Certamente algumas práticas ditas “esotéricas” tratam de fenômenos de real valor; contudo, as causas e efeitos permanecem incompreendidos, quando não são deturpados – involuntariamente ou não – pelos que a elas se dedicam com tanto afinco. Eles não conhecem, absolutamente, os assuntos que supõem dominar.
É o caso, por exemplo, da numerologia e da astrologia. Qual numerólogo, hoje, conhece realmente a fundo a lei dos números, para poder instruir com segurança o seu semelhante? Qual deles pode dizer que domina integralmente a relação entre nomes e números? A maioria ensina a fazer algumas contas, agrupar algarismos, cujo efeito final é inflar a vaidade do consulente (se o resultado for favorável) ou lhe por sobre a alma uma angústia desnecessária (se o resultado for desfavorável). E qual astrólogo, em seus cálculos, leva em conta as incontáveis nuances cármicas individuais, a irradiação da própria Terra e a de astros ainda hoje desconhecidos da astronomia? Quem dentre eles está ciente de que as irradiações dos astros são meros canais por onde seguem os retornos cármicos? Sem levar em conta esses aspectos, a astrologia só pode produzir um trabalho restrito e fragmentário, causando muito mais danos que benefícios.
Se os pesquisadores das múltiplas tendências ocultistas guardassem para si os resultados dos seus estudos, não haveria maiores problemas, e também para eles seria melhor, pois evitariam sobrecarregar-se com um carma desnecessário. Mas eles fazem questão de divulgar aos quatro ventos os resultados de suas descobertas medíocres, influenciando um sem-número de pessoas que poderiam permanecer livres disso.
Há neste campo uma infinidade de suposições aceitas impensadamente como verdades absolutas. Tantos, por exemplo, afirmam peremptoriamente que sinais visuais, absolutamente naturais (não por isso comuns), são OVNI's cujos tripulantes observam a Terra e os seres humanos, prontos a intervir auxiliadoramente antes de uma catástrofe planetária… O fato de vários outros planetas serem de fato habitados, não significa de forma alguma que alienígenas possam visitar-nos em naves espaciais quando bem entenderem. Já um pesquisador ocultista afirma que a intuição brota da mente superconsciente, quando, na verdade, ela é a própria voz do espírito. E ainda assevera categoricamente que a encarnação ocorre por volta do vigésimo primeiro dia da concepção, quando a realidade é tão mais simples de ser reconhecida: pode-se afirmar que ocorreu a encarnação quando o corpo infantil manifesta os primeiro movimentos, como consequência natural da entrada da alma no corpo em gestação. E assim é com um grande número de “verdades esotéricas”, que só se mantêm à tona em razão do desconhecimento das singelas Leis que regem esta Criação.
Há também pessoas que são agraciadas com dons considerados “místicos”, como os da clarividência e da clariaudiência, os quais, todavia, também não encerram nada de extraordinário. Estes dons, quando surgem espontaneamente de modo natural, podem trazer grande proveito se adequadamente utilizados. Mas tratam-se de ocorrências perfeitamente naturais, que de forma alguma indicam que a pessoa que as manifesta seja especialmente elevada no sentido espiritual. São dons como quaisquer outros, nada excepcionais, que só podem se transformar em capacitações se utilizados com sabedoria e humildade.
O que é completamente errado, inútil e nocivo, é o aprendizado unilateral dessas coisas, como tudo, aliás, que é forçado artificialmente. As tentativas de aprendizado forçado de capacitações ditas “paranormais” (na verdade elas não têm nada de anormais), como vidência, telepatia, viagens fora do corpo, etc., só causam danos ao neófito e às pessoas que contribuem para isso de alguma maneira.
Certamente são bem diversas as razões que levam alguém a se interessar pelo ocultismo ou misticismo: curiosidade ante o desconhecido, insatisfação com alguma religião, prazer em experimentar algo “proibido”. Mas qualquer que seja o motivo, a pessoa em questão terá à sua disposição milhares de publicações e eventos sobre o tema. Poderá aprofundar-se nos assuntos mais estranhos e inusitados, e caso ingresse em alguma organização ocultista, passará a vida galgando os “degraus de aperfeiçoamento” lá ministrados.
