 22 meses num forno de microondas, e uma moça de 23 anos prende seus dois filhos (um de 3 anos e outro de 1 ano) com o cinto de segurança no banco de trás de seu carro e o empurra para dentro de um lago. Ainda nos Estados Unidos, uma mulher em coma há dez anos é estuprada e dá à luz um menino, e durante quatro anos um casal obriga os quatro filhos, de 5 a 12 anos, a comer ratos, baratas e injetar cocaína nas veias.
Em São Paulo, ao ver rejeitado seu pedido de namoro, um estudante de filosofia mata a moça a marteladas e tenta manter relações sexuais com o corpo; depois acondiciona o corpo numa caixa de isopor com álcool por três dias ao lado de sua cama. Também em São Paulo, um rapaz estupra e mata uma moça na frente da filha pequena. Em Recife, um homem de 29 anos desenterra o cadáver de um bebê de três meses e come partes do corpo; descoberto, afirma que um demônio lhe dizia para “ingerir carne de gente morta de três em três dias…” Em São José dos Campos, dois irmãos invadem uma casa para cobrar uma dívida de 500 reais; a sobrinha do devedor, de seis anos, foi levantada pelos cabelos e executada com um tiro na cabeça, enquanto segurava uma boneca nos braços.
Poder-se-ia escrever páginas e mais páginas sobre este tipo de crime, um mais pavoroso que o outro. Quando alguém se questiona sobre como é possível que seres humanos executem ações desse tipo, já está fornecendo resposta à sua própria pergunta. Indivíduos capazes de tais atos não podem, absolutamente, ser considerados humanos. Na verdade não o são de fato. Decaíram para algo ainda sem denominação, o estágio final de almas com aparência disforme e monstruosa, que um dia chegaram a ser humanas. Mas agora, tanto as almas como os espíritos de tais criaturas não têm mais nenhuma semelhança com a forma humana; eles não são mais, realmente, seres humanos. Por isso, não há também sentido em se falar de “direitos humanos para todos”. Direitos humanos, como o próprio nome indica, só merecem usufruir as criaturas que podem ser classificadas como seres humanos; as outras não, pois humanas elas não são mais.
É isto que as grandes personalidades do nosso tempo ainda não puderam reconhecer, como o Sr. Federico Mayor, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, que após um ataque particularmente brutal do grupo terrorista islâmico GIA, declarou estupefato: “Estou horrorizado com o fato de que seres humanos possam, no fim do século XX, cortar a garganta de professores na frente de seus alunos.”
Um outro padrão criminal que marcou com rios de sangue o século XX foi o desencadeado pelo chamado crime organizado.
A mais tristemente famosa das organizações criminosas do nosso tempo é, sem dúvida, a Máfia italiana. Juntamente com seu ramo norte-americano, a “Cosa Nostra”, essa organização possui entre três e cinco mil membros, divididos em 25 “famílias”. Seus negócios incluem: jogos de azar, extorsão, fumo, bebidas ilegais, sequestros, narcóticos, ágio e prostituição. Estima-se que essas atividades movimentem um volume anual de 200 bilhões de dólares, com um lucro de 75 bilhões de dólares. A operação anti-corrupção denominada “mãos limpas”, desencadeada pela Justiça italiana, trouxe à tona inúmeros casos de envolvimento de políticos com a Máfia. Em seu livro A Máfia Globalizada, Claire Sterling informa que a organização criminosa comprou a ilha de Aruba, no Caribe, com o dinheiro da venda de drogas.
Ainda maior que a Máfia italiana é a Yakuza japonesa. Alguns criminologistas estimam que a renda anual da organização seja de 22 bilhões de dólares. Em 1984 essa organização tinha precisos 98.771 membros em seus “quadros”, divididos entre as seguintes ocupações oficiais: jogadores, bandidos, quadrilheiros de portos, chantagistas de empresas, extorsionários de jornais, quadrilheiros de prostituição. Os membros da Yakuza cortam as pontas dos dedos mínimos, oferecendo-as cerimoniosamente ao chefe da respectiva quadrilha (padrinho), como demonstração de devoção. Também aplicam no corpo complicadas tatuagens, através de dolorosas picadas feitas com lasca de bambu, para “provar sua masculinidade e o orgulho pela quadrilha.”
