Muitas profecias falam de um Emissário de Deus, que viria depois de Jesus Cristo.
Nos evangelhos, Jesus denomina este Emissário de “Filho do Homem”. Os evangelistas, porém, que escreveram sobre as palavras de Jesus vários anos após sua morte, supuseram que ele se referia a si mesmo com suas alusões ao Filho do Homem. Isso foi um erro, pois Jesus sempre se referiu a si próprio unicamente como Filho de Deus, e com a designação Filho do Homem indicava um outro Emissário de Deus. A esse respeito, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade:
“Errada é cada tradição que afirma haver Jesus, o Filho de Deus, se designado como sendo simultaneamente também o Filho do Homem. Tal falta de lógica não se encontra nas Leis divinas, nem pode ser atribuída ao Filho de Deus, como conhecedor e portador dessas Leis.
Os discípulos não tinham conhecimento disso, conforme se depreende de suas próprias perguntas. É só deles que surgiu o erro, que até hoje tem perdurado. Supunham que o Filho de Deus se designava a si mesmo com a expressão Filho do Homem, e nessa suposição propagaram o erro também à posteridade, a qual, da mesma forma que os discípulos, não se ocupou mais seriamente com a falta de lógica aí inerente, mas simplesmente passou por cima disso, em parte por temor, em parte por comodidade, apesar de que na retificação o Amor universal do Criador ainda sobressai mais nítido e mais poderoso.”
O próprio Jesus não deixou nada escrito. Por isso, o texto dos evangelhos e outros que fazem menção às suas palavras devem ser encarados como aquilo que realmente são: tentativas de reprodução de passagens da vida de Jesus e frases suas. Essas reproduções jamais podem ser consideradas como sendo efetivamente as palavras que Cristo proferiu, não só por estarem naturalmente imiscuídas de opiniões e conceitos próprios de quem escreveu, mas também por terem sido elaboradas vários anos após a morte de Jesus, baseadas apenas em recordações do que aconteceu. O evangelho mais antigo, o de Marcos, data de aproximadamente 70 d.C.
O leitor certamente terá dificuldades em relatar com precisão o que fez de importante no mês passado ou mesmo há uma semana. Terá de fazer um esforço especial apenas para se lembrar do que almoçou no dia anterior. O que faz pensar que com os evangelistas deveria ter sido diferente? Por maior boa vontade que tivessem era-lhes impossível reproduzir com exatidão as palavras de Jesus, e em muitos casos até mesmo o sentido delas, baseados, como aconteceu, apenas em lembranças da memória.
Além disso, quando procuramos passar para o papel algo que vimos ou ouvimos, misturamos inconscientemente neste processo conceitos próprios. Se pedirmos para dez pessoas descreverem uma mesma paisagem teremos dez relatos diferentes, tanto na forma como no conteúdo. Uma delas dará mais ênfase à cor das flores, outra à altura das árvores, outra aos ruídos dos pássaros e insetos; poderá haver também uma narrativa com várias páginas e outra com um só parágrafo…
A mistura inconsciente de opiniões e estilos próprios pode ser observada em várias passagens bíblicas relacionadas à vida de Jesus na Terra. Os relatos dos evangelhos devem, portanto, sempre ser vistos sob essa ótica de cautela prévia, se quisermos de fato tirar algum proveito do que está ali escrito. Antes de mais nada não se pode tomar ao pé da letra as frases reproduzidas, já que elas têm um sentido eminentemente espiritual. A Bíblia toda, aliás, deve ser vista como um livro espiritual, e interpretada correspondentemente.
Em várias profecias sobre o Juízo Final aparece uma personagem estreitamente ligado a este acontecimento. Recebe várias denominações e é designado acertadamente como aquele que traz o Juízo, isto é, o Enviado de Deus cuja missão é desencadear o Julgamento. Este é o Filho do Homem.
Outras profecias acrescentam que, além da missão de estabelecer o Juízo Final, esse Enviado trará auxílio e salvação aos que procuram sinceramente. Também isso é correto, pois o Filho do Homem trouxe novamente a Palavra de Deus para a humanidade, da mesma forma como Jesus já fez outrora. E essa Palavra retifica todos os erros colocados por mãos humanas na Palavra de Jesus, abrindo assim à humanidade, novamente, a possibilidade de salvação. Pela última vez.
Referências claras sobre o Filho do Homem podem ser encontradas em várias passagens da Bíblia. Em Marcos 13.21-26, lê-se:
“Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito. Mas naqueles dias, após a referida tribulação, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. Então verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória.”
O surgimento de falsos profetas é um dos sinais da época do Filho do Homem. Observe-se que não está dito que passará a época dos falsos profetas e que depois virá o Filho do Homem, mas sim que ele virá exatamente na época desses falsos profetas. A designação “Cristo” também não é atribuída apenas a Jesus, o Filho de Deus, mas também ao Filho do Homem, pois ambos são enviados da Luz, provenientes de Deus-Pai. O nome “Cristo” significa simplesmente “ungido”. Não é um nome próprio.
Essa passagem do evangelho indica que a manifestação do Filho do Homem na época dos falsos profetas não terá nenhuma semelhança com estes. Ele não fará grandes sinais, procurando angariar adeptos, mas aquele que procurar com humildade e vontade séria encontrará a sua Palavra e com isso obterá para si, automaticamente, o reconhecimento de quem ele é e como se deu a sua missão. Contudo, isso acontecerá apenas àqueles que realmente buscarem a Verdade de toda sua alma. Os outros passarão pelo Filho do Homem sem reconhecê-lo, e seguirão confiantes os falsos profetas. Com passadas largas marcharão garbosamente rumo ao abismo, de onde jamais retornarão.
Em Mateus 24.42-44, podemos ler:
“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o nosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos: porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá.”
Por essas palavras vê-se que a vinda do Filho do Homem, contrariamente ao que é imaginado por muitos, se dará sem alarde. Aquele que merecer, encontrará a sua Palavra e o reconhecerá; porém, ele mesmo não irá atrás de ninguém. A indicação anterior de Marcos, de que ele virá “sobre nuvens com grande poder e glória” deve ser entendida, como aliás a maior parte das metáforas bíblicas, sob um significado espiritual.
A necessidade de se estar preparado para o Juízo Final é ainda mais clara na segunda epístola de Pedro (3.10):
“Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.”
Novamente, o “Dia do Senhor” deve aqui ser entendido de uma forma mais ampla, como o tempo do Juízo Final, isto é, os anos compreendidos entre o início e o fim do Juízo Final. O escritor Mario Coeli dá uma interpretação bastante adequada deste acontecimento em sua obra intitulada “As Quatro Babilônias – Visões Profético-Apocalípticas do Mundo e Sua História”, editada em 1930:
“Podemos afirmar que o Juízo de Deus sobre os homens, semelhantemente ao que se dá com qualquer tribunal humano para julgamento coletivo, não se realizará, é bem de ver-se, em um único e simples dia. Realizar-se-á, sim, durante um período de tempo humanamente longo – um dia profético – durante o qual se desenrolarão, como aliás já se vêm desenrolando desde muito, os espantosos, porém nunca sobrenaturais, acontecimentos históricos, telúricos e astronômicos.”