O que, na verdade, tal pessoa angariou para si com isso?
Além da suposição de ser mais valiosa e elevada que as demais, e do risco de afundar de vez nas trevas… nada. Apenas sua vaidade terá saído mais fortalecida dessas práticas.
O ocultismo e o misticismo são invenções exclusivamente humanas. Não existe nada “oculto” na Criação. Tudo é claro e simples para a criatura que conhece as Leis nela inseridas, ajustando-se nelas sabiamente. Jamais o Criador teria colocado algo em Sua obra límpida que necessitasse de estudos especiais e contorcionismos anímicos para ser compreendido.
O oculto e o místico foram criados pelo próprio ser humano, que perdeu a capacidade de ver claramente o Universo em que vive quando se submeteu voluntariamente ao domínio do intelecto. Ao fechar para si a visão clara que tinha dos acontecimentos fora da matéria, passou naturalmente a considerar como “oculto” aquilo que não podia perceber estritamente com os órgãos de seu corpo material. E para desvendar esse oculto ele lançou mão justamente do raciocínio, extremamente hábil em ornar com as mais delirantes fantasias aquilo que a ele, o raciocínio, permanece vedado, por estar fora do espaço e do tempo da matéria mais grosseira.
O ocultismo e o misticismo são campo livre para toda a sorte de suposições mirabolantes, pois quem pode provar que este ou aquele “mestre” está errado? Afinal, tudo o que de bom grado transmitem foi obtido através de clarividência e clariaudiência, faculdades desenvolvidas com muito esforço e aplicação.
A fantasia é a matéria prima de muitos relatos ocultistas sobre a vida no além. É literalmente certo quando se diz “fantasia doentia”, pois outro tipo nem existe. Quem entra nesse mundo não consegue mais distinguir o real do imaginário e se perde completamente. Fica preso num mundo fictício, erigido por ele mesmo, e aí sucumbirá, pois tudo quanto é errado é destruído agora durante o Juízo. Nesse mundo imaginário ele se sente à vontade, movimenta-se com desenvoltura para lá e para cá, acreditando deter os últimos segredos dos mais elevados planos da Criação. Na verdade, visto de cima, um tal “mestre” apenas rasteja num ridículo mundo de faz-de-conta, que ruirá com ele como um castelo de cartas ante o primeiro sopro da Verdade.
O ocultismo e o misticismo são uma armadilha sem par das trevas. Pessoas que já trazem em si uma certa inclinação para essas coisas são atraídas por algo aparentemente luminoso e belo, que todavia não encerra nenhum valor. Quando então, depois, chegam ao estágio de formar para si um mundo próprio, produto de sua fantasia e também da de outros, aí mui dificilmente conseguirão libertar-se a tempo de se salvarem espiritualmente. Não poderão mais emergir do cipoal de matéria mais fina que se forma em volta delas, criado pelas configurações oriundas da fantasia continuamente alimentada, as quais prendem-nas firmemente naquele lugar de ilusão. Milhões de pessoas são permanentemente atraídas para essas duas arapucas, sem se dar a menor conta disso.
Assim como acontece com as tendências religiosas, o número de movimentos ocultistas e místicos cresce vertiginosamente em nossos dias. Aparecem de repente, como cogumelos numa manhã úmida. Cogumelos belos, coloridos, mas todos venenosos…
As mais fantásticas imagens e explicações sobre o além podem ser obtidas da montanha de publicações sobre ocultismo. Há também livros que ensinam como “despertar” poderes secretos do ser humano, atingir um estágio superior de consciência e tantas outras coisas.
O misticismo é hoje um campo profissional como qualquer outro, e extremamente promissor. Alguns poucos dados comprovam isso. Uma pesquisa demonstrou que com apenas um ano de trabalho um esotérico pode ganhar em média quatro mil dólares por mês, sem sair de casa. As franquias de lojas e centros de práticas esotéricas multiplicam-se sem parar. A maior franquia astrológica do mundo tem duas mil lojas credenciadas em dez países. Nos Estados Unidos, videntes já atendem pela Internet, oferecendo por e-mail previsões e consultas com o tarô; há no país mais de 10 mil videntes e adivinhos de toda espécie, e até uma “Associação Americana de Videntes”. Pesquisas recentes mostram que 95% dos americanos acreditam em discos voadores, terapia de vidas passadas, cristais, águas mágicas, etc. Na França são lançados anualmente no mercado cerca de um milhão de volumes de livros esotéricos.
