A engenharia de segurança do trabalho é capaz de reduzir em muito os acidentes reconhecidamente provocados por más condições de trabalho, o que é sem dúvida um feito notável. Todavia, grandes acidentes industriais continuam a acontecer em todo o mundo, acarretando dezenas e até centenas de vítimas. As causas muitas vezes são desconhecidas, ou então são atribuídas a falhas humanas, de material, ou ambas. E, no entanto, nos casos em que há feridos ou mesmo mortos pela atitude negligente ou imprudente de uma ou várias pessoas, os atingidos tinham necessariamente um carma para isso.
O colega negligente, possivelmente apontado como o único causador do acidente, foi apenas um instrumento que possibilitou a efetivação na matéria de um efeito cármico daquela espécie. Se não fosse o tal colega com a sua negligência, o acidente teria ocorrido por alguma outra causa, ou as pessoas envolvidas sofreriam um outro tipo de acidente, talvez até em outro local, o que, porém, não diminui em nada a responsabilidade pessoal daquele que negligenciou.
Mas nenhuma delas poderia escapar de ser atingida por um acidente de mesma gravidade do que ocorreu, a não ser que houvessem antes mudado sua sintonização interior, de modo que tivessem progredido espiritualmente. Neste caso, os maus efeitos retroativos não poderiam mais atingi-las, ou apenas de modo muito atenuado, pois sendo de espécie mais baixa, mais pesados, ao retornarem ao ponto de origem, não encontrariam mais os geradores, já que estes teriam efetivamente ascendido nesse meio tempo.
Como nas várias mazelas e tragédias examinadas anteriormente, muitos acidentes são classificados como "o mais grave desde o ano tal" e outros superlativos semelhantes. Vamos examinar resumidamente alguns aspectos relacionados aos maiores acidentes industriais do nosso século, vários dos quais analisados em detalhes no livro Crimes Corporativos, de Russel Mokhiber.
Nas décadas de 50 e 60, as mães que tomaram uma droga chamada talidomida tiveram bebês monstruosos. Nasceram bebês sem pernas ou sem braços, às vezes com uma espécie de barbatanas no lugar das pernas, com quatro ou cinco dedos emergindo da pélvis ou do ombro, com órgãos genitais deformados ou com ausência de genitais, com orelhas e olhos deformados e com danos cerebrais. Todas as almas que encarnaram nesses corpos deformados, sem exceção , traziam consigo um carma pesadíssimo, razão porque só puderam nascer nessas circunstâncias pavorosas. O total desconhecimento dos efeitos colaterais do remédio possibilitou o desencadeamento da tragédia.
Na década de 70 milhares de mulheres em todo o mundo utilizaram um dispositivo intra-uterino como método anticoncepcional. Além de o dispositivo não se ter mostrado eficaz na prevenção da gravidez, ele provocava em muitas mulheres inflamações no útero e até perfuração. Só nos Estados Unidos 18 mulheres morreram, e estima-se que das 110 mil que conceberam usando o dispositivo, cerca de 66 mil abortaram, na maior parte das vezes espontaneamente. Outras tiveram abortos infectados, conhecidos como abortos espontâneos sépticos. Centenas de mulheres deram à luz prematuramente a natimortos ou bebês com defeitos de nascença, como cegueira, paralisia cerebral e retardamento mental.
É inegável, nesse caso, a responsabilidade de quem testou e aprovou o uso desse dispositivo como método anticoncepcional. Contudo, mesmo aqui, nenhuma das mortes de mulheres e de bebês, ou o nascimento de bebês com anomalias congênitas foi obra do acaso. Uma mulher que se vê na contingência de gerar um filho retardado ou cego não foi escolhida ao acaso pelo destino. A criança, por sua vez, tampouco é inocente, se tem de nascer na Terra já marcada dessa forma. Tudo está interligado até as minúcias nos efeitos automáticos da Lei da Reciprocidade.
Nos Estados Unidos, em meados da década de 70, um erro no processo de ensacamento de uma empresa fornecedora de rações para animais, em Michigan, fez com que fosse adicionado à mistura de ração um produto químico relativamente desconhecido, o PBB, no lugar de óxido de magnésio, que deveria imunizar o gado contra o surgimento de uma doença chamada "febre das pastagens de trigo".
O gado que comeu a ração começou a definhar e apresentar diarréia, o pelo ficou sarnento e o couro enrijecido. As vacas prenhas começaram a perder espontaneamente a maioria das crias por abortos espontâneos. Os bezerros sobreviventes apresentavam defeitos de nascença, problemas uterinos, perda de pelo e grande vulnerabilidade a doenças. Porcos e galinhas também foram contaminados pelo PBB. Pessoas que consumiram leite, queijo e as carnes desses animais foram contaminadas. Elas ficaram fracas, apresentando dores de cabeça fortíssimas, problemas digestivos, erupções de pele, perda de peso e alterações no comportamento sexual.