Muitas outras indicações a respeito do Filho do Homem e do Juízo Final podem ser extraídas da Bíblia, se corretamente interpretadas. Vamos examinar mais algumas:
Em Isaías 4.4 encontra-se uma indicação do Juízo pela atuação do Filho do Homem, chamado ali de Espírito de Justiça e Espírito Purificador:
“Quando o Senhor lavar a imundície dos filhos de Sião, e limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de Justiça e com o Espírito Purificador.”
Em Isaías 13.9, 13.13, 22.5 e 29.6 aparecem indicações claras sobre a época do Juízo Final, denominado “Dia do Senhor”, e sobre o Filho do Homem, designado de “Senhor dos Exércitos”:
“Eis que vem o Dia do Senhor, Dia cruel, com Ira e ardente furor, para converter a Terra em assolação, e dela destruir os pecadores. (…) Portanto, farei estremecer os céus; e a Terra será sacudida do seu lugar, por causa da Ira do Senhor dos Exércitos, e por causa do Dia do seu ardente furor. (…)
Porque Dia de alvoroço, de atropelamento e confusão é este da parte do Senhor, o Senhor dos Exércitos, no vale da visão: um derrubar de muros, e clamor que vai até aos montes. (…) Do Senhor dos Exércitos vem o castigo com trovões, com terremotos, grande estrondo, tufão de vento, tempestade e chamas devoradoras.”
Em Isaías 28.5-6, o Senhor dos Exércitos é chamado de Espírito de Justiça:
“Naquele dia o Senhor dos Exércitos será a coroa de glória e o formoso diadema para os restantes de seu povo; será o Espírito de Justiça para o que se assenta a julgar, e fortaleza para os que fazem recuar o assalto contra as portas.”
Em Isaías 59.19 o Filho do Homem é designado como Espírito do Senhor:
“Temerão, pois, o nome do Senhor desde o poente, e a sua glória desde o nascente do Sol; pois virá como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do Senhor.”
Em Isaías 63.10 o Filho do Homem é chamado de Espírito Santo. Essa é a designação mais conhecida dos cristãos, que já há muito têm conhecimento da Trindade divina, ou Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo:
“Mas eles foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.”
Mais uma passagem clara sobre o Juízo Final pode ser observada em Isaías 66.15-16:
“Porque, eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua Ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo, porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em Juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do Senhor.”
O Filho do Homem, como Rei da Criação, é anunciado por Daniel em 7.13-14:
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.”
O livro do Apocalipse na Bíblia trata exatamente do Juízo Final. No 1º capítulo, versículos 12 a 18, há uma descrição do Filho do Homem como Juiz. O subtítulo que abrange esse trecho da Bíblia, explicado por agremiações cristãs traz, todavia, erroneamente os dizeres: “A visão de Jesus glorificado”. Essa indicação já impede o reconhecimento daquele que é aí retratado, especialmente por parte de pessoas que não ousam pensar de modo diferente do que lhes é ensinado. Diz o citado trecho:
“Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a Filho do Homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz como voz de muitas águas.
Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o Sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém, ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas, eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mais eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno.”
A espada na boca do Filho do Homem significa a sua Palavra, a Palavra de Deus que traz o Juízo para a humanidade. Essa indicação da Palavra que julga é também muito clara em Apocalipse 19.19-21:
“E vi a besta e os reis da Terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo, e contra o seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta, e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”
Aquele “que está montado no cavalo” (Filho do Homem) julga o mundo através da “espada que sai de sua boca” (a Palavra). A Palavra que julga é, porém, ao mesmo tempo, a Palavra da Salvação, dependendo da maneira como o ser humano se coloca em relação à ela. Quem desejar viver segundo a Palavra, isto é, viver em conformidade com a Vontade de Deus, ou, o que vem a dar no mesmo, de acordo com as Leis da Criação, este encontrará a salvação através do próprio esforço em ascender espiritualmente. Os que recusarem a Palavra, último auxílio de Deus à humanidade, ou que se mostrarem indiferentes em relação a ela, condenam-se a si mesmos no Juízo.
O Juízo Final, desencadeado através do Filho do Homem, está nitidamente expresso em Apocalipse 14.14-16, na imagem de uma colheita:
“Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do Homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da Terra já secou. E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada.”
Uma outra visão do Filho do Homem e da Palavra que julga – a espada afiada que sai da boca – aparece em Apocalipse 19.11-16. Neste trecho o Filho do Homem é também designado como “Fiel e Verdadeiro”, “Rei dos Reis”, “Senhor dos Senhores”, “Verbo de Deus”:
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro.
Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro, e pessoalmente pisa o lagar do vinho do furor da Ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto, e na sua coxa, um nome inscrito: Rei Dos Reis e Senhor Dos Senhores.”
No evangelho de João, Jesus anuncia a vinda do Consolador, uma outra denominação para o Filho do Homem. Veremos que em várias passagens é muito nítida a sua indicação referente a um outro Enviado de Deus, e à Palavra que ele novamente traria à Terra. Em João 14.16-17, Jesus promete o Consolador, também chamado Espírito da Verdade:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.”
Em João 14.24-26, Jesus explica que o Consolador, o Filho do Homem, é o próprio Espírito Santo:
“Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; e a Palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou. Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
Jesus fala da ligação do Consolador com o Juízo Final em João 16.7-11. Nesse trecho também diz que retornará ao Pai e que o mundo não o verá mais:
“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do Juízo: do pecado porque não crêem em mim; da justiça, porque eu vou para o Pai, e não me vereis mais; do Juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.”
O sentido que transparece dessas palavras não deixa sustentar a tese, apregoada por algumas doutrinas cristãs de que o Consolador seria a efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos. A efusão do Espírito Santo não é, como muitos imaginam, a realização da missão do Consolador. O Consolador é o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, o segundo Filho de Deus-Pai, o Filho do Homem. Sua missão está ligada ao desencadeamento do Juízo Final, e a transmissão, pela última vez, da Palavra Sagrada a todos quantos se mostrarem dignos dela.
Em João 16.12-15, Jesus fala da Palavra que o Filho do Homem, o Espírito da Verdade, trará mais uma vez para a Terra:
“Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a Verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.”
O Espiritismo, erroneamente, atribui a si mesmo a missão do Consolador, anunciado por Jesus. No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 4, último parágrafo, está dito textualmente: “Assim o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz com que o homem saiba de onde vem, para onde vai e porque está na Terra; lembrança dos verdadeiros princípios da Lei de Deus e consolo pela fé e esperança.”
