Não é de modo algum difícil perceber os sinais da decadência humana, que adquirem hoje as formas mais grotescas, obrigadas a se exteriorizarem pela força irresistível do Juízo Final.
Observe-se, por exemplo, a chamada arte moderna ou contemporânea. Nas exposições desse tipo de arte muitos se quedam profundamente compenetrados na frente de quadros que mostram apenas rabiscos e manchas coloridas, tentando compreender a “mensagem” que o pintor quis transmitir, ou, o que é mais comum, dando-se ares de entendidos no assunto e emitindo opiniões. No entanto, tais pinturas não significam outra coisa senão borrões sem sentido. Houve, inclusive, uma exposição em que o quadro vencedor foi pintado por um macaco; numa outra, por uma criancinha que apenas se divertia com as tintas que a mãe lhe havia dado e que acabou ganhando o primeiro prêmio; em outra exposição, um quadro de arte moderna permaneceu por engano vários dias exposto de cabeça para baixo, sob os olhares e comentários admirados dos apreciadores…
Em sua obra A Agonia da Nossa Civilização, Georges Gusdorf expôs magistralmente esta situação:
“O visitante que percorre as galerias de um grande museu de arte ocidental admira, século após século, o esforço criador dos retratistas empenhados em embelezar a forma do homem e sua face, em que se inscreve a vocação da pessoa para a inteligência e para a beleza. Tudo muda, uma vez ultrapassado o limiar do museu de arte contemporânea.
A forma e a figura do ser humano se desagregam; pela magia de uma operação diabólica, os traços se decompõem, os olhos, a boca, o nariz, a testa as orelhas rompem sua aliança milenar e se dispersam ao acaso num espaço aberrante em que não se reconhecem mais os contornos familiares. As cores são afetadas por uma exasperação maníaca, ou por vezes por uma pustulência cadavérica. Estas ruínas de sentido, estes restos de humanidade se perderam por sua vez e se vêem aparecer telas cheias de formas geométricas, de manchas coloridas, dispersas ao acaso sobre uma superfície onde mais nada de humano persiste, onde nenhuma vontade inteligível se deixa ler.
A arte, que foi celebração e comemoração da realidade humana, apaga-se na negação desta realidade, deserto de significação em que nada mais merece ser posto em destaque. Os visitantes do museu de arte contemporânea desfilam gravemente diante dessas telas; ninguém protesta, ninguém se encoleriza. Talvez viessem a este lugar impelidos apenas pelo esnobismo e pela tolice que admira sem compreender. Mas talvez sintam obscuramente que estão aqui confrontados com o atestado irrefutável de sua própria negação.”
As exposições de esculturas modernas, ou as montagens feitas sob essa denominação, são precisamente aquilo que expressam: lixo. Com que outra palavra se denominaria então um pedaço de carne em putrefação exposta numa redoma de vidro? Ou um amontoado disforme de pedaços de metal encontrados no lixo? Ou então uma vaca e seu bezerro partidos em dois e conservados em formol num tanque de vidro? Ou ainda um cinzeiro de plástico de 2,5 m de diâmetro repleto de pontas de cigarro, cinzas e caixas de cigarro vazias? Pode-se chamar de arte a coletânea de fotos exibida em 1990 no “Centro de Arte Contemporânea de Cincinatti”, que entre outras coisas mostrava cenas eróticas homossexuais e sadomasoquistas, além de órgãos genitais de crianças?
E a música? Melhor dizendo: o ruído estridente a que se chama hoje de música? Dos grandes compositores, 8 nasceram no século XVIII e 22 no século XIX. (1) O século XX não viu nascer nenhum grande compositor. Música verdadeira não pode surgir sob o domínio irrestrito do raciocínio.
Como que sepultando de vez qualquer esperança nesse sentido, a segunda metade do século viu nascer um bate-estaca musical chamado “rock”, submetido ele próprio, como tudo o mais, também a uma degradação contínua ao longo do tempo (quem julgaria possível?), conforme se depreende dos qualificativos que foi recebendo: “leve”, “progressivo”, “pauleira”, “heavy metal” (metal pesado), “trash metal” (metal lixo), “death metal” (metal morte). Poucas cenas espelham de modo tão claro a decadência da juventude como as observadas nos festivais de rock. Milhares de jovens, muitos drogados, pulando em êxtase sob o ruído ensurdecedor de guitarras e outras parafernálias estridentes, “tocadas” por figuras que pouco lembram a silhueta de um ser humano. Uma dessas populares bandas de rock esclareceu aos seus admiradores que “tomar drogas é tão normal quanto beber uma xícara de chá… ”
Para emoldurar condignamente toda essa podridão surgiu recentemente um movimento de nome bastante apropriado: a cultura “trash” (lixo), que angaria cada vez mais adeptos entre jovens e adultos desses nossos dias. Esse movimento glorifica tudo o que até a pouco ainda era reconhecido como ruim; a finalidade é justamente tornar explícitos a boçalidade, a idiotice e o grotesco. E a repercussão é realmente muito boa, excelente mesmo, como não poderia deixar de ser nesses anos finais da decadência humana.