Abaixo, alguns extratos da história desse acidente narrado por Russel Mokhiber em seu livro, que o considerou como "uma das maiores catástrofes de saúde pública do século".
“Acreditando que o PBB fosse suplemento de ração, os funcionários [da empresa fornecedora de ração] misturaram entre 250 e 500 quilos do tóxico em milhares de toneladas de ração, enviando o produto aos fazendeiros de todo o Estado de Michigan. Entre o outono de 1973 e a primavera de 1975, época em que se deu a mistura da ração e quando o desastre se tornou público, vacas, carneiros, galinhas e porcos comeram a ração e ficaram doentes em seguida. O leite das vacas foi vendido aos consumidores de Michigan, de Detroit a Traverse City. Ovos, queijo e outros laticínios das vacas que comeram o PBB ficaram contaminados. Os consumidores de Michigan que comeram esses laticínios, assim como carne de vaca, de porco e de galinha foram intoxicados sem saber, permitindo a entrada do PBB em seus organismos. (…)
[As fazendas mais contaminadas, em número de 538 foram colocadas sob quarentena]. Os fazendeiros isolados ficaram proibidos de vender carne ou laticínios e em muitos casos eram forçados a escolher entre matar suas vacas ou vê-las morrer lentamente. (…)
Aproximadamente 18 mil animais doentes foram transportados para uma cidade isolada no norte de Michigan, jogados num fosso imenso e mortos por atiradores. Outros animais foram transportados para fora do Estado, muitos para covas no Estado de Nevada. No final foram sacrificados 29.000 bovinos, 5.900 porcos, 1.400 carneiros e 1,5 milhão de galinhas, juntamente com a destruição de 865 toneladas de ração, 8.000 quilos de queijo, 1.180 quilos de manteiga, 15.000 quilos de derivados de leite em pó e quase 5 milhões de ovos. (…)
Grande parte das áreas agrícolas de Michigan foi permanentemente prejudicada. Mais de 8 milhões de habitantes, aproximadamente 90% da população, são portadores do PBB e vão reter traços desse veneno no organismo pelo resto de suas vidas. Um estudo realizado em 1974 descobriu PBB no leite materno em 96% das mulheres do sul do Estado.”
Será que alguém ainda poderia imaginar que um envenenamento desses, numa escala assim tão gigantesca, possa ser obra do acaso?
Há porém uma coisa. Os animais são sempre, em qualquer circunstância, inocentes. Quando sofrem ou têm de ser mortos por erros humanos, então os responsáveis por esses erros se sobrecarregam ainda com uma culpa adicional, e grave, por cometeram um crime contra a natureza.
Nos Estados Unidos, numa região chamada Buffalo Creek, uma empresa carbonífera depositou durante vários anos os resíduos da extração de carvão no topo de um desfiladeiro, num dique construído especialmente para esse fim. Cada quatro toneladas de carvão escavadas produziam uma tonelada de refugo, constituído principalmente de xisto. Atrás desse dique a empresa depositava o seu refugo líquido.
Em 26 de fevereiro de 1972, após alguns dias de fortes chuvas, o dique, situado a cerca de 15 quilômetros das vilas de trabalhadores, rompeu, fazendo descer uma torrente negra de 600 milhões de litros de água misturados a um milhão de toneladas de refugo sólido fenda abaixo. Os extratos a seguir, compilados do livro de Mokhiber, fornecem uma visão do acontecimento:
“A onda gigantesca provocou uma série de explosões à medida que jorrava trovejante em direção ao vale, como uma massa de lava, uma onda de lama numa montanha de destruição. (…)
A onda de lama demoliu Saunders [vilarejo da região] totalmente. Ela não esmagou apenas as casas, os carros e a igreja; ela levou tudo. Como uma parede de nove metros de altura, ela varreu a cidade. (…)
Saunders era apenas a primeira da fila. A onda continuou pela ravina. ‘Essa água’, explicou um dos sobreviventes, ‘quando veio descendo se comportava de maneira engraçada. Ela ia por um lado da montanha, pegava uma casa, depois pegava uma casa da fileira toda e depois voltava para o outro lado. Ela ia de um lado da montanha para o outro’. (…)
Outras testemunhas também tiveram dificuldade em descrever o fato de forma convencional. ‘Eu não sei explicar a água lá’, disse ela. ‘Parecia um oceano negro onde o chão tinha-se aberto e a água estava vindo em grandes ondas e vinha como que rolando. Como se você tivesse jogado uma embalagem de leite no rio…, era assim que as casas estavam sendo levadas, como se não fossem nada. A água parecia o demônio em pessoa. Veio, destruiu e foi embora.’ (…)
Outro sobrevivente olhou para cima e viu as casas chegando: ‘Pareciam barquinhos de brinquedo e elas estavam arrebentando e se chocando umas contra as outras e trazendo as fileiras de casas aqui para baixo’.”