A designação “Espírito da Verdade”, que aparece no Evangelho de João, foi traduzida por “Espírito de Verdade” no Evangelho Segundo o Espiritismo. Sob essa alcunha estaria o próprio Espiritismo, como portador da missão do Consolador. Essas conceituações espíritas são errôneas, pois o Espírito da Verdade, o Consolador, é, exclusivamente, o Filho do Homem prometido por Jesus, o Espírito Santo da Trindade divina. E este atua exclusivamente na Vontade do Criador, seu Pai, pelo que não surgirá das fileiras de nenhuma agremiação filosófica ou religiosa, e tampouco fundará uma religião.
Ainda no item 4 do capítulo VI há, contudo, uma passagem da qual quase não se pode fazer uma retificação, tão verdadeira ela é, à exceção apenas da já mencionada designação “Espírito de Verdade”. Trata-se do primeiro parágrafo, reproduzido abaixo:
“Jesus promete outro Consolador: é o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido.”
A Palavra do Filho do Homem é una com a do Filho de Deus, Jesus. Nem poderia ser diferente, já que ambas provêm da mesma Fonte. A Palavra do Filho do Homem, porém, aparece numa forma adequada à época atual, complementando a Palavra de Jesus e eliminando todas as inserções puramente humanas nela aderidas e também as falsas concepções e interpretações até agora aceitas tão insensatamente. A Palavra do Filho do Homem corrige os erros inseridos pelo ser humano na outrora límpida Palavra do Filho de Deus.
Com esta correção, o ser humano tem novamente, pela última vez, a possibilidade de se reorientar no sentido da Vontade de Deus, e com isso poder salvar-se espiritualmente ainda em tempo, agora, na época do ajuste final de contas.
Vamos observar mais algumas passagens da doutrina espírita com referência a Jesus, ao Filho do Homem e ao Juízo Final. Em “A Gênese”, capítulo XVII, item 45, o Espiritismo tem novamente razão, quando alerta para a necessidade de precaução em relação às palavras efetivamente ditas por Jesus:
“Podemos vacilar, se nos lembrarmos que ele nada escreveu; que elas só foram escritas depois de sua morte; e, vendo o mesmo discurso quase sempre reproduzido em termos diferentes pelos evangelistas, supomos isso prova evidente de que elas não são as expressões textuais de Jesus. Demais, é provável que o sentido fosse muitas vezes alterado, passando por traduções sucessivas.”
Exatamente por isso, como já mencionado, é preciso ler os evangelhos, assim como toda a Bíblia – para quem o deseje – com os sentidos despertos, considerando-a como um livro essencialmente espiritual, e separando o que é verdadeiro daquilo que é apenas produto da fantasia humana e “ajustes” provenientes do intelecto.
A Bíblia não é um guia infalível; não é, como muitos supõem, a Palavra de Deus, e não trará libertação espiritual a ninguém que a considerar como tal. Ela apenas pode servir como fonte de algumas informações úteis e de auxílio quando criteriosamente filtrada de todos os erros de que está impregnada. O fato de ela ter sido traduzida para 1.120 línguas e dialetos, e apresentada como a única e verdadeira Palavra da Salvação, facilitará a milhões de almas indolentes em todo o mundo, incapazes de uma análise imparcial, perder o último lapso de tempo para se libertarem de falsas concepções religiosas e ascenderem espiritualmente.
Os próprios quatro evangelhos canônicos, que se acredita terem sido inspirados pelo Espírito Santo, não eram aceitos com tais no início da Igreja. Os pitorescos critérios utilizados na escolha dos quatro evangelhos foram relatados pelo bispo de Lyon, Irineu, que no século II da nosssa era escreveu:
“O evangelho é a coluna da Igreja, a Igreja está espalhada por todo o mundo, o mundo tem quatro regiões, e convém, portanto, que haja também quatro evangelhos. (…) O evangelho é o sopro do vento divino da vida para os homens, e pois, como há quatro ventos cardiais, daí a necessidade de quatro evangelhos. (…) O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins têm quatro formas, eis porque o Verbo nos obsequiou com quatro evangelhos.”
As versões sobre como se deu a separação entre os evangelhos canônicos e apócrifos, durante o Concílio de Nicéia no ano 325, são também singulares. Uma das versões diz que estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram por si só depositar-se no altar… Uma outra versão informa que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram no chão… Uma terceira versão afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba, através de uma vidraça (sem quebrá-la), e foi pousando no ombro direito de cada bispo, cochichando nos ouvidos deles os evangelhos que ele havia inspirado…
A Bíblia como um todo, aliás, não apresentou sempre a forma como é hoje conhecida. Vários textos, chamados hoje de “apócrifos”, em contraposição aos canônicos reconhecidos pela Igreja, figuravam anteriormente no Livro dos livros.
Maria Helena de Oliveira Tricca, compiladora da obra Apócrifos – Os Proscritos da Bíblia, diz:
“Muitos dos chamados textos apócrifos já fizeram parte da Bíblia, mas ao longo dos sucessivos concílios acabaram sendo eliminados. Houve os que depois viriam a ser beneficiados por uma reconsideração e tornariam a partilhar o Livro dos Livros. Exemplos: o Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão, o Eclesiástico ou Sirac, as Odes de Salomão, o Tobit ou Livro de Tobias, o Livro dos Macabeus e outros mais. A maioria ficou definitivamente fora, como o famoso Livro de Enoch, o Livro da Ascensão de Isaías e os Livros III e IV dos Macabeus.”
Existem mais de 60 evangelhos apócrifos, como os de Tomé, de Pedro, de Felipe, de Tiago, dos Hebreus, dos Nazarenos, dos Doze, dos Setenta, etc. Foi um bispo quem escolheu, no século IV, os 27 textos do atual Novo Testamento. Em relação ao Antigo Testamento, o problema só foi definitivamente resolvido no ano de 1546, durante o Concílio de Trento. Depois de muita controvérsia, acalorados debates e até luta física entre os participantes, o Concílio decretou que os livros 1 e 2 de Edras e a Oração de Manassés sairiam da Bíblia. Em compensação, alguns textos apócrifos foram incorporados aos livros canônicos, como o livro de Judite (acrescido em Ester), os livros do Dragão e do Cântico dos Três Santos Filhos (acrescidos em Daniel) e o livro de Baruque (contendo a Epístola de Jeremias).
Não é razoável supor que uma “palavra divina” possa ser alterada assim tão fácil e impunemente por mãos humanas. Que fique na dependência de ser julgada boa ou má por juízes e dignitários eclesiásticos.
Mas voltemos aos textos espíritas. O extrato a seguir, a respeito do Filho do Homem, aparece no item 38 do mesmo capítulo XVII de A Gênese (Predições do Evangelho): “Quando deve vir esse novo revelador? (…) Se, pois, o novo Messias viesse pouco tempo depois do Cristo, teria achado o terreno nas mesmas condições, e não houvera feito mais do que ele fez. Ora, desde o Cristo até os nossos dias, não se produziu nenhuma grande revelação que completasse o Evangelho e que elucidasse os pontos obscuros – indício certo de que o enviado ainda não apareceu.” Esse texto foi publicado por Allan Kardec em janeiro de 1868. Naquela época era válida a observação de que o Enviado ainda não havia aparecido, e que nenhuma grande revelação tinha surgido até então.
