Muitas antigas profecias falam de um emissário de Deus que viria depois de Jesus Cristo. Nos Evangelhos, Jesus denomina este Emissário de “Filho do Homem”. Os evangelistas, porém, que escreveram sobre as palavras de Jesus muito tempo depois de sua morte, supuseram que ele aludia a si mesmo com suas referências ao Filho do Homem, e simplesmente reproduziram essa expressão em certas passagens da sua vida. Isso foi um erro, pois Jesus sempre se referiu a si mesmo unicamente como Filho de Deus, e com a designação Filho do Homem indicava um outro emissário. Nas epístolas do apóstolo Paulo, escritas muito antes do primeiro Evangelho (várias décadas), situadas portanto muito mais próximas da época de Jesus e menos sujeitas a falhas, não há nenhuma menção a Jesus como Filho do Homem, mas tão-somente como Filho de Deus (cf. Rm1:4; 2Co1:19; Gl2:20; Ef4:13).
Essa confusão foi repassada à posteridade pelos evangelistas, e pode ser facilmente reconhecida em algumas passagens dos Evangelhos. Numa delas, no Evangelho de Lucas, Jesus teria dito que os discípulos “haveriam de comer e beber à minha mesa, no meu Reino” (mesa e Reino de Jesus), quando então se “sentariam em tronos” (cf. Lc22:29,30). A correspondente passagem no Evangelho de Mateus, porém, fala que isso acontecerá quando “o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória” (cf. Mt19:28). Numa outra situação, ocorre o inverso: Mateus reproduz uma sentença de Jesus e Lucas a liga com o Filho do Homem. As frases são as seguintes:
“Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim.”
(Mt5:11)
“Felizes sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem.”
(Lc6:22)
Não é por acaso que Jesus sempre aludia ao Filho do Homem na terceira pessoa do singular. Bem diferente da sua defesa, na primeira pessoa, em relação à acusação de blasfêmia, quando disse textualmente diante dos judeus: “Afirmei que sou o Filho de Deus” (Jo10:36). Em nenhuma situação um interlocutor de Jesus se dirige a ele como “Filho do Homem”, e os próprios evangelistas também jamais o denominam assim. A expressão sempre parte de Jesus, e sempre na terceira pessoa.
Mesmo no Antigo Testamento há indícios bastante claros sobre a existência dos dois Filhos do Altíssimo, segundo o tipo de profecia que anunciava a vinda à Terra de cada um deles. Por exemplo: a anunciação sobre “aquele que vem” existente em Sl118:26 refere-se indubitavelmente a Jesus, já que ele próprio citou esse salmo na sua explicação aos discípulos sobre a parábola dos trabalhadores na vinha, com a menção à “pedra angular rejeitada pelos construtores” (cf. Sl118:22; Mt21:42), que era ele próprio. João Batista disse que não seria digno sequer de desatar o cadarço das sandálias “daquele que vem” (cf. Jo1:27). Os discípulos do Batista também perguntaram a Jesus se ele era de fato o esperado “aquele que vem”: “És tu aquele que vem ou devemos esperar um outro?” (Mt11:3; Lc7:19), enquanto que Marta expressou textualmente sua convicção a respeito: “Sim, senhor, respondeu ela, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que vem ao mundo” (Jo11:27). Jesus também aludia a si mesmo quando pronunciou aquela conhecida passagem da profecia de Isaías diante do povo de Betsaida, no pequeno templo desse povoado: “Ele não quebrará a cana rachada, nem apagará o pavio que ainda arde fracamente. Em verdade ele ensinará e implantará o que é certo.” (Is42:3).
Por outro lado, a profecia sobre o Filho do Homem existente no livro de Daniel é, nas palavras transmitidas pelo anjo Gabriel, uma “visão relacionada ao tempo do fim” (Dn8:17), referindo-se, por conseguinte, a um segundo enviado que viria após Jesus Cristo (cf. Dn7:13,14). Naquela visão, o Filho do Homem diz a Daniel que anunciaria a ele “o que está escrito no Livro da Verdade” (Dn10:21). Essa declaração mostra existir uma estreita correlação entre o Filho do Homem e esse anunciado Livro da Verdade. Este livro é o mesmo que o profeta Isaías, que escreveu bastante sobre o tempo do fim, chama de o “livro selado” (Is29:11).
Em todos os textos proféticos do Antigo Testamento sempre aparecem anunciações da vinda de um Juiz divino na consumação dos tempos, e nunca de uma segunda vinda do Messias e Salvador Jesus, com uma missão diferente da primeira.
Uma referência conjunta aos dois Filhos do Altíssimo aparece no livro de Zacarias, no esclarecimento do sonho que o profeta havia tido. Um anjo lhe explica que a imagem dos dois ramos que vertem azeite dourado por dois bicos de ouro, um de cada lado do candelabro, são “os dois Ungidos, que estão sempre de pé diante Daquele que é o Senhor da Terra inteira” (cf. Zc4:11-14). Em grego, a expressão é “os dois Cristos”.
Jesus não aludia a si mesmo com a expressão Filho do Homem, ao contrário, sempre utilizava a expressão Filho de Deus para designar a si próprio e sua missão. Nos Evangelhos, Jesus é chamado de Filho de Deus trinta e duas vezes, e por várias personalidades: Marcos, João, João Batista, Pedro, Marta, Natanael (1) e os discípulos como um todo. No Evangelho de João, conforme já dito, Jesus declara expressamente em relação a si próprio: “Sou o Filho de Deus” (Jo10:36), uma afirmação que ele jamais repetiu utilizando a expressão Filho do Homem. Jesus é testemunhado como Filho de Deus pelo próprio Pai (Mc1:11;9:7; Mt3:17), é chamado assim pelo centurião junto à cruz (Mc15:39), pelo anjo Gabriel (Lc1:32,35), pelo tentador Lúcifer (Mt4:3) e até pelos “endemoninhados” (Mc3:11;5:7). Só os líderes religiosos não o reconheceram como tal. É de se perguntar quem eram os verdadeiros endemoninhados ali...
No Evangelho de Marcos o título “Filho de Deus” constitui o programa de todo o livro (cf. Mc1:1), sendo confirmado pelo próprio Jesus diante do sumo sacerdote: “O sumo sacerdote perguntou de novo: ‘És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito’? Jesus respondeu: Eu o sou” (Mc14:61,62). João, no seu Evangelho, explica ter escrito sinais “para que creiais que Jesus é o Messias, o Filho de Deus” (Jo20:31). E, por fim, temos a confissão tão incisiva de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt16:16).
Em contrapartida, numa ocasião em que Jesus falava em Jerusalém sobre o futuro Filho do Homem, a multidão chegou a lhe perguntar diretamente: “Quem é esse Filho do Homem?” (Jo12:34). E noutra oportunidade, durante uma conversa com Nicodemos, Jesus disse:
“Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu.”
(Jo3:13)
Dessa passagem se deduz que o Filho do Homem já havia certa feita descido do céu, e para lá retornado. Como, então, Jesus poderia estar aí se referindo a si mesmo naquele instante, se afirma que o Filho do Homem está no céu? Se o Filho do Homem estava no céu naquele momento, não poderia naturalmente tratar-se de Jesus, que estava ali, em Jerusalém, falando diretamente com Nicodemos. E Jesus ainda confirmou posteriormente essa mesma situação, durante o interrogatório no Sinédrio: “Desde agora está sentado o Filho do Homem à direita do Todo-Poderoso Deus” (Lc22:69).
Esse trecho da conversa de Jesus com Nicodemos é tão desconfortável para a teologia tradicional, que andou sumindo de vários manuscritos… De uma maneira geral, as várias versões das atuais Bíblias ignoram olimpicamente o problema, como se não lhes dissessem respeito, ou, então, apresentam esse trecho entre colchetes, com a explicação seca de que “não consta de vários manuscritos”. Mas, com o mesmo direito, se poderia argumentar que o aludido trecho consta, sim, de várias versões e manuscritos não alexandrinos, (2) bem como de textos antiqüíssimos dos primeiros Padres da Igreja. Segundo o pesquisador Julio Trebolle, os textos alexandrinos – onde não consta a passagem sobre o Filho do Homem estar no céu – não gozam hoje do caráter normativo de outrora, motivo pelo qual “a forma anterior e original do texto deve estabelecer-se através da análise pormenorizada de cada variante.” Como forma anterior se entende os manuscritos definidos como do tipo ocidental, que é a forma mais antiga conhecida do texto do Novo Testamento. Por isso, muitos críticos consideram as demais formas apenas como reelaborações desse texto ocidental, que se supõe seja do século II.
Na Bíblia – Nova Versão Internacional, a passagem incômoda foi amputada e ajeitada da seguinte maneira: “Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do Homem”. Muito engenhoso… Outras Bíblias modernas também apresentam soluções criativas para o enigma. Mas os exegetas que de algum modo tentam esclarecer satisfatoriamente o assunto, baseados na pressuposição de que Jesus seria o Filho do Homem, acabam deixando a emenda algo pior do que o soneto. É o caso, por exemplo, dessa nota de rodapé da Bíblia de Estudo de Genebra: “Poderia ser dito que Cristo, em sua natureza divina, continuava a habitar no céu, mesmo durante a sua vida na Terra.” Realmente, é forçar demais a interpretação, torcendo o sentido original.
A indicação de que o Filho da Homem já havia descido uma vez do céu, explica também alguns aspectos pouco claros do Antigo Testamento, como os diversos encontros pessoais de Moisés com o Senhor na tenda do encontro. Moisés se encontrou, sim, pessoalmente com a terceira pessoa da Trindade Divina, o Espírito Santo ou Filho do Homem, que naquela época estava encarnado na Terra. A Bíblia afirma que Moisés contemplava a “forma do Senhor” e que Ele lhe falava de “viva voz” (cf. Nm12:8), ou literalmente de boca em boca no original hebraico, expressão que traduz um diálogo, um intercâmbio entre duas pessoas. Aqui, na Terra de matéria grosseira, uma conversa desse tipo só é possível entre duas personalidades encarnadas em corpos físicos. E os textos bíblicos ainda confirmam: “Nunca mais em Israel surgiu um profeta como Moisés, a quem o Senhor conhecia face a face” (Dt34:10); “O Senhor falava a Moisés face a face, como se fala de pessoa a pessoa” (Ex33:11); “Deu-lhe, face a face, os Mandamentos” (Eclo45:5).
Sobre a transmissão dos Dez Mandamentos, a Bíblia diz: “Tendo o Senhor acabado de falar desta sorte no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do Testemunho feitas de pedra, e escritas pelo dedo de Deus” (Ex31:18). Na verdade, quando Moisés subiu ao monte Sinai, a terceira pessoa da Trindade Divina já havia deixado a Terra pouco antes. Mas lá em cima do monte, Moisés, o grande guia de Israel, recebeu a comunicação dos Dez Mandamentos e ele mesmo os transcreveu em duas pedras, sob orientação do Senhor (cf. Ex34:27). (3)
Foi também a presença na Terra naquele tempo da Vontade de Deus encarnada, que possibilitou o aceleramento dos efeitos da reciprocidade sobre os egípcios, os quais se mostraram na forma das conhecidas pragas, permitindo a libertação do povo israelita, conforme transparece nessas passagens: “A Tua Palavra onipotente, deixando os céus e o trono real, irrompeu como guerreiro impiedoso no meio da terra maldita, empunhando, como espada afiada, teu decreto irrevogável” (Sb18:15,16); “Desci para libertá-lo da mão dos egípcios e fazê-lo subir desta terra para um terra boa e vasta” (Ex3:8). A terceira pessoa da Santíssima Trindade fora encarnada na Terra em atendimento aos angustiantes apelos do povo escravizado de Israel. O tirânico faraó da época era Ramsés II, conforme a Bíblia deixa antever ao narrar a construção pelos israelitas da cidade chamada “Ramsés”, fundada por esse faraó (cf. Ex1:11).