Após o desastre, 125 pessoas estavam mortas, e 4 mil dos 5 mil moradores de Buffalo Creek estavam desabrigados.
Apesar de as investigações que se seguiram terem apontado causas bem distintas para explicar a tragédia, como negligência dos responsáveis pela empresa, falta de manutenção do dique e outras coisas do gênero, a causa real foi o carma das pessoas atingidas, que num determinado momento, dadas as condições para isso, efetivou-se automaticamente numa ação terrenamente visível.
Evidentemente, se alguém foi de fato negligente ele angariou uma culpa com sua ação (ou omissão), apesar de ter contribuído involuntariamente para que esse efeito retroativo coletivo se efetivasse naquele momento. Tal pessoa se portou na realidade como um instrumento para o desencadeamento daquele acontecimento, que tinha de se efetivar sobre aquelas pessoas que possuíam aquele carma. Muito provavelmente todo aquele grupo de pessoas agiu em conjunto de uma maneira errada, em alguma vida anterior.
Na madrugada do dia 3 de dezembro de 1984, um acidente numa indústria química situada na cidade de Bhopal, Índia, soltou na atmosfera 40 toneladas de isocianato de metila, um produto utilizado na fabricação de pesticidas. Houve entre 2.500 e 5 mil mortes, e mais de 200 mil feridos, muitos dos quais contraíram doenças respiratórias, problemas oculares permanentes e desordens mentais. Este acidente ficou conhecido simplesmente como “o maior desastre industrial de todos os tempos.”
A jornalista Annes Christis relatou suas impressões logo após o acidente: “Foi uma experiência horrível. Vi senhoras quase sem roupa, saídas da cama, crianças agarrando-se aos seus colos, todas se lamentando, chorando, algumas vomitando sangue, algumas caindo, presumo agora que morrendo…”
Três dias após o acidente, o jornalista e engenheiro químico Praful Bidwai relatou dessa maneira a situação no hospital de Bhopal:
“A cena é comovente no seu retrato de morte. Há algo indescritível sobre o terror, a miséria e a mera magnitude e força da morte aqui. Ninguém está mais contando o número de mortos. As pessoas estão morrendo como moscas. São trazidas para o hospital, seus peitos ofegando violentamente, seus membros tremendo, seus olhos piscando por fotofobia. Isto [isocianato de metila] as matará em poucas horas, mais provavelmente em minutos. (…) Se é que houve uma forma de megamorte horrivelmente desamparada e sem dignidade após Hiroxima, foi essa.”
Assim como esses acidentes mostrados aqui, a título de ilustração, dezenas de outros do mesmo tipo têm ocorrido sistematicamente em todo o mundo, os quais, apesar de exteriormente apresentaram uma ou mais causas bem definidas, são, na realidade, efeitos retroativos de más ações anteriores.
Para concluir esse tópico sobre acidentes industriais, descrevo abaixo alguns acontecimentos registrados no ano de 1995:
Em maio, um elevador que transportava trabalhadores de uma mina de ouro na África do Sul despencou de uma altura de 500 metros. Pelo menos cem mineiros morreram no que foi considerado “o terceiro mais grave acidente em minas na história do país”. (1)
Estima-se que no nosso século cerca de 100 mil mineiros tenham morrido em acidentes nas minas, tendo sido registrados, desde 1930, mais de 1,5 milhão de danos pessoais. Nenhuma dessas pessoas, porém, foi acometida de uma injustiça. No mencionado acidente, um mineiro, dado como morto, reapareceu dois dias após o ocorrido. Ele havia-se atrasado após encerrar o seu turno de trabalho e não chegara a tempo de tomar o elevador. Muitos atribuem isso à pura sorte. Na verdade, essa pessoa não tinha um carma para sofrer um acidente assim tão pavoroso.
Nos anos de 1996 e 1997 muitos outros acidentes industriais foram registrados em todo o mundo, sempre lamentados, mas nunca reconhecidos como retornos cármicos das próprias pessoas atingidas. Não se reconhece isto nem mesmo quando eles batem os já reconhecidos “recordes” de mortos e destruição, como foi o caso, por exemplo, do acidente numa mina da Ucrânia em abril de 1998, que matou 63 pessoas e feriu 71, considerado “o pior acidente registrado no país desde a derrocada da União Soviética.”