Hoje, porém, essas afirmativas não são mais verdadeiras. Pois o Filho do Homem esteve na Terra e nos legou a sua prometida Palavra. Se os adeptos do Espiritismo ainda não foram capazes de reconhecer, ele e sua Palavra, isso é assunto deles tão-somente, mas estarão espalhando um erro nefasto se prosseguirem afirmando que o Enviado de Deus e a sua Revelação ainda não chegaram.
No tópico seguinte (item 39) aparece inicialmente:
“Qual deve ser esse enviado? dizendo Jesus: ‘Pedirei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador’, indica claramente que não é ele mesmo; do contrário teria dito: ‘Voltarei para completar o que vos ensinei’.”
Esta interpretação está absolutamente correta. As palavras anunciam de modo claro a vinda do segundo Enviado. Porém, na continuação desse tópico e parte do seguinte (n.º 40), aparece o mesmo erro mencionado anteriormente, que procura atribuir ao Espiritismo a missão do Consolador: “Depois acrescenta: A fim de que ele fique eternamente convosco, e estará em vós. Isto não se pode entender de uma individualidade encarnada visto que não poderia ficar eternamente conosco, e ainda menos estar em nós, mas compreende-se muito bem de uma doutrina que, na realidade, quando assimilada, permanecerá eternamente conosco. (…) O Espiritismo encerra todas as condições do Consolador prometido por Jesus.”
Uma coisa não depende da outra. O Consolador, o Filho do Homem, esteve na Terra. Encarnou-se aqui e deixou para os seres humanos a Palavra da Verdade, tal como fora prometido por Jesus. Encontrar e reconhecer esta Palavra é dever de cada espírito humano desperto. E ela, a Palavra, permanecerá para sempre com aqueles que se dispuserem a orientar suas vidas de acordo com a Vontade de Deus, esclarecidas aos seres humanos pela Palavra.
O 1º parágrafo do item 41 traz um testemunho lógico e inatacável sobre a reencarnação:
“Jesus, dizendo aos seus apóstolos: ‘Outro virá mais tarde, que vos ensinará o que eu não vos posso dizer agora’, proclamava a necessidade da reencarnação. Como podiam esses homens aproveitar-se do ensino mais completo que devia ser dado ulteriormente; como poderiam estar mais aptos para compreender, se não tivessem de viver de novo?”
Já no subtítulo “Juízo Final”, item 66, 1º parágrafo, aparece uma concepção absolutamente deturpada sobre a necessidade do último Julgamento da humanidade: “Moralmente, o julgamento definitivo e sem apelo é inconciliável com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos apresenta constantemente como bom Pai, deixando sempre caminho aberto ao arrependimento e estando pronto a estender os braços ao filho pródigo. Se Jesus tivesse entendido o julgamento nesse sentido, desmentiria suas próprias palavras.”
Essa idéia errônea sobre a bondade do Criador é, infelizmente, muito difundida. Teve enorme aceitação, porque veio de encontro à indolência crescente dessa humanidade que, em sua inércia espiritual, já há muito passeia despreocupadamente pela estrada larga do comodismo.
A bondade e o Amor do Criador são imensos. Tão grandes, que Ele enviou Seu próprio Filho, Jesus, a esta Terra mergulhada na escuridão, para que através da Palavra por ele proclamada, a humanidade não precisasse se perder completamente quando chegasse a época do Juízo Final. Um ato cuja magnitude jamais poderá ser compreendida por nenhum ser humano, esteja ele na Terra ou em qualquer outro plano da Criação.
Mas assim como Deus é Amor, Ele também é a Justiça. Justiça perfeita, incorruptível. Justiça que se evidencia na Lei da Reciprocidade, que faz retornar a cada um aquilo que ele mesmo formou com a sua vontade. Se após todos os auxílios dados ao ser humano, durante centenas de milhares de anos, ele, mesmo assim, se decidir pela sua própria destruição, ele a terá, pois age como areia numa engrenagem cuidadosamente lubrificada, que tem de ser expelida para não danificar todo o mecanismo.
A sabedoria do Criador determinou um prazo muito longo para o amadurecimento do espírito humano. Esse prazo, de milhões de anos, terminou agora, e todos, sem exceção, poderiam estar plenamente maduros para retornar à sua Pátria, o Paraíso.
Quem não amadureceu nesse prazo foi porque não quis. Ele próprio não quis! Desprezou todos os auxílios e advertências da Luz, zombou dos profetas de tempos antigos, torceu as originalmente puras doutrinas dos Preparadores do Caminho, e não assimilou dentro de si as palavras de Jesus, o Salvador. Esses tais passarão pelos anos do Juízo Final surdos e cegos; sequer trarão ainda dentro de si o anseio pela Verdade, que teria de levá-los ao encontro da última possibilidade de salvação: a Palavra da Verdade do Filho do Homem, que veio à Terra para o Juízo.
Uma eternidade não bastaria para que eles se decidissem pelo caminho do bem. São frutos podres, que têm de perecer para não contaminar os outros frutos que ainda podem e querem permanecer sadios.
Vamos verificar agora algumas passagens dos textos apócrifos mencionados anteriormente, que foram retirados da Bíblia. Os trechos a seguir, extraídos do apócrifo “O Livro da Ascensão de Isaías”, dizem respeito ao Filho do Homem:
“Pois nos últimos tempos o Senhor descerá ao mundo e será chamado o Cristo, quando descer e vir a vossa forma; e se fará carne e será um homem.”
(IX.13)
“E então a voz do Bem-Amado rejeitará com violência este céu e esta terra; as montanhas e as colinas, as árvores e os desertos, e o setentrião e o anjo do Sol, e a Lua e todos os objetos deste mundo, testemunhas do poder e da manifestação de Belial. E todos os homens ressuscitarão e serão julgados nestes dias. E o Bem-Amado fará sair um fogo devorador que consumirá todos os maus, e estes serão como se nunca tivessem sido.”
(IV.18)
O termo “ressuscitar” significa aqui “despertar”. Os seres humanos que dormem espiritualmente acordarão realmente no Juízo, aqui na Terra ou no além, e terão consciência da culpa com que se sobrecarregaram, antes de serem aniquilados. Mais um trecho desse livro:
“E dará a paz e o descanso àqueles que encontrar com vida na Terra, aos zelosos servidores de Deus, e o Sol se tingirá de vermelho.” (IV.14)
Aqueles que o Filho do Homem “encontrar com vida na Terra” significa os que estarão vivos espiritualmente. A época do Filho do Homem é aquela em que os vivos andarão entre os mortos (condenados). Vivos espiritualmente e mortos espiritualmente, pois outros não há.