Cabe salientar que as pragas que se abateram sobre o Egito não foram atos divinos arbitrários, mas sim o aceleramento de retornos cármicos sobre aquele povo. Se fosse concebível a prática de um ato arbitrário de castigo – algo de antemão impossível segundo as Leis perfeitas da Criação – então o Senhor poderia ter simplesmente paralisado o faraó e a soldadesca egípcia por algumas horas, permitindo uma saída tranqüila do povo hebreu. A fuga teria sido muito mais fácil e tranqüila.
Mas agora, na época atual, época do último Julgamento da humanidade, o Filho do Homem – o Espírito Santo de Deus – mais uma vez retornou à Terra, novamente desceu para promover um aceleramento dos efeitos recíprocos, porém desta vez sobre todo o gênero humano, processo este denominado Juízo Final:
“O Senhor sai da sua Morada para pedir contas dos crimes aos habitantes da Terra.”
(Is26:21)
“Uma última vez farei tremer, não só a Terra mas também o céu. As palavras ‘uma última vez’ anunciam o desaparecimento de tudo quanto participa da instabilidade do mundo criado, a fim de que subsista o que é inabalável.”
(Hb12:26,27)
As Bíblias baseadas nos manuscritos alexandrinos incorporam um outro grave erro, constante no Evangelho de João. O texto correto, que aparece nas Bíblias não-alexandrinas é:
“Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus?”
(Jo9:35)
Nesse trecho, o termo “Filho de Deus” é substituído por “Filho do Homem” nas Bíblias alexandrinas, ajudando a conservar o erro de que Jesus seria o Filho do Homem.
Tão tendenciosos como os manuscritos que omitem a passagem sobre o Filho do Homem estar no céu e que substituem “Filho de Deus” por “Filho do Homem”, são os que trazem a expressão “Senhor Jesus” em lugar do simples “Senhor” original, quando aludindo ao Filho do Homem, tal como ocorre nesse trecho da segunda Epístola aos Tessalonicenses: “Então aparecerá o ímpio, aquele que o Senhor [‘Jesus’] destruirá com o sopro de sua boca, e o suprimirá pela manifestação de sua vinda” (2Ts2:8). Não causa surpresa saber que o nome Jesus não existia originalmente nessa sentença, porque esse processo de atuação no Juízo está em ligação com o Filho do Homem, através de sua Palavra julgadora (o sopro de sua boca), e Jesus não é o Filho do Homem. Mas nesse caso, felizmente, são vários os manuscritos que trazem corretamente apenas a palavra “Senhor”, de modo que um pesquisador mais atento não será iludido.
Conforme dito, outra passagem bastante aflitiva para os que insistem em considerar Jesus como sendo o Filho do Homem é a sua declaração diante do Sinédrio:
“Desde agora está sentado o Filho do Homem à direita do Todo-Poderoso Deus.”
(Lc22:69)
Desde agora… Portanto, enquanto ele, Jesus, estava ali falando com os membros do Sinédrio, o Filho do Homem se encontrava à direita do Todo-Poderoso. Não podia, por conseguinte, tratar-se do próprio Jesus, que falava com eles naquele momento. Outro problema do mesmo tipo aparece nessa frase de Jesus dirigida aos doze:
“Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem.”
(Mt10:23)
E então, como ficamos?... A melhor das explicações para o enigma é que a expressão “até que venha o Filho do Homem” nada mais é do que um modo de dizer: “antes de nos reunirmos”. Quem quiser acreditar, esteja à vontade. A seguir, outra dissonância temporal:
“Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus.”
(Lc12:8)
Jesus está dizendo aqui que quem se declarasse por ele, o Filho de Deus, diante de outrem, também o Filho do Homem, ou seja, também o segundo enviado de Deus se declararia futuramente por aquela mesma pessoa diante dos anjos. Em sentido inverso, a promessa se repete:
“Aquele que, nessa geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos.”
(Mc8:38)
Se alguém ali, na época de Jesus, naquela “geração adúltera” (expressão figurada para designar geração idólatra) se envergonhasse das palavras do Filho de Deus, então também o Filho do Homem – uma outra personalidade – se envergonharia dele no futuro. Aquela mesma criatura má, quando reencarnada na Terra, seria então rejeitada pelo Filho do Homem através de sua Palavra. Seria repelida por essa Palavra, não lhe permitindo encontrar nada nela.
Essas assertivas de Jesus sobre a atuação futura do Filho do Homem, sempre indicado por ele na terceira pessoa, são, pois, bastante nítidas e categóricas. Bem ao contrário das citações genéricas a ele atribuídas como Filho do Homem, que só surgiram da interpretação errônea de seus discípulos.
Confrontando esses dois tipos de menções qualitativamente tão díspares entre si, um conceituado teólogo dogmático saiu-se com essa: “Jesus talvez não tenha querido identificar-se desde o começo de maneira explícita com o Filho do Homem, mas só de maneira enigmática e obscura.” Ah, sim? Então Jesus quis ser enigmático e obscuro para com seus ouvintes e toda a posteridade? Ele, que instou seus discípulos a serem “simples como as pombas” (Mt10:16), e que se esforçava ao máximo em tornar compreensíveis seus ensinamentos por meio das singelas parábolas?…
A respeito da confusão ainda hoje reinante sobre as denominações Filho de Deus e Filho do Homem, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade, dissertação “Fenômeno Universal”:
“Errada é cada tradição que afirma haver Jesus, o Filho de Deus, se designado como sendo simultaneamente também o Filho do Homem. Tal falta de lógica não se encontra nas leis divinas, nem pode ser atribuída ao Filho de Deus, como conhecedor e portador dessas leis.
Os discípulos não tinham conhecimento disso, conforme se depreende de suas próprias perguntas. É só deles que surgiu o erro, que até hoje tem perdurado. Supunham que o Filho de Deus se designava a si mesmo com a expressão Filho do Homem, e nessa suposição propagaram o erro também à posteridade, a qual, da mesma forma que os discípulos, não se ocupou mais seriamente com a falta de lógica aí inerente, mas simplesmente passou por cima disso, em parte por temor, em parte por comodidade, apesar de que na retificação o Amor universal do Criador ainda sobressai mais nítido e mais poderoso.”
Precisamos lembrar que Jesus não deixou nada escrito, e que os discípulos tampouco andavam de papel e lápis na mão para anotar o que ele dizia e fazia. O próprio Jesus, aliás, não deu nenhuma orientação a seus discípulos para que escrevessem qualquer coisa. Por isso, o texto dos Evangelhos e outros que fazem menção às suas palavras devem ser encarados como aquilo que realmente são: tentativas de reprodução de passagens da vida de Jesus e frases suas. Essas reproduções não podem ser consideradas como as palavras exatas que Cristo proferiu, não apenas por terem surgido através da lente de opiniões e conceitos próprios de quem as escreveu, mas também por terem sido elaboradas vários anos após sua morte, baseadas apenas em recordações de memória. Como Jesus não deixou nada escrito, não existe nenhuma doutrina proveniente diretamente dele, que se poderia talvez dar o nome de “Jesuísmo”, mas sim apenas um conjunto de tradições consignadas pelos adeptos de Cristo, a qual recebeu o nome de “Cristianismo”. E da forma como o Cristianismo se apresenta hoje, podemos afirmar categoricamente que Jesus Cristo jamais seria cristão…
Qualquer um de nós certamente terá dificuldades em relatar com precisão o que fez de importante no mês passado ou mesmo há uma semana. Teremos de fazer um esforço especial só para lembrar do que almoçamos no dia de ontem. O que faz pensar que com os evangelistas teria sido diferente? Por maior boa vontade que tivessem, por mais inspirados que fossem seus escritos, era-lhes impossível reproduzir com exatidão as palavras de Jesus e em muitos casos até mesmo o sentido delas, baseados, como aconteceu, apenas em lembranças e tradições orais. Isso, aliás, não é nenhum demérito, mas apenas uma contingência natural da dificuldade de se transmitir fielmente por escrito recordações verbais. Veja-se, por exemplo, as duas versões do Pai Nosso transcritas no Evangelhos de Mateus (Mt6:9-13) e no de Lucas (Lc11:2-4), tão distintas entre si. Jesus, obviamente, só pode ter dito essa oração numa única forma … É a mesma situação das palavras dele por ocasião da Ceia, onde nos deparamos com quatro relatos distintos (Mt26:26-29; Mc14:22-25; Lc22:19,20; 1Co11:23-26), e também as bem-aventuranças do sermão do monte, novamente muito diferentes nos Evangelhos de Mateus e de Lucas (Mt5:3-12; Lc6:20-23).
Essa dificuldade natural de reproduzir os fatos com exatidão já era conhecida por quem se ocupava da escrita desde o século V a.C. pelo menos, conforme atesta o historiador grego Tucídides em sua Introdução à Guerra do Peloponeso: “Para os discursos proferidos por personagens individuais antes da guerra e durante a guerra, era difícil para mim – pelo que tinha ouvido pessoalmente e pelo que me referiam de diferentes lugares – recordar com precisão absoluta o que tinha sido dito. Eu, atendo-me o mais possível ao sentido geral do que fora realmente dito, escrevi os discursos como me parecia que cada um dos oradores teria mais ou menos expresso as coisas essenciais sobre as diversas situações.” Essa constatação de Tucídides vale para a época dele, para a época de Jesus, para o tempo presente e para o tempo futuro.
De mais a mais, o registro de lembranças e tradições orais acabam condensando inevitavelmente o desenrolar dos fatos. Alguns especialistas calculam que, à exceção dos quarenta dias e quarenta noites passados no deserto, tudo o que segundo os registros dos Evangelhos teria sido dito e feito por Jesus parece não ter ocupado mais do que três semanas…
Mencione-se ainda que quando procuramos passar para o papel algo que vimos ou ouvimos, misturamos inconscientemente nesse processo conceitos próprios. Se pedirmos para dez pessoas descreverem uma mesma paisagem teremos dez relatos diferentes, tanto na forma como no conteúdo. Uma delas dará mais ênfase à cor das flores, outra à altura das árvores, uma outra aos ruídos dos pássaros e insetos. Poderá haver também uma narrativa com várias páginas e outra com um só parágrafo. Como exemplo bíblico disso, temos a figura de Paulo que sobressai de suas epístolas e aquela descrita por Lucas em Atos dos Apóstolos. A impressão que se tem é de que se trata de duas pessoas diferentes.
A mistura inconsciente de opiniões e estilos próprios pode ser nitidamente observada em várias passagens bíblicas relacionadas à vida de Jesus na Terra. Esses relatos não podem, em vista disso, ser considerados absolutamente fidedignos e, além do mais, omitem aspectos importantes relacionados às palavras proferidas por Jesus. A esse respeito, o professor de teologia Rochus Zuurmond apresenta algumas questões instigantes: “Suponhamos que a tradição nos tivesse transmitido literalmente uma sentença de Jesus (o que é sempre duvidoso, mas suponhamos): Qual teria sido, nesse caso, o contexto? Que expressão do rosto acompanhou a palavra? Que expressão do corpo todo? Que relação teve a sentença com experiências de Jesus não registradas em lugar algum? Que emoções profundas acompanharam a palavra? Que público era visado? Etcétera!”