Alguns exemplos: Um dos maiores sucessos da TV americana é um desenho animado onde os personagens principais, dois adolescentes, se divertem torturando animais, molestando meninas com um vocabulário chulo e cheirando cola; o sucesso foi tamanho que seus idealizadores produziram um longa metragem para o cinema… rendeu 55 milhões de dólares na estréia.
Um outro desenho animado que retrata alienígenas, um cão homossexual, um excremento que fala e uma criança etíope famélica rendeu US$ 25 milhões em nove episódios; a produção conta com dois milhões de telespectadores cativos, 70 sites na Internet e ganhou o prêmio “Cable Ace” (o Oscar da TV por assinatura nos Estados Unidos) como a melhor série de desenho animado. O videogame campeão de vendas no mundo vendeu cerca de cinco milhões de cópias: foi o primeiro a mostrar cabeças e membros decepados e sangue em jorros.
Num outro “jogo” desse tipo, o participante é convidado a fuzilar crianças, e para deixar de jogar é preciso cometer suicídio; num jogo de Rali a única regra é cometer o maior número possível de barbaridades, como dirigir na contramão, destruir veículos e espalhar pedaços de pedestres pela pista, especialmente de crianças, idosos e gestantes; matar uma grávida vale 5 minutos a mais de ação…
Fitas de vídeo mostrando closes de agonia real, com seres humanos e animais, batem recordes de retiradas nas locadoras. No Brasil, uma banda paulista cujas letras das músicas tratam de orgias sexuais e piadas racistas vendeu um milhão e 800 mil cópias em seis meses. (2) Um teatro no Rio de Janeiro lota platéias com peças cujos cenários foram feitos com restos de lixo.
No início de 1998, o maior fenômeno de audiência da televisão brasileira era um programa que apresentava toda a sorte de desgraças alheias. Na Europa, um programa televisivo chamado “Euro Trash” ensina a preparar pratos com ratos. Em Londres, 15 mil pessoas visitam uma exposição de 40 fotos mostrando esculturas feitas com fezes. Em Mannheim, Alemanha, um museu exibe corpos humanos verdadeiros, sem pele, preservados por uma técnica de “plastificação”.
Assim se apresenta a humanidade agora, na derradeira fase do Juízo Final. Todo o falso atuar humano cresce agora ainda mais sob a irradiação do Juízo, e se mostra sob as mais extravagantes formas, mesclando-se ainda continuamente com acontecimentos terríveis, retornos da própria má vontade humana anterior. O resultado é um caos enorme, imerso na imundície, sem paralelo na história da humanidade. Cito aqui uma frase de Gilberto Kujawski, a respeito das coisas que o seres humanos da época atual ainda se apegam, que eles julgam importantes:
“Resta a paixão multitudinária pelo futebol, pelo rock, pelas corridas de automóvel, talvez pelos direitos das minorias, principalmente das minorias étnicas. Nada mais consegue empolgar a alma desmotivada do homem oco no terreno baldio deste século cor de cinza.”
A análise dos tópicos a seguir permite uma visão mais abrangente e realista do caos contemporâneo. É, sim, necessário conhecer a que ponto o mundo já chegou em seu descalabro auto-sustentado, ou melhor, é necessário reconhecer esta situação, para podermos agir então de tal modo que nos tornemos dignos de ser preservados da destruição completa de todo o mal que se avizinha.
O critério para a classificação de grandes compositores é certamente subjetivo, mas acredito haver poucas discordâncias em relação a esses nomes:
Séc. XVIII: Beethoven, Bach, Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Vivaldi, Rossini;
Séc. XIX: Berlioz, Bizet, Brahms, Chopin, Debussy, Dvorak, Gounod, Grieg, Lizt, Mahler, Mendelssohn, Offenbach, Puccini, Rachmaninov, Rimsky-Korsakov, Saint-Saëns, Schumann, Sibelius, Strauss, Tchaikowsky, Verdi, Wagner. Voltar