O texto a seguir foi transcrito do livro de Norman Cohn, intitulado “Cosmos, Caos e o Mundo que Virá”, e se refere a passagens do apócrifo “O Livro de Enoch”. Observa-se que é muito nítida a imagem de um Julgamento levado a efeito pelo Filho do Homem:
“Este chegará quando um número predeterminado de eleitos for alcançado. Então, o Senhor dos Espíritos tomará seu lugar no trono da glória, circundado pelas hostes angélicas e pela assembléia de anjos. Os ‘livros dos livros’ – os registros das boas e más ações de cada indivíduo – serão abertos e haverá o Julgamento. Esta será a tarefa do Filho do Homem: sentado, como o Senhor dos Espíritos, em um trono de glória, ele pronunciará as sentenças sobre os vivos e os mortos. (…)
Por meio de seus julgamentos, o Filho do Homem realizará uma purificação da Terra. Não só os pecadores humanos, mas também os anjos decaídos, ‘aqueles que desencaminharam o mundo’, serão afastados de uma vez por todas – ‘e todas as suas obras serão eliminadas da face da Terra’. Todo o mal desaparecerá, vencido pela força do Messias entronizado – ‘e a partir de então não haverá nada sujeito à corrupção’. Por fim, o Senhor dos Espíritos transformará o céu e a Terra em ‘uma luz e uma bênção eternas’. (…)
O Filho do Homem viverá no meio deles, e com ele os justos irão morar, comer, dormir e se levantar, para todo o sempre. Eles próprios serão transformados. O Senhor dos Espíritos lhes proporcionará ‘as vestimentas da vida’, de modo que se tornem semelhantes a anjos. E serão imortais: ‘os escolhidos [permanecerão] na luz da vida eterna; e não haverá fim para os dias de sua vida.”
Vamos examinar mais algumas passagens elucidativas de O Livro de Enoch em relação ao Juízo Final e ao Filho do Homem, chamado também de “Escolhido” e “Eleito”. Os trechos reproduzidos abaixo mostram nitidamente demais o acontecimento do Juízo Final e a atuação do Juiz, o Filho do Homem. Por que será que este livro não está na Bíblia?…
“As mais altas montanhas hão de tremer e os picos mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo. A Terra será desmantelada e tudo que sobre ela existe será supresso; e tudo será submetido a Julgamento.” (I.4)
“Em verdade! Ele virá com milhares de santos, para exercer o Julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.” (I.6)
“Então, naquele tempo, os reis e os poderosos serão aniquilados e entregues nas mãos dos justos e dos santos. A partir daquele momento, nenhum deles poderá pedir perdão ao Senhor dos Espíritos, pois a sua vida terá chegado ao fim.” (XXXVIII.4)
“Lá eu vi aquele que possui uma cabeça de ancião, e essa era branca como a lã; e junto dele havia um outro, cujo aspecto era de um homem, o seu rosto era cheio de graça, semelhante ao de um anjo santo. Perguntei ao anjo que me acompanhava, e que me revelava todos os segredos, quem era aquele Filho do Homem, de onde procedia, e por que estava com aquele que tem uma cabeça grisalha. Deu-me como resposta: ‘Este é o Filho do Homem, o detentor da Justiça, que com ela mora e que revela todos os tesouros secretos, pois Ele foi escolhido pelo Senhor dos Espíritos, e o seu destino excede a tudo em retidão diante do Senhor dos Espíritos, por toda a eternidade.’ (…)” (XLVI.1-2)
“Ele será um bordão para os justos, para que n'Ele possam apoiar-se e não cair; Ele será a luz dos povos e a esperança dos aflitos.(…) Para esse propósito Ele foi escolhido e mantido oculto junto d'Ele, antes que o mundo fosse criado; e Ele será para todo o sempre. E a sabedoria do Senhor dos Espíritos revelou-O aos santos e aos justos. (…)” (XLVIII.3-4)
“Naqueles dias, os reis da Terra e os poderosos que possuem a Terra ficarão com o semblante abatido por causa das obras das suas mãos; no dia da angústia e privação não poderão salvar a alma. Eu os entregarei então nas mãos do meu Escolhido; eles arderão como palha ao fogo na presença dos justos e submergirão como chumbo na água diante dos santos, e não se encontrará mais sinal deles. No dia da sua tribulação estabelecer-se-á a paz sobre a Terra; cairão na presença deles e não mais poderão levantar-se. Ninguém então se apresentará para tomá-los pela mão e reerguê-los, porque eles negaram o Senhor dos Espíritos e o seu Ungido. (…)” (XLVIII.5-6-7)
“Pois a sabedoria derramou-se como água, e a sua glória não cessará por toda a eternidade. Pois Ele é poderoso em todos os mistérios da Justiça; e a injustiça desaparecerá como uma sombra e não mais subsistirá. O Eleito está diante do Senhor dos Espíritos, e a sua glória permanece de eternidade em eternidade e o seu poder de geração em geração. Ele porá à luz as coisas ocultas, e diante dele ninguém poderá apresentar uma mentira, pois Ele está diante do Senhor dos Espíritos, escolhido por seu beneplácito. Ele é justo no seu Julgamento, e diante da sua glória nenhuma iniquidade subsiste.” (XLIX.1-3, L.4)
“Naqueles dias, o Eleito sentar-se-á sobre o seu trono, e de sua boca emanarão todos os segredos da sabedoria e do conselho; pois isto lhe é outorgado pelo Senhor dos Espíritos, que também o exalta.” (LI.2)
“Naqueles dias, instaurar-se-á o castigo do Senhor dos Espíritos, e Ele abrirá todos os reservatórios de água que estão no alto dos céus, e todos os poços que estão debaixo da terra. E estes [os habitantes da Terra], após reconhecerem que praticaram a iniquidade sobre a Terra, serão aniquilados por causa dessa mesma iniquidade.” (LIV.5-7)
“Mas quando se aproximar o Dia da força, do Julgamento e do castigo, o Dia preparado pelo Senhor dos Espíritos para aqueles que não reconhecem a Justiça da Lei, mas antes a renegam e abusam do seu santo nome, então estará preparado esse Dia; e esse Dia será uma dádiva para os escolhidos, mas uma desgraça para os pecadores.” (LX.5)
“Ele assentou-se sobre o trono da sua glória; então foi confiado a Ele, o Filho do Homem, a condução do Julgamento, e fez com que desaparecessem da Terra os pecadores e os perversos do mundo. Eles serão postos em grilhões e encerrados no lugar comum da sua destruição; todas as suas obras desaparecerão da Terra. De agora em diante, o corruptível deixará de existir, pois aquele Filho do Homem apareceu e assentou-se sobre o trono da sua glória, e diante da sua face todo o mal se dissipa e desaparece. E a voz daquele Filho do Homem se fará ouvir e será poderosa diante do Senhor dos Espíritos.” (LXIX.15-16)