Por fim, temos de considerar também as alterações involuntárias e mesmo intencionais das palavras de Jesus transmitidas pela tradição oral, conforme alerta o professor Gerd Theissen: “A transmissão das palavras de Jesus no Cristianismo primitivo é um problema sociológico, sobretudo pelo fato de Jesus não haver fixado suas palavras literariamente. Uma tradição oral depende dos interesse de seus transmissores e destinatários; sua preservação está ligada a condicionamentos sociais bem específicos.” O luterano Rudolf Bultmann já sustentava que para se recuperar o núcleo permanente da mensagem do Novo Testamento era preciso libertá-la da linguagem mitológica própria da cultura daquele tempo, como: anjos e demônios, nascimento virginal, ressurreição, etc. Ele considerava esses textos como lendas cultuais ampliadas.
Os relatos dos Evangelhos devem, portanto, ser examinados sempre sob uma ótica de cautela prévia, se quisermos de fato tirar proveito do que ali está escrito. Antes de mais nada, conforme já dito, não se pode tomar ao pé da letra as frases reproduzidas, já que elas contêm um sentido eminentemente espiritual, como, aliás, quase toda a Bíblia.
Em várias profecias sobre o Juízo Final aparece, pois, uma figura estreitamente ligada a esse acontecimento. Essa personagem recebe diversas denominações nos textos proféticos, sendo geralmente designada como o enviado de Deus que traz o Juízo, chamado Filho do Homem, cuja missão é desencadear o Juízo Final estabelecido por Deus-Pai: “Ele estabeleceu um Dia para julgar o mundo com Justiça, pelo Homem a quem designou” (At17:31); “O Pai lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem” (Jo5:27); “Ele preparou seu trono para o Julgamento, e assim julgará o mundo com Justiça” (Sl9:8,9). Essa incumbência de julgamento futuro não seria do Filho de Deus, que até afirmou categoricamente: “Eu não julgo ninguém” (Jo8:15). A missão de Jesus não era julgar, mas sim sustentar as almas mediante sua Palavra até o Juízo, para que elas pudessem ser salvas no tempo do Julgamento: “Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo3:17).
Outras profecias acrescentam que, além da missão de desencadear o Juízo Final, esse segundo enviado concederia auxílio e salvação aos que buscassem com sinceridade. O significado disso é que, da mesma forma que Jesus, o Filho do Homem também traria uma Mensagem de Deus-Pai para a humanidade, para redenção dos que ainda pudessem ser salvos no Juízo. Quanto mais Jesus dava cumprimento à sua missão, tanto mais claramente via que, a despeito de seus esforços, a decisão da maioria da humanidade se inclinava para o falhar. A partir daí transformou suas alusões ao Filho do Homem em comunicados diretos: “Mas quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a Terra?” (Lc18:8).
As primeiras alusões de Cristo sobre a vinda do Filho do Homem estavam relacionadas ao Juízo. Para tanto, porém, não teria sido necessário que ele encarnasse na Terra. Vindo pelas nuvens, estando acima da Terra, poderia ter cumprido sua missão, conforme antevisto pelo profeta Daniel no século V a.C.: “Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho do Homem” (Dn7:13). A vinda propriamente do Filho do Homem à Terra, para anunciar aqui a Verdade, foi comunicada por João em seu Evangelho (cf. Jo16:12-15).
As antigas profecias do Antigo Testamento e a anunciação de João se cumpriram em nossa época. O Filho do Homem, a encarnação da Justiça de Deus, desceu à Terra e trouxe novamente para cá a Palavra da Verdade. Sobre essa Palavra da Verdade, sedimentada na Justiça, pode-se novamente dizer como o salmista: “O princípio da tua Palavra é a Verdade, tuas normas são Justiça para sempre” (Sl119:160). Essa Palavra trazida pelo Filho do Homem retifica todos os erros colocados por mãos humanas na Palavra de Jesus, abrindo assim à humanidade, mais uma vez, e pela última vez, a possibilidade de salvação.
A Palavra do Filho do Homem é una com a do Filho de Deus, Jesus. Nem poderia ser diferente, já que ambas provêm da mesma Fonte. A Palavra do Filho do Homem, porém, aparece numa forma ajustada à época atual, complementando a Palavra de Jesus e eliminando todas as inserções puramente humanas nela aderidas, assim como todas as falsas concepções e interpretações de até agora. A Palavra do Filho do Homem corrige os erros inseridos pela humanidade na outrora límpida Palavra do Filho de Deus. Com essa correção o ser humano tem novamente a possibilidade de conhecer o verdadeiro sentido da Vontade de Deus e de se reorientar por ela, e com isso também o ensejo de salvar-se espiritualmente agora, na época do ajuste final de contas.
Tal como outrora a Palavra do Filho de Deus foi alimento para o espírito, a Palavra do Filho do Homem é agora também o pão da vida para os seres humanos da nossa época, o alimento que lhes permite nutrir seus espíritos e, por último, viver eternamente, conforme indicou Jesus nessa passagem:
“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque Deus, o Pai, o confirmou com o Seu selo.”
(Jo6:27)
Jesus diz que o Filho do Homem dará (futuro) aos seres humanos a comida que subsiste para a vida eterna, a Palavra da Verdade. Ele foi confirmado com o “selo” do Pai. Esse selo é o sinal vivo da Verdade divina, a Cruz isósceles irradiante, que pertence integralmente ao Filho do Homem como outrora pertencia ao Filho de Deus. Voltaremos a falar sobre essa Cruz isósceles mais à frente.
Uma leitura atenta dos textos bíblicos, desprovida de idéias preconcebidas, permite reconhecer a verdade sobre a identidade e a missão do Filho do Homem. Prova disso é essa opinião do teólogo Rudolf Bultmann: “Jesus somente falou do Filho do Homem escatológico [do grego skhatos-logos – “tratado do fim”], que virá na parusia sobre as nuvens do céu como Redentor escatológico. Não se identificou com ele, mas anunciou sua vinda. Foi a Igreja primitiva que fez aquela identificação e ampliou seu uso: depois da morte de Jesus e do fracasso da ideologia do Filho de Davi religioso-nacionalista, a Igreja primitiva identificou Jesus com o Filho do Homem escatológico, o Messias designado que aparecerá no futuro como Redentor. A própria Igreja pôs em seus lábios as sentenças sobre a morte e a ressurreição.” De Bultmann também é essa complementação sobre a implantação do reino de Deus: “A chegada do reino de Deus é um acontecimento que será levado a cabo por Deus sozinho, sem a ajuda dos homens.”
É extraordinário que Bultmann tenha chegado a conclusões tão acertadas apenas fazendo uso de pesquisas literárias, ao menos nesses aspectos. É de se supor que em seu aprofundamento ele tenha entrado em conexão com formas de pensamentos mais elevadas, que traziam consigo a verdade dos fatos. Realmente, para quem se aprofunda no sentido certo, a inspiração se assemelha a beber água cristalina de uma fonte: “Os pensamentos são águas profundas no coração do homem; o homem entendido delas haurirá” (Pv20:5).
O biblista John Mckenzie, por sua vez, complementa a concepção de Bultmann ao afirmar que uma parte da Igreja primitiva relacionava (acertadamente!) a personagem Filho do Homem com a figura apocalíptico-escatológica encontrada nos livros de Daniel e Enoch. Infelizmente, esse saber claro acabou por se perder com o tempo.
Outro seguidor de Bultmann é Vielhauer, que também assevera que Jesus jamais usou o título de Filho do Homem para si mesmo, e sim para uma figura apocalíptica do futuro.
O pesquisador W. Bousset chegou a uma conclusão parecida à de seus colegas. Segundo ele, a expectativa apocalíptica de um Filho do Homem, de um Juiz universal futuro, foi indevidamente transferida para Jesus: “A fé messiânica da comunidade primitiva não poderia assumir após a morte de Jesus outra forma senão a do ideal de um Messias transcendente. A esperança de que Jesus assumiria na Terra o papel de rei a partir da tribo da Davi fora destruída de uma vez por todas. Restou apenas a figura celestial, que foi vinculada ao nome do Filho do Homem.”
Por fim, o professor Gerd Theissen é de opinião que o Filho do Homem é uma figura encarregada por Deus para julgar o mundo, que aparece em visões “como Filho do Homem”, o que, segundo ele, torna historicamente irrealista a concepção de esta referir-se a Jesus. E se pergunta: “Será que Jesus realmente acreditou ser o futuro Juiz do mundo, onde ele absolutamente não aparece nesse papel?” O professor Theissen tem total razão em fazer essa pergunta. Em toda a Escritura judaica, que Jesus conhecia tão bem, não há uma única passagem que coloque o Julgamento do mundo nas mãos do aguardado Messias. É claro que Jesus sabia não ser ele o anunciado Juiz do Mundo, um papel que ele nunca, nem de longe, desempenhou em vida e nem tampouco em suas aparições pós-morte.
Quando, por exemplo, ele leu na sinagoga uma passagem do livro de Isaías e logo em seguida afirmou que naquele dia a profecia havia-se cumprido (cf. Lc4:21), era porque o trecho em questão se referia à sua vinda, com a missão de libertar espiritualmente os cativos, e fazer os cegos espirituais recuperarem a vista:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação dos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.”
(Lc4:18,19)
Observe-se que Jesus interrompe a leitura antes do término do correspondente trecho do livro de Isaías, que fala do “Dia da vingança do nosso Deus” (Is61:2). Essa parte se refere ao Juízo Final, que não seria desencadeado por ele, o Filho de Deus, e sim pelo futuro Filho do Homem. A mistura aqui, como já sabemos, foi provocada pelo “Trito-Isaías”, que cuidou de mesclar no livro do profeta duas profecias distintas, a da vinda e missão do Filho de Deus com a da vinda e missão do Filho do Homem. Aliás, nas únicas vezes em que Jesus menciona passagens do livro de Isaías, citando nominalmente o profeta, alude exclusivamente ao texto do legítimo Isaías, e não do “Dêutero-Isaías” ou do “Trito-Isaías” (cf. Mt13:14;15:7; Mc7:6).
Jesus, pois, sempre se referia a um outro enviado com suas alusões ao vindouro Filho do Homem.
As colocações dos pesquisadores reproduzidas acima testemunham sua própria autonomia; indicam que são personalidades não algemadas, pessoas que se movimentam espiritualmente em busca da verdade dos fatos. Contudo, referências claras sobre a identidade do Filho do Homem e sua época podem ser encontradas e reconhecidas em algumas passagens dos próprios Evangelhos. Vejamos as mais elucidativas:
“Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito.”
(Mc13:21-23)
O surgimento de falsos profetas é um dos sinais da época do Filho do Homem. Observe-se que não está dito que a época dos falsos profetas passará e que depois virá o Filho do Homem, mas sim que ele virá exatamente na época desses falsos profetas. Portanto, o ser humano teria de estar vigilante para reconhecê-lo em meio à legião de falsos profetas em atividade. Teria de trazer sempre consigo azeite em quantidade suficiente para manter a lâmpada da sua intuição permanentemente acesa.