No Brasil, uma loja mística começou vendendo um boneco esotérico em 1990 e seis anos depois já tinha três filiais na cidade de São Paulo, seis franquias espalhadas pelo país, três no Chile e um escritório de representação na Espanha; vende hoje mais de 15 mil bonecos por mês e fatura 2,6 milhões de dólares por ano. Uma ex-empresária cobra mil dólares por uma consulta a quem estiver interessado em participar de uma terapia de regressão a vidas passadas. Três livros sobre esse assunto, publicados por um psiquiatra, foram traduzidos para 24 línguas e venderam cerca de 3,5 milhões de exemplares. Um ex-engenheiro criou uma máquina para reprogramar mentes das pessoas que desejam obter poder e sucesso; o aparelho custa 120 dólares e já foram vendidos mais de 7 mil unidades… Uma fábrica de incensos aberta há 14 anos fatura milhões de dólares por ano e distribui seu produto em 10 mil pontos de venda no país. Há inúmeros serviços esotéricos por telefone, remunerados por minuto de ligação; é possível até fazer uma limpeza de aura à distância…
Esses poucos exemplos são uma amostra do que ocorre em todo o mundo. As pessoas sentem hoje dores de alma, e na tentativa de aplacá-las acabam se enredando nessas teias do místico e do oculto. As formas variam de país para país segundo as características de cada povo, mas o efeito final, o de emaranhar-se indissoluvelmente num mundo falso e artificial é sempre o mesmo. Se 76% da população negra da África do Sul acredita em bruxaria e no poder dos ancestrais, os seres humanos brancos, ocidentalizados, não ficam atrás com suas crenças em horóscopos de jornais, tarô, jogo de búzios, quiromancia de esquina, cristais, e tantas outras coisas mais, algumas muito mais perigosas do que se supõe, como é o caso da radiestesia e da hipnose. (1) Esta última simplesmente ata o espírito do hipnotizado ao hipnotizador, um crime descomunal, que não é reconhecido pelos praticantes devido à ignorância.
Inúmeras pessoas, desencantadas com a falta de perspectivas das religiões tradicionais, buscam nessas práticas a paz interior ardentemente desejada. Mas com isso acabam pulando da frigideira para o fogo, o qual é alimentado continuamente por novas práticas esotéricas, como é o caso da crença nos anjos sob uma ótica mística,(2) o incremento da radiestesia e de sua irmã mais nova, a radiônica, e o desenvolvimento de aparelhos para “reprogramar a mente”.
Conforme explica uma reportagem sobre o retorno da crença [mística] nos anjos, seus interlocutores explicam que “esses seres de luz resolveram mostrar a cara com o objetivo de ajudar o ser humano a atravessar essa época tumultuada.” Além dessa missão eles também ajudam a enriquecer os autores de livros sobre o assunto. Em setembro de 1995 o best-seller deles vendia no Brasil três mil exemplares por dia. Segundo os especialistas, cada pessoa tem um determinado anjo, de acordo com a data de nascimento. Para algumas poucas privilegiadas, porém, essa regra não vale. São as que nasceram em certos dias considerados especiais, e por isso são chamadas de “divindades cármicas”. Essas pessoas podem escolher o anjo que melhor lhes aprouver. É o meu caso, curiosamente. Mas abri mão da minha escolha angélica.
Não temos nenhum anjo da guarda, mas sim auxiliares, pessoas que viveram aqui na Terra e que se deixaram levar pelas mesmas falhas e pendores que temos. Com isso, elas adquiriram um conhecimento profundo desses erros, estando aptas agora a guiar com segurança seus protegidos, desde que estes se abram para intuir suas leves admoestações. Isso não é de proveito apenas para o guiado na Terra, mas também para esses auxiliares, pois com sua atuação voltada para ajudar, eles mesmos conseguem remir seus erros de outrora e ascender espiritualmente.
