DIA ZERO

Nova série na Netflix em seis capítulos

Conceitualmente, Dia Zero se refere à vulnerabilidade de segurança em sistemas de informática que permitem ataques cibernéticos sofisticados por hackers, por meio da utilização de brechas no software antes que possam ser corrigidas, sendo que o desenvolvedor tem apenas zero dia para conseguir eliminá-la.

A série mostra o caos provocado por um ataque cibernético trágico que comprometeu sistemas essenciais, com vidas ceifadas e interrupção das atividades bancárias levando a população a se colocar na porta dos bancos reclamando o seu dinheiro. Robert De Niro interpreta George Mullen, ex-presidente dos EUA que é chamado para comandar a investigação batizada de Comissão Dia Zero, enfrentando muitos opositores, interesses contrários e armadilhas para chegar à verdade.

Em resumo, a série mostra a desordem geral criada pelas lutas pelo poder, as mentiras, o oportunismo daqueles que querem se aproveitar da nação para enriquecer e exercer o poder. Embora um pouco arrastado, visando criar um clima tenso de ansiedade, o enredo mostra a situação da humanidade que poderia ter construído uma forma de viver com muito mais qualidade.

Mullen demonstra seu amor pelos Estados Unidos de forma implacável: “não podemos deixar que esta nação continue afundando”. Ele, inclusive, foi confrontado por sua filha que o considera velho e incapaz de compreender como agem as novas gerações e, por conta disso, deveria renunciar. O fato é que as velhas gerações ainda têm algum ideal, enquanto grande parte das atuais estão voltadas para o dinheiro e prazeres. Um filme realista que foi até onde é possível revelar nas atuais condições geoeconômicas, mas inegavelmente o futuro da humanidade está cercado de incertezas.

*Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br/home . E-mail: bicdutra@library.com.br

NATAL, A NOITE SAGRADA

A humanidade estava na fossa, pronta para se autodestruir. O Criador enviou Jesus, pois na Terra o canal para a Luz se fechara pelas ações erradas da humanidade. Jesus, o Filho de Deus, foi rechaçado, mas deixou a Palavra; foi enviado pelo pai e voltou para o Pai onde permaneceria, deixando clara a promessa da vinda do Filho do Homem, o Espírito Santo. “Quando, porém, vier aquele que é o Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a Verdade. E quando ele vier, castigará o mundo por seus pecados e por causa da justiça! E trará o Juízo” (trecho da obra Na Luz da Verdade, dissertação Indolência do Espírito, de Abdruschin).

Dezembro é o mês do Amor de Deus. A especial irradiação da Luz alegra o coração, mas o que fizeram do coração? Na civilização digital está desaparecendo o espaço para as manifestações da alma como amizade, amor, misericórdia. O viver cai na superficialidade extrema, desumana, criando um viver áspero e hostil. O modernismo e a consequente aceleração de tudo estão lançando as pessoas no isolamento e solidão.

O bom relacionamento requer amizade e consideração humana. Os encontros agradáveis, com boa conversa, estão acabando. Atualmente as pessoas quase não conversam, não dialogam, não permutam saberes. Algo estranho, as pessoas mostram desânimo, um fraco querer, uma vibração fraca, sem força de vontade para que se transforme num querer resoluto. Quando os seres humanos sufocam a essência espiritual perdem a visão da vida e seu propósito mais amplo. Para compensar, buscam prazeres para dar um prêmio a si mesmos e suas cobiças, afastando-se do viver com naturalidade e acabam enfiando os pés no lamaçal do viver puramente materialista.

Dinheiro e poder. Arrogância e mania de grandeza. Perda da essência humana, desumanização. A vida vai rolando, o paredão apertando, a humanidade brincando. Nas engrenagens da Criação o ser humano é um passageiro que não passa de um grão de areia, mas poderia fazer muito pelo beneficiamento e embelezamento da Terra.

O Natal não é apenas um feriado que muitas pessoas aproveitam para se divertir com comidas, bebidas e presentes. Também não é uma festa dedicada ao Sol, ao seu regente enteal Apolo. É um dia de festa, mas por quê? Para quê? Qual é o real significado do Natal? A Noite Sagrada é a noite do nascimento do Filho de Deus, enviado pelo Amor de Deus para despertar a humanidade que caminhava para a autodestruição em seu torpor, afastada do significado e finalidade da vida, recusando a Palavra, pregando seu portador na cruz romana, num requintado assassinato. A finalidade da Missão de Cristo foi trazer a Luz da Verdade para a humanidade que havia perdido a capacidade de alcançá-la e afundava na escuridão criada por seu modo errado de viver.