Essa passagem do Evangelho indica que a manifestação do Filho do Homem na época dos falsos profetas não terá nenhuma semelhança com estes. Ele não fará grandes sinais, procurando angariar adeptos, mas quem procurar com humildade e vontade séria encontrará a sua Palavra, e com isso obterá o reconhecimento de quem ele é e de como se deu a sua missão. Mas isso só acontecerá àqueles que realmente buscarem a Verdade de toda sua alma. Não para os demais. Estes últimos passarão pelo Filho do Homem sem reconhecê-lo, seguindo confiantes o círculo cada vez mais amplo dos falsos profetas.
E não é isso mesmo o que se assiste hoje? A agremiação dos falsos profetas de nossa época continua a angariar novos integrantes todos os dias, no mundo inteiro. Além dos tradicionais, vemos surgir continuamente novos guias, dos mais variados matizes escatológicos. Surgem de repente, por toda a parte, como cogumelos numa manhã úmida. Cogumelos grandes, coloridos, vistosos todos eles… e todos venenosos: “Surgirá uma multidão de falsos profetas e induzirão em erro muitos homens” (Mt24:11). Eles arregimentam um sem-número de incautos seguidores e vão logo cumprir, conscientemente ou não, mas sempre fielmente, as suas missões: desviar a atenção das pessoas boas, o mais possível, do significado real da incisiva transformação pela qual está passando o nosso planeta e toda a humanidade: o Juízo Final desencadeado pelo Filho do Homem. Um desvirtuamento de proporções armagedônicas, que vem já desde o início da nossa era. Do século II ao XVI foram registrados nada menos que 28 falsos messias, só entre o povo judeu… Dos demais surgidos em outros povos e raças não há nem uma contabilidade aproximada.
Como nos tempos antigos, eles promovem esse desvirtuamento através de ensinamentos e vaticínios desprovidos de verdade. Contudo, o que a grande maioria dos seres humanos deseja é isso mesmo, quer ser enganada com lisonjas, para não ter de se movimentar espiritualmente. Não querem ouvir as verdades de legítimos videntes, mas somente coisas agradáveis e ilusões: “Dizem aos videntes: ‘deixem de visões!’, e aos profetas: ‘deixem de anunciar verdades!’ Dizei-nos antes coisas agradáveis, profetizai-nos ilusões!” (Is30:10).
O grande profeta Jeremias também denunciou esse estado de coisas em seu tempo, ao reproduzir da parte do seu Senhor: “Visões mentirosas, oráculos vãos, fantasias e enganos do seu coração, eis o que profetizam! (…) Os profetas profetizam em nome da mentira, os sacerdotes embolsam tudo que podem, e Meu povo está satisfeito com isso!” (Jr14:14;5:31). Os leitores da Bíblia deviam atentar mais às várias advertências de Jeremias, pois ele foi um dos servos pré-natalmente escolhidos pelo Senhor, para cumprir uma missão na Terra: “Antes de formar-te no seio de tua mãe, Eu já contava contigo. Antes de saíres do ventre, Eu te consagrei e fiz de ti profeta para as nações” (Jr1:5).
Conforme já diz a própria denominação, falsos profetas são aqueles que transmitem falsos ensinamentos e predições. A maneira de desmascarar um falso profeta é até bastante simples: “Se o que o profeta disser em nome do Senhor não se realizar, não acontecer, então não terá sido uma palavra dita pelo Senhor. Por presunção é que o profeta a proferiu.” (Dt18:22). Vemos então que já na época de Moisés havia falsos profetas dando indicações falsas, as quais o povo aceitava de bom grado porque era indolente, julgando tais profetas como enviados pelo Senhor e sua “Palavra” como plenamente autorizada em matéria de fé... Um conceito que se manteve nos milênios seguintes, imiscuídos em vários outros textos e ditos “inspirados” das Escrituras, como por exemplo a idéia de uma “salvação pela graça”. Se essa salvação pela graça não se confirmar, então, segundo o livro do Deuteronômio, não se trata de uma palavra dita pelo Senhor...
Os falsos profetas não são necessariamente servidores conscientes das trevas. Ao contrário. A quase totalidade deles se consideram imbuídos dos mais elevados propósitos, encarregados de uma missão de suma importância, acreditando realmente estarem auxiliando a humanidade com suas atuações. Em sua maioria servem inconscientemente as trevas e se apresentam como lutadores em prol da Luz. Pouco importa se seu círculo abarca algumas poucas dezenas de adeptos ou centenas de milhões. Não se deve atentar ao que eles procuram aparentar, e sim ao que transmitem: “confessam que conhecem a Deus, mas o negam com seus atos” (Tt1:16); “conservarão uma aparência de piedade, mas negarão a sua essência” (2Tm3:5). Daí também a advertência tão clara: “Não julgueis pela aparência, mas julgais conforme a justiça” (Jo7:24). Não se deve levar em consideração os ritos e trajes que os envolvem, e sim suas palavras e seu proceder, provenientes do íntimo. É o espírito deles que tem de ser examinado com toda a seriedade: “Não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo” (1Jo4:1). O que eles oferecem tem de ser analisado, e com toda a objetividade e firmeza que uma pessoa é capaz de reunir. Hoje, mais do que nunca, é preciso distinguir pedras de pão.
Ao lado dos falsos profetas trabalham os não menos nocivos apaziguadores, que procuram colocar panos quentes em todas as advertências da época atual, na forma de tantas tragédias humanas e catástrofes da natureza. Essa casta de apaziguadores está prodigiosamente disseminada entre os clérigos de múltiplas tendências, e também junto aos cientistas. São eles os que “prodigalizam consolações ilusórias” (Zc10:2). Sobre essa gente, mais “cegos que guiam cegos” (Mt15:14), diz a mensagem do Senhor transmitida por Ezequiel e Jeremias: “Com efeito, eles desencaminham o Meu povo ao dizerem: ‘paz’, e não há paz” (Ez13:10); “Todos, profetas e sacerdotes, praticam a mentira. Pretendem remediar a desgraça do Meu povo dizendo levianamente: Tudo em paz! Tudo em paz!, quando não há paz” (Jr6:14).
O profeta Jeremias, mais uma vez, transmite várias advertências da parte do Senhor contra esses apaziguadores: “Os profetas que profetizam em Meu nome, sem que Eu os tenha enviado, e que proclamam: ‘Não haverá espada nem fome nesta terra’, tais profetas perecerão pela espada e pela fome!” (Jr14:15). E prossegue nas advertências contra outros semelhantes abutres: “Não queirais ouvir as palavras dos profetas que vos transmitem vãs esperanças. Proclamam as suas próprias visões, que não procedem da boca do Senhor. Eles dizem repetidamente aos que desprezam a Palavra do Senhor: ‘Tereis paz!, ‘Nenhum mal virá sobre vós!’ (…) Não enviei estes profetas, e eles vieram a correr; não lhes falei, e eles profetizaram. Se assistissem ao Meu conselho, teriam transmitidos as Minhas palavras ao Meu povo, tê-lo-iam convertido do seu mau caminho e das suas perversas ações” (Jr23:16-22,26).
Os falsos profetas vaticinam a mentira… “Até quando haverá profetas que vaticinam a mentira, que profetizam os desvarios do seu coração?” (Jr23:26). A maioria das pessoas já se desencantou completamente das promessas dos políticos, pois suas mentiras são facilmente constatadas, já que não se efetivam em atos. Os políticos espirituais também mentem da mesma forma, porém suas mentiras dizem respeito ao âmago mais profundo do ser humano, ao seu próprio espírito, e por isso só podem ser percebidas por quem mantém viva a voz do espírito, a intuição. São esses mentirosos espirituais os maiores inimigos da humanidade, capazes de lançá-la inteira na perdição eterna, e foi contra eles que se dirigiu a advertência de Jesus:
“Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo, e depois disso nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a este deveis temer.”
(Lc12:4,5)
Esses falsos profetas, que detêm o poder de aniquilar espiritualmente um ser humano, não parecem tão perigosos aqui na Terra. Ao contrário. Suas palavras são suaves, doces, requerendo do incauto apenas uma inocente fé cega. No entanto, essa fé cega aparentemente inócua é uma isca poderosa, que atrai o espírito humano descuidado para uma armadilha fatal. São esses falsos profetas, portanto, que devemos temer, os lobos em pele de cordeiro:
“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes.”
(Mt7:15)
O leitor deixe sempre falar sua intuição quando se defrontar com algo que diga respeito à sua vida espiritual, pois a esse respeito não se pode ser negligente: “Anda segundo os caminhos do teu coração, conforme o que teus olhos vêem” (Ecl11:9), e nem ser indolente: “Sede diligentes, sem preguiça, fervorosos no espírito” (Rm12:11). Tudo com que se deparar pode, deve e tem de passar pelo filtro rigoroso da intuição espiritual. Não deve se entregar a uma crença qualquer por costume ou comodismo, a algo que não tenha absoluta convicção de corresponder à Verdade. Precisa ter coragem de ser verdadeiro em tudo quanto fizer: “Em tudo o que fazes, sê fiel a ti mesmo” (Eclo32:23).
Em relação ao Cristianismo de hoje, a mais letal das crenças falsas em vigor é supor que a morte de Jesus tenha livrado os fiéis cristãos de seus pecados e lhes garantido a salvação. Outro tipo de crença falsa muito perniciosa é justamente considerar Jesus como o Filho do Homem. Que devido a isso a maior parte das pessoas ficará impedida de reconhecer o Filho do Homem, até a consumação do Juízo Final, fica patente nessas comparações de Jesus:
“Porquanto assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.”
(Mt24:38,39)
“Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no Dia em que se manifestar o Filho do Homem.”
(Lc17:28-30)
Jesus diz ainda que na época do Filho do Homem haverá grandes terremotos, maremotos, doenças e sinais nos céus:
“Haverá grandes terremotos e pestes e fomes em todos os lugares; aparecerão fenômenos pavorosos e grandes sinais vindos do céu. (…) Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e na Terra, as nações estarão em angústia, inquietas pelo bramido do mar e das ondas.”
(Lc21:11,25)
E os poderes dos céus serão abalados:
“Mas naqueles dias, após a referida tribulação, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. Então verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória.”
(Mc13:24-26; Mt24:29,30)
A frase condicional de que “então verão o Filho do Homem” significa que muitos só reconhecerão que o Juízo Final foi desencadeado pelo Filho do Homem quando seus efeitos mais drásticos se efetivarem na Terra:
“O Sol ficará escuro, a Lua perderá sua claridade, as estrelas cairão do céu e as potências celestes serão abaladas.”
(Mt24:29)
Eventos cósmicos abaladores não são prelúdios da vinda do Juiz, mas o sinal de que o Julgamento por ele já desencadeado se encontra em sua fase final. As pessoas desejarão covivenciar os dias do Filho do Homem na Terra, mas serão incapazes de reconhecê-lo em tempo certo: “Dias virão em que desejareis nem que fosse um só dos dias do Filho do Homem e não o vereis” (Lc17:22). Não poder ver o Filho do Homem ou não ser capaz de reconhecer a sua Palavra é a mesma coisa, pois ambos são um só. Elas serão incapazes de reconhecer a Palavra da Verdade no tempo certo. Sua atitude será idêntica à dos que estavam junto à cruz do calvário na época de Cristo, que somente depois do grande terremoto “ficaram apavorados e disseram: ‘Este era verdadeiramente o Filho de Deus!’” (Mt27:54). Um reconhecimento vindo demasiado tardio. O mesmo reconhecimento atrasado se verá em relação ao Filho do Homem. E não só atrasado como ineficaz, pois dada sua índole tenebrosa, as pessoas se preocupariam antes de mais nada em querer saber mais sobre a pessoa do Portador da Mensagem da Luz e não sobre a própria Mensagem, o que unicamente lhes seria útil. Exatamente como aconteceu com o Filho de Deus e sua Mensagem de Salvação. A humanidade não mudou.