A Yakuza realiza suas atividades abertamente, chegando mesmo a veicular anúncios a procura de recrutas. Em 1982, o Departamento de Polícia Nacional do Japão divulgou que nada menos que 24.162 empresas tinham sua administração influenciada pela organização criminosa. Em 1984, pelo menos 148 prefeituras no país estavam sob a influência da Yakuza. Uma das publicações mensais da Yakuza, enviada a todos os membros, traz uma seção de “aula jurídica”, com conselhos sobre assuntos pertinentes à lei, além de páginas de poesia e ritos de iniciação.
Na China, o crime organizado é dividido em sindicatos, chamados tríades. Suas principais bases de operação estão em Hong Kong, Taiwan e Tailândia. Em Taiwan, a principal tríade tem um número de membros estimados entre 15 mil e 40 mil, ostentando o pitoresco nome de “Quadrilha do Bambu Unido”. Hoje em dia, porém, as tríades já se espalharam por todo o mundo, num total de mais de 250 mil membros. Especialistas criminais consideram que as tríades constituam atualmente a mais importante força isolada do crime organizado internacional.
Na Rússia, os grupos que dirigem o crime organizado são chamados de “máfias”, as máfias russas. De acordo com uma matéria veiculada em março de 1997 pela publicação Transition, editada pelo Banco Mundial, essas máfias já controlavam cerca de 40% da economia do país. Segundo o The Washington Post, as máfias russas estavam formando alianças com os cartéis colombianos de drogas, e já haviam encetado negociações para a venda de um submarino, helicópteros e mísseis terra-ar. Em abril de 1998, o FBI informou que 300 das 6 mil quadrilhas russas já tinham ramificações internacionais. Naquela época suspeitava-se que pelo menos 60% do sistema bancário russo era controlado pelas máfias.
As organizações mencionadas acima são as maiores, mas existem várias outras espalhadas pelo mundo. No total, acredita-se o crime organizado mundial possua mais de 20 milhões de filiados, com um faturamento anual de cerca de 750 bilhões de dólares (estimativa de 1996). Só a indústria do sequestro na Colômbia, país responsável por metade de todos os raptos que ocorrem no mundo, faturou cerca de 530 milhões de dólares em 1995, com o resgate pago por pouco mais de mil reféns.
Em 1997, uma surpresa: o Banco Mundial informava que o oitavo PIB do mundo, da ordem de um trilhão de dólares, prestes já a tomar o lugar do Canadá no G-7, era gerado pelo crime organizado! De acordo com o comentarista econômico Joelmir Beting, o relatório do Banco Mundial inaugurou para a literatura econômica a expressão “Produto Criminoso Bruto” (PCB). Segundo ainda o informe, essa economia criminosa cresce a uma taxa de 7% ao ano, ou seja, dobra de tamanho a cada dez anos…
Já há algum tempo, a ONU vem promovendo conferências de cúpula sobre o crime organizado. Uma delas denominava-se “Globalização, (Des)ordem Internacional Emergente e Megacidades”.
De acordo com a Divisão de Prevenção do Crime e de Justiça Criminal da ONU, para evitar a globalização do crime organizado as grandes cidades devem “readequar a segurança pública aos novos tempos, que chegam com o final do século do crime”. Essa Divisão da ONU patrocina também um projeto chamado “Segurança nas Megacidades”. O diretor deste projeto declarou recentemente que “neste final de século as grandes cidades vão ser o centro de uma guerra social global…”
Há ainda um outro tipo de crime, muito pouco considerado mas cujo retorno cármico é incisivo para quem o comete. São os crimes contra a natureza. As agressões à natureza são atos criminosos gravíssimos, e como tais formam-se também os efeitos retroativos. Esses pesados e implacáveis efeitos retroativos atingem cada um que contribuiu para a efetivação do ato criminoso, independentemente se tal ato é rejeitado pela sociedade ou por ela incentivado.
Poluição do ar, das águas e da terra, experiências médicas com animais ou maus tratos infligidos a eles, caça por prazer, transplantes. Do ponto de vista das Leis naturais, tais crimes são considerados hediondos, e por essa razão os efeitos recíprocos de retorno aos criminosos são também especialmente rigorosos. Ou alguém imagina que furar os olhos de um pássaro, como o mutum preto, para que ele cante melhor na gaiola, é algo que pode ficar impune? Ou então torturar prazerosamente animais indefesos como se faz na tourada espanhola e na “farra do boi” brasileira? Ou ainda carregar um burrinho com cargas explosivas e fazê-lo rebentar por controle remoto junto a um posto de polícia, como fizeram inovadores terroristas colombianos? Para os criminosos contra a natureza não existe mais nenhuma possibilidade de salvação.