Na Terra aumentam os rumores de guerra. O que não está claro é a motivação, o porquê, a causa que poderá levar a humanidade ao confronto global abrangente. Na selva ocorre a seleção natural. Lobos machos se enfrentam, mas o vencedor não extermina o oponente, deixando-o seguir em frente. Mas o homem é o lobo do homem que não deixa o outro viver, exterminando-o para satisfazer a própria cobiça.

De fato, a humanidade e as nações têm vivido de forma displicente há séculos, promovendo escravidão, exploração, dominação e destruição da natureza. É natural que irrompam drásticas consequências nas famílias, nas organizações, inclusive religiosas, nos Estados. Uma avantajada população global vivendo de forma inadequada, logicamente atrai catástrofes em todos os sentidos.

O ano de 2025 se anuncia repleto de imprevistos pesados. Bom senso, flexibilidade e serenidade são ferramentas indispensáveis, mas não esqueçam de preservar o bom humor. Apesar das dificuldades, há muitas coisas excelentes para serem aproveitadas. O mal humor nas empresas é veneno, seja no trato com o público ou no inter-relacionamento entre os próprios colaboradores, incluindo as chefias grosseiras. Há muito mal humor e descontentamento do pessoal em vários setores da atividade, o que cria uma antipatia gratuita do público em geral. Um trabalho comprometido com o bem sempre acabará encontrando saídas para os momentos difíceis.

*Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br/home . E-mail: bicdutra@library.com.br

INGOVERNÁVEL

Ingovernável (1e 2) é um seriado exibido pela Netflix que apresenta um drama em torno de riqueza, poder e política. A trama mostra pessoas que adestraram a mente para que nada passasse para a sensibilidade da alma, e com isso tornaram-se frias, sem coração, e assim foram perdendo a sua essência. Sentindo-se poderosas e imbatíveis, usam o dinheiro para facilmente neutralizar os oponentes enquanto a sua arrogância aumenta. Elas dizem que usam de violência para eliminar os oponentes e poderem implantar a paz do comando único. Com raras exceções, esses são os personagens da classe alta.

Por outro lado, na classe menos favorecida, encontram-se personagens cujas dificuldades da vida fizeram com que fossem perdendo a esperança; indolentes, se submetem ao poder dominante, mas no íntimo alimentam ódio e revolta. Em ambas as classes não enxergamos aspirações mais elevadas.

O seriado focaliza um mundo de falsidades e aparências obcecado por riqueza e poder. Ao seu modo, em ambos os lados, estão os vícios, as imoralidades, a arrogância, embora na classe alta haja um tipo de maldade oculta, enquanto na outra classe os personagens agem de forma mais simples.

Entre as manobras e golpes há as exacerbadas atividades sexuais, mas também se descortinam os meandros do poder: jogadas mentirosas, armadilhas, o uso da mídia para manipular a população, o esforço para controlar o processo eleitoral. “Me verás”, diz a canção tema com destaque para a luta pela sobrevivência em que o viver se transformou. “Me verás a la luz del día, cuando el mundo esté de rodillas, lucharé hasta el final de mi último día”. (Me verás à luz do dia, quando o mundo estiver de joelhos, lutarei até ao final de meu último dia).

Apesar do realismo e da violência cruel, o enredo segura o interesse, levando os espectadores a quererem saber o que vai acontecer com Emília, com a eleição e tudo o mais, embora o esquema de misturar cenas do passado com o presente possa confundir o espectador. Um triste retrato do viver tecido com mentiras e falsidades, saiu do natural e que, sem propósitos enobrecedores, se tornou ingovernável, com todos contra todos.

Há os que querem mudanças, algo condizente com a espécie humana, mas, desanimados, veem o quanto são frágeis diante das trevas incentivando o mal, atacando as pessoas que querem o bem. Para se tornarem vencedores eles precisam fortalecer o bom querer, a coragem e a perseverança, e buscarem incansavelmente a Luz da Verdade para alcançarem a paz e alegria.

*Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br/home . E-mail: bicdutra@library.com.br

O SUCESSOR

Na primeira e segunda temporada do seriado espanhol “O sucessor” (Vivir sin permiso), da Netflix, José Coronado interpreta Nemo Bandeira, um empresário frio e calculista, em excelente desempenho. É o mesmo ator que viveu Tirso, no seriado “Entrevias”, personagem forte, mas menos tenso. A dublagem é de boa qualidade.