A indicação de que o Sol escurecerá e que a Lua não dará sua claridade refere-se ao deslocamento da órbita da Terra, ocasionado pelo Grande Cometa, que em breve será visível e causa de um pavor generalizado. (4) O Cometa do Juízo levará toda a família de planetas para o novo Sol, fazendo reinar escuridão na Terra durante vários dias. É o tempo antevisto pela vidente do Apocalipse quando disse que “o Sol tornou-se negro com um saco de crina” (Ap6:12). No livro do Apocalipse, aparece uma estrela chamada Absinto, que cai do céu: “Caiu do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha. O nome da estrela é Absinto” (Ap8:10,11). Absinto é a designação genérica das muitas espécies de plantas de sabor intensamente amargo. Amarga será a experiência dos seres humanos terrenos durante os últimos acontecimentos do Juízo. Nessa ocasião, realmente “os poderes dos céus serão abalados e os homens desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo” (Lc21:26). Jesus ordena aos seus que velassem e orassem permanentemente, porque não saberiam quando seria esse tempo:
“Estai de sobreaviso, velai e orai, porque não sabeis quando será o tempo.”
(Mc13:33)
Para subsistir na época futura do segundo enviado, o Filho do Homem, as pessoas também teriam de velar e orar, avisou Jesus:
“Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.”
(Lc21:36)
O aparecimento do Grande Cometa, que provocará profundas alterações na geologia terrestre e a mudança de sua órbita, marcará também o início de uma nova era, a Era da Verdade! Em O Livro do Juízo Final, Roselis von Sass diz que no início do novo tempo a Terra estará vazia, pois a maior parte dos seres humanos terá desaparecido para sempre da superfície terrestre com todos os seus pecados, vícios, falsos profetas e falsas religiões. Essa situação também foi antevista pelo profeta Isaías:
“Os meus ouvidos ouviram ainda este juramento do Senhor dos Exércitos: ‘Grande número de casas será devastado, grandes e magníficas herdades ficarão desabitadas.’ (…)
‘Vai, pois, dizer a esse povo: Escutai, sem chegar a compreender, olhai, sem chegar a ver.’ (…)
‘Até quando, Senhor?’, disse eu. E ele respondeu: ‘Até que as cidades fiquem devastadas e sem habitantes, as casas, sem gente, a Terra, deserta; até que o Senhor tenha banido os homens, e seja grande a solidão na Terra. Se restar um décimo (da população), ele será lançado ao fogo, como o terebinto e o carvalho. (…)
Eis que o Senhor devasta a Terra e a torna deserta, transforma a sua face e dispersa seus habitantes. (…)
Os habitantes da Terra são consumidos, um pequeno número de homens sobrevive.”
(Is5:9;6:9,11-13;24:1,6)
A Lei da Reciprocidade foi acelerada no Juízo pela irradiação do Filho do Homem, fazendo retornar rapidamente a cada criatura humana tudo o que ela gerou em sua existência:
“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; então retribuirá a cada um conforme as suas obras.”
(Mt16:27)
Conforme as suas obras... e não acaso conforme a sua fé. Quando Paulo se queixou a Timóteo de que o ferreiro Alexandre tinha se mostrado mau para com ele, desabafou: “O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras” (2Tm4:14). Segundo as obras portanto, e não segundo a fé.
O Filho do Homem prometido por Jesus viria no futuro para julgar e retribuir a cada um segundo seu proceder, e não segundo sua crença pessoal. O retribuir conforme as obras indica o fechamento do ciclo de todos os acontecimentos no Juízo Final, pela atuação acelerada da reciprocidade, desencadeada pelo Juiz, o Filho do Homem. O Juízo se efetiva exatamente dessa forma: pelo recrudescimento dos efeitos das leis primordiais, que força o resgate de tudo quanto o ser humano produziu com sua vontade, seus pensamentos, palavras e atos, e que ainda não havia sido remido.
É como o movimento de uma esteira elétrica, que passa a girar cada mais vez mais rápido. A pessoa que está sobre a esteira tem de se manter em equilíbrio, condizente com a velocidade acelerada, do contrário cairá e se machucará. Ela mesma não tem nenhum controle sobre o movimento e a velocidade crescente da esteira da Criação, de modo que, caso tropece ou caia, terá de desenvolver esforços redobrados para retornar à posição de equilíbrio. Se não fizer isso será dilacerada pelo movimento da esteira, pois esta de maneira alguma reduzirá sua marcha devido à queda do usuário.
Realmente, não é preciso ser profeta nem vidente para constatar que o mundo não é mais o mesmo já há tempos, decorrência desse aceleramento contínuo dos efeitos do Juízo. Nas últimas décadas a humanidade tem sido assolada por um número crescente de tragédias e catástrofes, todas se superpondo continuamente: terremotos, erupções, inundações, ciclones, incêndios, efeito estufa, buracos na camada de ozônio, explosões solares, doenças terríveis, fome, roubos, miséria, chacinas, guerras, revoluções, atentados terroristas, distúrbios coletivos, acidentes, drogas, crises econômicas, medo, depressão, degradação moral…
As notícias sobre esses acontecimentos, que se superpõem continuamente à nossa volta, são invariavelmente sempre piores. Em todos os sentidos. Os avestruzes espirituais que não querem de modo algum enxergar essa aglomeração contínua dos fenômenos da natureza, afirmam levianamente para si e seus companheiros de terreiro: “Tudo já aconteceu!”. Eles não percebem, ou não querem perceber, que tudo já aconteceu sim, mas isoladamente, de modo que em outras épocas se falava e se comentava durante muito tempo sobre determinadas catástrofes da Natureza, justamente porque eram fenômenos raros. O profeta Zacarias, que escreveu seu livro entre 520 e 518 a.C., previu a seus ouvintes: “Fugireis como na ocasião do terremoto do tempo de Ozias, rei de Judá” (Zc14:5), aludindo a um sismo ocorrido no tempo do rei Ozias, que reinou de 783 a 742 a .C., portanto mais de dois séculos antes! No primeiro século da nossa era, Flavio Josefo também alude a um terremoto que teria feito grandes estragos no vale do Jordão, em 31 a.C. Os terremotos eram eventos tão inusitados e impressionantes que serviam de referência anos e até séculos depois de ocorridos. E hoje?... Hoje, o medo inconsciente leva os seres humanos a abafar tudo horas depois, em meio a divertimentos de todo tipo.
Mas o Juízo vai acordar a humanidade, quer ela queira quer não. A cada ano, a cada mês, a situação se deteriora mais e mais. Visivelmente. E muito mais ainda vai piorar no futuro. Os seres humanos serão arrancados violentamente de seu torpor espiritual, mediante o aceleramento dos efeitos recíprocos de seu falso atuar. Atualmente, todo o mal cultivado pela humanidade durante milênios está sendo forçado a se manifestar com a máxima intensidade, até se auto-exaurir, se autoconsumir, levando consigo tudo e todos que a ele estejam aderidos e que não foram capazes de se desprender dele a tempo. Daí o crescimento colossal das tragédias humanas e catástrofes da Natureza, daí o incremento exponencial da maldade em nossa época, conforme Paulo já previra em sua Segunda Epístola a Timóteo: “Nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis. Os homens serão egoístas, ávidos de lucro, fanfarrões, orgulhosos, blasfemadores, rebeldes para com os pais, ingratos, sacrílegos, desapiedados, implacáveis, maldizentes, indisciplinados, cruéis, inimigos do bem, traidores, coléricos, obcecados pelo orgulho, mais amigos dos prazeres do que de Deus” (2Tm3:1-4). Os seres humanos maus terão de se mostrar como realmente são durante o Juízo, para serem julgados e suprimidos para sempre: “Se os infiéis brotam como a erva, se todos os malfeitores florescem, é para serem suprimidos para todo o sempre” (Sl92:8).
Estamos vivendo na época em que a cobra morde o próprio rabo, o tempo em que as trevas têm de se destruir mutuamente, através de todo o mal que elas próprias geraram e nutriram. É a época do temido Juízo Final! A paz fictícia já foi retirada da Terra pelo cavaleiro do Apocalipse, e as fúrias se espalham agora sobre a Terra inteira: “Ao que montava foi dado o poder de tirar a paz da Terra, para que se matassem uns aos outros” (Ap6:4). Tudo quanto está ocorrendo, e o que ainda vier em futuro próximo, testemunham esse evento descomunal. Nós já estamos dentro do grande e derradeiro Julgamento, já estamos no Juízo Final! Há vários anos! Não se trata acaso do fim do mundo, mas sim do fim de um mundo, um mundo errado e torto, triste e miserável, que a humanidade edificou para si mesma durante milênios.
As pessoas que vêem a comprovação dessas tragédias e males na época presente, ou que já estão sendo obrigadas a constatá-los em seu ambiente mais próximo ou mesmo a vivenciá-los em si, são instadas dessa maneira a refletir seriamente sobre o que está ocorrendo de extraordinário no mundo e nelas próprias. Têm com isso ensejo de chegar a uma conclusão lógica: a de que tanto o sofrimento mundial como o individual só podem ser, na realidade, efeitos do atuar errado dos próprios seres humanos. A partir daí se lhes tornará clara também a necessidade inadiável de uma mudança interior, radical, de um completo nascer de novo, de um reenquadramento integral às leis inflexíveis que regem essa Criação, as quais só admitem um desenvolvimento no sentido do bem. Em suma, deverá procurar agora a justiça e a humildade em tudo, contingência incontornável para subsistir no Juízo: “Procurai a justiça, buscai a humildade: talvez assim acheis abrigo no Dia da Ira do Senhor” (Sf2:3).
O biblista Giuseppe Barbaglio chegou à conclusão muito acertada de que “o Juízo, de fato, não acontecerá tendo como base os critérios de caráter religioso ou confessional, mas segundo a medida expressa pelo mandamento do amor ao próximo.” Opinião absolutamente correta, ainda mais quando se sabe que “aquele Dia há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face da Terra inteira” (Lc21:35), e de que “o Juízo será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia” (Tg2:13).
É justamente nessa época da ceifa do Juízo Final que o joio é separado do trigo, por efeito conjunto das leis da Criação. Nada mais pode permanecer oculto, tudo é trazido à plena luz do dia para que se mostre como realmente é. Paulo aludiu a esse período em sua primeira Epístola aos Coríntios:
“Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não apenas trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações.”
(1Co4:5).
O prazo concedido para o desenvolvimento da criatura humana expirou. O Senhor dos Exércitos, o Filho do Homem prometido, já veio à Terra para trazer à plena luz as coisas ocultas e os desígnios dos corações humanos. Ele é o “Senhor dos Exércitos, cuja sentença é a Justiça, que examina a mente e o coração” (Jr11:20).