O tráfico de animais silvestres é um dos maiores negócios ilegais do mundo. Movimenta anualmente cerca de dez bilhões de dólares, só perdendo para os tráficos de drogas e de armas.
Em alguns mercados do Brasil são vendidas partes de animais silvestres como qualquer outra mercadoria. É possível adquirir olhos e dentes de boto, patinhas de macaco e de preguiça, cabeças de jibóias recém-nascidas e uirapurus esturricados, que, dizem, teria funções curativas e afrodisíacas. Nessas feiras, os olhos dos melros são cegados com pontas de cigarro; os macacos são girados pelos rabos antes de serem expostos à venda, para que fiquem tontos e pareçam dóceis aos compradores; caçadores quebram o peito de algumas aves, esmagando-lhes o externo com o polegar, para que morram alguns dias depois da venda e o comprador encomende mais…
Será que há realmente quem acredite que exista perdão para crimes desse tipo? A espécie Homo sapiens é a única que mata e tortura outras espécies da Terra por prazer. Qual deveria ser a resposta da natureza para uma tal aberração?
Num artigo publicado na revista alemã Der Spiegel, o biólogo evolucionista Edward Wilson declara que a cada dia desaparecem no mundo cerca de 70 espécies de plantas e animais, 27 mil por ano. A causa é a ação predatória do ser humano na natureza. Pesquisadores do National Science Board dos Estados Unidos estimam que 25% das espécies estão ameaçadas de morte nos próximos 25 anos pela atuação de uma única espécie: o Homo sapiens. Como pode ainda causar espanto quando catástrofes da natureza dizimam milhares de membros dessa espécie degenerada?
E as experiências com animais? De onde o ser humano (?) tirou a idéia que tem direito de vida e morte sobre outras espécies da Criação? Na Inglaterra, um sorridente e orgulhoso pesquisador anunciou ter conseguido produzir sapos sem cabeça, enquanto alguns colegas seus fizeram crescer as orelhas de um coelho até atingir cada uma 34,3cm de comprimento por 18,7cm de largura… Num feito que a empresa americana Genome Therapeutics qualificou de “uma das descobertas mais importantes do ano”, um grupo de cientistas de vários países conseguiu fazer um rato nascer sem ossos.
Vamos agora mencionar especialmente alguns aspectos relacionados aos tão decantados transplantes, já que existe hoje um consenso universal de que tal prática constitui um extraordinário avanço da ciência médica, só trazendo benefícios. (5)
O corpo humano não é uma máquina, cujas peças possam ser trocadas por outras idênticas quando apresenta algum defeito. O corpo é o instrumento que possibilita a atuação do espírito na matéria. Ele é emprestado ao espírito para utilização durante um determinado tempo, findo o qual deve ser devolvido à terra. Durante o tempo de utilização ele tem de ser muito bem cuidado e conservado, sem o que o espírito não poderá atuar como deve. Se alguma de suas partes apresenta um problema, é sinal de que não foi suficientemente bem cuidado ou, então, que o espírito responsável por aquele corpo trouxe uma alma tão carregada carmicamente, que isto acabou por atuar também no corpo terreno, gerando doenças. Em ambos os casos, a culpa da falha de algum órgão do corpo é sempre do próprio espírito humano.
O espírito é ligado ao corpo na encarnação, e permanece ligado a partes desse corpo quando estas são removidas depois da morte e continuam a “viver” em outros corpos. Não é difícil ver que esse quadro frankensteiniano é contrário às Leis naturais da Criação, só podendo acarretar danos a doadores e receptores de órgãos humanos.
Só as dificuldades observadas em relação aos processos naturais de rejeição já deveriam ter servido de alerta contra a prática dos transplantes. Mas não. Seria esperar demais da ciência médica. Os pesquisadores preferiram desenvolver drogas imunodepressoras cada vez mais potentes, a fim de esticar artificialmente ao máximo a vida dos transplantados. Uma atitude que deixa antever também claramente o domínio do raciocínio sobre o espírito, que só vê contingências materiais em tudo, meramente exteriores, procurando edificar em cima disso. É por essa razão também que a medicina atual não se impressiona, absolutamente, com o fato de o coração, o fígado, os pulmões, os rins e o pâncreas, para serem aproveitados em transplantes, terem de ser retirados do doador ainda enquanto seu coração está batendo…
Tampouco as graves complicações pós-operatórias, invariavelmente associadas aos transplantes, foram suficientes para demover a ciência médica da prática desse delito.