Como grande empresário da Galícia, Nemo fez sua fortuna com o atacado do narcotráfico. Casou-se por interesse com Chon Moliner (Pilar Castro), filha de poderoso empresário, com quem teve os filhos Carlos (Alex Monner), que pretende se casar com Alessandro, e a rebelde Nina (Giulia Charm). Carlos é o que se poderia dizer, uma alma de mulher encarnada num corpo de homem. Nemo também é pai de Lara (Claudia Traisac), moça ajuizada, filha de seu grande amor da juventude.

Nemo recebe a notícia que está com Alzheimer e que seu cérebro deixará de funcionar dentro de algum tempo. Assustado, sempre amparado por Ferro (Luis Zahera), seu fiel escudeiro, quer prolongar esse tempo, mas percebe que terá de se retirar dos negócios e nomear um sucessor. É sintomático que essa doença tenha se alojado no cérebro, por este ser uma importante ferramenta da qual todo ser humano é dotado. Houve tantos abusos que se pode dizer que grande parte da humanidade esteja com alguma enfermidade em seu cérebro.

A história é um retrato nu e cru da vida social e familiar, que prende a atenção, embora apresente umas enroladas com irritantes remendos grosseiros que fogem da lógica. O que as pessoas estão fazendo com a alma, que faz do ser humano um ser humano, que vivifica o corpo e capta a intuição espiritual? A bem dizer, se olharmos para os acontecimentos apresentados nos telejornais veremos imagens de ações terríveis praticadas por seres humanos que jamais se poderia imaginar que pudessem decair tanto.

A astúcia de Mario Mendoza (Álex González), ambicioso advogado criado por Nemo e que o ajuda nos negócios lícitos ou não, causa revolta. Mário também pôs a sua alma de lado, sufocando o eu interior, e seu cérebro entrou no modo frio e mecânico como máquina insensível, algo que está transformando a espécie humana, restringindo-a apenas aos aspectos materiais e sociais da vida. Mas isso está acontecendo não só com o Mario da ficção, mas com muitos seres humanos oportunistas que agem com maldade para satisfazer suas cobiças. Na Terra, a aspereza está aumentando. Não há mais dissimulação na imposição da vontade pessoal, seja por meio da força física ou psicológica. Nemo é dominador, mas ao longo de sua vida fez muitos inimigos que querem vingança e tirar proveito da situação.

MESSIAH

Na série primorosa de ficção da Netflix, um homem carismático se envolve com religião e geopolítica, tornando-se um mensageiro, como ele próprio se autodenomina, e arrasta multidões de seres humanos que esperam o Guia Espiritual de acordo com suas crenças. Jesus Cristo disse que não voltaria, e em seu lugar viria o Filho do Homem, mas se retornasse à Terra, como seria recebido pelos poderosos?

A presença de um estranho no ninho não é bem-vinda, pois os homens poderosos, do ocidente e do oriente, são movidos pelas cobiças por riqueza, poder e influência, ficando preocupados e temerosos de que aquele homem carismático possa influenciar a massa contra o sistema. Estamos na fase dos falsos profetas. O seriado pode ser encarado como uma simulação dos acontecimentos perturbadores da ordem pública e suas consequências. É uma trama bem-feita com a amenização da tragédia provocada para restabelecer a rotina da vida.

Jesus, o Messias, encarnação de essência divina, há dois mil anos recebeu um corpo terreno da forma como todos o recebem, de acordo com as leis naturais. Ele trouxe a Luz da Verdade das leis naturais da Criação para a humanidade que havia perdido o rumo, por ter enclausurado o espírito, impedindo-o de atuar, o que a afastou do Criador e suas leis. Ao recompor a verdade perdida, e diante da conspiração trevosa dos sacerdotes, Jesus retornou à sua origem, pedindo ao Pai o envio do Filho do Homem para concluir os esclarecimentos sobre a Vontade de Deus, e aplicar o Juízo Final.

Com os erros de memória e inserções, pouco restou das palavras originais de Jesus, abrindo espaço para a crença cega, amparada em frágeis alicerces. Depois de milênios de conceitos errados tomados como verdades, a humanidade se encontra como um Titanic sem rumo em meio à grande colheita em andamento. A missão do Filho do Homem aqui na Terra é a continuação e a conclusão da missão do Filho de Deus, ambos genuínos emissários de Deus, trazendo a Força da Luz para purificação, elevação e renascimento. Agora é a hora em que a crença tem de se tornar convicção através de análises irrestritas em concordância com as leis naturais da Criação em sua lógica perfeita.

*Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br/home . E-mail: bicdutra@library.com.br

O MAESTRO E O MAR – SÉRIE NETFLIX

Resumo da ópera: série bem trabalhada, belas imagens, personagens diversificados. Um retrato da civilização atual com sua frieza, passando rapidamente pelas crises da humanidade, inclusive a da dívida da Grécia, e também com fortes emoções pessoais.