Vivenciamos presentemente o período da colheita de tudo quanto foi semeado, a época do exame final. Ou o ser humano acorda ainda a tempo, retomando o caminho certo há muito perdido, através da observação irrestrita das leis instituídas por Deus em Sua Criação, ou se perderá no Juízo, perecendo espiritualmente, com o que seu nome será apagado do Livro da Vida por toda a eternidade. É a decisão final. A lembrança do justo será abençoada e permanecerá, mas o nome do mau desaparecerá e, com isso, também se apagará para sempre a luz espiritual que o incandescia: “A lembrança do justo é abençoada, mas o nome dos maus apodrecerá” (Pv10:7); “Para os maus não há futuro; a lâmpada dos ímpios de apagará” (Pv24:20). Esse mesmo conceito aparece nos livros de Jó e dos Salmos: “Sim, a luz do mau se apagará, e a flama de seu fogo cessará de alumiar. Sua lembrança perdeu-se na terra, seu nome já não consta do cadastro” (Jó18:5,17); “[Tu] exterminaste os ímpios, apagaste o seu nome para sempre” (Sl9:6).
Essa indicação do nome que se apaga, que é suprimido da Criação, significa a extinção do próprio espírito humano, pois na realidade nome e personalidade são uma só coisa. O ser humano não somente se chama assim como soa o nome, mas ele é assim como seu nome indica. Ele é aquilo que seu nome diz. Para um ser humano terreno, até mesmo o prenome que ele porta corresponde, em sentido amplo, à uma espécie semelhante. Isso não é difícil de constatar observando como soam os prenomes usuais nas várias raças e povos, e até mesmo em algumas comunidades. Para evitar dúvidas: quando digo “nome” estou me referindo ao que se conhece em português como “sobrenome”, e quando falo de “prenome” é o que a língua portuguesa chama normalmente de “nome”.
Os antigos escritores hebraicos conheciam o processo e sempre consideravam o nome como equivalente à própria pessoa. Acreditavam que primeiro se devia conhecer o nome de alguém, antes de se conhecê-lo pessoalmente. Por isso, entre o povo judeu daquela época, o ato da escolha do nome para uma criança era uma grande responsabilidade. Uma indicação disso foi o episódio envolvendo Isabel, mãe de João Batista. Os vizinhos e parentes queriam que o menino se chamasse Zacarias, mas Isabel protestou firme e disse que seu filho teria o nome de João (cf. Lc1:59,60). Um aspecto interessante, é que naquele tempo o nome podia ser alterado na fase adulta, normalmente a pedido da própria pessoa. Na Bíblia há relatos em que essa mudança foi simplesmente comunicada à respectiva pessoa. Jacó foi informado por um anjo da mudança de seu nome para Israel (cf. Gn32:28), e Jesus mudou o nome de Simão para Pedro (cf. Mt16:17,18). Com Paulo, que antes portava o nome de Saulo, essa mudança aconteceu de uma hora para outra, quando se encontrava na ilha de Chipre (cf. At13:9).
A correlação nome-portador também transparece nesse exemplo de uma pessoa pouco recomendável: “Meu senhor, não faça caso desse idiota, Nabal, pois ele é bem o que o seu nome indica: Nabal, louco. É isso o que ele é!” (1Sm25:25). O nome Nabal significava, de fato, louco, insensato, infame. Esse cidadão já trazia de outras vidas uma inclinação para o mal: “era grosseiro e mau” (1Sm25:3), o que se evidenciava pelo nome que portava naquela vida. Contudo, ele não precisaria ter voltado a agir erradamente. Se tivesse reconhecido seu pendor para o que é trevoso e lutado contra isso, teria se libertado de seu carma, e numa outra vida portaria um nome diferente, condizente com sua nova e mais elevada posição espiritual. Mas isso não aconteceu e Nabal teve de receber o retorno integral de seus atos malévolos através da Lei da Reciprocidade: “O Senhor fez cair sobre sua cabeça a própria maldade!” (1Sm25:39).
Uma indicação moderna da efetivação da Lei de Atração da Igual Espécie através do nome, agora no sentido positivo, pode ser reconhecida pelos nomes de família associados a características bem marcantes de seus membros, como é o caso notório de grandes musicistas. É a efetivação dessa lei que proporcionou tantos músicos extraordinários com sobrenomes Mozart, Strauss e Bach, só para citar alguns. Na família de Johann Sebastian Bach havia nada menos que cinqüenta e dois músicos. Espíritos humanos de características elevadas também podem surgir numa mesma família, portando o mesmo nome, também como decorrência dessa lei.
O nome, portanto, designa seu próprio portador, e este só existe porque porta um nome. O Senhor Deus é Aquele “a quem toda família no céu e na Terra deve o seu nome” (Ef3:15), portanto a Quem devem sua existência, conforme indicam outras traduções igualmente corretas. Isso vale não somente para os seres humanos mas para tudo o mais que se encontra na Criação, e para ela própria até: “O que quer que exista, já foi chamado por seu nome” (Ecl6:10). O poema mesopotâmico Enuma Elish, de que já falamos, é chamado assim por causa das duas primeiras palavras do cântico: “Quando do Alto”, conforme era usual nos escritos da Antiguidade. A primeira frase desse poema diz o seguinte: “Quando do Alto o céu ainda não era denominado e, embaixo, a Terra não tinha nome…” Esse modo de expressão quer dizer: “Quando o céu e a Terra ainda não existiam…” Tudo passou a existir quando recebeu um nome, e o que não puder conservar um nome após o Juízo terá sido extinto da Criação. O apócrifo Evangelho da Verdade expressa o mesmo conceito com essa sentença: “O que não existe não tem nome; realmente, como seria nomeado o não-existente? Mas o que existe, existe simultaneamente com o seu nome” (EvV39:11,16). Os antigos egípcios também conheciam essa propriedade da relação nome-portador, mas com sua propensão a exageros faraônicos, achavam que conhecer o nome de uma pessoa já significava ter poder sobre ela, e por isso escondiam seu verdadeiro nome para evitar influências externas.
Em relação a Jesus Cristo, o nome naturalmente se revestia de máxima importância. Os vários relatos de batismo “em nome de Cristo” existentes em Atos dos Apóstolos (cf. At2:38;10:48;19:5) indicam que os batizandos se comprometiam firmemente a viver como Jesus Cristo ensinara, em seu nome portanto.
Voltando ao Filho do Homem, é dele por conseguinte a Palavra futura que traria o Julgamento ao mundo, a qual é una com a do Filho de Deus, conforme Jesus esclarece nesse trecho do Evangelho de João:
“Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo e sim para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a própria Palavra que tenho proferido, essa o julgará no último Dia.”
(Jo12:47,48)
Esse efeito da Palavra divina criadora que traz o cumprimento do que foi pronunciado, que já desencadeia propriamente o que foi dito, que já é ação por assim dizer, é descrito dessa maneira no Livro de Isaías: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a Palavra que sair da Minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is55:10,11). É dessa maneira também que se desenrola o atual Juízo, segundo a Palavra decretada pelo Senhor: “A Terra será totalmente devastada, despojada, porque o Senhor assim o decretou” (Is24:3). E quem conhece a Bíblia sabe muito bem que “a Palavra do nosso Deus subsiste para sempre” (Is40:8), pois “Ele não retira Sua Palavra” (Is31:2), isto é, Ele nunca volta atrás no que determinou alguma vez. Por isso, todas as palavras advindas do Senhor se cumprem, sem exceção: “Assim fala o Senhor Deus: ‘Todas as Minhas palavras se cumprirão. A palavra que Eu digo vai realizar-se’” (Ez12:28).
Em hebraico, o termo dabar, que designa palavra, indica simultaneamente o efeito relacionado à essa palavra. Por isso, também era do conhecimento dos antigos hebreus que até mesmo a palavra humana trazia em si um certo poder de realização… “Quanto mais não traria então a Palavra de Yahweh, o Senhor!”, diziam eles. (5) Em razão disso, na língua hebraica, os Dez Mandamentos, que aparecem nos livros de Êxodo e Deuteronômio (cf. Ex20:1-17; Dt5:6-21), são chamados literalmente de as “Dez Palavras” (decalogos em grego).
Para se reconhecer a vinda do Filho do Homem e o processo do Juízo Final, o “Dia do Senhor”, é fundamental a vigilância de cada um, o azeite da lâmpada. Vamos relembrar aqui a analogia do ladrão, que não avisa quando vai chegar:
“Vós mesmos sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor vem como um ladrão, durante a noite. Não estais nas trevas, de modo que este Dia vos surpreenda como um ladrão.”
(1Ts5:2,4)
“Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a Terra e as obras que nela existem serão atingidas.”
(2Pe3:10)
“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que Dia vem o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos: porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá.”
(Mt24:42-44)
A expressão Dia do Senhor nessas citações deve ser entendida como o tempo completo de efetivação do Juízo Final, isto é, os anos compreendidos entre o início e o fim do Julgamento. Mais duas lembranças sobre a chegada do ladrão escatológico:
“Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que horas te surpreenderei.”
(Ap3:3)
“Olha: venho como um ladrão! Feliz daquele que vigia e guarda suas vestes.”
(Ap16:15)
Por essas palavras vê-se que a vinda do Filho do Homem, contrariamente ao que é imaginado por muitos, se daria sem aviso prévio, sem alarde. Aquele que merecer, encontrará sua Palavra e o reconhecerá, porém ele mesmo não irá atrás de ninguém. Na última frase, a expressão “guardar as vestes” significa conservar limpas as vestes do espírito, ou seja, a alma. Temos, portanto, de cuidar de branquear nossas vestes para podermos fazer parte daqueles que “estavam de pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados com vestes brancas” (Ap7:9). A necessidade de se estar preparado para a vinda do Juiz – o Filho do Homem, com as vestes do espírito lavadas e limpas, se mostra de maneira ainda mais incisiva na passagem a seguir:
“Eis que venho em breve, e minha retribuição está comigo, para pagar a cada um segundo as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. Felizes os que lavam suas vestes, para que lhes caiba o direito à árvore da vida.”
(Ap22:12-14)
Felizes os que lavam suas vestes, que se dão ao trabalho para tanto!... O Alfa e o Ômega são a primeira e última letras do alfabeto grego. O Filho do Homem, o Senhor dos Exércitos, será sempre o Primeiro e o Último na Criação, pois ela se originou dele, que é a própria Vontade de Deus. Ele é o único elo entre o Criador e Sua obra: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu sou o Primeiro e sou também o Último, fora de mim não existe Deus” (Is44:6). Nada existe de divino dentro da obra da Criação a não ser ele, que veio da própria Luz viva, atuando como medianeiro eterno entre Deus-Pai e a Criação. Deus está presente na Sua obra unicamente através do Filho do Homem.
Para melhor compreensão das expressões Alfa e Ômega, Primeiro e Último, Começo e Fim, em conexão com Imanuel, o Filho do Homem, reproduzo aqui um parágrafo da dissertação Os Planos Espírito-Primordiais II, da obra Na luz da Verdade, de Abdruschin: (6)
“Jesus é o Amor de Deus; Imanuel é a Vontade de Deus! Por isso a Criação vibra em seu nome. Tudo quanto nela acontece, tudo quanto nela se realiza se acha inscrito nesse nome, o qual mantém a Criação, do menor ao maior fenômeno! Nada existe que não se origine desse nome e que não tenha de cumprir-se nele.”
Sobre a inexorabilidade do último Julgamento e os acontecimentos a ele ligados, Paulo também faz uma advertência semelhante às anteriores (novamente com a analogia do ladrão) em sua primeira Epístola aos Tessalonicenses:
“Quando andarem dizendo: paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor do parto à que está para dar à luz, e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia, como ladrão, vos apanhe de surpresa.”