Uma vida prolongada artificialmente não traz benefícios a ninguém. Pelo contrário. Médico e transplantado tornam-se culpados de um crime contra a natureza.
Mesmo que aqui na Terra os resultados exteriores e efêmeros de um transplante possam ser classificados de positivos, quando observados através das lentes míopes do intelecto humano, o efeito real de tal ato é calamitoso, como ocorre com tudo quanto ousa opor-se às Leis naturais. Além do novo carma, pesadíssimo, que todos os envolvidos nessa prática angariam para si, o carma antigo que o doente já trazia consigo, evidenciado pelo mal funcionamento de algum órgão, fica naturalmente impedido de ser remido com o transplante. Portanto, além da culpa antiga, uma nova. Após o desenlace terreno, médico e doente reconhecerão, com o mais profundo horror e desespero, de que maneira se enredaram nos espessos fios de culpa formados com o ato do transplante.
A que ponto já se chegou hoje na prática de tais crimes?
Da Índia chegam notícias da venda de rins para hospitais privados britânicos. Um cientista americano propõe uma recompensa de mil dólares como uma espécie de caução aos parentes de pessoas mortas que tenham tido algum órgão retirado. Um médico daquele país defende há tempos “a nobreza das doações através de pagamento”. Um professor universitário inglês apóia enfaticamente um artigo publicado no Journal of Medical Ethics, que defende a doação de órgãos por pessoas vivas: “Não existem argumentos morais conclusivos contra este tipo de pagamento pela doação de rins”, assegura o professor.
Em 1989 a revista The Lancet informou (pela primeira vez) que rins eram retirados de prisioneiros condenados à morte em Cantão (China) e vendidos. Em 1997, a rede de televisão americana ABC informou que militares chineses estavam vendendo por 30 mil dólares órgãos de prisioneiros executados. O anúncio de um jornal chinês publicado em Nova York dizia: “Transplante de rins na China continental. Não percam a oportunidade.” Um intermediador chinês em Nova York oferecia córneas a US$ 5 mil o par, e por preços mais altos também pâncreas, fígados, pele e pulmões (de prisioneiros não fumantes).
Em 1991 a polícia uruguaia prendeu sete pessoas que pretendiam repassar para um hospital de São Paulo, pela quantia de 40 mil dólares, rins comprados por 2 mil dólares nos bairros pobres de Montevidéu. O gerente de uma instituição francesa especializada na atividade de fornecimento de rins pagos se justifica: “É um processo gratificante porque se consegue tornar felizes duas pessoas.” Outro defensor da venda de órgãos de pessoas vivas explica: “As éticas não são absolutas e modificam-se de acordo com as condições e os constrangimentos econômicos”. (6)
Na Europa, principalmente na Itália e na França, já existem agências de turismo que vendem pacotes “médicos” por US$ 20 mil, incluindo passagem, internação, compra do rim e transplante. Companhias americanas implantaram um sistema chamado “cash death benefit”: paga-se uma certa soma, em dinheiro e em vida, em troca da doação de órgãos no caso de morte até os 50 anos de idade. Um professor de Bioética – uma cadeira nova no ensino da medicina (aparentemente inútil como se verá a seguir) – acredita que a humanidade está passando por uma evolução de mercado: “No tempo da escravidão o homem era vendido inteiro; hoje, rins são comprados e vendidos com facilidade na Índia e em outros países”, fundamenta o professor.
Enquanto cresce a frequência de artigos publicados nas revistas científicas, tentando legitimar e estimular formas de pagamento de partes ou funções do corpo humano, seja de cadáveres ou de vivos, o mercado de órgãos continua em franca expansão no mundo todo. Além de rins, pode-se adquirir hoje nesse mercado os mais variados produtos: de sangue fresco à medula óssea, de córneas a fígados, de esperma a coração e pulmões. E, segundo denúncias, até mesmo crianças inteiras.