“Então o ancião veio, com Michael, Gabriel, Phanuel e mil vezes mil e dez mil vezes dez mil anjos, em número incontável. Ele aproximou-se de mim, saudou-me com sua voz e falou-me: ‘Este é o Filho do Homem, que haverá de nascer para a Justiça. A Justiça habita n'Ele, e a Justiça do ancião não o abandona. (…)
Todos os que andam nos seus caminhos – pois a Justiça nunca mais os abandonará – terão n'Ele a sua morada e sua herança, e d'Ele nunca mais se afastarão por toda a eternidade. E, assim, encontrar-se-á vida perene junto ao Filho do Homem, e os justos então gozarão paz e caminharão pelas veredas retas, para todo o sempre.’ ” (LXXI.7-9)
“Mas quando em todos os atos aumentarem o pecado, a injustiça, a blasfêmia e a violência, e quando crescerem a apostasia, a prepotência e a contaminação, então sobrevirá na Terra um grande castigo do céu, e o Senhor aparecerá com ira e indignação, para realizar o Julgamento da Terra. Naqueles dias, a prepotência será extirpada, e serão cortadas as raízes da injustiça e da fraude, sendo então eliminadas da face da Terra.” (XCI.4)
“Com o fim deles [os pecadores], os justos herdarão moradas, graças à sua retidão, e será erigida uma grande casa para o Rei excelso na sua glória, para sempre. Depois, na nona semana, será conhecido o Julgamento justo, e todas as obras dos ímpios desaparecerão da Terra; o mundo dos maus será atirado à ruína, e os homens todos haverão de buscar o caminho da retidão.” (XCI.7)
“Ai daqueles que constroem as suas casas sobre pecados! Pois serão arrancados dos seus fundamentos e perecerão pela espada; e aqueles que se apóiam no ouro e na prata serão instantaneamente reduzidos a nada no Julgamento.” (XCIV.4)
“Ai de vós que praticastes o mal contra o vosso próximo. Ser-vos-á dada a paga segundo vossas obras. Ai de vós, línguas mentirosas, e ai daqueles que se atreveram a praticar a injustiça! Pois num instante chega a desgraça.” (XCV.3)
“Por faltar-lhes o conhecimento e a sabedoria perecerão com todos os seus tesouros, magnificência e honras, pelo assassinato e no opróbrio, e serão lançados na maior miséria em fornalha ardente. Juro-vos, pecadores: Assim como nenhuma montanha foi ou será um escravo, e assim como nenhuma colina se converterá em escrava de uma mulher, da mesma forma o pecado não foi enviado a esta Terra, mas sim foi obra dos homens por si mesmos; e grande condenação atraem sobre si os que o cometem.” (XCVIII.)
“Ai de vós, pecadores, ao morrerdes na plenitude dos vossos pecados, enquanto os vossos cúmplices dizem: ‘Felizes são os pecadores, viveram bem todos os dias de suas vidas. Morreram na felicidade e na riqueza; não conheceram na sua vida nem aflição nem derramamento de sangue; morreram honrados, e nenhum julgamento aconteceu contra eles ao longo a sua vida.’ Então não sabeis que as suas almas foram mandadas ao mundo inferior para, então, serem presas de grande aflição? O vosso espírito será entregue às trevas, aos grilhões e às chamas do fogo, no Dia em que se verificar o grande Julgamento. Ai de vós! Não conhecereis a paz.” (CIII.3-4)
“Abandonai a impiedade do vosso coração! Não mintais! Não deturpeis as palavras da Verdade, não desvirtueis com mentiras as palavras do Santo e Altíssimo! Afastai-vos da adoração dos vossos ídolos! Pois todas as vossas falsidades e apostasias não conduzem de forma alguma à retidão, mas sim a um grande pecado.” (CIX.5)
“Aguardai tão-somente; virá o tempo do completo desaparecimento do pecado! Os nomes dos pecadores serão apagados do Livro da Vida e dos livros santos, ficando seus descendentes para sempre eliminados. Seus espíritos serão derrubados por terra. Gritarão e imprecarão num lugar imenso e deserto, ardendo no fogo; e isso não terá fim.” (CVIII.2)
O “Apocalipse de Baruch” é outro texto apócrifo que faz menção explícita ao Juízo Final e ao Juiz. Abaixo seguem alguns trechos selecionados:
“Mas preparai os vossos corações e semeai neles os frutos da Lei, para estardes protegidos no tempo em que o Todo-Poderoso haverá de abalar toda a Criação.” (XXXIII)
“Eis que é chegado o momento da tribulação. Ela virá e o seu ímpeto será avassalador; ela propagará o desespero em meio a constantes ataques de ira. Naqueles dias, todos os habitantes da Terra revoltar-se-ão uns contra os outros, pois não saberão que é chegada a hora do meu Julgamento. Naqueles dias será pequeno o número dos sábios, e poucas serão as pessoas conscientes do que se passará. (…)
As paixões acometerão os pacíficos e muitos serão arrebatados pela cólera e ferirão muitos. Exércitos incitar-se-ão ao derramamento de sangue e finalmente todos conjuntamente perecerão. A mudança dos tempos será, naqueles dias, clara e patente para todos, porque nos dias passados encheram-se de contaminação, praticaram a fraude, seguindo cada um os seus caminhos, relegando ao esquecimento a Lei do Todo-Poderoso. Por isso, as chamas devorarão os seus intentos; os seus pensamentos secretos serão provados pelo fogo. O Julgador virá, e Ele não hesitará.” (XCVIII)
“Dias virão em que os tempos estarão maduros: próxima estará a colheita da boa e da má semeadura. Então o Todo-Poderoso espalhará a confusão da mente e as angústias do coração sobre a Terra, sobre os seus habitantes e os seus príncipes. Então eles se odiarão mutuamente e armar-se-ão uns contra os outros para a guerra; os que estiverem em inferioridade intrometer-se-ão com os próceres e os exíguos considerar-se-ão iguais aos potentados.” (CXX)
“O Altíssimo apressará os seus tempos; os seus tempos estão próximos. Com certeza, Ele julgará os habitantes do seu mundo, e a todos provará em verdade, segundo as obras de cada um, mesmo as mais secretas. (…)
O fim dos mundos desvelará o grande poder d'Aquele que os governa, pois tudo será levado a julgamento. (…) O que hoje é saúde converter-se-á em doença, o que agora é vigoroso, será frágil. O que agora é força, será fraqueza. E todo o vigor da juventude se transformará em debilidade senil e em morte. E toda a admirável beleza de hoje será flacidez e feiúra. O poder arrogante tornar-se-á humilhação e vergonha. Toda a celebridade orgulhosa de hoje converter-se-á em opróbrio e olvido. Toda a vanglória e toda a pompa de hoje serão ruína e mudez. O que agora é gosto e delícia será roedura de traças, e nada mais. Toda a ruidosa gabolice de hoje converter-se-á em poeira e silêncio.”