(1Ts5:3,4)
Na passagem abaixo, Jesus fornece outras indicações sobre o tempo do Filho do Homem, as quais têm provocado considerável controvérsia entre os eruditos bíblicos:
“Aprendei da figueira esta parábola: quando o seu ramo se torna tenro e as suas folhas começam a brotar, sabeis que o verão está próximo. Da mesma forma também vós, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele [o Filho do Homem] está próximo, às portas. Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que tudo isso aconteça.”
(Mt24:32-34; Mc13:28-30)
Um desses eruditos é honesto o suficiente para expor sua perplexidade: “Não se tendo verificado o acontecimento escatológico suposto como iminente, não se pode evitar o espinhoso problema do erro de avaliação cometido por Jesus”, confessa ele. Na realidade, não há erro algum, desde que tenhamos em mente que Jesus não é o Filho do Homem, e que ao proclamar que “esta geração não passará sem que tudo isso aconteça” está apenas indicando que aquelas pessoas que o ouviam naquela ocasião estariam reencarnadas na época da vinda do Filho do Homem, e que seriam testemunhas futuras daqueles acontecimentos.
Ainda em relação à geração de seu tempo, que estaria novamente encarnada na Terra no futuro, na época do Juízo Final, Jesus previu:
“A Rainha do Sul se levantará no Juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão.”
(Mt12:42)
A Rainha do Sul é uma outra denominação para a Rainha de Sabá, a qual se encontrou de fato com Salomão. (7) Para as pessoas daquela época, na região da Palestina, ela tinha vindo realmente dos “confins da Terra”, pois Sabá estava localizada bem longe deles, no sul da Arábia, no atual Iêmen. Pequenas tábuas de argila encontradas em escavações na cidade mesopotâmica de Mari fazem menção ao povo dos “iaminitas”, que significa “sulistas”. Daí o nome Iêmen. É curioso que o Iêmen tenha sido um dos lugares escolhidos para a busca do perdido Paraíso terrestre... Palestina é a adaptação grega do nome Filistina ou Filistéia, a terra dos filisteus. E exatamente conforme predito por Jesus, a Rainha de Sabá esteve novamente na Terra agora, na época do Juízo, em cumprimento de uma missão de extrema importância para a humanidade.
No Evangelho de João, particularmente, há várias passagens sobre a vinda e a atuação do Filho do Homem. Nele, Jesus anuncia a vinda do Consolador ou Paráclito (8) – o Espírito da Verdade, uma outra denominação para o Filho do Homem, indicando que a sua missão se caracterizaria pela Verdade, da qual ele se origina e de que é Portador. Na passagem a seguir é muito nítida a indicação de Jesus referente a um outro enviado de Deus e à Palavra que ele novamente traria à Terra:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.”
(Jo14:16,17)
O Pai nos dará um outro Consolador, diz Jesus. Em grego, esse “outro” não é designado pelo termo heteros, e sim por allos, que significa “outro da mesma espécie”, indicando que seria alguém da mesma origem que Jesus. A vinda do Consolador configura o atendimento do rogo de Jesus junto ao Pai, o efetivo cumprimento da promessa anunciada por ele: “Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu” (Lc24:49). O Consolador é o mediador eterno entre o Criador e Suas criaturas, e que portanto estará sempre conosco. Mais à frente, o Mestre explica que o Consolador, o Filho do Homem, é o próprio Espírito Santo, o qual em tempo certo relembrará os seres humanos dos ensinamentos já ministrados por ele, Jesus, a Palavra do Pai então encarnada na Terra:
“Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; e a Palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou. Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
(Jo14:24-26)
Vos fará lembrar... O Consolador nos fará lembrar o que Jesus já nos havia transmitido em sua época, a Verdade de Deus, a qual podemos ter ouvido dele próprio ou de algum de seus apóstolos. O que disso tivermos assimilado em nossa alma naquele tempo, ressurgirá em nossa consciência pelas palavras do Consolador.
No trecho a seguir Jesus confirma que, tal como ele, o Consolador provém diretamente de Deus-Pai. É novamente chamado por ele de Espírito da Verdade, porque o testemunho que dará dele, Jesus, estará na Palavra da Verdade que ele traria novamente à Terra:
“Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que Dele procede, este dará testemunho de mim.”
(Jo15:26)
O Filho do Homem é, pois, o Espírito da Verdade que procede do Pai, “porque o Espírito é a Verdade” (1Jo5:6). Ele é o Espírito Santo, o Consolador que através de sua Palavra abriu agora novamente a possibilidade para que “a Terra se encha do conhecimento do Senhor” (Is11:9), conforme profetizado por Isaías. No trecho abaixo, Jesus fala da ligação do Consolador com o Juízo Final; também diz que retornará ao Pai e que o mundo não o verá mais:
“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do Juízo: do pecado porque não crêem em mim; da justiça, porque eu vou para o Pai, e não me vereis mais; do Juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.”
(Jo16:7-11)
O Consolador, que aparece apenas no Evangelho de João, é o Espírito Santo de Deus, é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, é o segundo Filho de Deus-Pai, é o Filho do Homem Imanuel. Ele é também a Justiça viva e atuante de Deus, que como Senhor do Juízo convencerá o mundo do pecado, ao fazer retornar à humanidade, de forma acelerada, os efeitos do seu malquerer. O príncipe deste mundo que já está julgado e manietado é Lúcifer.
O sentido que transparece dessas palavras não deixa sustentar a tese, apregoada por muitas doutrinas cristãs, de que o Consolador seria a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos. A efusão do Espírito Santo (cf. At2:1-3) não é, como se imagina, a realização da missão do Consolador sobre os discípulos. Os discípulos puderam vivenciar conscientemente o Pentecostes porque se encontravam reunidos em devoção no momento exato em que se dava o derramamento de forças do Espírito Santo sobre a Terra. O apóstolo Pedro, inclusive, dá detalhes até do horário, ao dizer que estavam reunidos na “terceira hora do dia” (At2:15), o que corresponde às 9h da manhã aproximadamente.
Na ocasião, Jesus dissera a eles que isso aconteceria “dentro de poucos dias” (At1:5). O derramamento de forças através do Espírito Santo, o Pentecostes, é um fenômeno que se repete regularmente em toda a Criação desde o início dos tempos, e não foi levado a efeito exclusivamente para os discípulos. (9) É a época do suprimento de forças para a Criação inteira, o tempo da renovação, sem a qual tudo quanto foi criado acabaria por definhar e desaparecer, conforme transcrito nas lendas sobre o Graal.
O rei Davi conhecia o fenômeno e o cantou nesse salmo: “Senhor, como são grandes as Tuas obras! A Terra está cheia das Tuas criaturas! Se lhes tira o alento, morrem e voltam ao pó donde saíram. Se lhes envia Teu Espírito, voltam à vida. E assim renovas a face da Terra” (Sl104:24,29,30). Que o Pentecostes não ocorreu só uma vez, exclusivamente para os discípulos, também fica claro nestas passagens de Atos dos Apóstolos:
“Pedro estava ainda falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que estavam escutando a palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre quem era de origem pagã.”
(At10:44,45)
“Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas, que receberam, como nós, o Espírito Santo? (…) Logo que comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, da mesma forma como descera sobre nós.”
(At10:47;11:15)
Os fiéis judeus daquela época ficaram admirados com o derramamento de forças do Espírito Santo sobre os pagãos porque não conheciam nada sobre a regularidade da renovação da força de Deus para a Criação inteira, tal como ficariam admirados também os fiéis de hoje de qualquer religião. Pedro já dissera aos seus ouvintes que o dom do Espírito Santo era para eles e seus filhos, assim como “para todos aqueles que estão longe” (At2:39). No Antigo Testamento vemos uma alusão a esse processo, completamente desconhecido dos israelitas, com a indicação de que “a glória do Senhor encheu o Templo do Senhor” (1Rs8:11).
O Pentecostes ocorre em toda a Criação, e por conseguinte também sobre toda a humanidade terrena. Basta ao ser humano estar de alma aberta, pleno de humildade, para recebê-lo numa bem determinada época do ano e usufruir as bênçãos da força do Criador, derramada pelo Espírito Santo. Esse estado de alma purificada e receptiva é pré-condição para se receber a força. Vemos que Pedro disse aos seus: “Convertei-vos… e então recebereis o dom do Espírito Santo” (At2:38).
O padre Raymond Brown, professor de estudos bíblicos na Union Theological Seminary de Nova Iorque, explica que o termo grego para esse “convertei-vos” – metanoein – tem o sentido de “mudai vossas mentes”. Palavras do padre Brown: “Para os pecadores, mudar de idéia ou re-pensar envolve arrependimento e mudança de vida.” Portanto, no entender do apóstolo Pedro converter-se significava mudar a maneira de ser, e não acaso filiar-se a alguma religião.
O Espírito Santo derrama a força de Deus, plena de Amor, sobre os seres humanos: “O Amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm5:5). O Espírito Santo não é literalmente doado ou derramado, mas sim ele difunde a força de Deus-Pai sobre a obra da Criação, sem o que esta não poderia continuar a existir. Quando se diz que “o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc11:13), então isso significa que estarão aptos a receber a efusão de forças do Espírito Santo, dom do Amor de Deus, todos aqueles que se apresentarem com a alma descerrada diante desse acontecimento, que portanto pedirem por isso com o coração puro e alma plenamente receptiva. Assim é visto pela Luz. Pedro explicou esse assunto ao demais apóstolos nesses termos: “Deus, que conhece os corações, lhes prestou uma comprovação [aos pagãos], dando-lhes o Espírito Santo como o deu a nós” (At15:8).
Em Atos dos Apóstolos, o evangelista Lucas descreve o vivenciar do Pentecostes sobre os discípulos reunidos em devoção, mas não o processo em si, que tanto ele como os demais desconheciam. Naquele dia, os discípulos estavam pensando em seu Mestre Jesus, que havia ascendido e lhes prometera enviar a força do Espírito Santo:
“Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da Terra. Depois de dizer isto, Jesus elevou-se à vista deles.”
(At1:8,9)
A narrativa de Lucas informa que os discípulos se reuniram justamente no dia de Pentecostes. O acontecimento da efusão de forças do Espírito Santo nesse dia de Pentecostes calculado na Terra, indica que, naquele ano, a reunião dos discípulos coincidira exatamente com o fato real, que se processa em alturas inimagináveis da Criação. É o seguinte o relato de Lucas:
“Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo.”
(At2:1-4)
Poder “ficar cheio do Espírito Santo” é ser capaz de assimilar em toda plenitude a força por ele derramada na Criação no dia de Pentecostes. O Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade divina, é o mesmo que, como Filho do Homem, desencadeia o Juízo e transmite a Palavra Sagrada de seu Pai a todos quantos se mostrarem dignos dela. O Filho do Homem tem autoridade para julgar porque recebeu essa prerrogativa do Pai, e ambos “tem vida em si mesmo”:
“Assim como o Pai tem vida em si mesmo, (10) também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.”
(Jo5:26,27)
E que nós já estamos vivendo na época desse Julgamento levado a efeito pelo Filho do Homem, a assim chamada “grande tribulação”, fica especialmente claro nos extratos a seguir:
“Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isso é o princípio das dores. (…) Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais.”
(Mt24:7,8,21; Mc13:8,19)
Jesus exortou continuamente os seres humanos a se livrarem do pecado, para que quando estivessem vivendo naquele tempo futuro tão grave, se encontrassem lá com seus corações purificados, limpos, interiormente prontos e preparados:
“Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que os vossos corações fiquem sobrecarregados [pesados] com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele Dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço.”