Trata-se de uma série densa, em que o maestro Orestis (Christoforos Papakaliatis), um homem de boa vontade que desanimado com acontecimentos da própria vida vai para Paxos, uma ilha pacata na Grécia, com o objetivo de relançar um antigo festival de música. Ele acaba se envolvendo como os moradores locais, o que o coloca em situações misteriosas e difíceis. É uma história de encontros e desencontros tendo a sexualidade como denominador comum das relações entre os personagens.

Pais, filhos, namorados, amantes, algumas vezes parecem estranhos embora pertençam à mesma família. Como explicar essa contradição? Seria puro acaso? Mas existe o acaso? Só se pode entender o emaranhado dos fios do destino levando em conta a reencarnação, o carma, os encontros programados pelo destino. Há um pouco de tudo: a ousadia das mulheres, a desfaçatez dos homens, a incerteza e a falta de esperança que os leva ao desatino. Foram pinçadas as mais angustiantes questões que afligem os seres humanos, embora as causas sejam desconhecidas, uma certa compatibilização é buscada.

Que mundo é esse em que estamos vivendo? É o que mostram as imagens de O Maestro e o Mar.

NO RITMO DO CORAÇÃO

No Ritmo do Coração (CODA – child of deaf adults – filhos de adultos surdos), baseado no filme francês A Família Bélier (2014), conta a história de Ruby (Emilia Jones), uma menina que ouve bem, mas cujo pai, mãe e irmão são surdos. Os pais são pescadores na cidade de Gloucester, nos Estados Unidos, e Ruby é a única da família que escuta e sabe traduzir a linguagem dos sinais. Enquanto puxam a rede e separam os peixes, Ruby gosta de cantar belas canções. Observa-se que o horizonte familiar é restrito, indo pouco além da sobrevivência.

O filme mostra de forma sutil e bem-humorada que o ser humano tem de buscar algo mais especial em seu viver, indo além das banalidades e da forma de vida instintiva dos animais que se constitui em comer, dormir, se alimentar e se reproduzir. Os humanos também fazem isso, mas também procuram diversão. A dedicação ao trabalho é uma forma de escapar do vazio existencial, cumprir as tarefas, respeitar prazos, pois o cérebro precisa ter algo para pensar e fazer para não ficar vagando a esmo e procurar um lenitivo para aliviar a tensão, como fumar, beber ou qualquer coisa, mesmo que seja para um alívio passageiro.

Com o abandono da intuição, a humanidade deixou de se aplicar seriamente na busca do significado da existência e muitos vivem como se fossem robôs. Em vez disso, as questões menores e as banalidades do dia a dia tomam todo tempo e se tornaram a base do viver, sem que surja abertura para uma incursão séria pela espiritualidade.

Muito dedicada, Ruby não mede esforços para ajudar sua família, mas como será seu futuro? A família poderia contratar um intérprete para atender às exigências da atividade pesqueira e seu comércio. A jovem tem no canto a sua vocação, mas fica no dilema entre o sonho de estudar na faculdade de música Berklee ou ajudar a família. É nessa hora que o pai revela sua maturidade ao perceber que a menina, a filhinha querida, estava crescendo e tinha de seguir a própria vida.

ENTRE FACAS E SEGREDOS (1 E 2)

O excelente filme Entre facas e segredos (Knives out) tem uma continuação em Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Cebola de vidro: um mistério facas para fora). No primeiro filme o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) desvendou de forma extraordinária o mistério da morte do famoso escritor de histórias policiais Harlan Thrombey (Christopher Plummer), encontrado morto dentro de sua mansão, onde as regras eram dele, e toda a família tinha de obedecer. A delicadeza de Marta (Ana de Armas), a enfermeira do idoso, dá um toque especial, mas em meio à disputa pela vultuosa herança, Blanc não se deixa enganar por nenhum deles.

No segundo filme o gancho é uma caixa de madeira hermeticamente fechada, enviada aos convidados do bilionário Miles Bron (Edward Norton), dono de uma empresa de tecnologia e manipulador das mídias. Juntos eles formam um grupo disruptor que busca ações fora do padrão, mas entre eles está o famoso detetive Blanc que não sabe bem o que está fazendo ali, e todos são levados num iate para a reunião secreta numa ilha grega, onde fica a mansão de Miles. O anfitrião estranha a presença de Andi Brand (Janelle Monáe) que já tinha sido participante do grupo, mas havia se afastado, causando suspeitas com a sua presença. Blanc percebe que, no íntimo, cada um tem uma bronca secreta e ódio de Miles.