Há também quem denuncie experimentos utilizando embriões e fetos, e já se fala na possibilidade de transplantes de cérebros… Em julho de 1995, a Dra. Hilda Molina, diretora do Hospital Neurológico Cubano, renunciou ao cargo denunciando o uso de fetos para transplantes em estrangeiros.
Num artigo publicado na revista Philosophy, um cientista sugere a criação de uma “loteria da sobrevivência”, em que cada pessoa receberia um número para participar de um sorteio compulsório. A escolhida seria morta e seus órgãos distribuídos para os que necessitassem de um ou mais transplantes. Desse modo se poderia salvar várias vidas sacrificando-se uma só…
Uma outra corrente de pesquisadores quer produzir, através de engenharia genética, uma raça de sub-homens com a única finalidade de fornecer órgãos para transplantes. Um dos mais fervorosos defensores dessa idéia é o Dr. James Watson, descobridor, juntamente com outros cientistas, da estrutura molecular do DNA na década de 50 e prêmio Nobel de Biologia: “Quando pudermos produzir um andróide com órgãos humanos perfeitos e sem cérebro, para nos fornecer órgãos para transplantes, vamos fazê-lo e pronto!”, ameaça.
Logo após as primeiras notícias sobre o desenvolvimento com sucesso de animais clonados, isto é, animais nascidos de uma única célula geneticamente alterada de um animal adulto, um operador de uma bolsa de valores declarou que estaria disposto a pagar três milhões de dólares para ter um clone seu, à sua disposição, para o caso de ele necessitar de algum órgão para transplante…
Atualmente, as pesquisas científicas estão direcionadas para o chamado xenotransplante, isto é, o transplante de órgãos entre espécies diferentes. Num teste com dez macacos, que tiveram corações transplantados de porcos, o recorde de sobrevivência foi de 60 dias. Mas o que interessa aos pesquisadores são transplantes de órgãos de animais para seres humanos. Já se fez transplante do coração de um macaco para um bebê, da medula de um babuíno para um doente de AIDS e parece que também do fígado geneticamente alterado de um porco para um moribundo. O porco, aliás, foi o escolhido por uma empresa britânica de pesquisas, que criou o primeiro animal “transgênico” do mundo: um porco que abriga um coração com gene humano. A empresa acredita que o órgão com gene humano do animal pode “enganar” o sistema imunológico do paciente humano, evitando a rejeição no período pós-operatório, apesar de um relatório de especialistas ingleses alertar que isto poderia introduzir vírus novos e letais na população. Em outubro de 1997, pesquisadores descobriram que os órgãos dos porcos abrigavam pelo menos dois tipos de vírus capazes de infectar células humanas, ambos da família do HIV.
Nunca, em tempo algum, em lugar algum, um xenotransplante será bem sucedido num ser humano. Jamais haverá nada que sequer se aproxime do conceito de um xenotransplante bem sucedido. Não é apenas a espécie do corpo terreno humano que é diferente da espécie do corpo de outros animais. O sangue humano é muito diferente de qualquer outro tipo de sangue animal, pois ele está em íntima relação com o próprio espírito humano. O animal não possui espírito, e por isso a constituição do seu sangue é também completamente diversa da do ser humano, muito mais do que seria de se esperar considerando-se apenas as diferenças corpóreas entre as duas espécies. As diferenças na composição do sangue das diversas espécies animais já se constitui numa barreira intransponível para qualquer tentativa de transplante prolongado entre eles, quanto mais – pelos motivos expostos – entre um ser humano e um animal.
Acredito, sinceramente, não ser necessário comentar com mais detalhes outras passagens da prática macabra dos transplantes de órgãos. Qualquer pessoa que ainda não tenha o espírito completamente enrijecido terá de sentir repulsa em relação a essas coisas. Sua própria intuição lhe mostrará o real significado dessas práticas, um dos mais asquerosos crimes contra a natureza.
Este é, em largos traços, o retrato do crescimento vertiginoso da diversificada criminalidade no nosso tempo. Não é necessário falar mais a respeito, pois, como já mencionado, o aumento dos atos criminosos em nossos dias é tão grande, tão nitidamente perceptível, que qualquer um que acompanhe, por pouco que seja, os acontecimentos à sua volta, tem de estar convencido disso. Cabe a ele então o esforço de ponderar sobre esse crescimento e procurar suas verdadeiras causas.