Quanto à radiônica, de acordo com a apostila de um curso específico, trata-se de uma técnica que proporciona cura à distância e reequilíbrio energético. Segundo o autor, através desse reequilíbrio energético é possível ao indivíduo “abrir caminhos para sua realização profissional, a solução de negócios financeiros, problemas sociais e familiares.” A apostila traz diversos símbolos desenhados num papel, que teriam o poder de desviar energias negativas; a pessoa coloca sua foto no centro da figura de um desses símbolos, que vai desimpregnando a foto de forças maléficas…
Assisti a uma palestra sobre o assunto com o autor da apostila, que apresentou entre outras tantas figuras um “filtro telúrico”, que serve para neutralizar a energia negativa vinda do solo, proveniente de cruzamento de rios subterrâneos, redes de esgoto, etc. O filtro é colocado preferencialmente debaixo da cama da pessoa. O palestrante explicava que os desenhos dos primeiros filtros telúricos desenvolvidos necessitavam de um posicionamento específico, direcionado de acordo com os pontos cardeais, mas que aquele último modelo era “tecnologia de ponta” (palavras dele), podendo ser colocado em qualquer posição. Muitas pessoas da platéia, interessadas, faziam perguntas, demonstrando inclusive preocupação quando ele afirmou que as energias telúricas negativas poderiam até causar câncer…
De tudo o que foi apresentado havia apenas um único tópico verdadeiro. Num determinado trecho da apostila o autor afirma: “Quando você pensa algo, a idéia que passa pela sua mente ganha matéria e substância, isto é, torna-se uma forma-pensamento.” Isto é um fato realmente, e é por essa razão que somos pessoalmente responsáveis por tudo que pensamos. O problema é que havia um ensinamento verdadeiro em meio a um pântano de fantasias místicas e afirmações ilógicas. Por isso é tão importante, fundamental mesmo, cada qual conservar a máxima vigilância espiritual que possa reunir quando for examinar algo que lhe caia nas mãos. Só deve aceitar aquilo que a sua intuição, a voz do espírito, indica como certo.
Outro exemplo são os chamados aparelhos de reprogramar a mente, O catálogo de um desses instrumentos explica tratar-se do “primeiro sintetizador de ondas cerebrais do mundo”. O catálogo informa também que os cientistas o apelidaram de “máquina do sucesso”. De acordo com o fabricante, o aparelho proporciona “uma personalidade mais forte, uma memória rápida e expandida e uma intuição mais confiável” (como se a intuição fosse produto do cérebro). A máquina é indicada também “para todos aqueles que desejam ir mais longe no controle de seus comportamentos, de suas responsabilidades, do seu poder pessoal e de sua performance diante da vida”; ela promove um “profundo relaxamento no corpo e no espírito” e “proporciona noites agradáveis com sonhos maravilhosos”. Se a pessoa utilizar, por exemplo, o programa “criatividade” do aparelho, encontrará “soluções melhores para seus problemas, melhores mercados e por consequência melhores salários…”
Criatividade teve mesmo quem desenvolveu o tal aparelho.
Assim se apresenta o mundo hoje, nesses últimos anos que encerram todo o período destinado ao desenvolvimento do espírito na matéria. Religiões deturpadas, falsos profetas, misticismo e ocultismo nas mais extravagantes formas é o que a humanidade tem a oferecer como produto final de sua passagem de milhões de anos pela Terra.
A efervescência com que se dá o crescimento e a disseminação das práticas místicas e ocultas é também um sinal da nossa época. Tudo isso é decorrente da própria vontade errada da humanidade, que agora ela é obrigada a conhecer. O processo do Juízo Final acelera ao máximo os efeitos do querer humano, e por isso vivenciamos em nossos dias uma quantidade sempre crescente de coisas erradas, superpondo-se continuamente. O mal continua aumentando até um limite máximo, quando então ele mesmo se auto-destrói, levando consigo os seres humanos que contribuíram para o seu florescimento. Um processo de purificação indispensável e automático, que tem de preceder à prometida época de paz completa, a qual será imposta à humanidade, que por si mesma não foi capaz de construir na Terra um reino de paz, para o que o desenvolvimento normal teria naturalmente conduzido.