Em meio a muitos acontecimentos, alguns deprimentes, uma pessoa morre na sala, misteriosamente, e então o detetive começa a descascar a cebola. Nos filmes modernos os atores não dão tanta vida aos seus personagens como Danny DeVito ensinava em O nome do jogo, em que ele se transmutava no personagem com toda a naturalidade. O inteligente Blanc, com sua argúcia, vai desatando os nós, um por um, sem a colaboração dos convidados, e por não ter encontrado uma solução intuitiva para prender o assassino, intelectivamente acaba apelando para a ignorância: quer destruição e quebra-quebra. Seria uma insinuação do desmanche geral, o reset que dizem estar a caminho? Quem souber a resposta que a diga.

O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS (NO YOUTUBE)

Após muitas décadas revi no Natal de 2022 essa obra de Pier Paolo Pasolini, filme feito em homenagem ao papa João 23, filmado em 1964 em ambientes lúgubres como se Jesus fosse um pobretão. Mas, na realidade, o Filho de Deus tinha cultura, clareza e tratava a classe sacerdotal intelectiva com firmeza e severidade devido às regras dogmáticas que impunham ao povo. José era proprietário de conceituada carpintaria o que assegurava um viver tranquilo para toda a família.

Os discípulos não entendiam tudo o que o Mestre Jesus falava, daí decorreu uma interpretação sobre o Filho do Homem, prometido por Jesus, para mais uma vez trazer para a humanidade o esclarecimento da Criação e o final dos tempos. Pedro acertou ao responder “tu és Cristo, o Filho de Deus”. Jesus sempre se referia a outra pessoa quando mencionava o Filho do Homem, mas o erro de Mateus acabou sendo multiplicado por Pasolini em seu filme. Há dois mil anos Jesus brigava com os sacerdotes, não por ideologias político-sociais, mas porque impunham o regulamento deles colocando de lado as leis divinas da Criação, pois estas, se fossem respeitadas, não haveria exploração de uns pelos outros. Ama o próximo como a ti mesmo. Não o prejudique para satisfazer as próprias cobiças. Eis o quanto basta para estabelecer a paz e a bem-aventurança.

Para quem quiser compreender com clareza, recomendo a leitura do livro Na Luz da Verdade Mensagem do Graal, de Abdruschin, que apresenta os acontecimentos relativos à vida de Jesus e suas explicações simples sobre as leis divinas da Criação, tomando a natureza na construção das parábolas.

ANNE COM E

À primeira vista pode parecer uma série para o público infantil, com um começo fabuloso, mas apresenta temas adultos que as crianças não compreendem e podem ser induzidas a erros. As crianças deveriam a aprender a importância da intuição para ouvir o que a sua alma diz.

A trama acontece numa pequena vila de fazendeiros, no final da década de 1890, centrada em Anne, uma jovem órfã que depois de sofrer em orfanatos e em casas de estranhos, é enviada por engano para viver com dois irmãos, uma senhora mais velha e um senhor, seu irmão mais novo, ambos solteiros. A série procura mostrar o amadurecimento de uma moça que precisa lidar com numerosos desafios, lutando por amor e aceitação e por seu lugar no mundo.

Fria e de natureza bela, a série canadense é a adaptação para a TV de uma obra clássica da literatura infantil (Anne of Green Gables), escrita em 1908 por Lucy Maud Montgomery, e retrata os problemas que geraram as condições atuais de vida no planeta. Inicia com o problema de crianças órfãs, sem lar, seja pela morte dos pais, mães sem condições de criar os filhos, crianças abandonadas. Uma visão das consequências de gerar filhos sem a devida consciência e responsabilidade. Mostra ainda a alegria de Anne ao conseguir ter um lar e uma família, e as dificuldades de ter que lidar com a mentalidade tacanha da vizinhança fofoqueira, crianças maldosas, a rigidez de professores daquela época, e a tendência de mulheres imitarem os homens.

A série também retrata o conflito e o preconceito com afrodescendentes e a forma como preceptores religiosos tratavam as crianças índias, criadas em liberdade junto à natureza, e resistentes em se adaptar às disciplinas rígidas e insensíveis.

Outro ponto abordado é a complexa questão da encarnação de pessoas com atributos femininos em corpos masculinos e vice-versa, uma questão que demanda pesquisa ampla incluindo as leis espirituais da Criação. Enfim, nessa série a espécie humana é desnudada em sua ignorância e crueldade, mas também enfatiza gestos de sincera amizade e nobreza, inspirando um futuro melhor.