“A juventude do mundo já passou, a plenitude das energias da Criação há muito chegou ao fim; a vinda dos tempos últimos está quase presente, e quase já passou. Pois o cântaro está próximo da fonte, o navio próximo do porto, a caravana próxima da cidade, a vida próxima do fim. Preparai-vos, para que possais estar tranquilos quando fordes embarcados no navio, para não serdes sentenciados depois de partir! Porque quando o Altíssimo tudo isso tornar realidade, não haverá nova oportunidade de arrependimento, nem um novo fim dos tempos, nem duração das horas, nem mudanças de caminho, nem ocasião para orações ou para súplicas, nem busca do entendimento, nem doação por amor, nem mais ocasião de compunção da alma, nem a intercessão pelos pecados, nem a interpelação dos patriarcas, nem as lamentações dos profetas, nem o auxílio dos justos.”
“Depois que no mundo Ele tiver tudo submetido a si, e em paz duradoura se assentar sobre o seu trono real, instalar-se-á o bem-estar e sobrevirá a paz. Então, como o orvalho, descerá a saúde e as doenças se afastarão. E na vida dos homens desaparecerão as preocupações, os suspiros e as tribulações; a alegria se estenderá sobre toda a Terra. Ninguém morrerá antes do seu tempo e nenhuma adversidade ocorrerá repentinamente. Litígios, queixas, desavenças, atos de vingança, derramamentos de sangue, cobiça, inveja, ódio e coisas semelhantes, dignas de condenação, tudo será extirpado por completo. Pois foram essas coisas que encheram o mundo de maldades, e por causa delas é que sobreveio toda a desordem na vida dos homens.”
Os assim chamados Manuscritos do Mar Morto, encontrados em 1947 e cuja autoria se atribui aos essênios, traz pelo menos duas passagens sobre o Juízo Final e sobre o Filho do Homem:
“Mas Deus, em Seus mistérios de inteligência e em Sua gloriosa sabedoria, pôs um termo à existência da perversidade; e no momento da visita Ele a exterminará para sempre. E a Verdade se instalará permanentemente no mundo; pois (o mundo) se enlameou nos caminhos da impiedade, sob o domínio da perversidade até o momento do Julgamento decisivo.”
(Regra, IV, 18-20)
A frase “… e a Verdade se instalará permanentemente no mundo” significa a Palavra da Verdade trazida pelo Filho do Homem. No segundo trecho, o Filho do Homem é chamado de “Mestre da Justiça”:
“E o bastão (o Legislador) é o pesquisador da Lei… E os nobres do povo são aqueles que vêm para cavar o poço por meio dos preceitos que foram promulgados pelo Legislador, para que neles caminhassem todo o tempo da impiedade… até a chegada do Mestre da Justiça no final dos dias.”
(Escrito de Damasco, A, VI, 7-11)
Maria Helena de Oliveira Tricca diz que os essênios falam muito da luta entre os filhos da luz e os filhos das trevas, e que no final dos tempos a luz triunfará.
O livro hindu “Vishnu Purana”, de uma época anterior à Bíblia, traz um trecho de onde se depreende nitidamente, em meio a várias alegorias, o fato principal do mal imiscuído no mundo, e da chegada de um Emissário (Filho do Homem) que restabelecerá a Justiça e dará início a uma era de paz:
“Quando as práticas recomendadas pelos Vedas e as instituições da lei tiverem quase cessado, e o término da idade de Kali (1) esteja muito próximo, uma porção do ser divino que existe na própria natureza espiritual sob o aspecto de Brahma, que é o começo e o fim, e que abrange todas as coisas, descerá à Terra, (…) e se apresentará sob a forma de Kalki, dotado das oito faculdades sobrenaturais.
Destruirá, por seu poder irresistível, todos os salteadores e os Mlechehhas, e todos aqueles cujo espírito esteja devotado à iniquidade. Restabelecerá a Justiça sobre a Terra, e os espíritos daqueles que vivem no fim da idade de Kali serão despertados e por tal maneira se tornarão transparentes, como o cristal. Os homens que assim forem transformados, pela virtude desta época particular, serão como as sementes dos seres humanos, e darão nascimento a uma raça que seguirá as leis da idade Krita ou da pureza…”
No Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, há várias suratas que tratam do Juízo Final. Abaixo, versículos selecionados de algumas delas:
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Quando acontecer o evento inevitável,
– ninguém poderá negar o seu advento –,
Degradante (para uns) e exultante (para outros).
Quando a terra for sacudida violentamente,
E as montanhas forem desintegradas em átomos,
Convertidas em corpúsculos dispersos,
Então, sereis divididos em três grupos.
O dos que estiverem à direita – E quem são os que estão à direita?
O dos que estiverem à esquerda – E quem são os que estão à esquerda?
E o dos primeiros (crentes) – E quem são os primeiros (crentes)?
Estes serão os mais próximos de Deus,
Nos jardins do prazer.
(Haverá) uma multidão pertencente ao primeiro grupo.
E poucos, pertencentes ao último.”
“Porém, quando soar um só toque de trombeta,
E a terra e as montanhas forem desintegradas e trituradas de um só golpe,
Nesse dia, acontecerá o evento inevitável.
E o céu se fenderá, e estará frágil;
E os anjos estarão perfilados e, oito deles, nesse dia, carregarão o Trono do teu Senhor.
Nesse dia sereis apresentados (ante Ele), e nenhum dos vossos segredos (Lhe) será ocultado.”
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Quando a Terra for fendida,
Quando os astros forem dispersos,
Quando os mares transbordarem,
Quando as sepulturas forem revolvidas,
Cada alma saberá o que tiver feito ou deixado de fazer.
Ó homem, o que te engana a respeito de teu generoso Senhor,
Que te criou, te formou, te aperfeiçoou,
E te deu as feições que escolheu?
Apesar disso, desacreditas no Dia do Julgamento.”
“Quando a Terra for fortemente abalada,
Quando a Terra descarregar seus fardos,
Quando o homem perguntar: ‘Que ocorre com ela?’
Naquele dia, ela contará sua história.
Por inspiração de teu Senhor.
Naquele dia, os homens comparecerão, debandados, para ver suas obras.”
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
A Calamidade!
Que é Calamidade?
Que te dirá o que é a Calamidade?
Nesse dia, os homens serão como borboletas dispersas
E as montanhas, como lã cardada.”
Muitos outros escritos antigos fazem alusão ao Juízo Final e à vinda do Filho do Homem, porém são repletos de alegorias e metáforas, o que dificulta a interpretação correta. O cântico milenarista a seguir (extraído da obra Mil Anos de Felicidade, de Jean Delumeau), datado do ano de 1419, constitui uma exceção pela sua clareza:
Vigia, chama sem descanso,
Tu que conheces a Verdade,
Monta a guarda. (…)
Toma o vinho, a água, o pão.
Pois se aproxima tua hora,
E deles terá necessidade. (…)
Anuncia o Dia em que virá teu Senhor,
Anuncia seu grande poder.
Em breve ele descerá à Terra,
E te ordenará que retornes à tua casa. (…)
A Verdade governará,
A mentira será vencida eternamente.
Homem, presta bem atenção,
Guarda isto na memória.
No século XIII circulou um documento escatológico chamado “Reformation Kaiser Sigmunds” (Reforma do Imperador Sigismundo), que anunciava a vinda nos últimos dias de um rei-sacerdote de origem germânica. Ele seria chamado de “Lux Mundi” (Luz do Mundo) e “secundus David” (novo David).