(Lc21:34)
Como um laço… um Dia totalmente inesperado… Assim será o Dia da prestação de contas, o Dia da Ira. Ai de nós se nesse tempo ainda estivermos portando o antigo, pesado e impenitente “coração de pedra”. Essa advertência foi especialmente acentuada por Paulo aos Romanos:
“Por causa de teu endurecimento e de teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo no Dia da Ira, quando se revelará o justo Juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras.”
(Rm2:5,6)
O Dia a que Jesus e Paulo se referem significa, como já esclarecido, o tempo compreendido entre o início e o fim do Juízo, que é contado em décadas, portanto o período total de sua efetivação. Paulo ainda deu várias outras indicações sobre essa época, como nessa passagem de sua primeira epístola dirigida aos Coríntios: “A obra de cada um se manifestará; na verdade, o Dia a aclarará, porque pelo fogo será descoberta, e o fogo provará qual seja a obra de cada um” (1Co3:13).
Não é tão difícil assim perceber que essas palavras indicam acontecimentos que se efetivam durante um razoável período de tempo. No entanto, muitas pessoas que já leram ou ouviram falar algo a respeito do Juízo Final e que acreditam no seu desencadeamento, esperam que esse evento se dê no espaço de um dia terreno, mais uma vez por força de uma interpretação literal. Freqüentemente a imagem que têm disso é a do Juiz descendo no meio das nuvens, separando os seres humanos à sua direita e à sua esquerda. Os da direita – as ovelhas – voltarão com ele para o céu, e os da esquerda – os cabritos – serão lançados no inferno. E tudo isso no espaço de vinte e quatro horas.
É preciso novamente lembrar aqui que as narrativas bíblicas e as profecias milenares a respeito do Julgamento Final sempre tiveram um sentido espiritual. Não podem e não devem ser tomadas ao pé da letra, comprimidas no estreito âmbito da percepção terrena. Um acontecimento tão incisivo não pode, em obediência às leis da Criação, acontecer no espaço de um dia terreno. Se assim fosse, muitas almas que têm anseio pela Luz e que não obstante ainda trazem um carma pesado de outras vidas, não poderiam salvar-se. Não haveria tempo para isso. Cabe lembrar o esclarecimento constante na segunda Epístola de Pedro: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns julgam demorada, pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe3:9).
Assim, o aludido evento do Juízo Final descrito no Evangelho de Mateus não deve ser entendido como ocorrendo no espaço de umas poucas horas, e sim de vários anos terrenos:
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à sua esquerda.”
(Mt25:31-33)
As leis da Criação são perfeitas. E tudo quanto provém delas também tem de ser perfeito. Assim é com o acontecimento denominado Juízo Final. Este apresenta um tempo determinado para efetivar-se. Tem início, meio e fim. Várias décadas já se passaram desde o início do Juízo Final. Agora estamos vivendo a última fase… Chegamos ao término absoluto do período de desenvolvimento concedido aos seres humanos.
Os que subsistirem ao Juízo não sofrerão a morte espiritual e poderão então viver no futuro Reino do Milênio, o reino do Filho do Homem. Destes farão parte alguns dos que conviveram com Jesus em sua época:
“Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira alguma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino.”
(Mt16:28)
Após o Juízo um reino de paz será implantado na Terra, o tão ansiado reino áureo de mil anos ou Reino do Milênio, onde “toda corrupção e justiça desaparecerão” (Eclo40:12). É o reino onde “haverá paz sem fim, estabelecido e firmado sobre o direito e a justiça, desde agora e para sempre” (Is9:6), na época em que o “dragão estará acorrentado por mil anos, para não mais seduzir as nações” (cf. Ap20:2,3). Será o tempo da “renovação de todas as coisas, quando o Filho do Homem tomar assento no seu trono de glória” (Mt19:28). Os acontecimentos do Juízo são, portanto, o sinal de que este reino está prestes a ser implantado, conforme transparece nesse trecho do Evangelho segundo Lucas:
“Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo o Reino de Deus.”
(Lc21:31)
Esse Reino de Deus trará então, finalmente, paz sobre a Terra.
Paz sobre a Terra! Uma paz que será imposta, não acaso concedida por graça, não presenteada, como tantos esperam em relação à chegada da Nova Era. Quem agora ainda pretender se mostrar como um perturbador da paz, não será capaz de viver nessa nova época. E perturbador da paz é todo aquele que, consciente ou inconscientemente, vive de modo desarmonioso na Criação.
A intervenção se dá presentemente através de uma Vontade superior, contra a qual a criatura humana é de todo impotente. Uma Vontade que não mendiga uma conversão para o bem, mas que a exige. Aquele que não quiser se curvar, terá de quebrar. A palavra grega para reino significa “domínio”, já indicando Quem manda de fato no tempo do Reino de Deus.
Para a humanidade, que sempre insistiu em fazer o papel de areia no mecanismo da engrenagem universal, só existem agora dois caminhos na longa estrada de sua existência, uma última bifurcação à sua frente: “o caminho da vida e o caminho da morte” (Jr21:8); diante dela só se apresentam agora essas duas possibilidades: “a vida e a felicidade, ou a morte e a infelicidade” (Dt30:15).
Estamos todos “diante da bênção e da maldição: a bênção se cumprirmos os Mandamentos do Senhor, a maldição se não cumprirmos os Mandamentos do Senhor, nosso Deus.” (Dt11:26-28). Todos nós estamos agora diante dessa derradeira decisão, “multidões e multidões no vale da decisão, porque o Dia do Senhor está perto, no vale da decisão!” (Jl4:14). A criatura tem de escolher agora entre viver ou morrer para sempre: “Diante do homem estão a vida e a morte, o que ele escolher, isso lhe será dado” (Eclo15:17). Vida ou morte, qual será a nossa decisão?... “Escolhe, pois, a vida, para que vivas!” (Dt30:19), exorta o Senhor.
A certeza sobre a chegada, num futuro remoto, de uma era de ouro de mil anos após um necessário período de purificação, ficou indelevelmente gravada nas almas das pessoas que receberam essa notícia em algum ponto de sua existência, nos últimos milênios. Agora, na época presente, a época do Juízo, tudo quanto estava aderido às almas aflora impetuosamente, chegando por fim à consciência. Estamos vivendo o Dia do Juízo, o tempo em que “todo o encoberto é revelado, e todo o oculto passa a ser conhecido” (Mt10:26), quando “Deus pedirá contas, no Dia do Juízo, de tudo o que está oculto, quer seja bom quer seja mau” (Ecl12:14).
Daí tantas pessoas manifestarem anseio e mesmo convicção sobre a chegada iminente dessa Nova Era, esperando intimamente por uma Terra renovada sob um novo Sol: “novos céus e nova terra, onde habitará a Justiça” (2Pe3:13), na qual “nenhuma nação pegará em armas contra a outra, e nunca mais se treinarão para a guerra” (Is2:4). É a almejada época em que “o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído” (Dn2:44), onde “Amor e Verdade se encontram, Justiça e paz se abraçam” (Sl85:11). Um reino constituído de “Justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm14:17); a Era do Milênio, na qual “da Terra germinará a Verdade e a Justiça se inclinará do céu” (Sl85:12).
É o tempo em que o ser humano terreno viverá exclusivamente para a alegria do seu próximo, e este em relação a ele. Uma esperança milenar de paz e de uma paz milenar, compartilhada não apenas por escritos judaicos como estes, mas registrada também na antiga literatura grega e até mesmo na pouco expressiva tradição romana, onde já se falava indistintamente da chegada de uma Idade de Ouro. A antiga mitologia persa também aludia ao “poder do mal acorrentado por mil anos”, e no advento da Idade de Ouro após um inverno catastrófico que se abateria sobre toda a Terra. Essa esperança de uma futura era dourada ficou gravada nas almas das pessoas que tomaram conhecimento das muitas profecias relativas ao Reino do Milênio.
Grande parte delas se sentem compelidas agora a abandonar as concepções religiosas e científicas tradicionais e procurar outros caminhos, nos quais essa ansiada era de paz não é encarada como uma utopia fantasiosa ou uma heresia descabida, mas sim aguardada com certeza absoluta. Só não é possível prever a época terrena exata em que essa era estará definitivamente implantada, pois sobre isso Jesus já dissera: “Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com Sua própria autoridade” (At1:7).
Cada ser humano ainda vivo espiritualmente tem diante de si a possibilidade de salvar-se no Juízo, caso mude em tempo sua sintonização interior, procurando viver daí por diante em conformidade com a Vontade de Deus. E, para tanto, os efeitos retroativos de suas vidas terrenas anteriores, que agora se precipitam sobre ele, só o auxiliam, se ele reconhece suas falhas de outrora e redireciona seu modo de vida de até então. Seus pensamentos, palavras e atos assim modificados são a prova de que ele efetivamente renasceu dentro de si, ou que “nasceu de novo” (Jo3:3), tornando-se “nova criatura em Cristo” (2Co5:17). Com isso adaptaram-se voluntariamente à sentença do Juiz que ecoa pela Criação durante o último Julgamento: “Eis que faço novas todas as coisas!” (Ap21:5). Já os outros… os outros não nasceram espiritualmente de novo. Seus pensamentos permaneceram vazios e seu coração tornou-se cada vez mais obscurecido pelas trevas que os circundavam, eles “perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu” (Rm1:21).
Não se quer dizer com isso que devemos fazer força para se conseguir bons pensamentos. Seria então um esforço antinatural da mente e pouco proveito traria, como qualquer coisa empreendida unilateral e artificialmente. Quem desejar nascer de novo precisa, sim, fazer um grande esforço para mudar sua maneira de ser. Um esforço contínuo, perseverante, até se tornar uma pessoa de tal modo boa que nem lhe seja mais possível gerar maus pensamentos. Nesse ponto terá se tornado, realmente, uma nova criatura, livre de todos os sentimentos de opressão e de tristeza, os quais não são naturais para as criaturas de Deus. Com efeito, “a tristeza do coração abate o espírito” (Pv15:13) e o que abate o espírito nunca é o certo, pois “se o espírito se abate, quem o sustentará?” (Pv18:14).
Não são dogmas religioso-científicos nem contorcionismos místico-ocultistas que podem habilitar uma pessoa a transpor um Juízo de Deus e fazê-la ingressar na prometida era de paz. Só existe um caminho para lá, o mais simples e por isso mesmo o mais desprezado pelo ser humano hodierno, escravo que é das concepções restritas do seu raciocínio. Esse caminho, exaustivamente repetido pelos profetas dos tempos antigos e posteriormente explicado pelo próprio Filho de Deus, é o viver em conformidade com as leis que regem a Criação, sintonizando todo o querer no sentido dessas leis primordiais. Quem hoje cumpre isso demonstra querer se desenvolver de modo certo, como trigo e não como joio. Por essa razão, o modo correto de viver constitui também o único bote apto para a travessia do Juízo Final, capaz de enfrentar as terríveis tormentas que se avizinham, e de aportar com segurança no Reino do Milênio. Para este ser humano, somente para este, o anúncio do reino terá sido de fato uma boa nova…
E então, quando o ser humano remanescente volver o olhar para trás não terminará de menear a cabeça. Nessa época, as criaturas humanas terão uma visão clara de como fora errada sua vida de até agora, e sentirão asco de si mesmas: “Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos e das vossas ações, que não eram boas, e sentireis asco de vós mesmos em virtude das vossas maldades e abominações” (Ez36:31).