Vamos examinar outros relatos a respeito do Filho do Homem e do Juízo Final. Os hopis são uma nação indígena orgulhosa e pacífica que vive ao norte do Estado americano do Arizona. O mito hopi faz menção tanto à época do Juízo como à figura do Filho do Homem. Ele engloba um ciclo da Criação que vai do início da nação hopi até o “tempo da grande purificação”, quando o “Grande Espírito retornará”. Abaixo seguem algumas palavras elucidativas de um ancião hopi, extraídas do livro O Fim dos Tempos, de Jaman:
“A profecia afirma que se aproxima um tempo de muita destruição. Este é o tempo. (…)
Seja qual for a forma assumida pela terceira grande purificação, as profecias afirmam que ocorrerão vários sinais: as árvores começarão a morrer por toda a parte; lugares frios se tornarão quentes e lugares quentes se tornarão frios; terra afundando nos oceanos e o mar invadindo os litorais; e o surgimento de uma Estrela Azul.” (2)
A doutrina de um dos Preparadores do Caminho, Zoroaster ou Zoroastro, conserva até hoje alguns fragmentos a respeito do Juízo Final e do Filho do Homem, denominado “Saoshyant”. No Dicionário de Religiões de John R. Hinnells encontra-se o seguinte trecho sobre o assunto:
“Os zoroastrianos não procuram ‘o fim do mundo’. Em vez disso esperam o tempo em que ele será limpo de toda impureza desnatural com que o mal o tem afligido. (…)
Na teologia escolástica dos livros pálavi, a história do mundo se divide em quatro períodos, cada um de 3.000 anos, o último dos quais, segundo se acredita, começou em Zoroastro (isto é, o tempo presente está ‘nos últimos dias’). O Zoroastrismo espera, tradicionalmente, a vinda de um Salvador (Saoshyant; em pálavi Soshyant), que nascerá de uma virgem fecundada pelo sêmen do profeta Zoroastro, erguerá os mortos dos túmulos e promoverá o Julgamento Universal.”
A passagem sobre “a virgem fecundada pelo sêmen do profeta” é, evidentemente, mais uma das invenções humanas. Contudo, o conceito do Juízo Final e do Juiz que o instituirá é bastante claro.
O livro Zoroaster, publicado pela editora Ordem do Graal na Terra, traz um esclarecimento muito mais nítido sobre o Juízo Final e o Saoshyant, o Filho do Homem:
“Virá o dia em que o Saoshyant chegará do céu. Virá como criancinha e será o Filho do Supremo Deus. Crescerá e aprenderá os caminhos dos seres humanos. Ele lhes trará a Luz do Reino do seu Pai, para que reencontrem o caminho para cima. Ele cuidará deles, como o pastor de seu rebanho. Depois virá o último dia: o Juízo. Grande será o Saoshyant; não será mais um homem, mas sim, somente Deus. Os seres humanos terão medo, porque praticaram o mal. O Juiz Universal, porém, julgá-los-á conforme suas obras. Terão que transpor a ponte. Quem houver sido mau cairá e nunca mais voltará. Mas aqueles que transpuserem a ponte entrarão no Reino Eterno do Saoshyant.”
Não há de fato o que comentar sobre essa passagem, tão clara ela é. Mencione-se apenas que o conceito de “atravessar a ponte”, equivalendo a “passar pelo Juízo”, aparece também no Islamismo. No Dicionário das Religiões de John R. Hinnells aparece o seguinte trecho sobre o verbete “Qiyama”:
“A ressurreição no Islamismo, seguida do Juízo Final. (…) As almas julgadas cruzam uma ponte estreita, que se estende sobre o inferno; os pecadores cairão nas profundezas, mas os salvos entrarão no Paraíso.”
No livro Revelações Inéditas da História do Brasil, a autora Roselis von Sass apresenta um panorama muito detalhado das crenças dos antigos povos indígenas do Brasil:
“Todos os antigos povos do Brasil veneravam um Ser Supremo: Deus. Os Tupis e Guaranis, que tinham apesar de várias diferenças uma doutrina uniforme de fé, denominavam esse Supremo Ser: ‘Nyanderuvusu’. Além de Deus eles veneravam também uma ‘Mãe Primária’ ou ‘Mãe Universal’ e seus filhos gêmeos, ‘Nyanderykey’ e ‘Tyvyry’! (Filho do Homem e Filho de Deus).”
Mais adiante a autora cita uma passagem do livro “A Mitologia Heróica de Tribos Indígenas do Brasil” de Egon Schaden, e dá novos esclarecimentos:
“No que se refere ao Juiz, Salvador, Herói (Filho do Homem), que matou o dragão, está descrito no livro de Egon Schaden como ‘herói civilizador mítico’ ou como ‘herói civilizador’, cuja vinda estará ligada a graves catástrofes da natureza… Existem no livro dele várias indicações, embora muito obscurecidas, a respeito do Juiz… Num capítulo, onde se faz menção da vida religiosa de uma tribo guarani, podemos ler o seguinte: ‘Quando Nyanderuvusu resolver a destruição da Terra, caberá a Nyanderykey retirar a cruz de madeira que a suporta. E a Terra desabará…’
O texto correto, conhecido pelos Guaranis, dizia o seguinte: ‘Quando Nyanderykey, o Salvador e Herói, vier como Juiz para as criaturas humanas, ele ordenará aos seus servos que derrubem a cruz de madeira, queimando-a. Pois a cruz de madeira foi implantada na Terra por Anyay (Lúcifer) como sinal de seu domínio na Terra…’. ”
Jakob Lorber (1800-1864), que foi também um Preparador do Caminho para o Portador da Verdade, o Filho do Homem, escreveu vinte e cinco livros, nos quais aparece a seguinte frase (cerca de trinta citações):
“O Juízo Final terá lugar por volta dos anos 2000.”
Na verdade, o que acontecerá “por volta dos anos 2000” (o plural pressupõe anos após essa data), será o término propriamente dito do Juízo Final, e não o seu desencadeamento, que já se deu há várias décadas. Por isso, até essa época do fechamento definitivo deste gigantesco acontecimento estaremos vivendo os últimos anos do Juízo Final, que se encontra assim em plena efetivação. Abaixo, mais algumas passagens significativas da obra de Jacob Lorber:
“Acidentes, doenças e catástrofes naturais precederão a grande destruição, e serão as últimas tentativas de salvação do que pode ser salvo. (…)
O desenvolvimento dos acontecimentos não se dará de maneira abrupta e de uma só vez, mas sim gradativamente, como o verão transforma-se em outono e o outono em inverno. (…)
Em muitas regiões o mar engolirá a costa e os homens ficarão apavorados, pensando nos desastres que ainda assolarão a Terra. (…) Muitos sinais nos céus e muitos videntes e profetas avisarão os seres humanos, mas poucos ligarão.”